Capitulo 24 - Nódoa
As rosquinhas Berny’s era o que tinha de melhor em Hilton. Elas eram suculentas, macias e desmanchavam na boca logo na primeira mordida. Charlie as adoravam, principalmente porque na confeitaria Berny’s existia uma variedade incrível de sabores, então, degustá-las era sempre uma novidade. Aquele lugar era o ápice da pacata cidade, depois do Joe’s, é claro. O dono era o senhor Bernard Phillips, um homem robusto que agora já tinha seus sessenta anos de idade que recusava a ideia de aposentadoria e possuía uma barbicha densa e grisalha.
Charlie adentrou no estabelecimento assoprando as mãos, era um final de tarde frio em Hilton e ela tinha pensado na brilhante ideia de levar suas rosquinhas favoritas para a Claire experimentar, as duas tinham combinado de se encontrar no Joe’s após o fim do expediente da morena. Mas Charlotte já estava quarenta minutos adiantada, então resolveu passar no Berny’s.
O Berny’s era incrivelmente colorido, assim como as suas rosquinhas. Estava mais moderno do que a última vez que lembrava ter passado por ali, as mesas mesclavam em tons leves e de cores variadas fazendo alusão as rosquinhas confeitadas.
- Charlie! - Berny saldou do outro lado do balcão de vidro exibindo um sorriso grande.
Ele limpou as mãos no avental azul bebê enfeitado de rosquinhas coloridas e estendeu as mãos para Charlie.
- Olá, Berny! - Respondeu também animada, agarrando as mãos do senhor. - Como você está?
- Oh! Bem, bem, Charlie e você? - O homem voltava a servir as pessoas que estavam na fila, mas não desviava sua atenção da mulher. - Faz tanto tempo!
- Dez anos!
Charlie se inclinou para observar as rosquinhas. Elas estavam apetitosas como sempre.
- Dez anos! - Ele repetiu embalando os doces. - Oh… Eram bons aqueles tempos! - Dizia nostálgico.
- Sim… - Ela respondeu distraídas com as suculentas rosquinhas.
- Vejo que já está com saudade das rosquinhas, uh? - Ele sorria entregando uma sacola colorida para uma cliente.
A cliente recebeu o pacote e foi até o caixa fazer o pagamento. O espaço logo foi tomado por um garoto e Berny o atendeu.
- Yeah… Você sabe que esse lugar é o meu ponto fraco, Berny!
- E como sei, você era a minha melhor cliente… E olha que só estávamos no começo naquela época!
Charlie rodou pelo balcão de vidro admirando os doces, sua boca se encheu de saliva ao lembrar do gosto, e após alguns outros clientes, chegou a sua vez de ser atendida.
- Então, o que teremos pra hoje? - Perguntou Berny animado.
- Hum… - Charlie pensava. - Eu vou querer as de sempre…
- Avelã e chocolate. - Berny compleou.
- Isso! E também… - Ela parecia refletir, Berny riu da dedicação da mulher para escolher as rosquinhas.
- Eu quero algo inusitado… Algo que cause uma explosão de sabores na boca.
Ela levou a mão no queixo em uma expressão pensativa, Berny também parecia pensar.
Charlie queria surpreender Claire e fazer a morena provar sabores não tão convencionais, mas que fizessem a morena delirar ao provar.
- Acho que tenho um pouco disso em forma de rosquinha sim… Espere um momento.
Berny adentrou aos fundos da confeitaria e demorou alguns minutos para voltar com uma caixa colorida que era fechada com um laço branco.
- Voilà! - Ele falou em seu melhor francês. Berny havia estudado confeitaria na França, vez ou outra ele arriscava falar francês com os clientes.
- Uau… Posso saber o conteúdo? - Os olhos da Sanders brilhavam.
- Rosquinha de avelã e panna cotta de pistache!
Charlie ergueu as sobrancelhas. Aquilo era simplesmente uma mistura ousada e atrevida. E se Berny acertasse mesmo na receita, seria tudo o que ela estava procurando!
