Capitulo 18 - Luane
7 horas depois...
- Não vamos fazer nada sem ter certeza... Até ele provar que a polícia não tá na nossa cola, não mando o local da troca. – eu mantinha meus olhos fechados, morrendo de medo de abri-los.
- Quanto foi o combinado? – Pietra estava desacordada ao meu lado.
- Quinhentos por cada uma... – eles haviam batido bastante nela.
- Vamos mesmo entrega-las? – o meu coração batia afoito.
- Obvio que não. Assim que eles estiverem no local marcado, matamos todos e ficamos com o dinheiro. – sufoquei a vontade de chorar.
Naquele momento, eu só desejava que Larissa já estivesse bem e que houvesse informado a polícia. Não fazia a menor ideia de onde estávamos, só sabia dizer que rodamos de carro por mais de cinco horas. O meu corpo doía e a minha cabeça lateja muito.
- Vamos descansar... Temos muito trabalho amanhã. – pude ouvi-los rir e depois a porta foi batida. Somente naquele momento abri meus olhos.
Olhei ao redor e o lugar era precário, nojento. As paredes sujas, uma janela com tabuas pregadas e o chão imundo com baratas correndo por toda parte. O desespero estava me sufocando. Olhei para Pietra e ela estava com a face inchada e um corte no supercilio, banhando seu rosto de sangue. Me mexi, tentando acorda-la. A minha boca estava amordaçada, as mãos e pés amarrados. Nunca me senti tão indefesa na vida.
Já havia orado tanto, implorando a Deus que não me deixasse morrer daquele jeito.
- O que... Aconteceu? – ela finalmente estava despertando. Fiz alguns sons para ter a sua atenção e funcionou. – Calma... Vou tenta tirar a mordaça.
Pietra enfiou os dentes no tecido com odor forte e foram inúmeras tentativas até conseguir. Senti a boca seca e puxei o ar com força.
- Você tá bem? Eles te fizeram alguma coisa? – ela me encarou e depois olhou para o meu corpo, certamente procurando algum ferimento.
Ela também estava imóvel, presa por cordas.
- Não... Não me fizeram nada, mas você tá toda machucada... – ela deu de ombros.
- Já estive pior. – ergui a sobrancelha.
- Sério isso? Você é quem, por acaso? A poderosa chefona? – ironizei.
- Quase isso... – franzi o cenho. – Não sou nenhum anjo, Luane. Não me olhe assim...
- Como pode tá tão calma? Eles disseram que vão nos matar e matar seu pai quando chegar o momento da troca. – Pietra fechou os olhos.
- Talvez seja o meu momento, mas o seu não é. Vou pensar em algo pra te tirar daqui... – eu estava boquiaberta.
- Seu momento? Que merd* você tá falando, Pietra? – a garota sorriu.
A porta abriu e um menino passou por ela.
- Vocês são malucos? Por que trouxeram pra cá? Eu disse que não queria me envolver em nada disso. – um dos três que nos trouxeram até ali, entrou junto. Eu ainda não sabia o nome deles.
- É só por essa madrugada... Amanhã elas não vão estar mais aqui. – ele nos encarou e sorriu.
- Porr*, André! A mamãe morreria de desgosto se visse você fazendo isso... – nos mantínhamos caladas. O menino, que não deveria ter mais que quinze anos, olhou para nós. Dava para perceber que ele não fazia parte daquele mundo. – Olha pra elas...
- Tô pouco me fodendo, pirralho. Eles nos procuraram pra fazer negócios... Que arquem com as consequências. – o grandalhão saiu do cômodo, deixando o garoto ali.
Ele se aproximou e em automático, eu me encolhi. Pietra estava inabalável.
- Eu vou dá um jeito de tirar vocês daqui amanhã... – ele falava baixinho. – Não façam nada. Ouviram?
Aquilo era verdade?
Ele saiu daquele quarto nojento e nos deixou sozinhas novamente.
- Acha que ele vai mesmo nos libertar? – olhei para Pietra.
- Acho muito difícil... Vou pensar em alguma coisa... Tenta dormir um pouco. – ergui as sobrancelhas.
- Quem é você de verdade, Pietra? – ela nada respondeu. Seu rosto lembrava vagamente o de Charlotte.
Fechei meus olhos, tentando não chorar.
- Eu não sou uma boa pessoa, Luane. Não tente ver nada de especial em mim. – abri meus olhos. – Não tenho virtudes alguma.
