Love is pain II
Contradictio
"Love is pain II”
***
“A maior dor de amor é quando sabemos que ele deve morrer, mas não temos coragem de matá-lo.”
***
Iara caminhava lentamente pelos corredores do Prédio da polícia federal, acabara de acertar com a delegada as últimas questões úteis para o caso de Augustos Muller, repassou as informações que poderiam ser de grande valia para a investigação...
“Ou era inquérito?" ....
Não dominava muito essa área!!
Conjecturou, tentando pensar em coisas pouco importantes, pois já havia chorado por demasia pela morte do irmão e por tudo que estava se passando nos últimos meses.
Era uma espécie de escape psicológico, com o objetivo de manter sua sanidade intacta, ou o menos louca possível. Havia demorado mais do que gostaria por ali, pelas janelas do edifício podia observar o sol se por junto ao céu alaranjado. Não importava... agora poderia dar ao pai um enterro digno.
Apesar de ter suas diferenças com o médico, aprendera a amar-lo e a respeitar-lo, ainda mais depois da morte de Angeline Muller, sua mãe.
Augustos a cuidara com amor e carinho, fazia o possível para que a loira não sentisse tanto a perda. Certamente conhecia o caráter do pai, sabia da capacidade sádica e egoísta que o homem foi capaz de alcançar.
Ela mesma havia experimentado a intensidade de ambas, quando o homem descobrira que pretendia morar com a Jovem Emanuella, estava apaixonada por uma mulher. E assim foi o fim da amistosa relação de pai e filha. Mas não conseguia odiar-lo por tudo que a fizera vivenciar nos últimos anos.
Não conseguia odiar-lo por destruir seu coração e arruinar a vida de uma mulher que costumava carregar em si o contentamento de viver. Não o odiava por expulsar o irmão de casa e deserdar-lo, destituindo-o de todos os privilégio que um herdeiro Muller poderia ter, pois Tiago apoiava o relacionamento da irmã e não somente isso, sempre desafiava o homem e guiava sua vida e escolhas baseado em seu valores, não nos do pai.
Lembrou-se saudosa de sua mãe...
“A pequena Manu tem tento da Senhora mamãe, o jeito alegre e curioso, a forma leve e despreocupada de viver.... Não tenho dúvidas de que viveria muitas aventuras ao lado da vovó!" – sorrio sentindo as lágrimas tímida correrem livremente.
Suspirou cansada, recordando-se das últimas semanas...
De sua vida!!
A morte da mãe, depois o irmão, agora o pai...
“Estava sozinha!!”
“Kath...." - essa era a maior entre todas as suas incontáveis perdas.
Buscou apoio em uma parede qualquer, estava exausta!!
Nunca estaria preparada para ter o peso da indiferença do azuis tempestuosos de Emanuella sobre si.
Estando no Brasil, tinha plena consciência de que, cedo ou tarde, teria de encarar a morena, nem mesmo no enterro de Tiago ela apareceu.
Não queria se sentir daquela forma...
Estava mágoada, deveria saber que quando se decide viver um sentimento tão intenso e complexo, como amor, é preciso aprender a lidar com a dor.
É trabalhoso deixar as inseguranças e egoísmo para estar inteira em uma relação. É trabalhoso cultivar o amor, pois antagônico aos contos de fadas, ele não é eterno e indestrutível, mas sim como uma linda rosa vermelha. Precisa ser tratada, caso ao contrário morre ou nos faz sangrar as mãos nos espinhos.
Avistou o toalete feminino e optou por entrar e lavar o rosto, precisava se recompor, pois ainda tinha um funeral para organizar e um hospital reconhecido internacionalmente para gerir, sem falar no retorno de Vithor.
***
Parada diante de seu reflexo no espelho, Castiel tentava examinar suas costelas.
O analgésico parecia ter atingindo seu objetivo, agora podia respirar sem se contorcer de dor.
Poucos sabiam, mas a destemida Katherine Castiel tinha pavor á hospitais. Preferia morrer em dor á entrar em um hospital para receber atendimento especializado.
Mais cedo, na sala da delegada, depois de uma advertência pelo comportamento nada profissional no refeitório, fora intimada á comparecer em algum hospital, sob ameaças de suspensão definitiva, caso não o fizesse, entretanto ainda não havia reunido coragem suficiente para tal missão.