- Nossa… Agora você me deixou intrigada, Berny.
- Prove, prove! - Ele balançava a caixa na direção de Charlie. - Ele já foi escolhido como a sobremesa do mês por três vezes seguidas!
- Não, não… - Ela capturou a caixa. - Essa aqui é para dividir com uma pessoa especial!
- Oh. - Berny ajeitou o chapéu na sua cabeça, era um acessório típico do local.
- E agora, por favor, me dê as rosquinhas de avelã e chocolate… Eu viajei de Nova Iorque até aqui para isso! - Ela dizia virando os olhos de prazer.
Berny serviu as rosquinhas para uma Sanders sorridente. Ela pagou todas as compras e resolveu se sentar para comer pacientemente a sua sobremesa favorita. Conferiu o relógio e ainda faltavam trinca minutos. Ela respirou fundo e mordeu o doce.
Primeiro, sua boca foi invadida pelo gosto do avelã na massa quentinha e macia da rosquinha, para só depois o conteúdo de chocolate ser despejado como bomba e lhe fazer cosquinhas de prazer na língua.
- Oh Berny! - Ela falava enquanto o senhor ria e servia outras pessoas. - Você é o melhor!
O clima seguiu animado na confeitaria. Clientes iam e vinham e Charlie se deliciava com o seu doce favorito. Ela estava tão concentrada na rosquinha que não percebeu a presença de uma mulher que entrara apreensiva e impaciente no Berny’s. Ela olhava para todos os lados como se procurasse por alguém e só parou quando avistou a Sanders.
- O-Oi… - A mulher falou baixinho.
Charlie não ouviu, continuava devorando a rosquinha. Então a mulher pigarreou tentando chamar sua atenção.
- Olá! - Disse em um tom mais alto.
Charlie ergueu os olhos e se deparou com uma mulher impaciente de cabelos rosa. Sim, ela tinha todo o cabelo coberto por uma tinta rosa pink. Suas roupas eram esquisitas, ela vestia uma saia vermelha muito curta, com uma meia calça preta furada e um casaco fino demais para o tempo que fazia.
- Olá? - A Sanders respondeu sem jeito com a boca cheia de chocolate.
A mulher olhava impaciente para os dois lados e coçava os braços.
- Você é a Charlotte Sanders? - Ela tentou falar mais baixo que o normal.
- Sim… - Charlie respondeu limpando os lábios. - E você é?
Ela passou as mãos pelos cabelos visivelmente incomodada com algo e respirou fundo, como se tomasse coragem de falar algo, e então ela retirou um jornal da sua própria bolsa e o depositou sob a mesa onde a Sanders estava.
- É você? - Apontou para o papel.
Charlotte observou o jornal. Era uma matéria falando sobre o acidente que sofrera há uma semana atrás. Ao lado também dizia que ela ainda era a principal suspeita do caso da Taylor. Verificou a data e percebeu que era um jornal da semana passada, aquilo a intrigou.
- Não sabia que eu estava nas manchetes de Hilton… - Disse em um tom animado e curioso.
- É você ou não é?! - A moça perguntou mais irritada e impaciente.
- Ow… Sou eu sim, senhorita nervosinha. E quem é você?
A moça respirou fundo e recuperou o jornal rapidamente.
- Precisamos conversar… Não acho que aqui seja seguro, eu estou muito exposta. - Ela falava apressadamente enquanto voltava a coçar os braços. - Eu conheço um lugar onde poderemos conversar mais tranquilas.
- Ei, calma lá… Você nem me disse o seu nome ainda.
- Não temos tempo pra isso!
- Olha, eu não estou entendendo nada… - Charlie dizia fazendo menção de se levantar. - Você está precisando de ajuda?
- Eu já disse que aqui não é seguro! - Ela dizia baixo e entredentes.
- E ir com você, uma desconhecida que eu nunca vi na vida seria muito seguro, uh?
- Não temos tempo pra isso, Charlotte.
