Tudo que perdi em você
Contradictio
“Tudo que perdi em você”
***
“... Vamos fazer um brinde ou dois
Por todas as coisas que eu perdi em você
Diga-me, elas estão perdidas em você?
Apenas... Você poderia me libertar
Depois de tudo que perdi em você "
-LP
***
A morena parou abruptamente e arregalou os azuis ao sentir algo furtivamente apertar-lhe as pernas...
- Venha cá sua "pestinha".... - Um policial roliço, aos berros, adentra desesperado.
Ao notar a presença da mulher, recobrou a compostura.
- Desculpe agente! - Limpou a garganta- Não sábia que ainda estava por aqui... - o homem trocou o tom de voz de raivoso de segundos atrás para envergonhado.
A mulher virou-se para a porta, que estava em suas costas.
- Tudo bem policial! – respondeu em desconfiança á atitude do homem.
O homem aproximou-se, pronto para tomar a pequenina que se refugiou nela, mas a “miniatura de ser humano”- riu a maior recordando-se das palavras de Ruiz- aninhou-se ainda mais em suas longas pernas. Conjecturou que fosse a criança que o jovem assistente disse procurar.
A jovem podia sentir o aparto apavorado, a pequena parecia lhe segurar como se fosse a "taboa de sua salvação".
Sem entender o porquê, já que não costumava nutrir habilidades ou carisma por crianças, teve ímpeto de proteger-la.
- Ei.. Ei... – chamou a atenção do policial - Deixe-a! – barrou-o, mantendo a garota atrás de si - Diga à mãe que ela estará aqui! - completou ainda sem mirar a criança que lhe enlaçava,
-Sim, senhora!! – interrompeu sua ação no meio do caminho. Mesmo confuso, assentiu, partindo.
Certamente daria o recado a pobre mãe, que deveria estar com os nervos á flor da pele.
*** silêncio***
- É...- limpou a garganta - Ele já foi, pode sair daí se quiser... – sem saber bem como agir, a mulher tentou enxergar a criança que ainda escondia o rostinho na parte posterior de sua coxa - Ou ficar paradinha como uma estatua, você é quem sabe! - Completou ao notar a falta de reação da criança.
As dores em suas costelas tornava a tarefa fatigante, então desistiu de tentar ver a miniatura de ser humano enroscado em si.
Preparava-se para afastar a menina, quando, sem qualquer aviso, sentiu os pequenos bracinhos afrouxarem o aperto.
Um sorrisinho torto cresceu tímido sob os lábios avermelhados da maior...
Olhou-a, de cima só pode ver o topo da cabecinha e as madeixas negras e lisas.
A criança parecia ocupada em demasia brincando com seus pequeninos dedos, para dar atenção a Emanuella.
Certa de que seria ignorada por completo a mulher se voltou para o “serzinho”, entre dores e certa dificuldade, se equiparou ao tamanho da menina.
E lá estava ela, a pequena fugitiva...
Era garotinha mais linda que Emanuella Castiel tinha visto em toda sua vida!!!
“Linda!!" - pensou.
As madeixas negras e a franginha na testa, os minúsculos lábios avermelhados e bochechas rosadas e rechonchudas. O sorisonho torto, de quem está prestes a aprontar. Os olhos azuis escuros...
Admirou-se!
“Parecia um reflexo!!!”
Estranhamente familiar...
Eram tão azuis quanto os seus, porém antagônico á tempestade, traziam um o escuro Azul sereno, de épocas de primavera, calmaria, Paz. Grandes e expressivos...Brilhavam curiosos e investigativos.
As minúsculas mãos rechonchudas, que outrora apertavam as pernas da policial, estenderam-se, indo á sua direção...
Sentiu-as quando encontrou sua pele, quentes e carinhosas, pousarem em face rígida e aristocrata...
O coração da morena pôs-se a bater violentanete, parecia querer pular do peito e render-se ao brilho das grandes orbes azuladas.
Não compreendera o que era aquilo, entretanto sentiu-se... Viva!?
Sim, estranhamente, sentiu-se viva com o toque cálido, julgava que o mesmo era capaz de derreter o mais gélido dos corações.
Piscou algumas vezes mirando o rostinho redondo, tão puro, devolvendo-lhe a “encarada”.... Engoliu seco!!
