Capitulo 10 - ENTRELACÉ
Julia mal tinha conseguido dormir naquela noite. A cada respiração mais pesada de Clara ela acordava assustada e olhava se sua filha estava bem. Na manhã seguinte, levantou às 7 horas da manhã, pois era precisava dar a medicação a pequena. Olhou para os remédios e sorriu lembrando da gentileza de Victória. Pegou um copo de água e voltou até o quarto e enchendo sua pequena de carinho a chamou, mas ela ainda estava sonolenta.
-Bom dia meu amorzinho vamos tomar um remédio pra ficar boa logo?
Ouviu um resmungo de sua filha, que se virou para o outro lado.
-Ei, ei mocinha, vira pra cá só pra tomar o remedinho e você volta a dormir.
A menina virou, mas continuou deitada. Julia colocou o xarope no dosador, levantou a cabeça de sua filha e disse: - toma só esse remedinho meu anjo – então colocou da boca da filha que fez uma careta a hora que engoliu o liquido rosa: -Isso muito bem, agora toma um pouquinho de água pra tirar o gosto ruim. – a menina o fez e voltou a dormir. Neste momento Julia ouviu seu celular apitar era uma mensagem que havia chego. Deixou Clara na cama, deu mais um beijinho na sua filha e foi até a cozinha, pegar o celular para olhar a mensagem.
“Oi Julia bom dia! É a Giovana tudo bem? Percebi que hoje você não trouxe Clara para a escola e gostaria de saber se ela melhorou, mande notícias, Beijos!”
Julia sorriu com a delicadeza da secretaria da escola em se preocupar com sua filha e respondeu a mensagem prontamente.
“Oi Gio bom dia! Obrigada pela preocupação. Foi uma noite bem tensa, tive que sair no meio daquele temporal para pegar um ônibus e levar Clara ao PS do Cajuru, mas no fim deu tudo certo, minha chefa me deu uma carona até lá e consegui o atendimento pra Clarinha, que agora está bem melhor graças a Deus.”
A resposta veio imediata:
“Nossa Ju, poderia ter me ligado eu iria até aí e levava vocês ao hospital sem problemas. Quando precisar não hesite em me ligar, ok? Nos conhecemos a pouco tempo, mas já adquiri um carinho imenso por você e pela Clara. ”
Julia sorriu com o carinho da moça.
“Obriga Gio, mas eu realmente não gosto de incomodar, você já estava no conforto do seu lar e eu estou acostumada a me virar sozinha com a Clara. ”
“Ok, mas não passe apuro por orgulho, ok? Me ligue quando precisar. Posso passar aí na sua casa no final da tarde depois do trabalho pra ver como Clara está? ”
“Claro sem problemas, daí tomamos um café da tarde juntas. ”
“Combinado então. Beijos e até depois. ”
“Beijos e até. ”
Julia então deixou seu celular na bancada da cozinha e foi ver como Clara estava, a menina ainda dormia tranquilamente, então Julia foi até a padaria para conversar com Beatriz.
Chegando lá amiga estranhou ao vê-la.
-Ué não foi trabalhar hoje não? Aí meu Deus não acredito que a chefona com cara de atriz de Hollywood te demitiu? Pelas olheiras e a cara de destruída que você tá só pode ser isso.
Julia sorriu para amiga e disse:
-Bom dia pra você também Bia.
-Bom dia, mas tá, me diz logo o que aconteceu ontem?
-Então senta que a história é longa.
-Não posso sentar, tenho que terminar de arrumar o balcão, mas me conta logo.
-Vou te ajudando e vamos conversando.
Julia contou tudo o que aconteceu no dia anterior para amiga, sobre a conversa com a chefe no escritório, sobre Clara passando mal, a carona de Giovana e o encontro com Victoria no ponto de ônibus, a carona até o hospital, sobre o seu desespero em ver sua filha passando muito mal, como Vic a acalmou e como a médica achou que elas eram um casal e depois da alta de Clara sobre como Vic ajudou a cuidar de Clara e pra fechar a noite mandou os remédios que haviam esquecido de parar pra comprar.
