Capitulo 4
Acordei na manhã seguinte com o sol batendo na janela, adentrando pelo quarto. Precisava arrumar uma cortina urgente. Estendi o braço para o lado e percebi que estava sozinha na cama. Minha cabeça e meu corpo doíam. Tentei fechar os olhos por mais alguns minutos, mas percebi que não conseguiria dormir mais.
Procurei meu celular pela cama e lembrei que o tinha deixado na sala. Não fazia ideia de que horas poderia ser, mas pela altura do sol, já devia ter passado das onze. Me rastejei na cama e enfiei a mão na gaveta do criado mudo procurando algum analgésico, mas não encontrei. Cocei meus olhos e respirei fundo, criando coragem para levantar.
Levantei após enrolar mais alguns minutos e fui até o banheiro. Abri as gavetas e encontrei uma cartela. Enfiei um comprimido na boca, abri a torneira e bebi uns goles generosos de água. Olhei meu rosto no espelho, vi algumas marcas que Carla havia deixado em meu corpo na noite anterior. Passei a mão por elas suavemente. Ela era, literalmente, ardente.
Abri o registro do chuveiro e deixei que a água quente caísse em minha cabeça. Adorava aquela sensação de conforto. Apoiei as mãos na parede e fiquei assim, por longos minutos. Lavei os cabelos, ensaboei meu corpo e fiquei por mais alguns minutos somente sentindo aquela sensação reconfortante. Quando fosse mais velha e com mais dinheiro, queria ter uma banheira, talvez um ofurô. Estar com uma mulher na minha banheira, na minha casa. E enquanto estava perdida em meus pensamentos ouvi passos se aproximando e a voz de Carla também e percebi que ela ainda não tinha ido embora.
- ...ah, ela já acordou, mas... – Ela veio até o banheiro, parecia que estava ao telefone. Escutava atentamente o que ela dizia. – ah, ela está tomando banho, na verdade. Eu peço pra ela retornar pra você mais tarde, pode ser? Ok. Que isso. Foi um prazer.
- Quem era? – Perguntei. Carla estava com um short de cintura alta e uma regata branca.
- Elisheva. – Ela disse com um sorriso safado. Senti uma corrente gelada me percorrer e a tensão começou a predominar meu corpo relaxado. – Quem é Elisheva? – Ela perguntou. Eu tremi inteira ao ouvir aquele nome. Não respondi de prontidão. Não sabia o que responder na verdade. Fiquei em silêncio. - Essa mulher que ta te deixando estranha assim, né?
- Claro que não, ce ta louca. – Fechei o registro.
- Ela disse que tinha uma ligação sua perdida... por isso ela retornou. - Ela ainda me olhava, percebia seu olhar percorrer meu corpo. Eu estava inquieta. Sai do chuveiro, me enrolei em uma toalha. Ela se aproximou e me entregou outra toalha para meus cabelos e eu enrolei-a na cabeça e fiquei de costas para ela. – Ela disse que a ligação foi de madrugada, que ficou preocupada. Só me pergunto em que momento você fez isso já que estávamos juntas...
Droga.
- Está com ciúmes? – Perguntei sarcasticamente, passei por ela indo até o quarto, querendo ganhar tempo para pensar. Abri minha gaveta procurando alguma camiseta e nenhuma parecia boa o bastante para mim, revirei todas as roupas, jogando-as para o lado. Peguei uma do Ramones e vesti. Coloquei uma calcinha preta em seguida e comecei a enxugar meu cabelo.
- Não estou com ciúmes, meu bem. Acontece que todos esses dias não era comigo que você queria estar.
- Eu nem conheço essa mulher. Não sei de onde está tirando essas coisas.
Olhei pra ela. Ela estava apoiada na parede de braços cruzados.
- Você tem trocado mensagens com ela há dias.
- Você leu minhas mensagens?
- Eu queria ver se você tava metida com drogas.
Senti uma raiva e uma vergonha muito grande naquele momento.
- O que? De onde você tirou isso? - Me senti muito invadida. - Com que direito você leu minhas mensagens?
- Eu me preocupo com você, Leah, só isso. E eu fiquei mais aliviada quando descobri que era por causa de mulher.
- Eu to muito irritada com você, eu nunca peguei seu celular na mão.