*** Gargalhada infantil***
O som era como uma das mais belas sinfonias de Beethoven, julgou Emanuella e sem notar um sorriso encantado desenhou-se em seu lábios avermelhados.
“Quem é você ?” - Perguntou-se.
- Oi, eu sô a Manu... - com se lesse os pensamentos da Emanuella, a criança quebrou o silêncio e abriu mais o sorrisinho sapeca - Mas quando mamãe ta blava com eu, ela me chama de Angeline! - gargalhou.
- Oh... - acompanhou o riso da pequena - Eu também sou a Manu, mas quando minha mãe está brava comigo, me chama de Katherine! - respondeu uma morena divertida e encantada com espontaneidade do ser "humaninho" diante de si. Surpresa com o que julgara ser uma coincidência, o nome de a pequena ser igual ao seu.
- Manuuu?? -fez um beicinho ao pronunciar - Igauu o meu? - a voz gostosa e infantil indagou com os azuis vivos e arregalados.
- Sim... Acho que sim!!- sorriu com a expressão da garotinha.
- Posso ti chama di, Kath, igual sua mamãe??- com os olhos semicerrados, inclinou a cabeça para a esquerda esperando pela resposta.
-Uhm... - com os azuis tempestade igualmente semicerrados e uma das sobrancelhas arqueadas, como se por reflexo, tombou a cabeça para o lado - Só se puder chamar você de Angel ?! – negociou.
“O apelido era perfeito para o anjinho de madeixas negras, Angel (anjo)...”
-Hum... - analisou com o cenho franzido e uma das mãozinhas no queixo - Negoto fechado, Kath! - depois de um breve silêncio, respondeu a pequena “empresaria” estendendo a mão para selar o “acordo”.
Castiel estava encantada com a pequenina, parecia uma adulta na confiança com a qual se expressava.
- Certamente! - a morena recebeu o aperto das rechonchudas mãozinhas com um lindo sorriso nos lábios avermelhados.
Angeline interrompeu o aperto, quando notou algo incomum, que na sua cabeça infantil parecia gravíssimo.
- Fez dodói na moomh? –indagou, referindo-se á faixa que enrolava o ferimento de Emanuella.
- Não se preocupe, Angel, foi um pequeno acidente! - respondeu olhando para a atadura improvisada- Eu estou bem... – tentou tranqüilizar a menor, sorrindo.
- Mamãe cura os dodói das gentes, sabia?! – disse orgulhosa, entretanto olhou para os lados como se o que estivesse prestes a revelar fosse um "segredo de Estado" - Noomh fala pá ela, mas “poliça” é mais legal que médico!!- mais uma doce gargalhada.
- Seu segredo está seguro comigo, pequena! - sorrio torto, chegando mais perto de Angel - E... Eu concordo com você!! - confessou em um quase sussurro, gesto que veio acompanhado de uma piscadela divertida.
Angeline preparava-se para dizer algo, porém...
- Angeline Emanuella - a voz doce fez-se notar - Você quer me matar do coração, minha filha!? - preocupação mesclada a alívio se fizeram presentes na repreensão.
Os expressivos azuis da criança miram a porta, e de curiosos, passaram á receosos e ao mesmo tempo aliviados para a figura que se aproximava rapidamente...
Angeline, abandonando a dianteira da policial. Correu para a mulher, estendendo os bracinhos. Sem qualquer receio foi recebida em um abraço forte e carinhoso.
- Não faça mais isso, docinho... – a voz embargada da mulher, mostrava seu alívio – A mamãe quase morre de preocupação! – suspirou, depositando um beijo no topo das madeixas negras.
“Não, Não, Não!!”
“Não é possível, Não pode ser....”
“Raios. Relâmpagos. Trovões. Prelúdio prefeito para o desenrolar das almas ali postas.
O céu estava negro...
As estrelas cederam lugar á tempestade.
Era madruga e por conta da chuva, atrelada ao horário, nenhuma outra alma viva ousaria se apresentar em uma das mais movimentadas avenidas da grande São Paulo.
Apenas dois amantes, dois destinos, dois corações...
