Capitulo 3
Só me dei conta que estava de robe quando parei em um semáforo e um cara olhou para mim mordendo os lábios.
- Droga! – e soquei o volante.
A preocupação me pairava e eu me sentia a pessoa mais horrível do mundo. Deixei a garota na mão. Fui de uma insensibilidade única! Pensei até em voltar, mas com que cara eu voltaria. Estava morrendo de vergonha e o celular não parava de tocar.
- Oi...
- Onde você está?
- Fui fazer compras, estou dirigindo. - Por favor Rui, não me venha com sermões agora!
- Quer sair mais tarde?
- Ir para onde?
- Qualquer lugar.
- Pode ser noutro dia? Monize está indo lá pra casa. Hoje é sábado e quero ficar quieta, descansar um pouco, tomar um sol que estou precisando.
- Chego lá em 20 minutos!
- ok como quiser!
E desliguei. Não adiantava falar e falar e falar. Ele não iria entender, nem nessa vida e nem em nenhuma outra, que eu não o queria por perto. Que ranço! Soquei o teto do carro.
- Discar para Monize! – gritei.
- Oi doida, que ta rolando?
- Corre lá pra casa agora!
- Levo o extintor? Por que você ta gritando?
- Não precisa. Puta que pariu Mô é sério!
- Seu amigo acabou de me deixar uma mensagem: “ deixe a porta aberta”. Mas que porta? Cara, vocês tão bem fumados hoje!
- Só vai pra lá e eu te explico depois.
- Tô passada loca!
- Beijo, não fura comigo!
E desliguei.
Devia ter acabado de ser multada, por direção perigosa, por alta velocidade e ultrapassar sinal vermelho. Entrei no estacionamento e sai do carro descalça quase socando o que me viesse à frente. Entrei no elevador ajeitando o cabelo e respirando fundo tentando manter o controle que eu não tinha naquele momento. A porta estava encostada. Abri com o ombro e fui jogando tudo ali mesmo.
- Mô?
- Aqui na cozinha!
- Oi...
E a abracei forte.
- Olha pra mim. Agora me diz. O que foi, o que aconteceu? – disse segurando o meu rosto com as duas mãos e eu comecei a chorar.
- Fiz tudo errado.
- Oh minha linda vem aqui. A gente vai dar um jeito, eu estou aqui para a gente fazer o certo.
E eu sorri. Quando que ela fazia alguma coisa certa? – pensei.
- Você é um porre minha amiga.
- Vou colocar água na banheira e vou te dar um banho.
- Combinado. - sorri de novo.
- Adorei seu robe, mas vem cá, desde quando você usa isso? – e sumiu entrando no banheiro.
- Puts! – praguejei ao lembrar que nem era meu.
- Você saiu assim? Vai me dizer que foi ao mercado fazer compras! – ela cobriu a boca segurando uma risada.
- O que você acha? – e me despi do robe ficando nua.
Coloquei dentro do cesto com outras roupas minhas e pensei em ir à lavanderia naquela mesma tarde.
- Cadê todo mundo?
- puta que... - e me tampei do jeito que deu.
- Uau... Você esta maravilhosa assim... – e mordeu os lábios olhando para mim.
- Rui sai daqui! - gritei.
Monize ficou na minha frente até que encontrasse algo para me enrolar.
- ok, estou saindo, foi mau.
- Vai Rui! - Vou buscar uma toalha, espera.
Pensava na Mel e de como ela deveria estar agora. Talvez devesse ligar ou não?
- Não sabia bem o que pegar. Tome. – e estendeu a mão com duas mudas de roupa.
Vesti a camisa, o short jeans e fui para o piso superior destrancando a porta de vidro e abrindo todas as janelas.
- Ei por que você trancou a porta?
- Me deixa em paz Rui! Por favor! Daqui a pouco eu desço.
- Vai mesmo fazer isso comigo? Eu só quero conversar!
- Já estou fazendo.
E me despi novamente saltando na piscina.
- Posso entrar? – Monize gritou e vi seu vulto atrás do vidro jateado.
- Sim Mô! Quer que eu abra? Só colocar sua digital!
E a porta se abriu.
- O seu banho vai demorar um pouco. – disse de costas para mim. Tranco novamente? – e virou-se.