- Vem, eu passei café. – Ela estendeu a mão pra mim, talvez percebendo o rumo que aquela conversa estava tomando. – Vamos conversar lá fora.
Eu ignorei a mão dela e fui para a sala batendo os pés. Enchi o pote de ração do Salem que começou a miar em agradecimento, troquei a água dele e também o servi. Carla tinha enchido duas xícaras de café e fomos para a sacada. Ela se sentou em uma das cadeiras, com as pernas cruzadas.
- Você não tem ideia do quanto gosto de você, Leah.
- O que?
- E quando digo que gosto é porque quero ver seu bem, não quero ver você se afundando igual está acontecendo. Somos amigas há sei lá quanto tempo... E você tem que aprender a colocar senha no seu celular se não quiser que eu me meta, porque se eu desconfiar de alguma coisa assim eu vou investigar até saber o que está acontecendo. Você não ta usando drogas mesmo, né?
- Eu não estou usando drogas, Carla. – Revirei os olhos.
- Quem é Elisheva?
- Uma prima, sei lá. Não sei por que está fixada nessa história, não tem nada a ver. Eu liguei por engano pra ela.
- Às duas e meia da manhã.
- Eu fui ver a foto dela, ta legal?
Ela sorriu, satisfeita.
- Ok, estamos chegando a algum lugar. Ela parece ser legal, você podia dar uma festa aqui hoje. Aí você chamava ela. Eu chamo o Rafael, o Pedro, a Alice. Falo pro Thiago chamar umas amigas dele.
- Você ainda tá pegando a Alice?
Ela deu de ombros, acendendo um cigarro.
- A gente se pega de vez em quando. Ela é gostosa.
- Vai ser um negócio meio estranho, eu no meio de vocês. Nunca estivemos juntas no mesmo lugar.
- Se começar a ficar sério com essa menina vai ter que se acostumar com isso.
- “Sério”? Que sério? Você ta louca? Ela vai se casar, Carla. Não tem nada de ficar sério. Sabe qual a verdade nisso tudo? Quer saber mesmo? Eu só queria dar uns beijos nela e só. O máximo levar ela pra cama. Só isso, nada mais que isso. É só tesão.
- Quero te fazer uma pergunta , Leah. – Ela disse apoiando os cotovelos nos joelhos. Eu peguei o cigarro de seus dedos e o levei a minha boca.
- Faz.
- Você nunca pensou em deixar essa vida?
- Que vida?
- Sei lá, sossegar? Arrumar uma namorada?
- Por que está me perguntando isso?
- Eu tenho pensado nisso. – Ela revelou. Tomou um gole do café. – Minha vida nos últimos anos está sendo só isso. Agora por exemplo, a Alice me mandou mensagem me chamando pra almoçar com ela. E depois? Vou conhecer alguma outra menina por aí, passo algumas noites com ela, ela vai embora, nunca mais a vejo.
- O que importa?
Ela fez uma pausa.
- Eu quero alguém que me abrace todas as noites, Leah.
Eu senti uma pontada em meu peito naquele momento. Porr*, Carla. Ela estava de cabeça baixa. Traguei mais uma vez, soltando a fumaça lentamente. Apaguei o cigarro no cinzeiro que estava no chão. Ajoelhei-me em sua frente, passando a mão em suas coxas, buscando seus olhos. Ela virou o rosto. Busquei seus lábios, mas ela me afastou.
- Ei, morena, vem cá. – Eu disse. – Ela então me olhou. Pude ver que seus olhos estavam marejados. Eu nunca tinha visto Carla chorar. Rocei meus lábios nos dela, beijando-a suavemente. Encostei minha testa na dela.
- Desculpe por ser tão insensível com você às vezes.
- Não se desculpe. Isso nunca ia dar certo mesmo.
- Do que está falando?
Ela me afastou e se levantou, saindo da sacada.
- Eu preciso ir agora, Leah. – Ela entrou na sala, recolhendo suas coisas e enfiando em sua mochila. Eu a observei, apoiada no beiral da porta de correr. - Vou chegar com os meninos às 19:00. Esteja pronta. Vamos trazer bebida. Ligue pra Elisheva.
Fim do capítulo
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thays_ Em: 12/04/2023 Autora da história
Pois é! E essa história ainda vai dar muito pano pra manga...