Errar só é humano, porque viver é Humano
Contradictio
“Errar só é humano, porque viver é Humano..."
***
“... Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés... "
- Cartola
***
Depois de uma conversa longa e fatigante com o Ministro de Segurança e a Delegada Aragão, Emanuella resolveu que estava na hora de tirar aquela camisa ensangüentada e dar uma olhada em suas costelas, doíam à ponta de não conseguir respirar naturalmente.
“Inferno!!”
Caminhou lentamente, agora que adrenalina abandonara seu corpo, podia sentir as dores da luta corporal que tivera com o atirador horas antes no galpão abandonado.
Lembrava-se, com incredulidade, da atitude de Pedro e Dra. Aragão...
“- Acredito em sua palavra, mas será necessário seu afastamento provisório, até a perícia inocentar-la por definitivo!! - Falou a delegada.
- Você conhece as regra do jogo, Castiel! - completou o Ministro.
Apanhou uma camisa branca que a prima insistira para que mantivessem nos seus respectivos armários, caso uma emergência como aquela as acometesse.
Sorrio torto ao lembrar-se dos primeiros anos como policial...
“Como July era desajeitada...”
Entretanto superou seus próprios limites e hoje era uma ótima agente.
Recordou-se de si, e porque decidira ser policial. Contrariando a vontade dos pais, queria apenas fazer a diferença na vida de alguém, mesmo que por um minuto... Não importava... Valeria à pena morrer para uma boa pessoa viver.
Não era ingênua!
Não possuía a crença de que pessoas boas eram aquelas que fazem “a coisa certa” sempre, que nunca erram ou não perdem o seu caminho às vezes.
Acreditava que pessoas boas são as que sempre estão disputas a reconhecer e lamentar pelos seus erros, levantar, respirar fundo, reparar-los e continuar em busca de si e de seu caminho.
Afinal quem disse que viver é acertar ou estar moralmente coerente com o mundo, sempre?
Como dizia sua mãe:
“Errar só é humano, porque viver é Humano..."
Apesar de ter adquirido uma grande indiferença e frieza, como um mecanismo de defesa, ao que se tratava da família Muller, jamais deixaria um homem ser morto friamente diante de si, não quando poderia salvar-lo.
O homem era um grande amigo dos Castiel's e embora tivesse conhecimento de alguns desvios morais do mesmo, como os do próprio pai, não se achava no direito de decidir se alguém deveria ou não viver.
Tentara impedir a morte do médico, afinal convivera boa parte da vida com ele, não era nenhuma psicopata. Mas como tudo na vida independe do querer ou da vontade humana...
Falhou, miseravelmente!
“- Por favor... - o Homem de cabelos de um loiro para os grisalhos e olhos escuros semelhantes a uma jabuticaba, tentava dizer entre tosses que traziam sangue. Tomou a mão esquerda da morena que lutava para pressionar o ferimento em seu pescoço - Prometa que as protegerá... Ela... Ela não tem culpa... eu... in...in...imploro, Castiel... - A voz era fraca e rouca - Não faça como Eu... Não permita que o ódio lhe roube o que mais importa na... na... vid....
Manu pode ver a última faísca de vida esvair-se dos negros, que já não brilhavam como antes.
- Merda... Dr. Muller ?!- Batia na face de Augustos, como quem tenta despertar do sono os que dormem - Acorda seu imbecil, não é hora de morrer... Vamos... Augustos, acorda... Acorda!! "
O arrogante e temido Homem, nos últimos minutos de existência, não lhe pareceu tão arrogante e temível assim.
Apenas mais um que, como ela, perdera o caminho e nunca conseguiria retornar para o mesmo, porém, nos últimos suspiros, pareceu recobrar o que realmente lhe era importante.
Olhou seu reflexo no espelho...
O azul tempestade carregava agora uma verdadeira raiva, uma...
Culpa excruciante!
Sim, sentia responsável, ineficiente...
“Culpada!!!!”
A explosão veio e posteriormente o estridente som de vidros partindo-se em pedaços...
Havia falhado!!
Miseravelmente, havia falhado com quem jamais poderia ou gostaria de faltar daquela forma.
Primeiro Tiago, morrendo em seu braços, agora Augustos.
“Parece que essa era sua sina!”
Lembranças do passado mescladas ao presente...
Tudo se revirando em reverberação em sua mente conturbada.
Levou as mãos até o lavabo e o apertou como se pudesse esmagar-lo. Além da vermelhidão da irritação na pele alva, agora carregava também o carmesim de sangue, misturado a alguns ferimentos, provocado pelo atrito da pelo com o vidro do espelho. Os nós de seus dedos já esbranquiçados, denotavam a força que Emanuella fazia para não ceder, mas não pode vencer aquele embate...