Charlie se levantou completamente da mesa e capturou a caixinha com as rosquinhas. Estava intrigada com aquela mulher, mas todo aquele mistério já estava lhe fazendo perder a paciência.
- Olha, eu não tenho tempo pra isso, senhorita… - Ela aguardou a mulher falar o nome, mas a outra não o fez. - Tenha um bom dia.
A Sanders completou apenas dois passos quando foi paralisada pelas palavras da mulher de cabelo rosa.
- É sobre a Taylor Collins. - Ela disse simplesmente.
Charlie congelou e empalideceu.
- O que? - Ela perguntou confusa se aproximando da desconhecida.
- Como eu disse, aqui não é seguro. - Falou nervosa. - Mas eu conheço um lugar onde poderemos conversar tranquilas.
Charlotte não pensou em mais nada, apenas acompanhou a mulher até a saída do Berny’s. Estava tão ansiosa e impaciente que mal ouviu o senhor Phillips se despedir e quando o frio invadiu o seu corpo, ela percebeu que nem o seu próprio casaco havia fechado.
- Podemos ir no meu carro. - Charlie falou tentando acompanhar a moça.
- Não! - Ela respondeu apressadamente sem olhar para trás. - Vamos caminhar, não vai demorar.
- Ok…
Acompanhar a mulher de cabelos intrigantes foi complicado porque ela parecia que estava correndo o tempo inteiro. A menina estava claramente assustada porque não parava de olhar para os quatro cantos, e se assustava sempre que outro corpo trombava com o seu.
Charlie não parava de pensar no que poderia vir daquela conversa, e depois que a mulher havia tocado no nome da Taylor, toda a sua ansiedade veio à tona. Poderia ser uma pista sobre o assassino ou uma denúncia, e talvez ela pudesse ter até mesmo provas! Uma onda estranha de esperança invadiu o seu peito e ela só queria mesmo era chegar no lugar escolhido pela desconhecida e tirar todas as informações possíveis.
O bar se chamava ‘Toca do Coelho’, e era um local realmente escondido, talvez seja por isso que se chamava toca. Para conseguir entrar no estabelecimento era preciso entrar na livraria oeste de Hilton, e descer para um porão que existia ali.
Eu nunca suspeitaria que essa livraria tinha um porão! E um porão que é um bar! Mas que porr*!
A mulher parecia conhecer bem o local e apenas com alguns acenos de cabeça, ela recebia a permissão para entrar em todos os cantos. Charlie apenas a seguia, olhando para tudo cuidadosamente. Elas desceram as escadarias escuras do porão e a mulher de cabelo rosa deu duas batidinhas na porta.
- Senha. - Uma voz grossa falou do outro lado.
- As rosquinhas Berny’s era o que tinha de melhor em Hilton. Elas eram suculentas, macias e desmanchavam na boca logo na primeira mordida. Charlie as adoravam, principalmente porque na confeitaria Berny’s existia uma variedade incrível de sabores, então, degustá-las era sempre uma novidade. Aquele lugar era o ápice da pacata cidade, depois do Joe’s, é claro. O dono era o senhor Bernard Phillips, um homem robusto que agora já tinha seus sessenta e nove anos de idade que se recusava a ideia de aposentadoria e possuía uma barbicha densa e grisalha.
Charlie adentrou no estabelecimento assoprando as mãos, era um final de tarde frio em Hilton e ela tinha pensado na brilhante ideia de levar suas rosquinhas favoritas para a Claire. A Sanders tinha se oferecido para ir buscá-la no Joe’s após o fim do expediente da morena. Mas Charlotte já estava quarenta minutos adiantada, então resolveu passar no Berny’s.
O Berny’s era simplesmente incrivelmente colorido, assim como as suas rosquinhas. Estava mais moderno do que a última vez que lembrava ter passado por ali, as mesas mesclavam em tons leves e de cores variadas fazendo alusão as rosquinhas confeitadas.
