Claire só conseguiu respirar quando entrou na cozinha. Estava amaldiçoando Joe e todas as suas futuras gerações por ter estragado os seus planos.

Tudo bem, tudo bem, Claire…

Vai ficar tudo bem.

Ela tentava se acalmar.

Eu só preciso de alguns minutos para respirar.

Os pensamentos foram seguidos de três inspirações e expirações intensas. Claire tinha aprendido a técnica nas aulas de balé quando era mais nova. Sempre que ia se apresentar nos festivais do colégio, ela ficava extremamente ansiosa, então sua professora de dança lhe ensinou alguns truques para oxigenar o cérebro e relaxar.

Mas ela jamais imaginou que futuramente usaria para esse tipo de situação. Sentiu sua sanidade voltar e seus batimentos se acalmarem até assumirem um ritmo seguro.

Pronto, tudo está bem. Viu? Até que foi fácil… Eu estou no controle.

Ela sorriu, finalmente conseguindo tomar as rédeas da situação.

As duas canecas de chope já estavam na sua mão e quando a morena estava se preparando para voltar para a zona de guerra, a porta se abriu e uma Charlie sorridente invadiu o local.

- Essa área é interditada para os clientes. - Foi a única coisa que veio na sua cabeça.

- Eu sei, Claire. - Charlie revirou os olhos. - O Joe sabe que eu estou aqui, ele mesmo me viu entrar.

- Eu deveria ter adivinhado, mas, ainda assim, você não pode permanecer aqui.

- Tudo bem, assim que conversarmos, você pode apresentar suas queixas sobre mim para o Joe. - Charlie ergueu os braços se rendendo.

- Não temos nada para conversar. - Claire rebateu rapidamente, já se prontificando para sair dali.

- Sim, nós temos. - A garota parou na frente da Griffin lhe obrigando a recuar alguns passos.

- Não, não temos! E eu preciso sair daqui.

- Claire, eu preciso te explicar algumas coisas ou…

- Ou o que? - Claire confrontou elevando sua voz. - Ou você vai fazer comigo a mesma coisa que fez com a irmã do Mike?! - Cuspiu as palavras.

Charlie arqueou uma das sobrancelhas tentando entender o que exatamente a Griffin estava insinuando. Claire manteve seu olhar enfrentando-a, e pela primeira vez não havia medo nas suas expressões, e sim um pedido mudo por respostas.

A mais velha encurtou o espaço entre as duas, ficando a apenas a um palmo do corpo de Claire. A garçonete já não tinha mais espaço para recuar pra trás, suas costas já estavam coladas no azulejo frio da cozinha do Joe.

- E o que foi que eu fiz com a irmã do Mike, Claire? - Charlie perguntou sem tirar os olhos das orbes castanhas da morena.

Estavam perto demais para o desespero de Claire. Ela podia sentir a respiração quente de Charlie fazendo cócegas no seu rosto enquanto os olhos de esmeralda embalavam uma dança com os seus.

Seu coração voltou a palpitar dando indícios de que aquele contato era perigoso demais. Sua cabeça gritava para sair dali correndo quando seus olhos foram guiados para os lábios avermelhados de Charlotte.

Claire engoliu em seco.

- Me diz você, Charlie. - Sua voz saiu fraca demais. - O que você fez com a Taylor?

A garçonete pode ver uma leve mudança nas íris verdes ao mencionar a Taylor. Com certeza Charlie conhecia a falecida, e ainda foi mais além: As duas tiveram algum tipo de relação. Porque a dor que a garçonete viu naqueles olhos não se comparava a nada visto antes.

- Você não sabe de nada, Claire Griffin. - Ela respondeu irritada. Seu tom de voz era frio e duro.

- E nem quero saber! - Suas mãos foram de encontro ao peitoral de Charlie e ela empurrou a garota que apenas deu alguns passos para trás. - Isso você vai ter que explicar para a polícia!

Charlie tinha um sorriso de desprezo no rosto e balançava a cabeça como se negasse todas as atitudes da mulher a sua frente.

- Eu nunca machucaria a Taylor. - Ela disse entredentes.

- Isso não é da minha conta.

A garçonete passou por Charlie, tendo todo o cuidado para que seus corpos não voltassem a se tocar. Porém a mais velha alcançou seu braço, antes mesmo dela conseguir chegar até a porta.

Um arrepio intenso tomou conta do seu corpo no mesmo instante em que Charlie capturou o seu braço com sua mão quente. Seus olhos se fecharam automaticamente buscando forças para poder sair dali. E como se não bastasse, a Sanders envolveu os braços em volta da cintura de Claire, forçando os seus corpos a ficarem colados.

O corpo da garçonete se debatia entre as mãos firmes de Charlie, e por mais que tentasse negar, estava escrito nos olhos de Claire que ela ansiava por aquele contato. Cada pelinho do seu corpo reagia ao perfume da forasteira, e estar nos braços de Charlotte era comparado ao adentrar numa montanha-russa devido ao frio que causava na sua barriga.