Ao final do relato Bia estava com um olhar desconfiado pra Julia que perguntou:
-Primeira pergunta: Clara está bem mesmo?
-Sim esta bem, mas tenho que fazer alguns exames ainda e investigar o que causou a alergia.
-Ok ótimo. Segunda pergunta: Sua chefa esta afim de você?
-Não claro que não você esta louca? Da onde tirou essa ideia?
-Do seu relato ué! Julia presta atenção, essa mulher praticamente passou o dia fazendo coisas para você, nenhum chefe meu foi tão legal comigo ao me pegar em uma mentira e nenhum chefe meu já comprou remédio pra mim ou alguém da minha família.
-Aí Bia que exagero, ela só foi educada e tentou me ajudar, não mistura as coisas por favor.
-Tá bom então. Terceira pergunta: você está afim da sua chefe?
Julia ficou vermelha na hora, mas tentou disfarçar dando uma gargalhada e disse:
- Você só pode estar louca mesmo, eu tenho uma filha me relaciono com homens.
Então foi a vez de Beatriz dar uma grande risada.
-Bom amiga, vamos por partes. Até onde eu sei você não se relaciona com ninguém. Só teve aquele seu namorado babaca que te engravidou e pulou fora e mesmo com ele você só teve três relações sexuais, então vamos combinar amiga que você é praticamente virgem ainda e essa sua “pepeca” aí já deve estar cheia de teia de aranha, porquê pelo que me consta, depois dele você não teve mais ninguém. – conclui rindo da própria colocação.
-Aí amiga que horror!
-Ué falei alguma mentira? Ou você está dando uns perdidos por aí e não me contou?
As duas amigas riam.
-Claro que não sua louca.
-Então, como você sabe que não está afim da sua chefe?
-Eu não sei... só que isso nunca me passou pela cabeça.
-O que nunca te passou pela cabeça? Ficar com uma mulher ou ficar com sua chefe?
-As duas possibilidades... mas principalmente ficar com alguém depois de tudo o que me aconteceu... depois que tive Clara, prometi a mim mesma que cuidaria dela e me dedicaria totalmente a ela, então não tenho tempo, nem espaço pra ninguém, você me entende? Minha vida é estudar, trabalhar e cuidar de Clara e ponto, sem espaço para mais nada.
-Bom amiga, você pode até tentar me convencer e se convencer disso, mas esse seus olhos brilhando quando fala da sua chefe aaaa isso não me engana não.
-Claro que não Bia, não viaja. Eu admiro muito Victoria, ela é super competente, construiu aquela mega empresa junto com o irmão, trabalha duro mesmo sendo dona de tudo aquilo, respeita os funcionários, é gentil e educada e além de tudo é uma mulher belíssima e elegante.
Enquanto Julia ia falando com os olhos perdidos em algum lugar imaginando Victoria em sua mente, Beatriz ria da amiga que nem percebia as reações que tinha quando falava da sua chefa.
-Aí ô tá vendo? Você fica toda derretida quando fala dela. – Julia fez uma careta, mas Beatriz continuou – Amiga não importa se é homem ou é mulher, mas se ela tá gostando de você e você está gostando dela, tá tudo certo, não fique presa a rótulos, isso não leva a nada, aliás leva sim, leva a frustração a tristeza, por isso deixa rolar sem neura ok?
Com a cabeça em movimentos negativos a jovem responde:
-Você está louca, só pode estar louca.
-Tá pode ser que eu esteja, mas se eu não estiver promete que você vai pensar em tudo o que te falei?
A mais jovem fica em silêncio apenas observando a amiga.