- Charlie! - Berny saldou do outro lado do balcão de vidro exibindo um sorriso grande.
Ele limpou as mãos no avental azul bebê enfeitado de rosquinhas coloridas e estendeu as mãos para Charlie.
- Olá, Berny! - Respondeu também animada, agarrando as mãos do senhor. - Como você está?
- Oh! Bem, bem, Charlie e você? - O homem voltava a servir as pessoas que estavam na fila, mas não desviava sua atenção da mulher. - Faz tanto tempo!
- Dez anos!
Charlie se inclinou para observar as rosquinhas. Elas estavam apetitosas como sempre.
- Dez anos! - Ele repetiu embalando os doces. - Oh… Eram bons aqueles tempos! - Dizia nostálgico.
- Sim… - Ela respondeu distraídas com as suculentas rosquinhas.
- Vejo que já está com saudade das rosquinhas, uh? - Ele sorria entregando uma sacola colorida para uma cliente.
A cliente recebeu o pacote e foi até o caixa fazer o pagamento. O espaço logo foi tomado por um garoto e Berny o atendeu.
- Yeah… Você sabe que esse lugar é o meu ponto fraco, Berny!
- E como sei, você era a minha melhor cliente… E olha que só estávamos no começo naquela época!
Charlie rodou pelo balcão de vidro admirando os doces, sua boca se encheu de saliva ao lembrar do gosto, e após alguns outros clientes, chegou a sua vez de ser atendida.
- Então, o que teremos pra hoje? - Perguntou Berny animado.
- Hum… - Charlie pensava. - Eu vou querer as de sempre…
- Avelã e chocolate. - Berny compleou.
- Isso! E também… - Ela parecia refletir, Berny riu da dedicação da Charlie ao escolher rosquinhas.
- Eu quero algo inusitado… Algo que cause uma explosão de sabores na boca.
A mulher tinha a mão no queixo em uma expressão pensativa, Berny também parecia pensar.
Charlie queria surpreender Claire e fazer a morena provar sabores não tão convencionais, mas que fizessem a morena delirar ao provar.
- Acho que tenho um pouco disso em forma de rosquinha sim… Espere um momento.
Berny adentrou aos fundos da confeitaria e demorou alguns minutos para voltar com uma caixa colorida que era fechada com um laço branco.
- Voilà! - Ele falou em seu melhor francês. Berny havia estudado confeitaria na França, vez ou outra ele arriscava falar francês com os clientes.
- Uau… Posso saber o conteúdo? - Os olhos da Sanders brilhavam.
- Rosquinha de avelã e panna cotta de pistache!
Charlie ergueu as sobrancelhas. Aquilo era simplesmente uma mistura ousada e atrevida. E se Berny acertasse mesmo na receita, seria tudo o que ela estava procurando!
- Nossa… Agora você me deixou intrigada, Berny.
- Prove, prove! - Ele balançava a caixa na direção de Charlie. - Ele já foi escolhido como a sobremesa do mês por três vezes seguidas!
- Não, não… - Ela capturou a caixa. - Essa aqui é para dividir com uma pessoa especial!
- Oh. - Berny ajeitou o chapéu na sua cabeça, era um acessório típico do local.
- E agora, por favor, me dê as rosquinhas de avelã e chocolate… Eu viajei de Nova Iorque até aqui para isso! - Ela dizia virando os olhos de prazer.
Berny serviu as rosquinhas para uma Sanders sorridente. Ela pagou todas as compras e resolveu se sentar para comer pacientemente a sua sobremesa favorita. Conferiu o relógio e ainda faltavam trinca minutos. Ela respirou fundo e mordeu o doce.
Primeiro, sua boca foi invadida pelo gosto do avelã na massa quentinha e macia da rosquinha, para só depois o conteúdo de chocolate ser despejado como bomba e lhe fazer cosquinhas de prazer na sua língua.
- Oh Berny! - Ela falava enquanto o senhor ria e servia outras pessoas. - Você é o melhor!
