Corações partidos
Contradictio
“Corações partidos"
***
"Diante de um coração partido
Nenhum outro pode falar
Sem ter tido o grande privilégio
De igualmente ter sofrido. "
-Emily Dickinson
***
- Giusto (certo)! – Diz - Solo...- Suspirou casada- Abbi cura di te, vero ?! (apenas... cuide-se, certo?!)- as rugas pintadas entre as sobrancelhas corroboraram em denotar sua genuína preocupação.
A mulher, elegantemente enroupada por trajes sociais, atravessa a sala, castigando a porcelana lustrosa com seus finos saltos. Quedou-se ao encontrar seu destino, a enorme vidraça, que possibilitava completa visão da metrópole de Milão.
Perdida em suas inúmeras divagações, suspirou mais uma vez. A tentativa inútil de se acalmar não surtiu o efeito desejado, então insistiu novamente, levando as mãos nervosas para um passeio nas luminosas mechas do um castanho terrivelmente escuro.
- Como pode ser tão impassível?- o olhar perdido no horizonte, agora, recai sobre a figura atrás da enorme mesa.
- A vida me tornou o que sou... – Começou, contudo, ao contrário da acompanhante, não havia qualquer resquício de emoção em sua face que não fosse a frieza bailando ao puro sarcasmo – Nós duas sabemos disso, Sorella (irmã)! – e por fim sentenciou, sentindo o flamejante líquido restante em seu copo, descer queimando a “garganta”.
-Per Dio... è tua figlia (Por deus... ela é sua filha)!! – Bradou em inconformidade.
- Eu não me importo! – As rispidezes de suas palavras não estavam na entonação, tão pouco na significância, mas sim na frieza nos avelãs dos olhos – Eu avisei á eles... In amore e in guerra, non c'è ética (No amor e na guerra, não há ética)! - completa ainda na mesma posição impassível, presa ao seu “trono de couro negro”, atrás da sua fortaleza de marfim.
- Eu não sei mais quem é você! – a decepção bateu á porta da morena maior. Não era capaz de olhar-la nos olhos – Fique longe delas, Merida... – guio-se e direção a saída, mas antes de sair, arrematou – Ou essa será a última conversa amistosa que termos! – pontua e partiu de lá, mas não sem antes ouvir-la dizer.
- Sugiro que não entre mais em meu caminho, essa guerra nunca foi sua Diana!
***
“Linda!"
As madeixas negras, a franginha deitando sobre a testa, os minúsculos lábios avermelhados e bochechas rosadas e rechonchudas. O sorrisinho torto, de quem está prestes a aprontar, os olhos azuis escuros... Parecia um reflexo.
Era garotinha mais linda que Emanuella Castiel tinha visto em toda sua vida. As minúsculas mãos, estenderam-se indo a sua direção. Sentiu-as quentes e carinhosas pousarem em sua face rígida e aristocrata.
O coração da morena pôs-se a cavalgar violentamente, pularia do peito á qualquer instante.
Mas como em um filme de terror, tudo começa á se desintegrar ao redor.
O desespero gritou mórbido...
“Não, por favor... só mais alguns minutos, não!!!"
E tudo explode diante dos azuis, restando apenas o calor afável, como rastro de o que um dia foi, entretanto não é mais.
- Angel!!!– Urrou sufocada pelo desespero.
O peito subia e descia involuntariamente á cada lufada de ar que a gula de seus pulmões demandava. Engasgou. E enquanto tentava levar a mão á testa suada, seu corpo não estava diferente, constatou seu erro.
“Merda!”
Não poderia estar mais equivocada com tal ato, quando a dor cantou em sou ombro direito.
- Shiu... Está tudo bem. Tudo bem! - E como um acalento, a voz doce veio ao seu socorro – Não pode se levantar ainda! – Sentenciou a médica, com uma leve pressão em seu peito, para que voltasse á posição anterior.
Automaticamente a respiração foi se acalmando, conseqüentemente todas as células de seu dorido corpo.
