FELICIDADE por RAY F
Capitulo 2
Falar abertamente sobre e perceber a falsidade e o interesse das pessoas ao meu redor, não faz com que eu me sinta mais acostumada, ou mesmo confortável com esse jogo de interesses que é a vida da alta sociedade nova-iorquina.
Ás vezes essa podridão me irrita, me sufoca, me dá asco, tipo agora que tive que cumprimentar o prefeito da cidade, Sr. Gold, um sexagenário casado com uma menina que tem idade pra ser sua neta, Bella, a moça é uma pérola, até eu babo por aquelas curvas e aquele sorriso. Já viveu relacionamentos suggar com outros figurões da cidade, portanto já conheço-a à algum tempo, porém com Gold, parece que ela finalmente encontrou sua mina de ouro, à pouco mais de 5 anos terminou a faculdade de jornalismo, paga por ele e ingressou na NBC New York, como âncora do jornal diário.
Ainda não entendi bem porque o casamento se manteve agora que ela alcançou o que queria mas, não vou me deter em Bella, apesar de entre as pessoas que compõe a lista de convidados, ser uma das que mais admiro, pela coragem e por não usar máscaras.
Quando ela estava procurando seu suggar, cheguei a ter um encontro com ela, que deixou muito claro o que procurava, em valores, ascensão profissional e o que estava disposta a oferecer ao daddy ou mommy. Nossa relação não deu certo, pois ela não admitia pulada de cerca (fidelidade que eu não estava disposta a conceder, tendo em vista que não pretendia firmar um relacionamento), seria a namorada ideal, mas, não aceitaria escândalos pois tinha certeza de querer ser jornalista, uma carreira para a qual discrição é uma das armas. Gold lhe coube como uma luva, político, logo corria dos escândalos e ainda lhe serviria de entrada direta para o ramo que pretendia reportar, rico também, poderia lhe proporcionar as viagens pelo mundo que sonhava e se ela tinha coragem pra encarar aquela figura medonha de cuecas e sem elas, quem sou eu pra julgar.
Mas, Belle e Gold era mais um exemplo de satisfação mútua, ela queria prestígio e poder, ele reafirmar sua masculinidade exibindo uma bela dama e lá se vão 7 ou 8 anos de satisfação, tenho dúvidas que tal satisfação pra ela se estenda à cama mas, só de imaginar a vida sexual dos dois o canapê com cobertura de caviar que acabei de ingerir, volta com tudo ao meu esôfago.
Já basta apertar a mão do sujeito, sabendo do desvio de verba que promoveu no fim do ano na licitação de construção de duas escolas públicas e reforma de outras 15, que eu recusei a aceitar assim que soube do esquema.
Falsos, puxa-sacos e ladrões pra mim estão no mesmo nível de criminosos, meu pai e avó são homem extremamente íntegros, nenhum jamais aceitou esse tipo de situação, mesmo no início dos negócios, meu avó sempre disse: - Minha filha, tem dinheiro que não vale à pena ganhar!
E ter que apertar a mão de Gold sabendo de suas falcatruas foi o limite da noite, não consigo ficar aqui distribuindo sorrisos e palavras superficiais.
Aproximo-me de Sydney e digo que irei embora, o homem tenta reclamar, dizendo que ainda não havia sido servido o jantar mas, sabe que não sou afeita à essas cerimonias. Fiquei pro jantar, entreguei meu presente, a chave de um Bentley Continental GT V8, em nome da família, visto que vim sozinha, meu pai e irmã curtiam férias em Falkland, me chamaram pra ir mas, o clima aventureiro da ilha não é meu tipo de viagem. Mas, voltando à festa, diante da euforia com o presente recém-recebido, Sydney não tinha outro assunto comigo, senão o quanto ele ficou feliz por eu ter conseguido o modelo para o aniversário dele, ou seja antes de estar disponível para o público.
Eu sorri e disse que não havia sido nada, que faço tudo pelos amigos e de fato, Sydney apesar dessa obsessão com manter as aparências e ostentar, sempre foi um bom amigo para o meu pai e me é uma peça importantíssima e leal na empresa, o que era um carro de novecentos e poucos mil dólares diante dos contratos que ele revisava com sua lupa que não deixava nada passar, nos garantindo lucros exorbitantes.
Estendo o cartão ao manobrista e espero na entrado do prédio pelo meu carro e provando que a noite podia me deixar mais enojada surge minha mãe, acompanhada de Daniel.
- Regina minha filha, que bom encontrar você. Se não é em um evento social, nunca nos vemos. – Diz Cora, se aproximando para um abraço.
- Oi Regina, você está linda! – Daniel, meu ex-namorado e atual padrasto me sorri constrangido, na mesma hora que meu carro é estacionado.
- Divirtam-se! – é tudo que digo, antes de entrar no carro e sair acelerando, só pra fazê-los sumir do meu retrovisor.
Dirijo sem rumo, acelerando meu Lamborghini Aventador Roadster, que na mesma visita à concessionária semana passada, em que comprei o presente de Sydney, havia adquirido um mimo pra mim também e diante da agenda cheia da semana não havia conseguido estrear até essa noite. Meu carro vai de 0 à 100 antes dos 3 segundos que levo pra atravessar o quarteirão e 200, 250, 300 km/h é a quilometragem que vou atingindo na auto estrada, Adele tocando à máxima no sistema de som que é dramático, ou seja, aumenta conforme a velocidade, o que parece fazer sentido com meu estado de espírito, então não desligo e continuo acelerando.
Mas o enjoou não passa e sendo incapaz de controlar breco o carro e coloco todo o conteúdo do meu estômago pra fora no acostamento. Vomito até tirar a sensação da mão de Gold me tocando, do abraço de Cora, a imagem de Daniel me sorrindo, como se nada tivesse acontecido.
Mesmo que me sinta sufocada, ou mesmo enojada com as pessoas que me cercam e com o jogo do poder, é ele que me permite manter meu dinheiro e meu contentamento.
Eu só preciso me lembrar que é um jogo, que as pessoas ali são fantoches pra me acalmar e tudo voltar à ficar bem.
Fim do capítulo
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