- Por que tudo isso, Pietra? Como viemos parar aqui? – ela encarou o vazio.
- Eu emprestei duzentos mil com eles... Passei do prazo pra pagar tudo. – franzi o cenho. – Meu pai soube, porque eles foram até nossa casa, e pagou todo o valor, mas eles queriam juros... – ela riu e eu fiquei sem entender. – Quinhentos mil de juros. Eu me recusei a pagar e desde então... Eles vêm me ameaçando.
- Isso é um absurdo! – me revoltei. – Como você é tão idi...
Foi quando lembrei que também havia cometido o mesmo erro.
- Ia dizer alguma coisa? – limpei a garganta.
- Você me confunde... – mirei meus pés. – Muito.
- Não tenta me entender, Luane. Eu sou uma pessoa ruim e pronto. – ela se virou para o lado e o silencio reinou.
Fechei os meus olhos, tentando não pensar em minha família, porque quando o fazia, meu peito se apertava e eu só imaginava como seria tudo se morresse ali. Não queria morrer e deixar minha mãe e meu irmão desamparados. Não queria morrer antes de ver mais uma vez a minha poderosa.
“Meu Deus... Não me deixa morrer assim! Não foi desse jeito que eu planejei morrer... Eu sei que o senhor deve estar cansado de me ouvir, mas eu te imploro... Nos tira dessa!”
Me acomodei o melhor que pude e vencida pelo cansaço, dormi imediatamente. Aquela noite não houve sonhos, somente um imenso vazio em minha cabeça.
- Acordem... Vamos! Não temos o dia todo. – demorei a abrir os olhos e tentei focar em algo, mas estava difícil. – AGORA!
E de repente senti algo molhado e abri os olhos.
- Vamos, loirinha... – levei um empurrão e finalmente despertei de vez. – Comam isso... – um cara muito branco e de olhar estranho me entregou uma sacola.
- Não precisava me molhar, seu idiota... – rosnei o fazendo rir.
- Só abre essa boca pra comer, loirinha... Antes que eu a feche com um soco. – engoli em seco.
Minhas mãos estavam soltas, assim como as de Pietra, que já estava comendo. Ela não parecia tão bem e o sangue em seu rosto estava seco. Olhei para o homem a nossa frente e ele estava só. Não havia sinal dos outros dois e nem do menino que havia dito que nos ajudaria.
- Comam... Essa vai ser a última “broca” de vocês... – ele riu.
- Se eu fosse você, calaria a boca. Seu hálito nojento tá me incomodando... – Pietra respondeu. Ela estava encarando o sanduiche de ovo que tinhas em suas mãos.
- Como é? Tá achando que é quem, sua burguesinha safada? – ele veio até Pietra e lhe segurou pelos cabelos. – Repete!
- Vai pra merd*! – ela cuspiu na cara dele.
- Sua vadia... Vai me pagar por isso. – ele deu um tapa forte na face de Pietra, que tombou batendo a cabeça contra a parede.
- Seu filho da puta! – avancei sobre ele, lhe arranhando o rosto com as minha unhas.
- AAAAAAH! SUA PIRANHA! – o cara ficou de pé e sacou uma arma, apontando para nós. – Você vai pro inferno primeiro.
Ele apertou o gatilho, eu fechei meus olhos, esperando o impacto, mas não veio. Ao abri-los, o vi no chão, mas Pietra também estava. Sua perna sangrava e ela gritava em dor. Me arrastei até ela, percebendo a gravidade.
- Saiam daqui! Rápido! – o garoto cortava as cordas que amarravam nossas pernas. Foi ele quem havia derrubado o outro cara. Um pedaço de madeira estava jogado ao seu lado.
- Mas, ela tá sangrando... – ele me entregou uma mochila.
- Vai embora e me deixa aqui, Luane... – ela pediu.
- Cala essa boca. Não vou te deixar aqui... – Pietra fez uma careta de dor.
- Aqui tem comida, um kit de primeiros socorros e um celular... Atrás da casa tem uma grande floresta. Sigam reto e chegarão a BR. ANDA! Antes que os outros voltem...
- Obrigada por isso... – fiquei de pé e ajudei Pietra. – Obrigada!
Saímos por uma porta nos fundo e poucos metros depois entramos em uma mata. Havia um caminho muito estreito e seguimos por ele. Pietra gemia de dor ao meu lado e eu estava quase tento um treco.