- Por favor, amor... - mantinham as frontes coladas uma a outra, e Sussurrava entre o lábio rosado - Não me quebre assim... Não me quebre assim... - ela apertava os olhos com força, como se pudesse despertar-se do pior pesadelo que já tivera em toda sua vida. O nó que formara-se em sua garganta, agora desembocava em lágrimas. Misturavam-se com a água da chuva e desciam até os lábios avermelhados, o gosto não era salgado, mas amargo, amargo como o fel...
- Eu sinto tanto... Eu... - mantinha as mãos com longos e delicados dedos nos lábios avermelhados, parecia tocar o mais precioso e venerado monumento de arte... Desceu as mãos para o mento alonga, podia sentir o relevo que dava a ela uma linda “covinha”... Era fascinada por ele. Apreciava, por uma última vez, a face que tanto amava. Tateou-lhe a linha do maxilar, estava tão comprimido... Perfeita alegoria para representar seu coração, sua alma dilacerada - Sinto muito, meu anjo de cabelos negros... - e com os rosados tocou-lhe os avermelhados lábios num beijo Contraditório. Sôfrego, mas lento. Intenso, mas carinhoso. Com amor, mas como quem diz... - Adeus! - saiu em um fio de voz, como um sussurro resignado, como quem quer ficar, entretanto não pode... Voz essa que um dia fora doce, aos mais ásperos dos ouvidos.
Lentamente afastou-se, até sua silhueta misturar-se á escuridão da Noite fria. ”
E como diz o poeta:
"De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente. "
- Vinícius de Moraes.
Todo seu corpo entrou em estado de alerta, sentiu os pelos eriçarem e o ar “tornar-se” mais denso...
Inspirou profundamente em pânico.
Aquela voz... Aquela maldita voz, Emanuella reconheceria em qualquer lugar, tempo e espaço.
Aquele cheiro...
Era o mesmo que a acalmava nos dias ruins, floral e delicado...
Ainda era o mesmo... Doce e refrescante para a alma!
”Não é possível...” -Emanuella tentou se mover, contudo seu cérebro se tornou incapaz de obedecer-la.
-Muito obrigada Policial... – disse a mulher, só agora havia notado a morena totalmente paralisada na mesma posição de antes... - Perdoe-me, caso Manu tenha lhe importunado!! - completou gentilmente olhando-a, “agachada” á sua frente.
“Não!” – negou Castiel em pensamento, tentando desmentir o que era fato.
Nunca esqueceria o sussurro sôfrego e dolorido que despedaçou seu coração com um único "Adeus".
- Está tudo bem? - A mulher prosseguiu, estranhando por não obter uma resposta- minha filha, ela é muito elétrica, sabe?! - estava atrasada, então resolve não se preocupar - Enfim...Obrigada por encontrar-la e manter-la segura por esses minutos!!-agradece se voltando para a saída.
A mãe de Angel começou a girar sob os calcanhares...
- Foi ela que me encontrou.... – Castiel, finalmente.
A mulher Engoliu seco e piscou algumas vezes tentando espantar as lembrança e o turbilhão de sentimentos que o rouco daquela voz, como uma fênix, fez renascer em si.
"Não me quebre assim..... não me quebre assim.... - ela apertava os olhos com força, como se pudesse despertar-se do pior pesadelo que já tivera em toda sua vida. "
Passaram-se tantos anos, apesar de acompanhar a morena nas matérias de jornais, seu coração não estava pronto para aquele momento. Era-lhe familiar e acalentador ao mesmo tempo, assustador.
Iara Muller não estava preparada para aquele reencontro!!
- Kath.... - em um sussurro inadiável, pronunciou.
Com dificuldade, Emanuella pôs-se sobre o pés em uma espécie de “lapso temporal” os azuis encontraram os verdes.
"Continuava Linda” – Emanuella não pode deixar de notar, resignada.
Os anos haviam lhe favorecido...
As madeixas loiras ornavam perfeitamente com rosto delicado e fino, estavam maiores desde a última vez que a vira.
Os verdes mel, que costumavam lhe roubar o fôlego... A cintura fina, agora delineada pelo blazer preto e as lindas e grossas pernas marcadas pelo Jeans escuro, acompanhada de um scarpin vernizado...
Caminhos que costumava conhecer tão bem....