- Você dormiu por algumas horas! – sorriu-lhe lindamente, acariciando os cabelos negros, úmidos pelo suor.
- Iara... – Finalmente os azuis começaram a tomar consciência de onde estavam.
- Sim! – A face tranqüila, apesar de maculada por alguns roxos, não negava que estava tudo bem – Ainda estamos em vôo, mas logo aterrissaremos. Volte a dormir! – concluiu, vendo os azuis indecisos entre ficarem abertos ou fechados. Por fim cederam – Durma bem meu anjo de cabelos negros! – sussurrou e afastou-se, não sem ates deitar-lhe um longo e demorado beijo na pele fervilhante.
***
- Ah...- sorriu graciosa- Olá doutora!– a linda morena, saudando a recém chegada – Como ela está? – interrogou- a quando os avelãs capturaram o loira atravessar a porta que separava a suíte da aeronave do bar.
- Ainda tem febre... – O corpo menor arrastou-se sem muita vontade para uma das banquetas diante do enorme balcão – Mas logo estará em pleno vigor! – Completa recebendo uma espécie de drink ofertado pela maior.
- Pegue... – apontou para a taça – Receio que precisará, quando ela acordar! – observou.
***
- Como fugiram? - Vithor dizia ao telefone.
- Alguém... Levou elas, chefe. Não sabemos quem era!- falava amedrontado.
- Que merd*, imprestável! - vociferou - Vocês não fazem porr* nenhuma certa!- jogou o celular longe.
- Porque está tão tenso querido? - A voz sensual fez-se presente, enquanto uma morena de cabelos lisos e corpo bronzeado, muito formoso, diga-se de passagem, caminha lindamente pelo quarto.
A mulher, de aparentes quarenta e tantos anos, porém ainda era uma linda mulher. Andou até Vithor na beira da cama, o robe que usava estava desamarrado revelando que não vestia nada por baixo.
- Elas escaparam, de novo, Merida e a culpa e daquela maldita mulher!! - falou raivoso.
- Não se preocupe meu lindo, na próxima teremos nosso prêmio!- falou sedutora, os lábios carnudos e avermelhados foram de encontro aos de Castiel - Ninguém ficará no nosso caminho, querido, dessa vez eu vou garantir isso!
***
Katherine mantinha os azuis dançando entre a italiana e Iara.
Buscava uma negação por parte dos verdes, contudo ela nunca veio.
“Não poderia crer!”
O que estavam dizendo?
Certamente tratava-se de um engano, uma brincadeira de mau gosto ou qualquer coisa longe daquilo.
Por Zeus, não poderia ser verdade!
Iara não conseguia mirar os azuis. Sabia perfeitamente o que encontraria lá. Raiva, desprezo, e se ainda fosse possível, a amarga e marcante decepção.
“Cá” estavam os segredos que mantivera á sete chaves nos últimos quatro anos, desde que descobrira que o filho que “perdeu”, jamais havia sido perdido de fato.
Tinham uma filha!
Elas não á perdera. E por mais que a loira quisesse gritar aos quatro ventos todos os segundos dos últimos anos, jamais poderia. Um mal entendido na clinica, papeis de outra paciente foram para seu prontuário, trazendo o completo caos para sua vida.
No dia em que pode ver o ristinho da pequena pela primeira vez, teve certeza, era um pedaço de Kath. Sua Kath havia lhe presenteado com a coisa mais preciosa e linda que poderia ter.
Mas agora ela estava diante da Mulher que um dia fora a sua vida, aos prantos. Tinha plena certeza de que não havia perdão para si, não mais.
Nunca se perdoaria pela maldita noite que chamara Vithor Castiel, que até então se mostrou um bom amigo, para consolar-la da maior decepção que tivera no relacionamento.
“A loira tinha os olhos vermelhos de tanto chorar... não saberia dizer a quanto tempo estava ali encolhida no canto escuro da sala.
“Por que deus?”
