Provocações trocadas
Contradictio
“Provocações trocadas”
***
“Todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão".
-Jesus Cristo
***
Os azuis escuros vagavam entre os borrões que se aproximava e depois distanciavam, até se dissolverem com borrão pelo negro da noite. A velocidade do carro superava os limites da via, ganhando a estrada silenciosa e sombria.
- Porr*, Katherine! – A motorista dizia, enforcando-se para manter a calma. Objetivo que se tornava cada vez mais impossível, visto que a acompanhante parecia absorta em seus delírios – Você não podia afrontar Merida dessa forma! – gesticulava nervosamente á ponto de espumar – Agora todo o acordo que mantinham essa guerra maldita longe da doutora e da ragazza não existirá mais. Você tem noção disso? – desviou as avelãs para a mulher como a testa colada no vidro.
Com um suspiro cansado ela estacionou em frente ao apartamento da morena.
-Olha... – iniciou com a voz mansa – Eu entendo ok? – ainda sem ganhar a atenção dos azuis tempestuosos - Per Dio(por deus)... – endireitou-se no banco, olhando o horizonte nublado. Com uma grande lufada de ar, continua - Eu nem sei o que faria em seu lugar, Kath. Mas eu estive por muito tempo nessa guerra para saber o que acontece com quem comete erros desse tipo! – completa distante.
- Eu te vi naquela noite... – a voz rouca e baixa diz – Você era o contato de Tiago! – era a primeira vez que os azuis recaíram sobre a face aristocrata de Melannie.
- Seu parceiro se embrenhou em um caminho sem volta, por isso foi morto! – confirmou com pesar.
- Quem? – indagou cheia de ódio pelas lembranças amargas.
"- Por favor... Por favor... - A morena tentava estancar o ferimento na parte superior do abdome de Tiago - Fica comigo, cara... Nós vamos ficar bem, Ok?! - O desespero tomava a jovem mulher, pois por maior que fosse a pressão que ela aplicava no ferimento, o extravasamento de sangue não parava e Tiago a conhecia muito bem para entender que ela estava apenas controlando sua postura, mas por dentro estava em desespero.
- Está tudo bem... Manu... - A voz era abafada, mas mesmo entre tosses e uma respiração agônica a jovem podia entender-lo - Não é sua culpa, ok?! - tosses - Nós vamos ficar bem! - as tosses intensificavam-se e a hipo-temperatura da pele de Tiago alertou a morena que ele estava entrando em choque hipovolêmico - Você precisa achar a... a... - O homem tentava articular as palavras. ”
- Eu não estou autorizada á dizer! – diz uma Melannie fria, retomando a postura rígida.
- Quem autorizou a morte do Delegado Tiago Muller? – Rosnou e em milésimos de segundo sua arma foi para a fronte da italiana.
A menor olhou-a com a surpresa saltando das orbes e sorriu em total descrença.
- Vai atirar em mim, Castiel? – indagou encarando-a.
Depois do que pareceram horas, a arma que Emanuella empunhava voltou para o coldre.
- Não faça mais nenhuma burrada desse tipo, agente! – alertou-a mais uma vez, enquanto a morena saia do veículo – Da próxima, pode ser que eu não chegue á tempo de impedir Fratricídio!- completou, antes de cantar pneu para longe.
***
- E como anda campanha Eleitoral, meu caro? – dizia o homem de meia idade animado.
- “De vento em polpa”, senador! – Pedro Castiel abriu um sorriso orgulhoso – Creio que em alguns dias esse país terá um chefe de estado á altura! – completa.
- Não tenho dúvidas, Doutor! – confirmou devolvendo o sorriso.
- Não se esqueça de comparecer á minha renovação de votos, você e sua esposa! – Fez sua diplomacia despedindo-se do homem que abandonava seu gabinete.
***
A noite já chegava e com ela a lua soberana, colocava-se a reinar no estrelado céu de São Paulo.