O clima seguiu animado na confeitaria. Clientes iam e vinham e Charlie se deliciava com o seu doce favorito. Ela estava tão concentrada na rosquinha que não percebeu a presença de uma mulher que entrara apreensiva e impaciente no Berny’s. Ela olhava para todos os lados como se procurasse por alguém e só parou quando avistou a Sanders.
- O-Oi… - A mulher falou baixinho.
Charlie não ouviu, continuava devorando a rosquinha. Então a mulher pigarreou tentando chamar sua atenção.
- Olá! - Disse em um tom mais alto.
Charlie ergueu os olhos e se deparou com uma mulher impaciente de cabelos rosa. Sim, ela tinha todo o cabelo coberto por uma tinta rosa pink. Suas roupas eram esquisitas, ela vestia uma saia vermelha muito curta, com uma meia calça preta furada e um casaco fino demais para o tempo que fazia.
- Olá? - A Sanders respondeu sem jeito com a boca cheia de chocolate.
A mulher olhava impaciente para os dois lados e coçava os braços.
- Você é a Charlotte Sanders? - Ela tentou falar mais baixo que o normal.
- Sim… - Charlie respondeu limpando os lábios. - E você é?
Ela passou as mãos pelos cabelos visivelmente incomodada com algo e respirou fundo, como se tomasse coragem de falar algo, e então ela retirou um jornal da sua própria bolsa e o depositou sob a mesa onde a Sanders estava.
- É você? - Apontou para o papel.
Charlotte observou o jornal. Era uma matéria falando sobre o acidente que sofrera há uma semana atrás. Ao lado também dizia que ela ainda era a principal suspeita do caso da Taylor. Verificou a data e percebeu que era um jornal da semana passada, aquilo a intrigou.
- Não sabia que eu estava nas manchetes de Hilton… - Disse em um tom animado e curioso.
- É você ou não é?! - A moça perguntou mais irritada e impaciente.
- Ow… Sou eu sim, senhorita nervosinha. E quem é você?
A moça respirou fundo e recuperou o jornal rapidamente.
- Precisamos conversar… Não acho que aqui seja seguro, eu estou muito exposta. - Ela falava apressadamente enquanto voltava a coçar os braços. - Eu conheço um lugar onde poderemos conversar mais tranquilas.
- Ei, calma lá… Você nem me disse o seu nome ainda.
- Não temos tempo pra isso!
- Olha, eu não estou entendendo nada… - Charlie dizia fazendo menção de se levantar. - Você está precisando de ajuda?
- Eu já disse que aqui não é seguro! - Ela dizia baixo e entredentes.
- E ir com você, uma desconhecida que eu nunca vi na vida seria muito seguro, uh?
- Não temos tempo pra isso, Charlotte.
Charlie levantou completamente da mesa e capturou a caixinha com as rosquinhas. Estava intrigada com aquela mulher, mas todo aquele mistério já estava lhe fazendo perder a paciência.
- Olha, eu não tenho tempo pra isso, senhorita… - Ela aguardou a mulher falar o nome, mas a outra não o fez. - Tenha um bom dia.
A Sanders completou apenas dois passos quando foi paralisada pelas palavras da mulher de cabelo rosa.
- É sobre a Taylor Collins. - Ela disse simplesmente.
Charlie congelou e empalideceu.
- O que? - Ela perguntou confusa se aproximando da desconhecida.
- Como eu disse, aqui não é seguro. - Falou nervosa. - Mas eu conheço um lugar onde iremos poder conversar tranquilas.
Charlotte não pensou em mais nada, apenas acompanhou a mulher até a saída do Berny’s. Estava tão ansiosa e impaciente que mal ouviu o senhor Phillips se despedir e quando o frio invadiu o seu corpo, ela percebeu que nem o casaco ela havia fechado.
- Podemos ir no meu carro. - Charlie falou tentando acompanhar a moça.
- Não! - Ela respondeu apressadamente sem olhar para trás. - Vamos caminhar, não vai demorar.