“Foda-se a vida, Foda-se a suspensão, Foda-se. Já estou suspensa mesmo, cara Delegada!!" - entre caretas, pensou na ironia da coerção.
A batalha travada pela agente resumia-se a:
Blusa no meio do tronco, sustentada dessa forma, presa aos dentes. Uma atadura desleixada na mão esquerda, dificultando seu trabalho. Arma e distintivo sobre o mármore do lavabo e por fim, para completar, uma espécie de luta desajeitada para distribuir a pomada de dor (arrematara gentilmente de uma papiloscopista idosa) sobre o ferimento arroxeado. Ela certamente estava perdendo o combate, diga se de passagem.
“Mas q... Merda!” – pensava “pacientemente”.
Ouviu a porta abrir e depois fechar, mas estava exacerbadamente concentrada em sua empreitada. Nem mesmo se deu ao trabalho de olhar pelo espelho e ver de quem se tratava.
- Rrrrr... -Rosnou irritada com a falta de destreza na mão esquerda - Porr* de faixa!! - falou abafada pela camisa presa aos lábios avermelhados.
Não percebeu, porém estava sendo observada por divertidos olhos verdes mel.
A jovem divertiu-se assistindo o "embate homérico" travado pela morena. Parecia uma criança perdida, constatou ela, entretanto o que lhe chamou a atenção fora a parte tatuada nas costas de Emanuella, parcialmente á mostra.
"Não a tinha em si antes...” - reparou.
"Sexy, com certeza!" - mordeu levemente os rosados imaginando o corpo tatuado da agente.
A nova Emanuella, pelo que July lhe falara, não se parecia muito com a Kath que deixara há quatro anos.
Mas, observando a confusão da mais nova em frente ao espelho, conseguia enxergar muito da essência de seu anjo de cabelos negros e olhos Azuis misteriosos.
- Permita-me, ajudar-la com isso!! - Iara, gentilmente, achegou-se mais a morena.
Os azuis direcionaram sua atenção a loira, mesmo através do espelho, a médica podia sentir o peso e a dureza deles.
- Estou bem, posso me virar sozinha!! - Falou simples, retornando sua atenção ao trabalho que desempenhava.
- Mas ainda não é médica... - voz doce e cadenciada, porém agora trazia uma pitada de autoritarismo - E pode ter fraturado alguma costela, ao invés de um simples ferimento!- pontuou mantendo a seriedade no olhar.
- Eu já fui ao médico... - mentiu - Estou bem!! - Deu de ombros.
A questão é que um dos defeitos de Castiel era o orgulho. Não permitiria o contato com Iara, estava irritada e ferida de mais para ser passional naquele momento.
Não queria nada que viesse da loira.
- Qual é a graça, perdi a piada, Doutora? - Questionou a mais nova notando o riso jocoso nos lábios rosados.
- Você ainda desvia o olhar quando Blefa, Castiel! – rolou os olhos em sinal de impaciência.
A cada segundo passados com Kath, reconhecia um pouco daquela menina de 19 anos que entrou em sua vida na época de faculdade. Ela poderia esconder todos as emoções manifestadas em seu corpo, mas não dela.
Os azuis falavam, gritava... misteriosos azuis, sempre denunciavam-na aos para Iara.
Contudo era outra mulher Forte, arrogante, arisca e tempestuosa, Tão familiar e ao mesmo tempo diferente.
- Isso não é um jogo de pôquer, Iara! - o tom rouco e indiferente completa a intenção de encerrar a conversa, se é que poderiam classificar assim.
Emanuella não estava aberta para lembranças do passado, pois lhe machucavam muito.
Não queria lembrar-se de como conheceu a mais bela das garotas do mudo. Muito menos os anos que compartilharam. Da linda estudante de medicina... Um prodígio aos 22 anos inteligente, criativa, tinha o sorriso mais incrível que já vira.
A mulher mais fascinante e apaixonante que passara por sua vida.
Olhando para ela, parecia a mesma, mas estava diferente.
"Ainda mais linda aos 31 anos, se é que isso fosse possível!!"
- Tem razão, Katherine... - voltou a seriedade - Mas como disse, sou uma médica e você uma vítima de trauma, então me deixe fazer meu trabalho... - aproximo-se mais - Vire-se!! - ordenou.