-Julia você já sofreu tanto, merece ser feliz. Apenas lembra disso e se essa felicidade vier em formato de uma mulher linda que cuida de você e de sua filha não deixa ela escapar.
Julia com um ar de indignada.
-E desde quando preciso de alguém pra cuidar de mim e de Clara? Sempre me virei muito bem sozinha. A única coisa que preciso é um emprego que o resto eu me viro. Tenho sua amizade, tenho o apoio de Dona Rita e isto já me basta.
A amiga sorria e balançava a cabeça.
-Tá bom turrona, mas não deixa todo o seu sofrimento petrificar seu coração. Você é muito jovem pra isso.
A jovem em um gesto infantil, mas amigável, mostrou a língua para amiga que saía para lavar algumas xícaras que estavam na pia.
-Bia vou voltar lá ver a Clara e como estou em casa se precisar de ajuda me chama lá ok?
-Beleza Ju, você também se precisar de algo estou por aqui.
Então a mais jovem voltou para sua kitinet com aquele monte de informações que ainda não havia se permitido pensar, mas que Beatriz havia jogado nela sem dó. Claro que já havia percebido uma troca de olhares, fora do padrão chefe / funcionário, claro que se sentiu muito bem sendo cuidada por ela no hospital e ter seus braços fortes e acolhedores tomando seu corpo em apoio num momento de desespero e preocupação, mas isso podia mesmo ser apenas uma demonstração de humanidade de sua chefe, ou não podia? Mas o que mais a incomodava era o fato de ter ficado excitada com o toque, a pele, o cheiro de Victória e isso de alguma forma lhe parecia errado, mas não sabia por qual motivo.
Olhando sua filha dormindo tranquilamente pela primeira vez se permitiu a tal questionamento: O que Clara pensaria se ela se envolvesse com uma mulher? Será que isso não prejudicaria o seu relacionamento com a filha ou será que não comprometeria Clara de forma psicológica?
O fato é que Julia tinha muitas dúvidas e poucas certezas, mas a única certeza que tinha é que de fato nutria um grande apresso por Victoria.
Em seu duplex, em um prédio não muito distante da padaria, Victoria rolava de um lado para outro na cama pensando naquele dia insano. Na cabeça da empresaria uma coisa era fato, Julia carregava a contradição que toda mãe levava em si: a força sobre humana e a fragilidade, ambas geradas em razão de qualquer sofrimento que atingisse sua cria.
A imagem daquela mulher carregando sua filha nos braços em meio ao temporal não saia da sua cabeça. Depois a imagem da mesma mulher chorando em seus braços, frágil e delicada.
O que estaria acontecendo consigo? Lembrar de Julia e de Clara aquecia seu coração de uma forma nunca antes sentida.
E em meio a estes pensamentos, toma algumas decisões e satisfeita consigo mesma dorme com a cena de Julia com Clara nos braços em seu pensamento.
Na manhã seguinte ao acordar considera mandar uma mensagem para Julia, mas decide esperar para resolver as coisas no escritório e depois falar com a jovem.
Chegou um pouco atrasada na empresa, coisa muito rara de acontecer, então já na antessala de seu escritório é interpelada por Neila:
-Bom dia Julia, está tudo bem?
-Sim Neila esta. Você poderia chamar Cristina do RH aqui na minha sala por favor.
-Claro chamo sim. Mas... me diz uma coisa, não é para demitir Julia, ou é?
Victória que entrava em sua sala, parou e olhou para trás estranhando a pergunta.
-Por que quer saber?
-Não é nada, mas eu apenas acho que se você fizer isso estará cometendo um grande erro, ela é uma ótima funcionária.
Mas sem dar mais explicações a sua amiga e secretária apenas diz:
-Ok, obrigada por expor sua consideração sobre Julia. Agora apenas chame Cristina para mim e depois mais tarde conversamos.
-Ok farei isso imediatamente.
