Olá meninas,
Queria agradecer a todos os comentários! E à todas que estão acompanhando essa aventura!
Amanhã tem mais!
À bientôt!
Capitulo 21 - Ginge
- Um, dois, três, quatro…
Claire repetia enquanto treinava passos de plié, um dos movimentos essenciais do ballet que ajudava a tornar os músculos mais flexíveis e os tendões mais elásticos. A morena utilizava a beira da janela como uma barra improvisada, e flexionava os joelhos com uma postura digna de bailarina.
Estava se aquecendo para o que viria a seguir ao som de Tchaikovsky¹, ela flutuava a valsa das flores. Seus gestos eram suaves, seu corpo deslizava pelo ar como se a pequena mulher brincasse entre o rond de jambe² e os movimentos delicados dos seus braços. Era na dança que Claire se encontrava, a melodia do piano embalava seus passos e ela se sentia… Livre.
Dançar era sua liberdade, e quando o fazia todas as amarras se quebravam. Todas as travas se abriam e a sensação era libertadora.
Sua respiração pesada e bochechas rosadas eram prova viva da intensidade que a mulher vivia a dança. O coque, outrora perfeitamente alinhado e preso no topo da cabeça, agora se desfazia a cada giro. O seu corpo tinha vida própria, ela sempre soube disso.
Estava tão imersa na melodia que não respondeu quando Maggie se despediu, informando que hoje faria hora extra no Joe’s, e que tinha torta de frango na cozinha, mas estava levemente queimada.
Claire continuava flutuando no seu quarto como se nada mais a importasse. Esse foi o único jeito que ela encontrou para calar o barulho na sua mente. Ela queria silenciar aquela briga interna entre sua cabeça e seu coração que havia se instalado na sua vida desde a primeira vez em que viu a maldita forasteira de olhos claros.
Charlie.
Sua respiração trancou e Claire abriu os olhos. Parou por um momento, respirou profundamente e voltou a dançar de forma graciosa a valsa das flores.
Sete dias haviam se passado e ela ainda não conseguia esquecer os lábios da mulher de olhos verdes. O beijo ficara enraizado na sua boca como uma lembrança insistente e desejosa de mais.
Claire estava perdida, confusa e aterrorizada por aquelas novas sensações. Existiam muitas dúvidas, mas nenhuma era sobre como foi intenso e único o lampejo ao tocar os lábios da Sanders. Ela nunca havia sentido nada parecido.
De olhos fechados, a morena foi arrastada pela lembrança dos lábios da Charlie tomando os seus, seu corpo estremeceu, entretanto ela não lutou contra as sensações. A música se misturava com suas memórias, e ela pode notar que assim como a dança, Charlie lhe inspirava a intensidade e liberdade.
Ninguém nunca havia lhe olhado como aquelas orbes verdes ferventes a olhavam, e nenhuma outra pessoa tinha lhe tocado como Charlie porque toda vez que suas mãos quentes pousavam em Claire, o seu coração também era atingido.
A campainha da porta fez com que a morena abrisse os olhos bruscamente e parasse os movimentos. Seu corpo estava quente e suado, um forte contraste com o tempo que fazia lá fora.
Claire mal teve tempo de se recompor porque o som da campainha voltou a tocar. Imaginou que seria a Maggie.
- Vai ver ela esqueceu novamente as chaves do carro. - Reclamou enquanto corria até a sala. - Já estou indo, Mag! - Gritou.
A porta tinha umas três trancas diferentes, Claire abriu cada um delas e puxou a porta pronta para reclamar com a melhor amiga, porém não era ela. O sorriso morreu no seu rosto e ela engoliu em seco.
Charlotte Sanders estava na sua porta com os cabelos molhados e brancos de neve. Seu semblante era abatido porém o brilho nas esmeraldas verdes estava presente.
- Oi… - Charlie disse primeiro.
- O-oi… - Claire falou tão baixo que não soube se certificar que a outra tinha entendido.
Suas bochechas coraram quando percebeu o olhar da Sanders passar pelo seu corpo. E então ela lembrou que estava com um short de tecido curto demais e uma blusa fina sem sutiã. Automaticamente, levou as mãos até o seu busco e as cruzou tentando esconder o que a outra já tinha visto.