Castiel conhecia bem a determinação da Iara e realmente era uma "vítima de trauma"...
Sentiu mais uma fisgada nas costelas, uníssona ao lábio e supercílio avermelhados e ardentes.
Mirou os verdes por algum tempo...decidiu ceder!!!
- Sim senhora! – irônica, abandonando a pomada e virou-se para ela.
Os verdes foram para a camisa branca, por algum motivo não era capaz de sustentar os azuis de Manu sobre si, optou por concentrar em seu trabalho.
- Preciso que erga a camisa... - Falou a Doutora e logo que atendida, não pode deixar de notar o sutiã negro contrastando com a pele alva da mais nova.
“Pelos deuses, mulher, não deveria ser tão difícil assim!” – suspirou a menor.
Passou as pontas dos dedos próximo aos arroxeados, porém escorregou lentamente para traz...
“parece um dragão!!” - conclui uma desconcertada Iara.
A policial sentiu a temperatura quente dos longos e finos dedos tocar-la de forma delicada...
Arrepiou-se...
Aquele pequeno gesto desencadeara uma inundação de boas recordações que se transformaram em um eficiente mecanismo de tortura nos últimos anos para Emanuella.
A dor trouxe a jovem de olhos azuis de volta a realidade, esforçava-se para não grunhir por conta das pontadas...
- Não há fraturas... - A loira parecia vidrada com o contato, mas os sons emitidos por Kath a fizera retornar a consciência – São apenas ferimento severos em algumas costelas!! - disse enquanto remexia a bolsa, tendo o olhar questionador da morena no seu encalço.
A médica sacou de uma pomada e pôs-se a espalhar sobre o lado ferido...
- Essa é mais eficiente... - disse apontando para o tubo em suas mãos - A Manu, e-ela é um pouco... "elétrica" - sorrio recordando de algumas peraltices da menina e pôs a explicar - As vezes esse comportamento lhe rende alguns hematomas!- completa endireitando-se.
- Ela é linda... - disse amena - Apesar de ter herdado muitas características físicas do meu pai, ainda lembra muito você... - sorriu fraco ao lembrar o riso sapeca da criança.
“Não creio que sejam do seu pai..." - A cirurgiã pensou consigo.
A essa altura a loira já havia terminado sua tarefa, acompanhou Kath descer a camisa com dificuldade.
Agora seria a vez do supercílio e lábios. Suspirou, posicionando-se entre as pernas da agente que descansava o corpo sobre o mármore, para limpar-lhe as feridas com água, sempre com os azuis sobre si...
Aquela proximidade dos corpos estavam deixando as mulheres desconfortáveis e pensamentos na velocidade da luz.
Na ponta dos pés, pois em estatura, a policial era maior, continuou seu trabalho.
As respirações aceleravam á cada movimento da médica, que tinha como objetivo terminar o mais rápido possível o curativo.
“Céus!”
- Pronto... - A voz de Iara soou mais fraca do que ela gostaria, podia sentir o hálito da mais nova em seu rosto ela, mas não se afastou - Vai sobreviver, agente!! - saiu como um sussurro.
Mantinha a mão esquerda na face da morena.
Katherine mirou-lhe os lábios rosados e teve ímpetos de tomar-los para si novamente, pelo menos mais uma vez, entretanto reunindo todas as forças que lhe restara, desviou-se.
“Ninguém sobrevive a você, Iara..." – suspirou resignada.
- Obrigada!! – Foi tudo que conseguia formular naquele momento.
O som da porta sendo aberta tirou as mulheres de seu devaneio...
Muller, rapidamente afastou, evitando encarar Emanuella. Juntou os matérias que utilizara e os devolveu á bolsa.
- Fique...- pigarreou - Fique com essa! - estendeu as mão com unhas aparadas elegantemente pintadas de branco, e entregando-lhe a pomada - ... Caso volte a doer, tome aspirinas e... Limpe essa atadura das mãos, pode infeccionar e sei como odeia hospitais!- disse por fim, ainda sem olhar-la, mas a mesma não desviara os azuis da mulher em momento algum.
Iara já estava no encalço da saída...
- Por que Angeline e Eu, nunca fomos apresentadas? - A pergunta que rondava a cabeça da morena desde que ouvira a voz da médica no refeitório e soubera que tratava-se da mãe da menina.