“Não hoje, não agora !!”
E lá estavam, as lágrimas, que de tanto segurar-las nos últimos anos, acreditava não ter-las mais...
Eram amargas, tinham gosto de frustração e falha...
Tinham gosto de coração partido!!!
Chorou...
Não apenas por seu fracasso em campo, por ser suspensa do trabalho que tanto lutara para conquistar, mas faria tudo novamente pois o amava, ou por senti-se responsável pela morte de um amigo, um homem bom, Não!
Chorou por tudo...
Por todas as memórias dolorosas, pelo vazio que não a abandonara, pelas desilusões e sonhos desfeitos , o que retivera e se privou de expressar nos últimos anos...
Apenas, chorou!
Entregou-se, no recanto particular daquela vestiário, aos seus mais secretos demônios.
"Como pode ceder?
Como não entender que as pessoas deixam de nos amar e têm o direito de ir?
Como julgar-las por isso?
Como lidar com a realidade nua e crua de que grandes amores se vão sem olhar para traz?
Como entender que a pessoa que tivera seu coração para si, entregue sem reservas, o despedaçara !?"
Pobre mulher...
Perdida, rejeitada e quebrada.
***
O rapaz caminhava apressadamente pelos corredores, sem dar muita atenção ao caminho. Os passos afoitos e meio estabanados foram interrompidos quando, abruptamente seu corpo chocou-se contra o transeunte...
“Droga” – retesou o jovem ao mirar-la.
- E-Eu... E-E-eu...- O pavor estava estampado em sua face, mais pálida que de costume.
A maior revirou os olhos entre uma careta e outra, suspirando impaciente, esperou pela explicação.
- Investigadora C-Castiel, M-me perdoe... E-Eu.. – Calou-se analisando a figura a diante- O que houve com você, está péssima?! - pontuou o assistente ao ver a morena que se apresentava sempre bem vestida e alinhada, mas agora trazia nas roupas uma assimetria incomum e a mão esquerda envolta em uma atadura mal posicionada totalmente ensangüenta na tentativa de cumprir função de curativa.
- Obrigada pela parte que me toca, caro assistente admistrativo!! - pontuou com cenho franzido por conta da dor que sentia nas costelas ao respirar.
Seu objetivo particular aquela altura do campeonato??
Refeitório, sem sombras para dúvidas, precisava de um café e talvez meia hora no duro sofá que tinha na sala.
- O que faz correndo pelos corredores com quem vai tirar a mãe da forca?? - mirou o jovem.
- Oh... Eu, junto com o departamento inteiro, estamos procurando uma criança que se perdeu da mãe!! - o rapaz exasperado, varria o local com os olhos.
- Claro... - não tinha o menor interesse em prolongar o assusto, só queria alcançar a Refeitório para tomar um analgésico.
"Maldita dor!!"
Manu praguejava mentalmente por ter atendido ao telefone naquela manhã de domingo.
“Maldição...” - mais uma fisgada nas costelas.
- Deveria procurar um médico, Investigadora!! - pontuou jovem, assustando-se com as caretas de dor que a morena reproduzia.
- Obrigada por sugerir o óbvio, Ruiz!!- sorriu sarcástica - Essa será minha terceira parada... - entrou no refeitório, pois o mesmo estava adiante do assistente - A primeira é um café com aspirinas... - pôs-se a prepara um café, sendo seguida pelos olhos atentos de Matheus Ruiz – Ah... E a segunda é tirar-lo do meu encalço!!! - falou rabugenta.
- Perdoe-me pela inconveniência, Castiel!! – desviou os olhos dos azuis e já se encaminhava para o corredor, quando lembrou- Ah, por um acaso não viu um ser humano em miniatura correndo livre por aqui? - sorriu amarelo.
-Absolutamente... – Devolveu um sorriso irônico ao jovem.
O rapaz conhecia bem o humor da mulher, não se chateava, respeitava muito a agente.
Deixou a sala em sua busca pela “criança fugitiva”.
Castiel pôs-se a executar sua missão, que parecia quase impossível, já que era interrompida á cada segundo por alguma “besta quadrada”, segundo ela e sua longitudinal paciência.
- Vamos lá, querida, funciona para mim, vai... - Argumentava manhosa com a cafeteira diante de si.
- Ah qual é, gatinha, Eu só quero um pouco de café... - pôs-se a falar - Eu não tomo um desde domin....
Parou abruptamente e arregalou os azuis...
Fim do capítulo
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