O apito da chaleira despertou a atenção da Claire. Ela desligou rapidamente o fogo e com cuidado, levou a água fervendo para a mesa onde se encontrava uma Maggie falante. A sua melhor amiga havia acabado de chegar do seu turno no Joe’s, e como era habitual nas últimas semanas, ela só reclamava.

- E o movimento foi terrível hoje, digo, horrível para os funcionários e perfeito para o Joe que estava só engordando o próprio bolso! – Ela reclamava -  Você precisava ver como o idiota do Steve corria desesperado pela cafeteria e o Joe gritava comigo: “Você tem algum problema de aprendizado, senhorita Woods?” – Ela imitava o patrão.

A morena não havia escutado nada que sua melhor amiga havia dito anteriormente, mas agora, o monologo começava a ficar engraçado.

- “Você ainda não aprendeu a usar a máquina de cappuccino, Maggie?! Eu vou descontar todos esses estragos do seu salário! ” – Mag engrossava a voz e fazia algumas caretas.

Claire sorriu distante e depositou a água quente nas duas xícaras, o aroma de cidreira invadiu a cozinha. A morena respirou apreciada, era o seu chá favorito.

- Isso me parece mais como um dia comum no Joe’s, Mag.

- Um dia comum?! – A mulher quase gritou. – Claire, você precisa voltar urgentemente a trabalhar! Eu não aguento mais o Joe perguntando quando você retorna e a senhora Parker me fazendo escutar histórias bizarras!

A Griffin ria enquanto assoprava o seu chá.

- Hoje mesmo ela me disse que estava ansiosa pela chegada da neta.... Uma tal de Denise.

Claire ergueu os olhos rapidamente ao ouvir o nome Denise, e depositou a xícara na mesa.

- E eu tive vontade de falar: Oh, finalmente algum familiar seu vai aparecer para conversar com você, senhora Parker porque, se você ainda não percebeu, isso aqui não é uma sala de bate-papo e eu estou cheia de serviço para fazer!

A morena nada disse. Seus pensamentos foram levados para o dia em que tinha conversado com a senhora Parker.

Denise era a melhor amiga da Taylor Collins, e ela estava voltando para Hilton depois de dez anos. Tem que haver um motivo.

- Mas eu apenas disse: Que notícia maravilhosa, senhora Parker. Aceita mais torradas? – Ela falava em um tom irônico.

Claire revirou os olhos para a amiga. Ela sabia o quanto Maggie poderia ser mimada e dramática. Mas a Woods era a sua menor preocupação no momento, suas dúvidas giravam em torno da volta de Denise.

- E a senhora Parker falou o porquê da neta resolver lhe fazer uma visita assim tão repentinamente? – Claire perguntou fazendo uma expressão cordial e desinteressada.

Maggie pensou por alguns segundos e bebericou o seu próprio chá fazendo uma careta em seguida.

- Como você consegue beber isso, Claire? – Perguntou apontando para a xícara.

A morena não respondeu, apenas deu de ombros e voltou sua atenção para o chá.

- Não. – Maggie respondeu finalmente. – Ela disse que a neta estava voltando para resolver uns assuntos burocráticos.

Claire fez um som nasal de que havia entendido e seus pensamentos foram bombardeados por questões.

Assuntos burocráticos, Denise? Logo na cidade que você não coloca os pés há dez anos? É meio contraditório. A não ser que não seja necessariamente por isso. E você esteja escondendo algo.

- Claire? – Maggie agitou as mãos na frente da morena.

- Hã?

- Eu estou há meia hora perguntando se você provou a torta de frango.

- Ah... Eu não tive tempo.

Em fleches rápido, as imagens de Charlie lhe tirando o folego entre beijos e mordidas passou pela sua cabeça. A morena estremeceu e sentiu um calor subir pelo seu corpo.

- Não teve tempo? – Maggie perguntou desconfiada.

- Eu fiquei ensaiando, Mag! Acabei esquecendo de tudo!

- Você anda meio esquisita, Griffin... – Maggie reparou.

- O estresse deve ter afetado seu cérebro.

- Espero que isso não tenha haver com uma certa forasteira de olhos verdes e provável assassina da irmã do Mike.

- Cala a boca, Mag. – Claire disse revirando os olhos.

- E o Bob?

- O que tem o Bob?

- Ele disse para o Mike que ia te chamar para sair no final de semana... – Maggie revelou animada. – E vai ser um encontro “solo” baby!

- Maggie, eu não quero sair com o Bob! – A morena disse respirando fundo.

- Como não? Você já viu o peitoral daquele garoto? – Ela disse se abanando.

Claire levantou e retirou as xícaras da mesa.

- Qualquer uma dava tudo para ter aquele deus grego caidinho nos pés!

- Bom, eu não sou qualquer uma... E que façam bom aproveito! – Claire respondeu ligando a torneira da pia para lavar os pratos.

Maggie se aproximou e olhou silenciosamente para a amiga. Depois seus olhares foram direcionados para as duas xícaras sujas de café.

- Tivemos visitas hoje?

Claire pigarreou e começou a lavar os pratos.

- Não! – Respondeu rápido.

- Então você fez café e tomou em duas xícaras diferentes para brincar de ser esquizofrênica?

- Me deixa em paz, Mag! – A morena estava já sem paciência.

Maggie respirou fundo e esperou a amiga terminar de lavar tudo.

- Claire...

As duas ficaram frente à frente e a Griffin desviou o olhar. Não conseguia mentir para sua melhor amiga.

- Eu quero que seja sincera comigo.