- Não acredito que levou uma bala por mim... – já estávamos andando há meia hora. O calor estava muito forte.
- Cala boca e anda... – estava cada vez mais difícil fazer aquilo. – Estamos quites...
- Você já perdeu muito sangue... Vamos sentar um pouco. – a fiz sentar em uma raiz de mangueira.
- Acho que a bala atravessou... Merda, Luane, não mexe. – ela bateu em minha mão quando peguei em sua coxa.
- Para de ser chata, garota. Só quero ver se realmente atravessou pra poder fazer algo. – abri a mochila e havia um celular simples, água, algumas bolachas, barras de chocolate e ataduras. – Vou limpar e cobrir...
- Toma cuidado, porque isso tá doendo. – abri uma garrafa, limpei todo o sangue e percebi que de fato havia atravessado. Ela estava de shorts, o que facilitava muito. Rasguei uma parte da minha blusa e amarrei em sua coxa e cobri o ferimento. – Bebe um pouco e come isso... Vou tentar ligar pra polícia.
Peguei o pequeno aparelho e tentei ligar, mas não havia sinal. Subi em uma pequena árvore e novamente sem sucesso. Eu não acreditava na minha falta de sorte. Voltei para onde Pietra estava.
- Vamos? Precisamos chegar na BR. – respirei fundo.
- Não conseguiu ligar? – ela estava pálida.
- Não tem sinal... – Pietra socou o chão.
- Inferno! – peguei a mochila.
Continuamos a nossa caminhada e cada vez o acesso ficava mais difícil. Não sei dizer com precisão por quantas horas andamos, mas quando paramos, a exaustão nos pegou e foi impossível voltar a andar. Olhei as horas no celular e já passava do meio dia.
- Você precisa ir... Me deixa e salva sua vida. – ela dizia com dificuldade.
- Eu não vou te deixar aqui, Pietra. Desiste dessa ideia idiota. – passei a mão sobre a cabeça.
- Nunca pensei que iria morrer ao seu lado... – ela riu.
- Eu menos ainda... – havia somente mais duas garrafinhas com água. – Por que você quer tanto destruir a Allen? O que eles te fizeram? O que isso te trouxe de bom?
Pietra ficou calada por vários minutos.
- Nem sempre fui uma pessoa ruim... – coloquei minha atenção nela. – Quando eu tinha seis anos, percebi que os meus pais não eram comuns. Minha mãe nunca nem me amamentou. Ela só liga pra si mesma e meu pai, obcecado em trabalhar. Ele estava sempre no escritório, mexendo em alguns recortes de jornais. Tentei ter sua atenção, mas eu podia ver o seu olhar de indiferença. Quando eu tinha treze, comecei a faltar aulas, fumar e beber, fazia de tudo pra ter no mínimo um minuto da preocupação dele, mas era em vão. Quando eu completei dezoito anos, encontrei os recortes de jornais que falavam sobre a família Allen e foi quando encontrei uma forma de tê-lo comigo...
- Passou a ajuda-lo em sua vingança pra poder ter atenção? – eu estava chocada.
- Imbecil, não é mesmo? – seu sorriso era carregado de dor. – Quando percebi, já havia tomado gosto pelo errado... Já fiz tanta coisa que certamente vou de tobogã para o inferno.
- Se arrepende de algo? – ela me encarou.
- Arrependimentos não mudam o que já fiz, Luane. Eu não me importo com quem sou hoje, pois tudo que fiz me fez ser independente. – franzi o cenho.
- E o que você é hoje? – não era possível que ela não desejasse mudar.
- Vazia... Não almejo mais nada. Já estou morta por dentro faz tempo. – fiquei perplexa. – E tá ótimo desse jeito.
- Por que me salvou? – segurei seu rosto. – Por que alguém tão fria como você se denomina, salvaria alguém que nunca gostou? Por quê?
- Você foi a única pessoa que fez algo bom por mim, mesmo depois do que quase te fiz. – um nó se formou em minha garganta. – Você me salvou e depois me defendeu. Foi mais do que qualquer pessoa tenha feito pra mim a vida toda. Só estou confessando isso porque sei que vou morrer... Então não se alegra. Não vai ouvir nada disso novamente, suburbana.
- Você se esforça muito pra ser uma pessoa ruim... E se soubesse que há outra pessoa que compartilha o seu sangue... O que faria? – Pietra me olhou com um ponto de interrogação enorme na cabeça.