Depois de passar a tarde em seu loft, tentando se recompor do imprevisto da madrugada anterior, Emanuella adentrava as portas de “sua” mais nova casa, a mansão do Muller's. Estava elegantemente enroupada para a cerimônia de renovação de votos dos pais. E impacientemente aguardava por Iara e a filha, que estavam atrasadas. Por falar na loira, desde o ultimo diálogo a morena não trocara qualquer palavra com a mesma. Estava respeitando o espaço da menor, como lhe foi solicitado.
O barulho de pequeninos passos afoitos aproximando, deteve os pensamentos de Castiel.
- Olha se não é o bolinho mais lindo do mundo que vem lá! – A maior diz quando os azuis encontram a pequena Emanuella descendo as escadas de uma forma desengonçada e arrastava a babá pelas mãos no percurso.
- Oi, Kath! - a menina correu para ela, assim que completou o desafio dos degraus.
- Calma!- Castiel recebendo-a em abraço apertado - Vai se machucar correndo desse jeito, bolinha!- endireitou-se com a pequena nos braços- Até parece uma bonequinha comportada vestida assim! - sorriu encantada ao ver a filha lindamente enroupada em um vestidinho Azul escuro e sapatinhos pretos. As madeixas negras presas em uma linda tiara, ornando perfeitamente com o look infantil.
- Mas eu sou uma bonequinha “capotada", Kath!- afirmou Manu, botando um biquinho e recebeu um beijo estalado da morena, seguido de uma gargalhada gostosa por conta da dicção atrapalhada.
-É sim, meu anjo, é si... - a morena não teve tempo de completar.
- Boa noite! – Iara diz do topo da escadaria.
Katherine perdeu o fôlego e não era para menos. A loira estava belíssima, dentro de um vestido longo na cor azul escura e mangas curtas. O decote valorizava o busto e as costas á mostram, assim como a sandálias pretas e as unhas bem aparadas num esmalte clarinho.
Os loiros caiam como cascata até a cintura fina e o batom vermelho destacava ainda mais os lábios grossos e bem desenhados.
- Boa noite! – Katherine, sem perceber ofereceu-lhe a mão ao tempo que a loira chegou ao último degrau - Está Maravilhosa! - falou fascinada e o seu teimoso coração pareceu querer salta pela boca.
- Obrigada! – agradeceu gentil - Você também está linda, agente!- sorriu-lhe.
A maior vestia uma calça social de alfaiataria e um terno feminino grafite que deixava parte dos seus seios á mostra, já que não vestia nada por baixo a não ser um colete decotado. Muito sexy, pontuou a doutora sentindo o ambiente ficar mais quente. Nos pés um scarpin preto brilhante. A maquiagem acentuava os azuis dos olhos e os cabelos soltos moldavam o rosto aristocrata.
Os verdes foram para a filha que assistia tudo com a cabecinha repousada nos ombros fortes da policial.
- Você também está linda, Litlle princess! - beijou-lhe as rechonchudas bochechas rosadas - Podemos? - Iara pergunta, caminhado em direção a entrada da casa.
- Claro!- Disse a morena, acompanhando o lindo rebol*do da esposa com os olhos.
***
- Acalme-se, querida!- Pedro tentava acalmar uma ruiva inquieta, servindo-lhe uma bebida- Ela já está á caminho. Pelo que soube, voltaram da Itália essa semana!- informou.
O moreno usava um lindo terno de gala azul e tinha uma das mãos no bolso.
- Eu estou com saudades de meus filhos e da minha neta! - a linda senhora enroupada em lindo vestido branco, ao passo que solvia de bom grado o líquido que lhe foi ofertado - E Katherine ainda terá que me explicar “Tim-Tim” por “Tim-Tim" dessa história de lua de mel! - Falava entre sorrisos e cumprimentos aos convidados que passavam pelo casal no luxuoso saguão.