- Eu estou sendo!

- Você não sabe mentir, Griffin. E eu vou te perguntar de uma vez: Você está apaixonada por Charlotte Sanders.

Claire empalideceu. Não sabia quando a conversa tinha chegado a esse ponto, mas aquelas palavras sendo proferidas por sua melhor amiga a assustaram. Ela estava apaixonada por Charlie? Existia envolvimento emocional no meio de toda aquela confusão? E quando foi que tudo isso tinha acontecido, porque quando ela se deu conta, já estava nos braços da Sanders.

- Puta que pariu, Claire! – Maggie levou as mãos aos cabelos. – Você está apaixonada por essa mulher!

- E se eu estiver apaixonada por uma mulher, Maggie?! – Ela quase gritou já de saco cheio de todo aquele interrogatório.

A mulher negava com a cabeça e tinha uma expressão de espanto.

- O problema não é esse, Claire! Se você resolveu trocar de time, para mim tudo bem! Mas a Charlotte Sanders? Você perdeu sua cabeça?!

Claire nada disse, apenas enxugou as mãos em um pano e seguiu para a sala. Maggie a acompanhava.

- Eu... Eu posso te apresentar algumas meninas. – Maggie disse meio confusa. Ela não sabia como lidar com essa nova Claire.

Claire percorreu o caminho do seu próprio quarto e a amiga não desistiu de lhe seguir.

- Ou você pode dar uma chance para o Bob e tentar!

- Chega Maggie! – Claire gritou parando na porta do seu quarto.

- Ela matou a irmã do Mike! – Maggie agitava as mãos no ar.

- Você não sabe!

- O Mike me contou! – Maggie gritou já sem paciência.

- E se o Mike for um idiota mentiroso?

- O que?!

- É isso mesmo Maggie! – Claire cruzou os braços.

Ela se lembrou do dia em que estavam todos bêbados na festa da cidade, e que o Mike havia lhe lançado olhares durante a festa inteira mesmo estando com a Maggie. Ela não relevou porque sabia que quando estava sóbrio, ele era uma ótima pessoa.

Mas agora, diante dos seus últimos comportamentos e de toda essa história, ela já não tinha mais tanta certeza.

- A Charlie disse isso para você?

- Não Maggie! Isso não é sobre a Charlie, isso é sobre a nossa amizade e o quanto você vai ser capaz de me respeitar e respeitar as minhas escolhas!

Maggie ficou em silêncio por algum momento e sorriu irônica.

- Então Charlie é uma opção, uh?

- Ela não é uma opção. – Claire disse finalmente encarando a amiga nos olhos. – Ela é uma realidade e se você não souber respeitar isso, então, não tem porque continuarmos com essa amizade.

Claire bateu a porta do próprio quarto com força e algumas lágrimas rolaram pelos seus olhos. Lhe doía ver a sua melhor amiga sendo tão cruel e estúpida quanto o próprio Mike. Ela não ia mais aceitar esse tipo de perseguição sem fundamento, muito menos os shows do Collins.

Ela se jogou na cama e agarrou um dos travesseiros. Queria apenas sumir e aparecer em um mundo onde as coisas fossem mais fáceis. Um mundo sem todos aqueles conflitos envolvendo a Sanders ou seus amigos... Um lugar onde as pessoas respeitassem suas escolhas. Pensou no drama que seria contar para os seus pais sobre tudo aquilo e suspirou.

O pior ainda estava por vir, ela podia sentir... Mas Charlie realmente não era uma escolha. Seu coração não tinha opção, ele simplesmente batia desesperado na presença daquela mulher, não havia nada que pudesse mudar isso.

Em seu âmago vivia a certeza de que ela nunca havia encostado um dedo sequer na Taylor. E Claire ansiava pelo dia em que tudo fosse esclarecido e Charlotte se encontrasse finalmente liberta de todos aqueles fantasmas e acusações.

Ela iria gritar na cara da Maggie o quanto ela tinha errado sobre a Charlie.

PLIM.

O celular da Claire notificou uma mensagem de texto.

A morena destravou o celular e leu o conteúdo.

(603) 2368567:

Agora você também tem o meu número.

Já sinto falta do seu café.

Charlie.

A menina sorriu e limpou algumas lágrimas. Seu coração voltou a se aquecer com aquela simples mensagem. Rapidamente ela se prontificou em salvar o número e responder.

Claire G.:

Muita cafeína faz mal para o corpo, Charlie.

Mas eu tenho certeza que posso te oferecer outras coisas.

Claire.

Clicou em enviar, imaginando o sorriso presunçoso da Charlie do outro lado da linha. Não demorou muito para a tela apontar o nome da Sanders no seu celular.

Charlie S.:

Eu acho que vou ficar com a segunda opção.

Estou ansiosa para saber quais são essas outras coisas.

PS.: Amanhã você vai trabalhar no Joe?

Claire fechou os olhos por alguns momentos, e se sentiu uma adolescente com todos aqueles sentimentos.

Claire G.:

Sim, eu preciso ir trabalhar antes que o Joe surte ou demita a Maggie.

Claire.

A noite seguiu animada entre trocas de mensagens e uma pitada de provocação. Claire não viu a hora que adormeceu, mas em seus sonhos, a única coisa que via eram as lindas orbes verdes lhe encarando como se não existisse mais ninguém ali.

Ela mal podia ver a hora de se reencontrar com Charlotte para conversar sobre Denise e obviamente, matar a saudade.

***

1 - Séctil: É o que se pode cortar.

Fim do capítulo