- Do que você tá falando, Luane? – respirei fundo.
Eu não tinha o menor direito de contar sobre os laços que Charlotte e ela compartilhavam.
“Mas... Alguém precisa fazer algo. De onde saiu tanta empatia? Merda!”
- Charlotte é a sua irmã...
Foi uma longa noite em claro, sentada na recepção da delegacia. Durante toda a madrugada a minha cabeça dava voltas e voltas, mas sempre parava no mesmo ponto. Agora eu estava dentro do carro de Álvaro Cavalcante, indo para o local marcado. Em vinte minutos chegaríamos. Dois seguranças armados nos acompanhavam, assim como Afonso.
Haveria mais três seguranças no local, escondidos se caso houvesse algum problema. Eles foram ideia de Álvaro. Havia algo mais ali, porém no momento a minha única prioridade era ter a Luane de volta.
- Esteja preparada para o pior... - Afonso me alertou. Fui impedida de colocar a polícia naquela troca. - Não se desespere. Eu vou estar com você...
- Não irei... - olhei para a janela. A estrada de terra era cercada por uma mata alta e isolada do resto do mundo.
Uma cidade a quatro horas de Belém.
"Traga a minha menina de volta, Charlotte... Por favor."
Aquele pedido feito por dona Regina não me saia da cabeça. Ela passará a madrugada inteira na delegacia. Depois que Larissa ganhou alta, Helena acompanhou a ruiva e sua família até em casa e eu fiquei com minha... Sogra? Acho que poderia chama-la assim. Ela chorou em meus braços, pedindo que Deus não permitisse que nada de ruim acontecesse. Pela primeira vez na vida, experimentei a dor dos outros.
“Você é uma boa menina, Charlotte. Obrigada por tudo que tem feito por minha família... Nossa família. Jamais esquecerei de nada disso, menina.”
Ela deixou subentendido que eu fazia parte de sua família e era exatamente assim que me sentia. Faria tudo para trazer Luane de volta e com vida.
- Chegamos... Eu vou descer com os seguranças e vocês fiquem aqui. - Álvaro parecia realmente preocupado com a filha.
- Eu vou descer também. - Afonso segurou meu braço.
- Ele tá certo... - respirei fundo. - Espere. Vamos aguardar!
Álvaro desceu com os dois seguranças, indo para a parte da frente do carro. Olhei para a pequena casa e dois caras saíram de lá. Armados com metralhadoras, eles se aproximaram. O carro que estávamos era blindado e fazia parte da companhia de Afonso, então estávamos seguros caso houvesse algum imprevisto.
Eu não podia ouvir o que era dito, mas de repente os ânimos se alteraram e o que veio a seguir foi muito rápido. Os dois homens foram atingidos na cabeça e foram ao chão. Olhei para todos os lados e não vi de onde vierem os tiros.
“Os outros seguranças. Será que seriam realmente seguranças?”
- Preciso sair... - abri a porta do carro e fui até onde os dois sequestradores estavam.
Estavam mortos.
- Tá limpo... Só encontramos esse moleque lá dentro e um cara amarrado. Ele também tá morto. - um menino que não deveria ter mais que quinze anos nos olhou.
- Cadê a minha filha? - Álvaro o segurou pela blusa.
- Eu as ajudei a fugir mais cedo... Foram pelos fundos... Pela mata. – ela apontou a direção.
- Como vamos saber que não está mentindo? – o questionei. Ele parecia assustado e olhava para os dois no chão, chorando bastante.
- Não estou, moça... Dei um celular pra elas e comida. Vocês precisam se apressar, pois uma delas levou um tiro. – levei a mão a cabeça e senti como se um soco me atingisse o estomago.
- Vou acionar a polícia local e avisar o delegado de Belém... – Afonso avisou e logo se afastou.
- Você também vai morrer, moleque. Matem ele! – Álvaro ordenou e os dois seguranças contratados me encararam.
- Não façam nada. Levem ele pra dentro do carro e não deixem ele sair. – eles concordaram com um acenar e se afastaram. – Foi pra isso que você contratou os outros, não é? Pra matar os que podiam te incriminar.
Ele me encarou.
- Faço o que devo fazer e fim! – senti meu sangue ferver.
- Nem em um momento como esse, você deixa de pensar em si próprio. – Álvaro me encarou por vários segundos.