Não conseguia entender o fato de nunca ter conhecimento da existência da sobrinha, não entendia o porquê, Mas isso lhe feria muitíssimo.
A médica deteve seus passou abruptamente, sentiu os olhos inundarem pelas lágrimas, porém obrigou-se a não derramar nenhuma.
Se Emanuella fosse capaz de imaginar... Quantas vezes a loira lutou para não lhe telefonar no meio da madrugada, só para ouvir o tom rouco e acalentador que apenas Kath carregava.
Quantas vezes ensaiara dizer-lhe tudo que se passou...
“Não, não tinha coragem para tal!”
- Eu escolhi assim!! - disse por fim. Sentiu-se covarde, a pessoa mais cruel do mundo, ao detectar uma faísca de desapontamento nos Azulados.
- Certo... – Desapontada, deu as costas a menor votando ao espelho.
- O que esperava, Katherine... ??- irritou-se - ... O que esperava, em ?! - puxou-a pelo antebraço, fazendo-a encarar - ... Olhe para mim como se eu fosse um ser humano, pois não sou suas sobras, como você mesma disse mais cedo!! - Exaltou.
-De você... - mirou-a fervilhando em raiva - De você, eu não espero mais nada, Iara!! - disse entre dentes e se livrou do aperto com violência - Tudo que você me deu foi suficiente, Doutora!! - cuspiu as palavras com mágoa.
- Quatro anos, Castiel!- o tom doce, agora era de indignação - ... Quatro anos e você nem se dignou a nos visitar!! - E lá estava uma da incontáveis magoas. A loira gesticulava nervosamente - ... O que está cobrando?? - a respiração elevada, não conseguia manter-se passiva, não quando se tratando de Katherine Emanuella Castiel.
- Me desculpe não comparecer a um dos tantos aniversários de casamento da Mulher que despedaçou o meu coração e desprezo a confiança que a ela foi dignada cegamente... - Manu parecia ter ensaiado aquele discurso, entretanto era a primeira vez nos últimos anos que suas palavras libertavam sentimentos cativos- ... E já ia me esquecendo de um mero detalhe... - sorriu amarga - ... Confiança essa traída com meu próprio irmão!! - os azuis estavam mais escuros que nunca. Por mais que as lágrimas queimassem os olhos para serem libertas, Castiel não permitiria que nenhuma se revelasse.
Iara abriu a boca, como quem procura as palavras, porém não fora capaz de encontrar-las.
- Não sabe como me feriu, doutora... - O maxilar tremia, pois Katherine tentava conter as emoções que aquela história suscitava em si - ... Eu achei... Achei que “ele” morreu por minha culpa... - não pode se conter, uma lágrima solitária passeou sobre a face aristocrata - ... Todos esse anos eu ache que... - Enxugou a lágrima com o dorso da mão com tanta força, como se pudesse arrancar a dor de seu peito com aquele ato - Isso não importa mais!!- concluiu aprumando-se em sua postura ereta.
Por mais que Muller tentasse, não conseguia administrar ou “sentir como Manu”, que escondia os sentimentos e inibia-os atrás da máscara de arrogância e indiferença.
O silêncio ensurdecedor foi seguido de um olhar inquisitivo de Castiel, que recebera em troca apenas os verdes magoados. E que veio a seguir, fez como se o mundo da morena ruísse mais uma vez, sem aviso prévio...
Iara desabou, Não tinha mais forças para segurar as lágrimas que tanto ardiam por liberdade. Tentando reter qualquer resquício de dignidade, virou de costas... Queria esconder-se do olhar da jovem agente.
Sentiu-se pequena, frágil e covarde!!
Castiel teve ímpeto de abraçar-la e dizer que de alguma forma, não sabia qual, mas ficaria tudo bem, entretanto havia muita mágoa em seu escuro coração e o orgulho lhe dominou.
Tudo o que fez foi bater a porta atrás de si com a potencializarão da raiva e correr para o mais longe possível.
Não entendia o que se passava consigo. Achava que tudo que restara em seu coração por Iara fosse ódio, mas em algumas horas de contato, uma confusão de sentimentos ressurgiram em sua incoerente alma amargurada...
Fim do capítulo
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