Capitulo 11 - Adistrito
Charlotte estava andando pelo seu antigo colégio, Hilton Elementary School. O chão estava todo molhado e as luzes piscavam a todo instante. Se perguntou o que estava fazendo ali, mas não fazia ideia.
Passou pelos corredores onde se encontravam as salas de aula, todas estavam vazias e reviradas, como se um tornado tivesse tomado conta do lugar.
Um vento gelado fez os seus cabelos voarem, e ela se abraçou em um ato falho de se aquecer.
Continuo andando sabendo que logo à frente encontraria a cantina. Talvez fosse mais lógico buscar a saída, mas era como se Charlie soubesse que deveria ir por aquele caminho.
Faltavam mais alguns passos para chegar ao refeitório quando ouviu o som de algo metálico atingir o chão. Seus passos foram estancados rapidamente.
- Olá... - Charlie falou e sua voz saiu mais alta do que o previsto.
A única resposta que teve foi a do seu próprio eco.
A mulher recomeçou a caminhada, agora em passos mais lentos e inseguros. Aquele local estava mais frio que anteriormente, seus músculos tremiam e ela já não sabia se conseguiria pensar com clareza.
- Charlie... - Uma voz feminina e suava a chamou. Vinha de dentro do refeitório.
Charlie foi guiada pela voz que não cessava de chamar seu nome, era como música aos seus ouvidos. E quando cruzou a porta da cantina, ela viu um caixão iluminado por dois holofotes.
Charlotte parou no mesmo instante. Seus pensamentos confusos e o frio infernal que fazia a impediam de raciocinar. Um pânico terrível invadiu o seu corpo, e ela praticamente já não conseguia mais respirar.
Sentiu os seus pés molhados e quando olhou para baixo para se certificar, percebeu que uma água escura subia por suas pernas.
- Que diabos está acontecendo? - Ela gritou.
Mas havia um silêncio quase que palpável naquele local. Seus olhos percorreram por todo o ambiente buscando uma maneira de sair dali o mais rápido possível. Mas não havia saída.
Caminhou lentamente até o caixão iluminado à sua frente. Uma coroa de flores o encobria, ela podia sentir o cheiro das hortênsias. Respirou fundo e se aproximou ainda mais, sentia dificuldade para dar os passos devido a água que já ultrapassava o seu joelho.
Observou o caixão negro por alguns instantes e olhou por cima.
A menina tinha uma pele pálida e os lábios roxos. As madeixas cor de ouro envolviam o seu rosto em um tom angelical. Sua expressão era de paz.
Uma lágrima solitária caiu dos olhos de Charlie. Sua mão tremia e ela hesitava em tocar o rosto da falecida.
- Taylor... - Sua voz saiu falha.
Várias outras lágrimas caíram instantaneamente, sua mão tremia perto do rosto da garota. Charlie fechou os olhos com força, e um choro estridente tomou conta do local que outrora estava silencioso.
A dor era evidente, Charlotte abriu os olhos e tocou delicadamente no rosto da garota. Ela estava gelada, não havia vida ali.
- Meu amor... - Charlie disse em um fio de voz. - O que fizeram com você, baby?
A água subia e Charlie já não se importava mais, a casca da ferida havia sido reaberta e ver Taylor naquele caixão tinha disparado todos os gatilhos que ela havia protegido todos esses anos.
Seu choro não cessava, e quando se deu conta, a água beirava o seu pescoço. Já não via Taylor e muito menos o refeitório.
Estava imersa em uma escuridão silenciosa, onde o único ruído era a sua dor.
Sem nenhuma força, ela se deixou afundar quando a água encobriu sua cabeça. Seu corpo afundou leve entre a água, Charlie fechou os olhos e aceitou o seu destino.
Naqueles instantes, não havia mais dor ou ruídos. Era o seu fim, e ela não parecia preocupada.
Abriu os olhos para se certificar pela última vez que havia chegado a sua vez, e quando o fez, ela viu a Taylor bem à sua frente.
Seus cabelos dourados estavam soltos e flutuavam brilhantemente pelas águas escuras. A garota agora estava corada e com lábios avermelhados. Era a sua Taylor.
Ela sorria e seus olhos azuis a observavam como sempre: lendo a sua alma.
Charlie tocou o rosto da mulher como se fosse alguma joia preciosa e delicada demais para ser tocada, e estremeceu ao sentir o calor do corpo da outra em seus próprios dedos.
O ar começou a faltar, e seus pulmões começavam a encher de água. Iria perder a consciência em alguns segundos, e sua última lembrança fora dos lábios de Taylor tocando os seus.