- Eu faço o que for preciso por mim e por minha filha... Você também o faria por aquela garota. – franzi o cenho.
- Vou te denunciar... Vou dizer a polícia que mandou matar esses caras pra não ser investigado. – ele apenas se afastou.
Respirei fundo.
- Eles já estão vindo... – Afonso colocou a mão sobre meu ombro. – Daremos um jeito nisso tudo. – ele apontou para os dois mortos no chão.
Aquilo fugiu totalmente do controle e ainda tinha o agravante de uma delas estar ferida. O desespero estava a ponto de me deixar louca. Esperei por meia hora pela polícia, porque Afonso me impediu de entrar na mata com os outros dois seguranças. Eles trouxeram uma grande equipe para adentrar a mata. Não queriam que eu fosse, mas como uma “legitima Allen” impus a minha vontade.
Dali a pouco mais de uma hora, o sol desapareceria e as buscas ficariam mais difíceis. Eu estava cansada, porém iria até o fim. Parei um instante para beber água, quando ouvi o grito de um dos homens da polícia.
- ELAS ESTÃO AQUI! – imediatamente saí correndo, fui ao seu encontro e a cena que vi fez meu coração apertar.
- Meu amor... – me agachei para toca-la. – Ei? Tá tudo bem agora...
- Char... Charlotte? – os azuis estavam escuros e a voz fraca.
- Tá tudo bem agora... – a trouxe para mim. – Beba... – abri a garrafa e coloquei o liquido em sua boca.
- Ela... Ela perdeu muito sangue... – Luane olhava para Pietra, que estava sendo imobilizada pelos paramédicos que vieram junto da polícia. – Tô tão cansada...
- Tudo bem, meu amor... Agora vai ficar tudo bem. – a abracei forte, sentindo um alivio enorme.
Uma paramédica passou a examina-la e depois de alguns minutos, fizemos o trajeto de volta. Luane não podia andar, pois estava com um graveto pontiagudo atravessado no pé. Ela foi o trajeto todo até o hospital mais próximo, desacordada. Seus lábios estavam ressecados e suas roupas cheias de sangue. Pietra estava em outra ambulância com o pai e Afonso vinha logo atrás com os seguranças.
O IML fez a remoção dos corpos e levou o garoto para a delegacia. Pelo que pude entender, ele era irmão de um dos bandidos e também era dono da pequena propriedade no meio do nada. Aquele era somente o princípio dos problemas, mas por agora só podia estar aliviada, pois Luane estava viva e poderia voltar para a sua família.
- Já informei a família da Luane... Quando poderemos ir embora? – Afonso soltou um longo suspiro.
- Creio que logo, mas se prepare, pois haverá muitas perguntas sobre a morte dessas pessoas. – mordi o lábio.
- Vou ver como a Luane está. Resolvemos uma coisa de cada vez... – Afonso apenas concordou.
O posto de urgência e emergência não era muito bem estruturado, porém foram eficazes e rápidos no atendimento. Luane levou alguns pontos no pé e terminava de ser examinada por um clinico geral. Me aproximei do leito e a loira me encarou.
- Você precisa ajudar a Pietra... – franzi o cenho. – Ela precisa de uma transfusão de sangue e vocês tem o mesmo tipo sanguíneo.
- Se isso é verdade, a senhorita precisa ir imediatamente fazer a coleta. Ela precisa com urgência da transfusão.
Olhei para Luane e ela me implorava silenciosamente.
- Tudo bem, doutor... – a loira segurou a minha mão e a apertou.
- Então, venha comigo... – eu não queria deixa-la ali sozinha, porém foi o que fiz.
O procedimento foi feito e momentos depois fui liberada para voltar para o quarto com Luane e ela dormia serena. Eu nem ao menos imaginava o que ela havia passado. Meu coração apertava só em pensar na possibilidade de algo mais grave ter ocorrido.
- Ei... – ao ouvir sua voz, mirei o rosto bonito.
- Ei... – levei sua mão a meus lábios. – Como você está?
- Estou bem... – ela sorriu. – Falei com a minha mãe agora há pouco.
- Ela estava tão preocupada. – toquei sua face. – Nós estávamos... Prometa que jamais irá se colocar em uma situação como essa novamente, Luane...
- Eu não planejei nada. Eu só fiz... – ela se afastou. – Deite comigo...
