Olá leitoras,
Eu gostaria de agradecer a todas as leituras e comentários! Estou muito feliz que vocês tenham resolvido entrar nesse mundo da Charlie junto comigo!
Eu passei pra avisar, que nesse ponto da história em diante algumas cenas ficaram pesadas, pois começaremos a destrinchar os acontecimentos com a Taylor. Peço desculpas as mais sensíveis e espero que vocês peguem as mensagens nas entre linhas da história. Não é só sobre descrever sobre violência e sim demonstrar denúnciar crueldades, e muitas vezes até que ponto pode ir o horror de uma pessoa sem humidade. Também quero retratar o amor e as boas novas. Um grande abraço em todas e obrigada.
Luana Darlling.
Capitulo 19 - Corolário
Os jornais alertavam para uma possível nevasca naquela sexta-feira, mas isso não impediu que Charlie se prontificasse para ir até a delegacia depor. Era uma manhã fria e cinza, e ela já se sentia em forma após sete dias passados do acidente.
Cassie não parava de falar sobre o quanto Charlotte era irresponsável e não media as consequências dos próprios atos, que ela teria todo o direito de adiar novamente a intimação devido aos últimos comportamentos da Oficial Lopés. Victorio lhe entregava sal e correntes para colocar no carro e vovó Anna tentava segurava os bisnetos que tentavam derrubar a casa.
Uma neve fria tocou o rosto pálido e com alguns poucos arranhões já cicatrizados de Charlie, ela caminhou lentamente até o carro do Victorio, porque o seu ainda estava sendo reparado na oficina, e começou a colocar as correntes em um dos pneus. As luvas atrapalhavam o serviço, então elas as retirou e guardou no bolso do blusão marrom. Sentiu o impacto do frio nos dedos, mas o ignorou e se apressou em fazer o seu trabalho.
No quarto pneu, o seu dedo já estava ficando roxo e ela mal sentia as mãos. Mas ainda faltava retirar o excesso de neve do para-brise. Procurou o pequeno acessório que mais parecia um rodo para retirar o gelo, mas não encontrou.
- Droga! - Resmungou batendo a porta do carro.
Seu humor não estava um dos melhores. E uma pulga atrás da orelha dizia para Cassie que aquilo tinha muito a ver com uma certa garçonete. Ela não estava errada, depois do beijo inesperado no hospital, Charlie não teve mais notícias de Claire. Já tinha até tentado ir na cafeteira do Joe, mas aparentemente, a morena tinha tirado umas férias.
Ponderou se deveria ir ao apartamento da Griffin, mas não achou boa ideia.
Talvez tenha sido um erro.
A mulher chutou um dos pneus e alguns flocos de neve caíram dele.
E se ela estiver com aquele engomadinho do outro dia? Sua mente lhe atordoava.
Ela deve ter se arrependido do beijo…
Sete dias! Ela teve uma semana para pensar e resolveu sumir do mapa!
- Isso é o que dá beijar mulher hétero, Einstein! - Se repreendeu enquanto começava a retirar a neve do para-brise com sua própria mão.
- Qual é o meu problema, Charlotte? - Resmungou no momento em que jogava a neve com raiva no chão. - Não tinha algo mais genial para pensar em fazer do que beijar uma mulher hétero em Hilton?!
Ela bufou de raiva ao fim do monólogo e continuou o seu trabalho, as mãos já estavam molhadas. Mas no momento em que ia jogar mais um tufo de neve no chão, sentiu um papel molhado entre seus dedos.
- Ei… Tem alguma coisa aqui.
Afastou todo o gelo branco do vidro e se deparou com um papel branco, seus olhos foram guiados para as letras grandes escritas em vermelho:
“Você deveria ter morrido naquele acidente, sua lésbica nojenta”
- Mas que porr*… - Foi a única coisa que conseguiu dizer.
Em letras menores, ela pode ver que tinham mais algumas coisas escritas.
- “Vá embora, Hilton não aceita aberrações como você!” - Ela leu ainda com o ar preso nos pulmões.
Quem seria tão doente a ponto de escrever aquelas palavras e deixá-las no carro do seu cunhado?
Aquilo era doentio e ridículo. Ela adentrou no carro e depositou o papel, ainda muito molhado no painel.
Aquele recado lhe embrulhava o estômago, mas não era nenhuma novidade. As pessoas daquela cidade nunca esconderam seu desprezo por Charlie por causa da sua sexualidade. Mas a mulher jurou para si que aquilo não ia passar mais batido. Quem quer que tenha escrito aquelas barbaridades ia pagar caro.
Ela deu partida no carro e seguiu direto para a delegacia.