- Tranque. - Tudo bem não se preocupe, não quer entrar? – está uma delicia! - Estava precisando mesmo disso.
- Mais tarde. Preciso preparar algo para comermos.
- Não. Pedimos fora! Fica de boa.
- Você quer conversar agora? Trouxe amendoim, quer?
- Não... - e mergulhei até o fundo tocando o ladrinho verde-azulado com a ponta dos dedos.
Segurei a respiração ao máximo que consegui e voltei à tona me debruçando perto da Monize.
- Seu pai deu sinal de vida?
- Deu sim, está na Grécia.
- Ele mexe com drogas, fala sério! Esse homem só viaja!
- Diz que é um novo projeto. - Bom que fique por lá e suma de vez!
- Não seja cruel.
- Não o perdoarei tão cedo por ter feito o que fez comigo!
- Ele só quer o seu bem. –Entenda! – e colocou um amendoim na boca.
- Quem sabe um dia quando esse “Basset Hound” sair da minha cola.
- Vamos combinar, esse Rui é realmente um bosta às vezes.
- Às vezes? Desde o dia que ele entrou na minha vida, ela só desandou. Não posso mais freqüentar os lugares de antes. Meus amigos simplesmente desapareceram porque não o suportam!
- Vocês ainda vão se casar. Escreve.
- Deus me perdoe, nem se fosse o último homem na face da terra e precisássemos procriar para dar continuidade à raça humana!
E voltei a afundar na água. Só ouvi a gargalhada abafada.
Nadei até a outra extremidade e voltei.
- Vou ver o seu banho, já venho.
- Já desço. Estou saindo.
Coloquei um punhado de amendoim na boca e desci. Rui estava sentado na sala com os dois pés sobre a mesinha de centro, mas tirou assim que me viu. “Bom menino! Tome o seu agrado!” – pensei jogando um monte de amendoim na sua direção.
- Está louca? – disse limpando o amendoim do cabelo.
- Você vai me ver realmente louca quando voltar a por essas suas pranchas em cima da minha mesinha! Eu não responderei por mim! Estou te avisando! Disse que não estava num bom dia ou tentei te avisar!
- Comeu jiló no café da manhã? – me percorreu com os olhos até sumir no corredor.
Monize acabava de colocar os sais na água e voltou a me abraçar.
- Seja o que tenha acontecido, tudo se ajeita.
- Espero. Obrigada pelo seu cuidado de sempre comigo.
- Não tem de que! Vou por o Rui para fazer um churrasco para a gente.
- Ele não vai conseguir nem acender o carvão, quem dirá assar a carne!
Joguei a toalha no chão e entrei na banheira. Penso ter adormecido por que acordei com a espuma entrando na boca. Não tinha noção de que horas eram e a água já estava quase fria.
Vesti um moletom e fui para sala, mas não havia ninguém.
- Mô?
E percorri todos os cômodos, tanto no andar de baixo quanto o de cima.
- No quarto dos fundos!
E corri para lá.
- Cadê o Rui.
- Foi embora.
- Que bom!
- Deita aqui comigo. Você dormiu e eu não quis te incomodar.
- Quase me afoguei!
- Não brinca! Eu acabei de sair de lá para ver se não estava morta no fundo da banheira.
- Engoli espuma.
- Ah isso era esperado, mas dificilmente você se afogaria.
- Ele fez o churrasco? Estou faminta!
- São quase 17:00. E não, ele não fez a carne, porque quando eu saí, ele já não estava mais na sala.
- Nossa eu apaguei. E o que você comeu?
- Pizza.
- Não sei o que seria de mim sem você.
- Pedi a sua preferida. Está na mesa.
- Obrigada!
Mordi um pedaço de pizza e me veio a Mel na cabeça. Num ímpeto de coragem resolvi ligar para ela.
- Mô você viu meu celular?
- Não. - Não está no carro?
- Não me lembro onde o deixei.
- E como falou comigo?
- Com o celular do carro.
- Não tem nada a ver com o Rui tem?
- Não.
- Ele poderia ter levado?
- Ai... - e coloquei a mão na cabeça.
- Você está bem? Está sentindo alguma coisa?
- Lembrei de onde o deixei.
Fechei os olhos e vi meu celular tocando sobre a mesa de madeira na cozinha.
Mas a mesa não era minha, muito menos a cozinha.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]