A olhei por uns segundos e depois fiz o que ela me pediu.
- Pensei que jamais voltaria a te ver... – ela se aconchegou a mim. – Eu pensei que iria morrer, Charlotte.
Fechei meus olhos.
- Não, não... Você tá bem agora e é tudo que importa. – beijei a sua testa. – Eu quase morri de preocupação.
- Você veio até aqui por mim... – Luane me encarou.
- Eu vou a qualquer lugar por você, loira teimosa. – ela sorriu. – Ainda não notou o quanto estou apaixonada por você?
Ela ficou visivelmente surpresa.
- Achei que seria eu a dizer primeiro. – e então ela sorriu e eu percebi que não conseguiria mais viver sem ver aquele sorriso. – Porque eu estou muito apaixonada por você, minha poderosa arrogante...
Dessa vez quem sorriu foi eu.
Nossos lábios se encontraram de uma forma gentil, com paixão e saudade. A impressão que eu tinha era a de que fazia séculos que não a beijava e só consegui parar quando o ar nos faltou.
- Fica comigo? – pedi.
- Ainda não percebeu que sou toda sua? – seus dedos passeavam por minha face.
- Gosto do som dessa frase. – ela sorriu.
- Assim como espero que também seja toda minha. – mordi meu lábio.
- Isso é um pedido de namoro? – Luane grudou seus lábios nos meus em um longo selinho.
- Sim! Namora comigo, Allen mandona? – Deus, como aquela mulher era incrível.
- Aceito, garota petulante... – nossos olhos mergulhavam uns nos outros.
- Senhorita Oliveira? – olhamos para a pessoa que estava em pé a poucos metros de nós. – Sou a investigadora Suzana Calimi. Precisamos conversar...
- Tudo bem, investigadora... – Luane ficou sem jeito. Desci do leito e sentei em uma cadeira de plástico que ali estava.
- Desculpe vir em um momento assim, mas preciso fazer o meu trabalho. – a mulher abriu uma agenda. – E depois a senhorita será a próxima, Charlotte Allen.
Apenas concordei com um acenar de cabeça.
- Você e a senhorita Cavalcante estão envolvidas em algo ilícito? – ergui as sobrancelhas. Luane me encarou chocada.
- Como é? – a loira perguntou e ganhou um olhar gélido da investigadora.
- Puxamos as fichas criminais dos três sequestradores e todos já foram presos por tráfico, jogos de azar e agiotagem. Quero saber exatamente qual sua participação nessa história toda. – eu tive que ri. – Algum problema, senhorita Allen?
- Você tá acusando ela de algo? – levantei.
- Estou apenas investigando os relatos. – ela me encarou com desdém.
- Parece mais que a senhorita investigadora está acusando a vítima de algo. Se esse for o caso, ela só falará na presença de um advogado. – Suzana sorriu e guardou sua agenda.
- Pois bem... – ela saiu do quarto.
- Eles vão me acusar de algo? – Luane ficou agitada.
- Você não fez nada... – segurei sua mão. – Não precisa temer nada...
- Charlotte? – Afonso entrou no quarto.
- O que houve? – limpei a garganta.
- Pietra Cavalcante pediu pra você ir vê-la. – ergui a sobrancelha. – Ela disse que tem algo importante a dizer.
Olhei para Luane e a loira baixou a cabeça.
- Desculpa! – franzi o cenho. – Eu contei a ela...
Respirei fundo, passando a mão em meus cabelos.
- Fique aqui com ela, Afonso. Sim? – ele apenas sorriu.
- Claro, filha... Pode ir tranquila. – olhei novamente para a loira e podia ver arrependimento em seus olhos.
- Tá tudo bem... – coloquei meus lábios nos dela em um longo selinho.
Saí do quarto e caminhei até o fim do corredor. Álvaro estava sentado próximo a porta, falando ao telefone. Entrei no quarto, fechando a porta em seguida. Pietra estava mexendo em seu celular e quando notou a minha presença, seus olhos caíram sobre mim.
- Então somos irmãs...
Fim do capítulo
Perdoem o sumiço, meninas. Semana passada foi complicada para postar, mas aqui estamos novamente. Voltando a normalidade, mais um cap e sexta tem o próximo. Um super beijo e cuidem-se e cuidem dos seu familiares e amigos. São tempos dificeis...
Nossas meninas se livraram de uma, mas ainda temos muito chão pela frente.
beijos e é isso...
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