- Não vá fazer escândalos em? Meus opositores não podem ter mais munição contra mim! - Repreendeu-a - Já basta o que Vithor, certamente armará caso as histórias que a mídia veio publicando nos últimos dias forem verdadeiras!- suspirou resignado, o preocupado Castiel.
- Prometo me comportar, amor! - respondeu-lhe enquanto arrumava a gola do terno e parou as mãos espalmadas em seu ombro - Prometo! - sorriu lindamente, Lucy.
- Obrigada! - respondeu Pedro em um selinho demorada.
Era um lindo casal. Qualquer um diria que havia muita sintonia e cuidado entre ambos.
- Acho que teremos as respostas para suas perguntas mais cedo do que imaginávamos! - Diz o homem ao mirar a entrada.
Os repórteres e fotógrafos de Platão, mal avistaram as figuras que se aproximavam pela escadaria, e correram na direção das convidadas, direcionando os flashes e as perguntas as mulheres.
- Iara Muller pode nos confirmar se os rumores sobre a estadia de vocês na lua de mel em Veneza? - os microfones eram direcionados para a loira e como um enxame de abelhas, todos esperavam pela resposta da Jovem herdeira.
- Reataram o relacionamento?
- Ouve traição?
- E Dr. Vithor Castiel?
- Angeline Emanuella Muller é filha de Katherine Castiel?
- Emanuella Castiel, pode nos dizer como se sente tendo um caso com a atual ex-esposa de seu irmão. Houve traição?
As perguntas não cessaram e isso começava irritar a mulher que tentava manter a postura diante do assédio da mídia. Muller estava prestes a explodir com toda aquela aproximação, parecia sufocar-lhe, quando sentiu o aperto de mãos geladas envolvendo a sua, como se passasse segurança e calma.
- Tudo bem! – sussurrou Emanuella para a “esposa”.
Os verdes foram para a agente, essa tinha Angel assustada com todo aquele alvoroço escondida em seus baços.
- Obrigada!- silabou em um sorriso agradecido.
As mulheres caminharam para o grande salão com as mãos atadas, feito uma verdadeira família, desfilaram pelo local cumprimentando alguns conhecidos e recebendo apertos de mão dos mais variados convidados.
O dinheiro, símbolo de poder em um mundo capitalista, pode proporcionar aos seus detentores muitos privilégios e “amigos fidedignos”, as relações são baseadas nisso: troca de favores, nada além.
- Melannie... – Iara abre um sorriso forçado ao avistar a morena de andar sexy, aproximando-se em um gracioso rebol*do – Porque não é uma surpresa encontrar-la aqui?! – indagou.
- Boa noite doutora Muller, também é um imenso prazer rever-la!- debochada – Miniatura da Katherine! – Abriu um sorriso genuíno para a pequena que prontamente retribuiu ao sentir as cócegas na barriguinha – Oh, e ai está a Katherine grande e cabeça de vento! – cumprimenta cheia de ironia.
- O que faz aqui, d’Angelis? – Emanuella indagou, com cara de poucos amigos.
- Não seja mal educada, agente! – retrucou em falsa mágoa - Eu e a embaixadora Diana d’Angelis fomos convidadas pelo futuro presidente Castiel! – sorriu, mas o discreto entortar do nariz fino, ao ditar o nome do patriarca, foi registrado pelos azuis.
-Conveniente, não?!- disse com humor frigido – Isso parece mais um jogo de campanha, á uma renovação de votos matrimonias! – Completou a morena maior, enquanto os azuis perscrutavam o ambiente.
-Katherine Emanuella Castiel! – A voz cortante da matriarca invadiu o espaço das mulheres.
A morena fechou os olhos, respirando fundo, pediu as divindades do Olímpio que intercedessem por sua pobre e completamente ferrada alma.
- Fui! – diz Melannie, fugindo dali em um piscar de olhos
- Olha! – Iara, passando os verdes pelo salão, encontrou sua salvação - A diretora executiva do hospital está me chamando, querida! – Disse e se estendeu para pegar a filha do colo da maior – Vamos Baby girl, depois voltamos para a Kath! – saiu deixando a esposa em apuros.