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- A senhorita Sanders está aqui, Andrea.
A xerife olhou por cima dos óculos para uma Diana que entrava afobada na sua sala. Revirou os olhos ao perceber como as pessoas de Hilton não conseguiam ser práticas e muito menos formais.
- É oficial Lopés. - Lhe corrigiu de forma seca.
Diana deu de ombros e a xerife continuou.
- Leve a senhorita Sanders para a sala de interrogatório, comece extraindo tudo que puder. - Ela recostou na cadeira. - Eu chego lá em um minuto… Apenas preciso separar algumas fotos para compartilhar com a Sanders.
- Tudo bem, oficial Lopés. - Diana disse fazendo menção em se retirar.
- Detetive Hayashi. - Andre lhe impediu de sair.
- Sim?
- Você está bem?
- Sim, xerife.
Diana se retirou da sala um pouco irritada com o jeito frio de Andrea. Ela era excelente no que fazia, disso ela não tinha dúvidas, estava tudo ali registrado nos certificados estampados na parede da sala, mas aquele seu jeito de lidar com as pessoas a incomodava bastante.
Ela acenou para Charlie que estava sentada confortavelmente esperando e a guiou até a sala de interrogatório. Era um local simples: Possuía uma mesa e duas cadeiras, e para completar o tom monótono, as paredes eram verde musgo.
Sem muito diálogo, Charlie assinou alguns papéis permitindo as gravações daquele interrogatório e jurou dizer a verdade, sendo esclarecida de que muita penalidades graves poderiam lhe ser aplicada se ela não o fizesse.
Diana ligou o gravador, e após um pigarro, ela começou.
- Senhorita Charlotte Sander. - Diana começou enquanto guardava alguns papéis e capturava o bloco de notas. - Você pode me confirmar o seu nome completo, por favor?
Charlie suspirou e recostou na cadeira de metal frio. Estava um pouco tensa e ansiosa, Diana reparou.
- Charlotte Sanders Miller.
- Qual foi o ano do seu nascimento, senhorita Sanders?
- Dia sete de agosto de mil novecentos e noventa e três.
- Qual a sua idade? - Ela parecia anotar tudo no caderninho.
- Eu tenho vinte e seis anos, oficial.
- Pode me chamar de Diana. - Ela disse sorrindo pela primeira vez.
- Tudo bem.
Diana voltou a pigarrear e analisou uma ficha que estavam a sua frente.
- Então, Charlotte… - Ela começou. - Pelo que consta aqui na ficha o seu último inquérito foi no dia 23 Maio de 2008 que coincidentemente também foi numa sexta feira.
Charlie assentiu com a cabeça e Diana continuou.
- Quantos anos você tinha naquela época?
- Quinze anos, oficial… Digo, Diana.
- Você era muito nova Charlotte. - Constatou. - Você tem ideia do porquê que o delegado... - Ela fez uma pausa para ler o nome do delegado responsável pelo caso. - O senhor Thomas Brown, resolveu te interrogar?
- Acredito que tenha sido porque eu era a pessoa mais próxima da Taylor.
- E você confirma que conhecia a vítima Taylor Collins?
- Sim. - Respondeu rapidamente.
- Qual era a relação de vocês, Charlotte?
- Éramos namoradas. - Charlie disse sem tirar os olhos da Diana.
- Era algo oficial ou apenas casual?
Charlie riu.
- Oficial.
- Você pode me contar como conheceu a senhorita Collins?
Charlotte desviou o olhar e encarou uma das paredes, seu olhar era distante.
- Eu nunca pensei que a Taylor fosse algum dia olhar para mim… - Ela começou sob os olhos atentos da detetive. - Ela era a garota mais popular do nosso colégio, e eu era uma nerd insegura. Taylor exalava confiança e carisma por onde passava, e eu só tinha um amigo nessa maldita cidade.
Charlie engoliu o nó na garganta.
- E como duas pessoas de mundos e características tão diferentes puderam ter um relacionamento, senhorita Sanders?
A moça deu de ombros. Nem ela conseguia explicar.
- Foi numa tarde ensolarada, era a última semana no colégio antes das férias do verão. Eu estava trabalhando em um projeto de ciências no laboratório quando ela entrou. - Seus olhos brilhavam, a detetive percebeu que naquela história, havia muito sentimento. - Taylor estava atrasada no próprio projeto de ciências, éramos de turmas diferentes, ela estava no segundo ano antes de entrar para faculdade, e eu estava no primeiro ano.
Charlie suspirou antes de continuar.