- O que veio fazer aqui, Charlie? - Claire perguntou nervosa e sem graça.
- Eu vim te ver, Claire. - A outra respondeu sem tirar os olhos das orbes castanhas.
A morena respirou fundo e mordeu o lábio. Olhou para os dois lados se certificando que não tinha mais ninguém e ponderou por alguns instantes se deveria deixar a mais velha entrar ou não. Seu lado racional gritava que era muito perigoso estar tão perto de Charlie.
- Posso entrar ou você é tão cruel que vai me deixar morrer de frio aqui fora? - A Sanders leu seus pensamentos.
Claire sentiu vontade de rir da cara de pedinte que Charlie fez, mas respirou fundo e se concentrou em não dar corda para suas emoções naquele momento.
- Ou talvez seja melhor você dar meia volta e ir para sua casa. - Disse por fim, desafiante.
- Está caindo uma nevasca lá fora… - Charlie saiu em sua defesa. - Você não quer me ver no hospital novamente, quer Claire?
A Griffin revirou os olhos. Não queria falar sobre aquele hospital.
- Tudo bem, mas só para uma xícara de café ou chocolate quente. - Ela avisou. - Depois você vai embora!
- Café, por favor. - Charlie sorriu realizada. - E com dois cubos de açúcar.
- Você é muito folgada, Sanders. - Claire sorriu e deu passagem para outra.
Charlie deu alguns passos para frente e parou em uma distância perigosa. O buquê de orquídeas que a Sanders havia escondido esse tempo todo agora se revelava à frente da morena que estava boquiaberta.
- Não, eu apenas sei o que quero. - Charlie pontuou enquanto entregava as flores e olhava diretamente para uma Claire surpresa.
- Você acertou no meu gosto, Charlie. - A mulher capturou o buquê. - Orquídea é minha flor favorita.
Charlie ergueu as sobrancelhas.
- Eu pensei que fossem as peônias.
- As peônias também são. - Respondeu aspirando o cheiro das flores.
- Elas tem o seu perfume. - Charlie comentou enquanto entrava no apartamento.
Claire sorriu com aquele comentário, mas resolveu ignorá-lo.
- Vou pegar uma toalha para você se secar… Sinta-se em casa. - Informou enquanto sumia com o buquê por um corredor estreito.
Charlie continuou olhando curiosamente para todos os cantos do apartamento. Tudo ali lembrava a Claire. Era uma decoração bem simples e feminina, alguns pequenos vasos de plantas espalhados pela casa, um pequeno sofá beje que combinava com a mesinha de centro e com o criado-mudo vintage.
A Sanders se aproximou do móvel para analisar os porta-retratos que estavam expostos. A primeira foto era da Claire com seus pais. Charlie pode notar que a mulher era muito parecida com a mãe, e o apego com os progenitores era nítido no enorme sorriso que ela esbouçava ao abraçar os dois.
O segundo porta-retrato era da Claire beijando a bochecha da sua melhor amiga. Maggie estava vestida de diabinha e a Griffen de fada, provavelmente elas estavam se divertindo em alguma festa de halloween.
A última foto, era de uma criança que lembrava muito o rosto da Claire. Era uma foto antiga da morena, ela deveria ter em torno de oito ou nove anos e estava vestida de bailarina com uma medalha azul pendurada no pescoço.
Charlie estava quase tocando na foto, mas foi interrompida pela voz da Claire que tomou a sala.
- Trouxe a toalha! - Ela disse agitando o pano nas mãos.
- Muito obrigada! - Charlie capturou o pano nas mãos e começou a se secar.
Claire sentou no sofá e vez menção para que Charlie fizesse o mesmo.
- Então… - A mais velha começou. - Temos uma medalhista aqui, uh?! - Falou voltando seu olhar para o porta retrato.
- Eu tenho meus momentos, senhorita Sanders… - Respondeu sorrindo e fazendo bico.
Seus olhos castanhos capturaram a mulher de olhos verdes lhe observando novamente. Claire havia trocado de roupa rapidamente. Agora, com uma calça de malha e uma blusa de frio, ela se sentia mais a vontade para ficar perto da outra. Não que existisse qualquer incomodo em sentir as orbes verdes fixadas em si, seu problema era com reações do seu próprio corpo diante desse fato.