“Até tu Brutos?” – balbucio a policial, assistindo as Muller’s se afastarem – “Covardes!” - balançou a cabeça em negativo, mas engoliu em seco assim que os azuis encontraram os da mãe.
- Onde estava com a cabeça, menina? – indagou Lucy Castiel, nervosamente – Quer matar sua pobre mãe do coração, sua filha desnaturada! – Repreendeu-a em tom severo e uma carranca que apavorava até os ossos de Emanuella.
- Mamãe?! – sorriu amarelo – Está tão bela quanto qualquer outra dama nesse recinto. O que fez na pele? – continuou- Parece ainda mais jovem e atraente! – bajulava-a, descaradamente.
- Não me venha com essa lábia, garota! – repreendeu com o semblante ainda cerrado – Sei bem de quem é filha. Não tente me enrolar!- Completou escondendo o sorriso provocado pela tentativa, não tão frustrada assim, da mulher em tentar fugir da bronca – Ande... - ordenou – Pode começar a se explicar, mocinha!
“Droga!” – suspirou uma desanimada Castiel, dando inicio ás respostas para o interrogatório da mãe.
***
- Senhorita Muller! – A Italiana diz, aproximando-se de uma loira totalmente distraída com as bolhas de seu espumante – Como vai? – pergunta, polidamente.
Os verdes miram os azuis por um longo tempo, decidindo se responderia ou não. Aquela mulher deveria ser uma mentirosa sagaz e muito ousada para tentar manchar as memórias boas que tinha de seu pai.
“Desprezível!”
Mas e se não fosse?
E se cada palavra proferida por ela fosse a verdadeira história de sua vida, omitida e ocultada de si durante todos esse anos?
- Vou bem! – afirmou - Agradeço por perguntar, Senhora d’Angelis! – completou educada.
Iara Muller foi criada para ser uma verdadeira dama da alta sociedade, com direito a aulas de etiqueta e tudo. Seu pai dizia que uma “mulher de verdade” deveria saber se portar com leveza e delicadeza.
- Tenho certeza que sua mãe teria muito orgulho da mulher que se tornou! – Sorriu com os azuis vibrantes.
A loira sentia-se incomoda com a forma que era encarada todas as vezes que estava na presença de Diana d’Angelis. Um encantamento infundado, para sua concepção. O incomodo aumentava em proporções catastróficas quando a mulher falava de sua mãe com tanto carinho e respeito.
- Não fale dela! – repreendeu-a – Não sei o que acha saber sobre minha família, mas não te dei o direito de tocar nesse assunto! – rosnou, raivosa e irritadiça, virando a taça de espumante de uma só vez.
- Perdoe-me. Não era minha intenção ser invasiva, doutora Muller! – retratou-se a embaixadora italiana, percebendo o nervoso da menor – Acho que deveria se juntar a sua família! – completou apontando para uma mesa onde “Emanuella mãe” e “Emanuella filha” interagiam alegremente com Juliana Salvatore e a Matriarca Castiel.
- Tenha uma excelente noite, Embaixadora!- Despediu-se Iara, caminhando para sua mesa.
***
- Uou... – a gargalhada explodiu em puro sarcasmo – Aposto que era uma mulher! – Disse apontando para os arranhões e equimoses no rosto quadrado do loiro, inutilmente cobertas pela maquiagem.
- Vê se não fode, “pau mandado”! – rosnou Vithor Castiel para o sorriso largo e banhado pelo mais descarado divertimento da mulher adiante.
- Deveria me agradecer, Vithor... – Melannie em falso desapontamento – Se não fosse por mim, você teria sufocado até a morte, largado no chão frio daquela cozinha horrível!- o sorriso branquíssimo nasceu nos lábios delimitados pelo vermelho vibrante - Seria em fim, um tanto trágico para um farabutto (canalha) como você, não acha? – ironizou.