"Incrivelmente encantadora!” - concluiu Castiel perdida na confusão de sentimentos que despontara dentro de sua alma.
Mirou os lábios rosados...
Em seguida os azuis tempestade se endureceram ao encontrar a face pálida e o olhar que caiu como uma tonelada sobre si. Reconhecia-o, nunca conseguiam esconder o que se passava no interior...
"Está sofrendo..." – constatou.
Sentiu corta-lhe mais um pouco da dilacerada alma, a culpa a corroeu um pouco mais, mas jamais admitiria isso, estava ferida e magoada demais para preocupar-se com o sofrimento da Iara Muller.
Iara sentiu o peso dos azuis que já não era tão vivo quanto lembrava, mas igualmente misteriosos.
A viu franzir o cenho e cerrar o maxilar...
Notou as olheiras e a vermelhidão nos azuis, apenas duas pessoas que passara por sua vida detinham-nos.
Um aperto se formou em seu estomago ao reparar nas mão feridas e as feições de dor que Manu tentava não esboçar.
O rosto audacioso e arrogante, que tanto lhe encantara, maculado com ferimentos.
Julgou ser conseqüência dos últimos acontecimentos que acabara de tomar conhecimento, enquanto fora trazida para delegacia, para ser notificada de mais uma fatalidade em sua vida.
“O que lhe aconteceu, meu anjo de cabelos negros?" - Questionou-se a loira.
- Mamãe... - A pequena manu quebra o silêncio tenso e interminável- Você ta blava com Eu?- questionou temerosa.
Os azuis tempestuosos da morena, agora surpresos, volta-se para a pequenina no colo de Iara.
Era muitas informações para processar, só agora compreendera a situação...
A pequena Angel, por quem tanto se encantou, era filha daquela mulher?!
- Não... - buscou reencontrar o equilíbrio em si – E-Eu... Eu só estava preocupada! - os verdes miraram o rostinho alvo - Nunca mais faça isso... Você conhece as regras, Angeline, nada de soltar as mãos da mamãe, fora de casa!- pontuo repreendendo a criança.
- Dicuspa!- falou a criança envergonhada por reconhecer o erro.
A pronúncia atrapalhada da garotinha, que aparentava ter no máximo três anos, quebrou um pouco da tensão do momento.
Por um minuto as mulheres “esqueceram” o clima pesado, causado por aquele inesperado reencontro, sem perceber, estava de forma tímida, sorrindo da expressão da pequena Manu.
Iara não pode deixar de admirar o sorriso torto e despreocupado no rosto de Kath, derreteu-se enquanto mirava os lábios avermelhados da Audaciosa morena.
- É... "desculpe", docinho!! - corrigia-a médica - E é claro que desculpo, porém, mesmo assim ficará de castigo! - falou carinhosa, porém firme.
- Ah mamãe, noomh!- protestou manhosa e abandonou os braços da loira, correu para Emanuella, segurando-lhe as mãos com as suas rechonchudas na altura da cabeça.
Sem saber o que fazer, Katherine recebeu a pequena e depois da surpresa, apertou as mãozinhas com mais intensidade, como se passasse segurança a pequenina.
Muller estava boquiaberto, encarando o comportamento atípico da garota. Apesar de curiosa, não costumava nutrir confiança para com estranhos, entretanto, no fundo, sábia bem que a morena não era uma estranha para a filha e de certa forma se sentiu feliz ao ver aquele momento de interação.
- Ei... - A agente voltou a se emparelhar a Angeline- Eu sei que é chato, mas você é forte, vai ficar bem... - sorriu para a pequena.
- Mas eu nooh quelo fica no castigo... - falou desviando o olhar par o chão, ainda apertava a mão da policial - É “Sato”, Kath! – Completou manhosa.
- Eu sei, Angel, mas prometa que obedecerá a sua mãe?! - disse com carinho e calma na voz, sem desviar o olhar da pequena Manu.
A menina abria os lábios para pronunciar-se, quando a voz grave e risada interrompeu, mais uma vez.
- Mas que merd* está acontecendo aqui...?
Fim do capítulo
Acho que por hoje está bom, senhoritas!
Dá para passar pela quarentena menos entediadas...RSRS
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