- O professor Wilson me pediu para ajudá-la naquele dia, ele tinha muita fé em mim e me achava muito avançada para minha turma. Ele também tinha apreço pela Taylor, e não queria que ela reprovasse no seu penúltimo ano. Então eu aceitei. E foi assim que nos conhecemos.
- Vocês se tornaram amigas? - Diana perguntou enquanto anotava freneticamente.
- Sim. - Charlie deu de ombros. - Eu passei a frequentar a casa dela e ela a minha, eu tinha que ajudá-la no projeto de ciências do senhor Wilson. E foi nesse período que eu me apaixonei por ela.
- Ela também se apaixonou por você, Charlotte?
- Eu não sei… Ela continuava saindo com os amigos descolados e com os caras do time de lacrosse da cidade, mas eu já estava apaixonada por ela nessa época.
- E essa atitude de Taylor te deixou com… Raiva? - Diana pontuou.
Charlie pareceu pensar por alguns instantes, nunca tinha visto por esse lado. Mas não era raiva o que sentia, era uma tristeza por não se achar digna da Taylor.
- Eu não sentia raiva dela… Eu sentia pena de mim.
Diana fez um barulho nasal indicando que tinha entendido e pediu para a outra continuar.
- Eu sentia pena porque achava que a Taylor nunca olharia para mim.
- E quando foi que ela finalmente olhou para você?
- Foi depois que finalizamos o projeto de ciências… Depois das férias de verão. - Charlie disse com um sorriso nostálgico no rosto. - Eu estava com muita saudade de dela, o meu verão não tinha sido tão empolgante quando o da Taylor, ela tinha viajado para a Espanha com a família. E eu tinha pescado as férias inteiras com vovó Will. Nunca passaria pela minha cabeça que ela também havia sentido a minha falta.
- E ela te disse que havia sentido a sua falta?
- Sim… - Charlie franziu a testa. - Ela estava um pouco esquisita também.
- Esquisita como?
- Não sei… - Ela coçou a cabeça. - Mais atirada, sabe?
- Oh…
- No intervalo, ela me puxou pelas mãos e me arrastou para o terraço do colégio que era um lugar proibido para os alunos. - Ela sorriu. - Eu gostava daquela nova Taylor… Ela era mais livre e autentica.
- E o que vocês fizeram lá em cima?
- A Taylor me beijou pela primeira vez. E foi uma das melhores sensações da minha curta vida até aquele momento.
- E foi aí que vocês começaram a se relacionar?
- Não! A Taylor fugiu por um tempo, mesmo a sentindo tão livre, eu ainda notava que algo a prendia.
- Como assim a prendia?
- A prendia! - Charlie repetiu meio impaciente. - Ela tinha medo do que as pessoas iam pensar quando descobrissem o que tínhamos.
- E vocês tinham algo?
- Eu não sei o que a gente tinha exatamente, até aquele momento… A gente só ficava de vez em quando e conversávamos bastante.
- Conversavam sobre o que?
- Sobre tudo! - Diana esperou ela continuar. - A Taylor queria sair da cidade, morar em outro lugar. Ela também odiava Hilton. E o fato de que a convivência com os seus pais estava se tornando infernal não a ajudava.
Diana espremeu as sobrancelhas e olhou para Charlie.
- Isso não consta no seu primeiro depoimento de dois mil e oito. - Pontuou.
- Não me foi questionado. - Charlie deu de ombros. - Eu era uma adolescente que tinha acabado de perder a única pessoa que realmente poderia me amar além da minha família.
- Tudo bem… - Diana se agitou na cadeira. - Me fale mais sobre esses problemas que a Taylor te contava sobre convivência com os pais.
Charlotte suspirou. Olhou para Diana e mordeu o lábio.
- Eram coisas pessoais.
- Nada que disser vai sair daqui Charlotte.
Ela voltou a respirar fundo e passou a mão pelos cabelos.
- Bom, a Taylor estava brigando mais que o normal com os pais porque eles não lhe davam a liberdade que ela tanto queria e… - Ela se calou.
Diana esperou.
- E eu não sei como ela acabou descobrindo que não era filha biológica dos próprios pais.
A detetive parou de anotar e olhou diretamente para Charlie. Estava surpresa e intrigada.
Por quê os Collins nunca haviam lhe dito nada sobre isso? E nada tampouco constava nos relatórios.
- Como você pode ter certeza disso, senhorita Sanders?
- Eu tenho, detetive. - Ela disse por fim. - No inicio, eu pensei que era paranóia da dela. Mas a própria Taylor usou uns fios de cabelo dos pais para fazer exames de DNA. E deu negativo! Não eram compatíveis, a Taylor não era filha biológica do senhor e da senhora Collins! Eu mesma fui com ela buscar os resultados!