- Emanuella e todas vocês não perdem por esperar, querida! – rosnou em um riso maquiavélico.
- Como dizem vocês, brasilianos? – perguntou de cenho franzido, levando a mão ao queixo e fingiu pensar – Ah sim! – disse como em um insight - Não deveria cutucar uma leoa raivosa com vara tão curta, meu caro. Ela pode cravar as presas no seu pescoço e não soltar mais! – As avelãs caíram sobre os castanhos claros e assim permaneceram, travando um embate silencioso.
- Vamos ver o que a leoa em questão fará quando estiver morta e aniquilada pelo caçador! – desferiu ameaçadoramente – Quem será o mais forte? – indagou.
- che vinca il migliore (que vença o melhor)!- arrematou a italiana levantando sua taça no ar para um brinde imaginário e em seguida, dando as costas para o arrogante oponente.
- Ela sabe quem você é? – Interrompeu os passos da jovem, mirando-a – “Touché”! – Sorriu presunçoso ao ver o pavor nas orbes inimiga pela primeira vez – Volte para o buraco infeliz de onde saiu, “orfãzinha”! – completou, liberando Melannie de seu aperto e assistiu-a afastar desestabilizada.
***
- Será que minha graciosa e irresistível esposa, conceder-me-ia a honra dessa dança? – Castiel diz em um o rouco galanteador, entortando os lábios em um sorriso sedutor.
- Certamente, minha bela dama! – concordou Iara alegremente, em uma pequena reverencia ao tomar as mãos geladas que lhe era estendida.
O som da valsa era entoado pela a orquestra. Todos os convidados posicionados ao centro da pista de dança bailavam em sincronia aos acordes, uns com a maestria e talento inatos e outros não tão ajustados, mas verdade seja dita; todos se divertiam.
- Você esta extremamente bela essa noite, doutora! – Castiel diz, guiando com habilidade sua parceira.
- Obrigada, meu anjo! – A médica retribuiu o sorriso bobo que ganhou.
Era maravilhoso quando compartilhavam esses momentos de leveza, sem passado, sem brigas ou ressentimentos. Uma bolha se formava em torno das amantes e seus corações poderiam finalmente se encontrar, assim como no conto do amor impossível entre sol e lua, as duas almas encontravam-se em um eclipse solar e tudo ao redor perdia a luz, pois o brilho que conectavam verdes aos azuis era o suficientes para florescer e iluminar suas vidas.
E envolvidas por esse encanto elas deslizavam, fundidas uma a outra, sem medos ou amarras. O cheiro emadeirado da maior entrava nas narinas de Iara e acalentavam seu acelerado coração e como um balsamo, curava as inseguranças da sua alma.
Talvez essa fosse a chance que tanto pediu e a vida estava lhe oferecendo agora, um recomeço ao lado do amor de sua vida.
Katherine estava ali, sorrindo lindamente, com os azuis cristalinos e radiantes, mirando-a com aquele olhar que julgou nunca mais ter para si. Segurando-a pela cintura com confiança, como se disse que era seu porto seguro outra vez.
“Como amava aquela mulher, chegava a doer!”
Caso algum dia perguntassem, não saberia dizer como conseguiu passar todos esses anos longe dela. Ela era sua vida, sua alegria, a mãe de sua filha.
O seu peito aqueceu e uma explosão de sentimentos bons inflamaram seu coração, como se não fossem capazes de permanecerem em seu interior, extravasaram pelos verdes mel na forma de lágrimas grossas.
- Iara, está tudo bem? – Castiel indagou preocupada – Eu pisei em seus pés ou coisa assim? – continuou confusa.
- Não, meu anjo, acalme-se!- Disse a loira em largo e iluminado sorriso, levando as mãos dos ombros firmes para o rosto aristocrata, pincelado pela interrogação.
- Um dia você ainda vai me matar do coração com essas emoções repentinas, doutora! – Emanuella brinca sem tirar os azuis dos verdes.