- Ok…
Acompanhar a mulher de cabelos intrigantes foi complicado porque ela parecia que estava correndo o tempo inteiro. A menina estava claramente assustada porque não parava de olhar para os quatro cantos, e se assustava sempre que outro corpo trombava com o seu.
Charlie não parava de pensar no que poderia vir daquela conversa, e depois que a mulher havia tocado no nome da Taylor, toda a sua ansiedade veio à tona. Poderia ser uma pista sobre o assassino ou uma denúncia, e talvez ela pudesse ter até mesmo provas! Uma onda estranha de esperança invadiu o seu peito e ela só queria mesmo era chegar no lugar escolhido pela desconhecida e tirar todas as informações possíveis.
O bar se chamava ‘Toca do Coelho’, e era um local realmente escondido, talvez seja por isso que se chamava toca. Para conseguir entrar no estabelecimento era preciso entrar na livraria oeste de Hilton, e descer para um porão que existia ali.
Eu nunca ia saber que essa livraria tinha um porão! E um porão que é um bar! Mas que porr*!
A mulher parecia conhecer bem o local e apenas com alguns acenos de cabeça, ela recebia a permissão para entrar em todos os cantos. Charlie apenas a seguia, olhando para tudo cuidadosamente. Elas desceram as escadarias escuras do porão e a mulher de cabelo rosa deu duas batidinhas na porta.
- Senha. - Uma voz grossa falou do outro lado.
- Chelovek yedinstvennyy volk cheloveka¹.
Ela disse simplesmente e a porta barulhenta foi destravada. Charlie reconheceu o idioma, a menina estava falando russo, mas a tradução não lhe era acessível a mente naquele momento. A Sanders seguia logo trás da desconhecida que saudava uns poucos homens que bebiam por ali. Todos em torno de trinta à quarenta anos, eles bebiam, fumavam e conversavam silenciosamente. Era como se naquele local houvessem regras que Charlie ainda não reconhecia, mas que eram essenciais ali dentro.
Seguiram para o balcão e a desconhecida pediu dois bourbons. O garçom encarava a Charlie com um olhar desconfiado, mas nada disse.
- Você paga. - A mulher disse simplesmente enquanto recuperava os copos e seguia para uma mesa afastada.
Charlie tirou umas notas do bolso e as deixou sob o balcão para rapidamente se juntar a outra que já bebericava o seu copo.
- E então? - Charlotte disse impaciente.
- Meu nome é Joana.
Charlie se sentou, esperando que ela continuasse.
- E eu sou garota de programa...
A Sanders ergue as sobrancelhas confusa.
- Sim, eu trepo por dinheiro e aí?
- Isso não é da minha conta Joane.
- Claro que não, você está sendo acusada da porr* de um homicídio!
- Eu não vou jogar esse jogo de quem está mais na merd*. - Charlie perguntou já afastando a sua própria cadeira.
- Espere. - Joana disse rapidamente.
- Olha Joana, eu pouco me importo com o que você faz da vida para conseguir dinheiro. - Ela começou. - Eu simplesmente não ligo. Eu só estou aqui porque você citou o nome da Taylor.
A mulher mordeu o lábio e olhou novamente para os dois lados. Ela estava menos apreensiva do que antes, mas, ainda assim, algo a incomodava.
- E-eu… - Ela tomou de vez o seu próprio copo de bourbon. - Eu acho que tenho uma informação importante sobre o caso.
Charlie voltou a se endireitar na cadeira e se inclinou levemente sob a mesa.
- Algo que talvez possa livrar esse seu rabo de ir pra cadeia.
A Sanders prestava bastante atenção em cada palavra da Joana. Algo lhe dizia que aquela mulher realmente sabia de algo, mas será que podia confiar?
- E porquê você iria querer salvar o meu rabo?
Joana sorriu com ironia enquanto negava com a cabeça.
- Eu não quero salvar o seu rabo, Charlotte.