Alguns centímetros de altura separavam suas bocas, e naquele momento não havia mais nenhum pensamento na cabeça de Claire, o único barulho vinha dos dois corações. Por um instante, ela achou que Charlie a beijaria, e talvez ela quisesse.

Eu queria?! Não, eu não queria ser beijada por uma mulher!

Sua cabeça dizia que não, mas o seu corpo gritava que sim, era o que ela mais desejava naquele momento. Mas Charlotte não o fez. A forasteira lutou com todas as últimas forças que tinha para se manter tão perto de Claire e não fazer o que seu coração implorava para que fizesse desde o dia em que a viu naquela mesma cafeteria.

- Eu nunca machucaria a Taylor. - Charlie reafirmou quebrando o silêncio, mas ainda mantinha seus braços em volta da Claire.

A garçonete, como em um lapso de realidade, voltou a se debater nos braços da mais velha.

- Eu a amava, Claire. - Charlotte relevou olhando nos olhos de Claire enquanto a soltava.

A garçonete prendeu a respiração e agarrou com força os copos. Se existia alguma dúvida de que Charlie tinha alguma relação com Taylor, agora tudo se esclarecia. A dor que havia visto nos olhos da forasteira, a raiva do Mike, os olhares de Charlie para seu corpo. Tudo se encaixa como em um quebra-cabeça onde todas peças sempre estiveram ali.

O único ponto solto eram suas reações diante de Charlie.

A irmã do Mike teve uma relação com a Charlie? Por quê ele nunca havia lhe dito nada?

Teria sido um crime passional ou Charlie era verdadeiramente inocente?

Aquela revelação lhe trouxe mais dúvidas do que certezas. Ela respirou fundo e olhou para Charlie, abriu e fechou a boca algumas vezes, sem saber o que realmente dizer.

- Eu jamais machucaria você também. - Declarou.

A íris verde brilhava intensamente e atraia Claire como se fosse criado um campo eletromagnético.

A garçonete passou a mão pelos cabelos, atordoada por todas aquelas informações. Charlie podia ver a confusão nos olhos da menina, e então ela foi embora, deixando a Sanders sozinha na cozinha.

A porta que separava a cozinha do salão principal da cafeteria se abriu, e uma Claire ofegante adentrou. Ela largou os copos no balcão com força e mal conseguiu entender os resmungos do Joe.

Seus passos incertos lhe levaram para a mesa 23 onde Maggie, Mike e Bob degustavam algumas batatas fritas. Mag foi a primeira a notar a sua presença.

- Ei, Clair, estávamos te esperando! - Disse mais animada que o normal.

- Vamos? - Claire disse apreensiva.

Maggie olhou para a amiga e notou que havia algo de errado, ela estava pálida.

- O que houve? Viu um fantasma?

- Deve ser a presença do Bob! - Mike brincou, cutucando rapaz que estava calado.

- Tudo bem, Claire? - O garoto levantou prontamente de onde estava e foi parar ao lado da garçonete.

- Sim, sim, está tudo bem, Bob, obrigada. - Ela falou rapidamente.

- Viu? Eu disse que era por causa da sua presença Bob-garanhão! - Mike brincou jogando algumas batatas fritas no garoto.

Maggie revirou os olhos.

- Mike, quantos anos você tem? - Ela perguntou para o garoto ao seu lado.

- Quantos você quiser, meu amor! - Ele sorriu e beijou a bochecha da Maggie.

Claire pigarreou. Estava apreensiva, olhava a todo momento para trás. Temia a chegada de Charlie.

- Então, vamos?

- Vamos! - Bob se manteve ao seu lado como um guarda-costas.

- Nós pensamos em pegar um cineminha hoje, o que acha? - Maggie perguntou piscando para Bob.

- Por mim, tudo bem… - Bob respondeu rapidamente, adorando a ideia.

- Tudo bem, vamos logo! - Claire disse rapidamente.

Mike e Maggie levantaram, Bob passou um dos braços pela cintura da Claire e os dois caminharam até a saída.

A Griffin andava mais rápido que o normal, estava quase correndo. Aquilo não passou despercebido pelos olhos da sua melhor amiga que já estava achando o comportamento dela esquisito. Mas tudo se revelou quando Charlie abriu a porta da cozinha e deu de cara com os quatro amigos.

Seus olhos foram direto para as mãos possessivas do Bob sob a cintura da Griffin, ele sorria e olhava de forma apaixonada para Claire. Mike contava alguma piada sem graça, e as únicas que notaram a presença da forasteira foram Maggie e a Claire.

Maggie viu como os olhares das duas se encontraram, e ali haviam milhares de questionamentos.

Ela percebeu como sua amiga se desestabilizou mais ainda e reparou no olhar irritado da Charlie para o Bob. Parecia que ela voaria no pescoço do garoto.

Que porr* está acontecendo aqui?

Foi a única coisa que Maggie conseguiu pensar quando Claire saiu como um foguete porta afora.

*****

*Justapor: Colocar próximo; lado à lado.

Fim do capítulo