- O que veio fazer aqui, Charlie? - Claire perguntou repentinamente.
- Eu precisava te ver, Claire. - Respondeu calmamente.
A morena levou as mãos ao rosto e negou com a cabeça.
- Você simplesmente sumiu!
- Eu não sumi… - Ela disse sem muita convicção.
- É, você não sumiu… Você fugiu!
Charlie constatou ao encurtar a distância das duas naquele minúsculo sofá.
- Eu fui no Joe’s te procurar, e ele disse que algo inédito tinha acontecido, Claire! - A mais velha podia sentir o cheiro vindo do pescoço da Griffin. - Você tinha tirado férias!
- E-eu… E-eu… - A morena começou a gaguejar, perdendo as palavras na boca ao sentir a respiração de Charlie tão próxima do seu pescoço.
- Você o que, Claire? - Ela sussurrou estrategicamente em seu ouvido.
Claire levantou do sofá em um movimento brusco fazendo Charlie se inclinar para o local onde ela estava.
- Eu precisava dessas férias! - Ela disse por fim.
Charlie sorria e balançava a cabeça negando as palavras da morena.
- Você ainda está fugindo!
Claire respirou fundo e virou de costas para não ver os olhos decifradores de Charlie. Era como se aquela mulher pudesse ler seus pensamentos e o seu corpo. Aquilo não era justo no momento. Mas a Sanders foi mais rápida.
- Eu quero que você pare de fugir de mim… - A voz fez cócegas na sua nuca.
Charlie envolveu a cintura de Claire e aproximou os dois corpos. A morena fechou os olhos e sentiu seu corpo se render ao toque. Ela permanecia de costas para a mais velha, e seu coração palpitava no peito.
- Eu senti sua falta, Claire. - Charlotte revelou ao pé do ouvido da Griffin.
Sua vontade era confessar que não aguentava mais um dia sequer sem ver aqueles olhos verdes, mas ela ainda estava presa nos seus próprios medos, e percebia que a cada momento junto a Charlie, o temor diminuía.
- Talvez eu tenha sentido a sua falta também. - Sussurrou de volta.
- Talvez? - Charlie ergueu as sobrancelhas.
Em um movimento rápido, a mais velha fez Claire girar, a forçando as duas a ficarem frente a frente.
A morena abaixou o olhar se deparando com mais algum dilema interno, mas Charlie resolveu não deixá-la resolver aquilo sozinha. Em um gesto delicado, ela levantou o queixo da morena, os olhos castanhos foram capturados pelo mar verde, e a Sanders percebeu que existia uma possibilidade da Claire sentir o mesmo que ela naquele momento.
- Eu quero você, Claire.
A morena estremeceu em seus braços e fitou os lábios avermelhados da Charlie, Sentiu vontade de dizer que também a queria, mas constatou que seu olhar já estava lhe entregando.
- E se isso for errado? - Perguntou sem desviar os olhos da mais velha.
- Do que você tem medo, Claire?
- De magoar as pessoas, Charlie! - Ela assumiu por fim. - De magoar o Mike, a Maggie, a minha mãe que provavelmente nunca entenderia! - Ela falava rápido demais.
- Shhh… - Charlie colou sua testa na morena.
Claire fechou os olhos, estavam tão próximas que seu corpo reagia aquele calor emitido por Charlie. Um friozinho no estômago lhe agitava, mas ela não queria mais fugir. Precisava encarar tudo de frente.
- Podemos esquecer o mundo lá fora? - Charlie perguntou. - Apenas por uns instantes e viver o que existe aqui e agora?
A morena lhe encarou e a Sanders pode ver a sua pupila dilatada a encarando. Lembrou de que leu em algum lugar que nossas pupilas dilatavam sempre que observamos algo que desejávamos ou queríamos bastante.
- O mundo lá fora está uma merd*, Claire… - Charlotte continuou. - Tem sido uma merd* para mim por dez anos, e pela primeira vez, em todo esse tempo, eu encontrei um motivo para me sentir viva novamente.
Charlie fechou os olhos e pode sentir a respiração da morena acelerada, seus lábios estavam tão próximos que já se roçavam a cada palavra proferida.