- Então, por que me chamou até aqui? - Charlie cruzou os braços e recostou na cadeira.
- Por que alguém precisa parar esse filho da puta sádico!
As orbes verdes curiosas olhavam para Joana que seguia inquieta. A mulher de cabelo rosa tinha uma voz carregada de verdade e desprezo. Seus olhos cintilavam de raiva.
- O que aconteceu Joana?
A mulher ponderou novamente, deixando um silêncio se instalar no ambiente.
Charlie percebeu que faltava coragem para a outra abrir o bico, então, ofereceu o seu próprio copo de bourbon para a Joana.
A mulher respirou fundo e virou todo o conteúdo de uma só vez, mas permaneceu em silêncio novamente. Charlotte reparou na música de fundo, era uma melodia de jazz clássico.
- Há um mês atrás eu recebi um novo cliente… - Joana começou. - Eu estava precisando de grana e o cara aparentemente tinha muito dinheiro.
Ela olhou nos olhos da Charlotte que permanecia em silêncio. Não havia julgamentos ali.
- Eu estranhei em um primeiro momento porque todas as meninas que trepavam com o novato, voltavam estranhas, arrependidas ou ansiosas.
Joana passava o dedo pela borda do copo como se um filme rodasse na sua mente.
- Mas foda-se, sabe? Eu precisava da grana!
Charlie assentiu com a cabeça, elas eram de mundos completamente opostos. Não estava ali para julgá-la.
- As meninas tentaram me alertar, mas eu não quis ouvir. Eu aceitei fazer um programa com ele, e na primeira noite, não foi nada demais. O cara era muito gostoso e bonito! - Ela sorriu irônica. - Eu não entendia porque um filho da puta como ele estava pagando por sex*… Mas tudo pode acontecer nessa cidade de merd*. - Ela deu de ombros.
Charlotte se ajeitou na cadeira sem piscar.
- Ele me pagou mais do que devia na primeira noite, e isso me deu ânimo para aceitar os próximos programas que viriam. Oh, Charlotte era muito fácil trepar com esse desgraçado… Só que, depois de uns dias, tudo mudou.
- Como assim, tudo mudou?
- Mudou… Ele começou a ficar estranho… - Joana disse pensativa. - Primeiro, ele começou a ter uma mania estranha de perseguição. Eu era obrigada a tirar toda a minha roupa antes de entrar no motel para ele averiguar se não tinha nenhuma escuta. Depois, ele escondia o meu celular. Então eu pensei: Que merd* é essa?!
Joana fez sinal para o garçom trazer mais uma dose. Charlie apenas esperou. O rapaz se apresentou desconfiado e serviu mais duas doses de bourbon.
- Mesmo assim, eu não desisti daquele trabalho. - Ela disse depois que o garçom se retirou. - Eu precisava de grana.
- E então?
Joana bebeu devagar a dose e olhou ao redor.
- Então foi ficando pior. Certa vez, ele chegou com uma peruca loira e uma roupa de líder de torcida. - Ela virou a dose fazendo uma careta. - Até aí tudo bem, eu sou acostumada a satisfazer as fantasias mais bizarras que você poderia imaginar.
A mulher de cabelo rosa se inclinou para Charlie.
- E eu fiz a vontade daquele filho da puta… O cara simplesmente enlouqueceu de tesão! E aquilo também me excitou… Mas teve um momento que ele começou a prender meus braços e depois ele começou a me sufocar… - Ela passava mão que tremia pelo próprio pescoço. - E aquela porr* não era a minha praia! Eu pedi para ele parar, implorei! Chorei e quase desmaiei com aquilo, mas ele não parava!
Charlotte respirou fundo e travou sua respiração. Suas mãos foram até os seus cabelos e ela começou a se sentir atordoada com tudo aquilo.
- Eu via nos olhos dele que ele ia acabar me matando ali mesmo, naquele muquifo! - Joana mostrou os punhos marcados para Charlie.