Queria que fosse um erro. Queria muito que fosse mais uma peça do ardiloso e zombeteiro destino, contudo não era.
Estava inerte, paralisada. Para um coração partido, não se pode dar explicações racionais ou coerentes. Ele apenas sente. Nada mais que isso.
Outra vez viu seu sonho desfazer-se como um castelo de areia desintegrando-se com água.
Perdeu seu bebê!
- Por quê... Por quê, Kath? - sussurrava entre as amargas lágrimas que corriam sem qualquer constrangimento sobre a face avermelhada e borrada pela maquiagem.
Mas Castiel, diferente das ultimas vezes, não suportou ficar para responder ou consolar-la. Apenas virou as costas e saiu, sem mais ressalvas.
Estava trabalhando no dia em que tudo aconteceu e segundo a pediatra, caso o socorro fosse oferecido de imediato, após a queda que a loira sofrera, as chances do feto ter sobrevivido era grande.
Katherine sentia-se culpada por não estar lá.
Estavam animadas com o rumo que suas vidas tomavam. Emanuella trabalhava seus medos da maternidade e a loira sempre estava presente para ajudar-la a lidar com as inseguranças que surgiam.
Mas o destino, para os que acreditam, tinha outros planos para as mulheres.
A loira ligou para o primeiro amigo que veio á mente...
Em questão de minutos Vithor Castiel estava na porta do apartamento da Irmã adotiva. Consolou a mulher como pode, mas o que nem Iara e Emanuella sabiam era que o homem nunca fora um amigo sincero e sim um ciumento competidor de Katherine. "
- Por quê... – a pergunta que atormentava a Jovem Castiel.
O sussurro saiu embebido pelo Fel, amargor, azedume e qualquer outro adjetivo que seriam incapazes de simbolizar seu estado de espírito atual.
“Não desonrará o nome da família Muller, sua imunda promiscua! – Gritou o velho Augustos – Vai se casar com um homem de verdade e jamais voltará a ver ou falar com aquela vagabunda despudorada! – sentencia ele.
O aperto nos braços da loira assustada mostrava-na que não se tratava de um pedido e sim de um Ultimato.
- Ainda bem que Vithor Castiel aceitou reparar o erro daquela aberração! – pontua, largando Iara e dando as costas para suas grossas lágrimas – É um bom homem e aceitou dar um sobrenome á essa criança!
- Papai... – implorou entre amargos soluços.
- Já chega Iara! – Interrompeu – É isso ou ficará sem essa maldita criança! – Cruel, nem mesmo se dignou á olhar para a despedaçada filha. "
Conveniência, covardia, medo?
Não. Fez tudo o que pode para proteger sua pequena garotinha- Seu bem de maior valia-e se para isso tivesse que morrer em amargura por ferir o coração da mulher que mais amou, faria tudo novamente.
- Eu sinto tanto, Kath... - respondeu em um fio de voz misturado a lágrimas perseverantes que banhavam seu lindo rosto – Eu morreria se algo acontecesse á ela! – os verdes encontraram os azuis pela enésima vez.
Katherine apenas permaneceu olhando-a.
- Eu vou odiar-la eternamente por não confiar em mim! – sentenciou e alcançou seu alvo. Ferir-la tão dolorosamente quanto se sentia agora.
- Eu odeio atrapalhar o momento "família" ... – A catástrofe já estava anunciada, porque não continuar – Mas, tem mais uma condição que não havia mencionado...
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
alineyung
Em: 09/04/2020
Ahhh agora compreendi perfeitamente a história... antes delas se separarem elas estavam tentando engravidar e quando se separaram a Iara achou que tinha perdido o bebê mas na verdade não, só que aí ela não contou a verdade para Katherine, fazendo ela acreditar que a filha era do relacionamento dela com o irmão da Kathe.
[Faça o login para poder comentar]
Marta Andrade dos Santos
Em: 31/03/2020
E agora que tudo fica mais complicado.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]