- Então, se isso for errado, eu quero continuar errando pelo resto da minha vida.
Claire ouvia atentamente cada palavra, sentia o impacto daquelas revelações e sabia que Charlie estava abrindo seu coração. Sua razão já não tinha mais forças para ir contra tudo que seu corpo gritava que queria. Ela queria a Charlie.
Em um gesto movido pelo seu próprio coração, ela levou as mãos até o maxilar da Charlotte e a puxou para selar os seus lábios, e percebeu que aquele ato foi um dos mais autênticos que já teve na vida. Como quando descobriu que sua paixão era a dança ou quando resolveu sair da casa dos seus pais. Claire estava sendo ela pela primeira vez depois de um tempo.
Era um beijo terno e cheio de convites para novos sentimentos, os lábios da Claire eram macios e doces, e as sensações eram misturadas com o toque sutil que morena fazia no rosto da Charlie. Fazia tempo que a Sanders não sabia o que era o coração bater tão forte por qualquer coisa, e agora, com Claire em seus braços, reacendendo o fogo da vida em seu próprio corpo, ela encontrou um novo motivo para continuar.
E como no ballet que Claire sabia conduzir perfeitamente, o beijo tomou novos rumos e quando perceberam, o desejo ardia entre algumas mordiscadas nos lábios e as mãos da Charlie que passeavam pelas curvas salientes da Griffin. A respiração faltava, mas não importava porque a única necessidade era de saciar aquele desejo.
Caminharam lentamente até o pequeno sofá beje, e Charlie foi se sentando e trazendo para o seu colo uma Claire ardente, ofegante e extremamente sexy, ela constatou. Era um novo caminho a ser explorado, e apesar de ser tudo novo para a Griffin, ela não parecia assustada. Existia paixão naquela garota, e toda vez que se decidia por algo, ela se jogava de cabeça e liberava suas amarras.
Charlie afastou os cabelos do pescoço da Claire e o trilhou entre beijos e língua descobrindo o ponto fraco da morena que arfava em seu colo. Seus olhos castanhos faiscavam e excitavam ainda mais a mais velha. As bocas voltavam a se buscar em um beijo desejoso e urgente. Não havia mais nada além do gosto de Claire… E nada importava além das mãos quentes de Charlie subindo e queimando a pele das coxas da morena.
A campainha tocou freneticamente fazendo Claire saltar do colo da Charlie. As duas se entre-olharam ofegantes e com as roupas desalinhadas. A Griffin levou as mãos até seus lábios e Charlie revezava o seu olhar entre Claire e a porta.
Quem poderia ser aquela hora?
Claire pensava ainda em transe tentando acalmar o seu próprio corpo que ardia e ansiava por Charlie.
- Mas que merd*!
Foi a única coisa dita pelos lábios agora muito avermelhados da Charlie.
***
1.- Tchaikovski: Compositor russo do período romântico, compositor da canção Valsa das flores.
2.- Rond de jambe: Movimento do ballet clássico.
3.- Ginge: Arrepio provocado pela emoção.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Brescia
Em: 18/04/2020
Boa madrugada mocinha.
É tarde eu sei,mas dormi com as galinhas e aqui estou lendo de novo, é sempre assim quando me apaixono pelo que leio,rs. Vamos ao capítulo,apesar de intenso Charlotte vem com a sua calmaria e acende a Claire,são fofas juntas, mas pelo jeito terão milhões de obstáculos.
Brava piccola.
Resposta do autor:
Fico feliz em saber que essa história está te fazendo companhia!
E que de certa forma, fez você se apaixonar!
É muito legal acompanhar a tua percepção e olhar sobre a história!
Um grande abraço!
alemarina
Em: 18/04/2020
Querida autora, eu esperei ansiosa pelo primeiro beijo, e espero ansiosa pela noite de amor delas. E aí vem um estraga prazeres e vc ainda vai deixar um suspense no ar..... é pra enlouquecer. Obrigada pela história.
Resposta do autor:
Eu fico muito feliz em saber que essa história está causando emoções intensas e despertando aquele desejo de quero mais! Obrigada pelo feedback! E sim, eu adoro brincar com minhas leitoras! E continue acompanhando, virão mais brincadeiras e mais cenas intensas.
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