A garota ficou pálida, as marcas no pulso da Joana lembravam bastante as que estavam destacadas nas fotos das perícias da Taylor.
- E… E o que aconteceu Joana?
A mulher puxou o bourbon da Charlie e virou novamente todo o líquido.
- Eu estava desesperada, pensei que o desgraçado ia me matar ali mesmo… Porque ele parecia fora de si. Então ele falou algo como: Eu vou te matar Taylor Collins, você merece morrer sua vadia! - Ela tentava imitar uma voz grossa.
Charlie travou em seu assento. Seus dedos seguravam a mesa com força, seus dedos davam nós apertados no metal. O ar faltava nos seus pulmões e uma sensação de sufocamento começou a lhe desesperar ali presa naquele bar subterrâneo. A Sanders respirou fundo três vezes, precisava se acalmar para poder juntar todos os fatos revelados pela Joana.
- Eu só consegui sair viva porque a peruca caiu da minha cabeça do tanto que eu me debatia. - Ela disse pensativa. - E curiosamente, aquilo fez ele ter um choque de realidade. Era como se o desgraçado quisesse apenas matar a Taylor Collins.
- Eu fiquei curiosa sobre quem era essa tal mulher e acabei descobrindo que ela já havia sido morta. E encontrei você no jornal sendo apontada como a principal suspeita! - Joana concluiu.
Charlotte franzia a testa tentando entender todas aquelas informações, nada fazia realmente sentido, e a única coisa que vinha na sua casa era: Quem era esse cara?
- E eu pensei que talvez fosse a oportunidade perfeita de fazer esse idiota pagar pelo que me fez! - O ódio escorria pelas suas palavras.
Charlie pigarreou, estava agitada.
- Qual o nome dele?
Joana mordeu os lábios receosa.
- Eu não costumo dar os nomes dos meus clientes.
Charlotte bateu com as mãos na mesa causando um estrondo no estabelecimento. Todos voltaram os olhos para aquela mesa. O garçom que estava limpando alguns copos, paralisou e encarou as duas. Mas voltou ao serviço assim que Joana lhe observou.
- Quanto você quer?
- O que?!
- Quanto você quer pelo nome dele, Joana.
- Eu não quero seu dinheiro, Charlotte Sanders. - Ela disse irritada. - Eu quero ver esse porco nojento atrás das grades.
- Então?
- Você acha que ele seria burro e usaria o nome verdadeiro comigo?
- Merda, Joana! - Charlie voltou a estapear a mesa.
- Se controle! Ou vai chamar muita atenção aqui. - Ela advertiu.
Joana olhou para todos os lados e levou suas duas mãos até a mesa.
- Eu não tenho o nome verdadeiro dele… Mas eu tenho uma informação valiosíssima. E foi por isso que te procurei, o cara é peixe-grande. Eu não posso lidar com ele, mas você talvez possa. - Ela olhou de canto para Charlie. - Eu vi o seu carro bacana…
- E qual seria essa informação?
Joana se inclinou totalmente sob a mesa e se aproximou o máximo que pode de Charlie. E quando a mulher de cabelo rosa alcançou sua orelha, a Sanders soube que a Joana estava temendo pela própria vida ao compartilhar aquelas informações.
- O filho da puta é capitão do time de lacrosse da cidade. - Disse por fim. - E atende pelo apelido de Bob.
***
1. Chelovek yedinstvennyy volk chelovek: O homem é o único lobo do homem.
2. Nódoa: Sujeira, mancha, alcunha de pessoa de má fama.
Fim do capítulo
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Brescia
Em: 20/04/2020
Boa noite mocinha.
Aquele Bob realmente não me cheirava bem, muito bonzinho para o meu gosto, mas não sei se foi realmente ele, assim seria muito fácil, ele pode ser aquele cara que a Denise gostava,mas ele era apaixonado pela Taylor. Intrigada aqui,rs :)
Bravissima piccola.
Marta Andrade dos Santos
Em: 20/04/2020
Eu sabia que esse Bob era safado.
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