- Eu te amo... - Ela sussurrou.
Charlotte pulou da cama como se tivesse voltado para o seu próprio corpo. Seus cabelos estavam molhados assim como o seu pijama.
Havia sido um sonho, ela constatou. Sua respiração ainda estava ofegante e isso lhe causou uma crise de tosse. A garota levantou desesperada e abriu as janelas. Estava tudo escuro ainda.
O vento frio invadiu o quarto e ela conseguiu respirar com facilidade pela primeira vez.
O que havia acontecido? Ela não tinha respostas, fora o sonho mais real da sua vida. Não precisava de esforço para lembrar dos lábios da Taylor sobre os seus.
Passou a mão pelos cabelos ainda atordoada. Estava voltando a ficar sufocada ali dentro, precisava de ar.
Em um gesto rápido, puxou o seu celular, seus fones de ouvido e calçou o tênis. E após lavar o rosto e escovar os dentes, já estava descendo as escadas da casa e saindo porta a fora.
Eram 6 horas da manhã, mas em Hilton o sol nascia por volta das 7h30 nos dias de inverno devido às baixas temperaturas.
Charlie colocou os fones de ouvido e começou uma pequena corrida sem saber para onde ir exatamente.
O rosto de Taylor Collins aparecia volta e meia em seus pensamentos. Seus lábios, sua palidez. Tudo se misturava e a deixava mais sufocada.
Já não sabia mais para onde estava indo, seus pés apenas corriam desesperados, enquanto seus ouvidos eram invadidos pela melodia da música*.
Seu coração estava acelerado, sua respiração falhava a cada metro que alcançava. Não era cansaço, na verdade tudo lhe sufocava.
As ruas estavam vazias e uma névoa encobria a paisagem, mas Charlie, que corria de moletom, não estava prestando atenção na cidade.
Foi quando, entre as batidas da música, ela percebeu o que fez durante todos esses dez anos: fugiu. E não importava o quão longe fosse, o fantasma da Taylor e o peso de Hilton a perseguia.
O que se seguiu após essas conclusões foi uma colisão de corpos. A corpulência pequena só não foi ao chão graças às mãos hábeis de Charlotte que tomou o corpo para si, salvando-o da queda.
A primeira coisa que Charlie sentiu foi o cheiro adocicado, antes mesmo de abrir os olhos outrora fechados devido o impacto, ela já sabia de quem se tratava pela fragrância fresca e doce... Era a Claire.
A morena abriu os olhos lentamente e ao notar a presença de Charlotte, seus lábios se contraíram.
Rapidamente, afastou-se da mulher, como se a outra tivesse alguma doença contagiosa.
- Tira suas mãos de mim! - Claire berrou alto demais para o horário.
Charlie não teve tempo e nem precisou questionar tais reações porque o que ela viu nos olhos de Claire fizeram seus ombros encolherem.
Medo. Pavor e raiva.
Não havia nada mais para dizer. Charlie sabia que uma amizade com Claire nunca esteve nos seus planos, e ela nunca fora uma pessoa que se preocupava com a opinião alheia.
Entretanto, os olhos julgadores da Griffin causaram reviravoltas no seu estômago.
Claire apertava a alça da sua bolsa com força, tanto que o nó dos seus dedos já estavam brancos.
Charlotte nada disse, apenas recolocou os fones de ouvido e voltou a correr.
As notícias corriam mais rápido do que ela esperava, e agora não era o momento de pensar na vontade que tinha de tomar Claire pelos braços e a beijar. Para que no beijo, a morena pudesse sentir que ela jamais poderia ser capaz de machucá-la ou machucar quem quer que seja. Muito menos a Taylor.
A mulher respirou fundo e soltou o ar pela boca, uma fumacinha saiu entre seus lábios. Pequenos flocos de neve começaram a cair, molhando levemente o rosto de Charlie.
Não se daria o luxo de ser emotiva agora. Precisava provar sua inocência. Se a morte da Taylor não havia sido um acidente, então o assassino estava a solta, e iria tentar de tudo para incrimina-la.
Só havia uma única coisa a se fazer e ela jurou para si mesma que a faria antes de voltar para casa:
Charlie acharia o assassino da Taylor Collins e o faria pagar por todos esses 10 anos de sofrimento.
*******
1- Música que a Charlie estava escutando: Broken - Lifehouse.
2 - Adstrito: Ligação a algo, alguma coisa ou alguém.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 12/04/2020
Quem matou Taylor?
Resposta do autor:
Tem que continuar acompanhando para descobrir!
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