Diana se deixou recostar na cadeira. Aquilo sim era uma nova informação, os Collins nunca haviam dito que a Taylor era adotada ou algo coisa parecida. Em situações como aquela, eles deveriam ao menos ter informado a polícia.
A detetive anotou as novas informações com todo o cuidado no bloco de notas e antes mesmo de terminar, a sala fora invadida pela xerife Lopés. Ela trazia várias pastas em suas mãos e andava de forma altiva e firme.
A mexicana se aproximou da mesa e jogou literalmente todas as pastas. O barulho fez Diana recuar e Charlie revirar os olhos. Andrea não sorria, estava concentrada em olhar cada expressão de Charlie como se pudesse ler cada movimento da outra.
- Olá, Charlie. - Ela disse em um tom suave. - Espero que você esteja preparada porque eu só estou começando.
Charlotte a olhou intrigada. A mulher abriu uma das pastas pretas e tirou algumas fotos de braços, pernas e pulsos marcados, roxos e feridos.
A Sanders arregalou os olhos e seu coração acelerou. Aquela não podia ser a sua Taylor.
Andrea não tirava os olhos dela.
A ultima foto jogada na mesa fora do rosto pálido de Taylor, seus lábios estavam roxo e seu rosto estava repleto de arranhões. Mas o que mais lhe chamou a atenção foram as marcas azuladas e vermelhas em volta do seu pescoço, como se alguém a tivesse a estrangulado violentamente.
O sangue sumiu do rosto da Charlie, suas pernas tremiam e ela não conseguia mais controlar sua respiração. Aquelas imagens tinham lhe apavorado, e uma mistura de dor e raiva invadiram o seu peito.
- Mas que porr*… - Ela começou a gritar.
- Shh… - Andrea disse centrada. - Se acalme, senhorita Sanders.
- Que porr*! - Ela voltava a repetir com as mãos na cabeça. - Mas que merd* é essa?! - Ela gritava enquanto olhava para Diana e Andrea buscando explicações.
- Essa é a Taylor Collins. - Andrea disse o óbvio. - Você concorda, Charlie, que isso não foi um acidente?
Charlie levantou da cadeira ainda tremendo, ela quase caiu ao tentar se afastar daquelas fotos.
- Mas que merd*! - Ela repetia. - Quem fez essa porr* com a Taylor?!
Andrea recolheu as fotos pausadamente. Ela respirou fundo e olhou para Diana que estava também pálida. Lembrou que deveria ter uma conversa com a Detetive mais tarde, ela precisava ser menos emocional ou não aguentaria o fardo do cargo.
- Isso é o que nós vamos descobrir…
- Eu preciso de ar. - Charlie disse passando as mãos pelo pescoço. - E-eu preciso sair daqui. Você só pode estar brincando comigo.
- Se acalme, senhorita Sanders. - A xerife se mantinha calma. - Vamos precisar da sua ajuda. -Revelou por fim.
- Da minha ajuda? Você só pode estar brincando comigo! - Ela dizia levando as mãos aos cabelos. - Eu não sei que merd* está acontecendo aqui!
- Taylor Collins foi assassinada, como pode ver. - Andrea explicou. - E até sete dias atrás eu achava que isso… - Ela apontou para as fotos. - Tinha sido obra sua. Mas eu reli todos os relatórios periciais e cheguei a conclusão de que você foi um fácil alvo de distração por muito tempo.
Charlie estava com as mãos na cabeça, ela negava tudo com os movimentos repetitivos e tentava assimilar as palavras da Andrea.
- A perícia achou sêmen no corpo da vítima. - A oficial disse por fim ao jogar uma nova pasta em cima da mesa. Diana arregalou os olhos e encarou uma Andrea impassível.
- O que?! - Charlie gritou.
- A Taylor não morreu em um acidente de carro. - Ela explicou. - Ela foi violentada, espancada e enforcada até sua própria morte. E eu ainda não sei o porquê de que todos esses relatórios periciais foram ignorados por dez anos!
Charlie não sentia mais as pernas, ela foi caindo enquanto deslizava as costas pela parede fria da sala até sentir o chão. Nada fazia mais sentido. E mais uma vez aquela maldita cidade tinha conseguido acabar com sua vida novamente.
****
*Corolário: Resultado final, conclusão findada.
Fim do capítulo
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MalluBlues
Em: 17/04/2020
Eita! Coitada da Taylor... eu acho que foram os pais adotivos. que na verdade não são pais adotivos.... tchanãnã... são sequestradores. :O MAAAAAIS!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 16/04/2020
Nossa que horror ninguém merece morrer assim. Acho que foi o irmão dela.
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