- Desculpe-me por isso! – devolveu fungando, enquanto voltava a se mover ao ritmo lento da orquestra.
- Sem problemas, minha sereia! - com um olhar apaixonado, Katherine, limpou com delicadeza os resquícios das lágrimas da mulher. A menor fechou os olhos, inclinado um pouco mais o rosto para apreciar o toque carinhoso.
Tomada pela paz e a clareza que aquele momento lhe proporcionava, Iara decidiu ser o momento de romper as barreiras que ela mesma havia criado e usando toda a sua coragem, mirou os azuis com toda a imensidão de seu ser.
- Eu nunca deixei de te amar, meu anjo de cabelos negros, nunca... – Sussurrou para a morena.
Os azuis foram preenchidos pela alegria. Essa era a coisa mais doce e bela já balbuciada aos seus duros e brutos ouvidos.
Ela ainda a ama. As palavras estavam impregnadas pela verdade, podia ver nos olhos brilhantes colados ao seu. Emanuella poderia tentar descrever o sentimento que tomava conta de seu interior, fazendo seu coração sambar como um pobre enfeitiçado pelo amor, contudo não ouve tempo para isso.
Um pequeno sinal de infravermelho perambulou o colo dourado de Iara e Castiel conhecia bem aquele pequeno ponto vermelho. Sem pensar duas vezes, a morena empurrou a mulher para o lado e tudo que se seguiu depois, passou para si em câmera lenta.
O som, agora não mais da melódica valsa ou da voz doce de Iara Muller, mas sim de vidros se estilhaçando, cortou o luxuoso salão. Os gritos apavorados foram o “gênesis” ao horrível desfecho para aquela narrativa de amor.
“- Kath? – A voz sonolenta da criança soou.
- Oi, meu bolinho... – sussurrou voltando para a beira da cama da menina – A Kath está aqui, volte a dormir! – acanhou as madeixas negras com um leve cafuné.
- “Deita aqui com eu”?– pediu sonolenta, coçando os olhos com as minúsculas mãos.
- Tudo bem, bolinho!- o sorriso pequeno pintou os avermelhados lábios.
O corpinho mínimo, rapidamente se aninhou na maior, abraçando-a como um coala.
- Quer ouvir a historinha favorita minha e da mamãe? – perguntou a pequena Manu.
- Hum... –Murmurou a Katherine, enquanto acarinhava as costas da filha de baixo para cima.
- “Ela” uma vez uma linda “plincesinha” de olhos verdes. Ela vivia trancada numa torre gigante, que era vigiada “pur” um “dagrão” enorme e feroz... – pôs-se a narrar, Angeline – Um dia uma rainha muito forte apareceu e resgatou a pequena “plicesinha”. Elas viviam felizes no reino da rainha forte e o amor delas era tão bonito que a fadinha resolveu presentear-las, plantando uma pequena sementinha na barriga da “plincesinha” de olhos verdes!- Agora a sonolenta criança tinha total atenção da mãe – A fada “madarinha” falou para elas que o amor que sentiam uma pela outra era tão puro que devia se multiplicar. Mas ai um dia, o homem mal levou a “plincesinha” e a sementinha para longe em um lugar onde a rainha nunca mais pudesse “encotrar” e “pendreu” ela lá... – Castiel respirava profundamente, tentando conter o bolo incômodo que se formava em sua garganta e segui atenta a narração infantil – Ela ficou chorando por vários meses, por que sentia muita falta da rainha, mas um dia a sementinha nasceu e era um bebezinho “pequeninho” como os mesmo olhos da rainha!- concluiu Angeline, alheia aos sentimentos da maior.
- Como eram os olhos da rainha, Angel? – perguntou Emanuella, contendo um soluço, pois sabia a resposta, contudo precisava ter certeza.
- Azuis escuros, como o meu e o seu, mamma!- respondeu baixinho, entregando-se ao sono tranqüilo. ”
Fim do capítulo
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