Julia entrou na sua sala. Deixou sua bolsa no armário e sentou-se em sua mesa já começando a mexer em alguns papéis e após 5 minutos escuta uma leve batida na porta e autoriza a pessoa entrar.
- Olá Victória bom dia, a senhora mandou me chamar?
-Bom dia, mandei chamá-la sim. Por favor sente-se.
A chefe do RH sentou-se observando as feições de sua chefe que estavam um pouco diferentes do habitual, mas permaneceu em silêncio aguardando sua chefe começar a falar.
-Então Cristina, essa semana por acaso, descobri que nossa funcionária Julia Mendes, mentiu em sua entrevista de emprego.
Cristina fez uma cara de espanto.
-Não acredito? Aquela mocinha tão educada e dedicada. Poxa será uma pena perde-la.
A mulher já havia deduzido que a chefa iria demiti-la, afinal ela era rígida com todos os funcionários de sua empresa não gostava de mentira.
-Não, nós não vamos perde-la. Eu não vou demiti-la, pois compreendi e me solidarizei com a natureza da mentira da jovem.
Desta vez a chefe do RH não entendeu nada apenas perguntou:
-Como assim, me explica melhor, pois não estou entendendo chefa.
-Julia tem uma filha, descobri por acaso essa semana quando fui a um café onde ela trabalha de garçonete para complementar a renda.
E com um ar de fofoca a chefe do RH não esconde seu espanto.
-Mentira!!! Sério mesmo, mas tão novinha?
Victória continuava séria e apenas completou.
-Sim. Tivemos uma conversa e entendi que ela mentiu na entrevista com medo de que não a contratássemos por ser mãe solteira. Já que ela havia sido recusada em inúmeras outras entrevistas de emprego por este motivo.
-Ah compreendi senhora. Infelizmente isso acontece com mais frequência do que gostaríamos.
-Por este motivo gostaria que a senhora acrescentasse Julia Mendes e Maria Clara Mendes ao plano de saúde que ofertamos aos nossos empregados, mas no caso dela quero que a senhora por favor não as coloque no sistema de coparticipação e também quero que não tenha carência podendo começar a utilizar o plano hoje mesmo se precisarem e também que não seja descontado nada do salário de Julia.
-Mas senhora, desculpe eu não quero me meter na sua decisão, pois a contadora aqui é a senhora e não eu, mas desta forma dará muita diferença no valor pago no plano de saúde delas para os demais funcionários e eu como gerente de pessoas preciso te alertar que se esta informação vazar para outros funcionários, podemos ter atrito interpessoal dentro da empresa, por tratar os funcionários de forma diferentes. Os outros vão dizer que a senhora está a protegendo.
Victória ficou pensando nas palavras de Cristina que tinha razão, e na verdade ela realmente estava querendo proteger Julia e Maria Clara da forma que ela podia. Pensou mais um pouco e respondeu:
-Você está certa, então vamos fazer assim, coloque-as no melhor plano possível e sem coparticipação como eu disse, desconte do salário dela apenas aquele valor mínimo do plano mais básico, que é cobrado de todos os funcionários, a diferença de valores eu pagarei pessoalmente, você pode colocar em débito direto na minha conta corrente, assim os demais funcionários não se sentirão lesados, pois é algo que eu quero fazer por essa moça... E Cristina conto com sua descrição sobre este assunto, que ele fique apenas entre mim e você.
-Quanto a isso a senhora não precisa se preocupar.
-Cristina mais uma coisa, tire ela do período de experiência, vamos promovê-la e já neste pagamento pague o equivalente ao valor de contadora associada junior, ela está indo muito bem e merece essa promoção. Eu não quero que outra empresa a roube de nós por pagarem um salário melhor.
-Sim senhora.
-Mais uma coisa Cristina, e os demais contadores que foram recrutados junto com Julia como como estão?
-Estão indo muito bem senhora, mas é visível que Julia se destaca. Sem contar o fato dela falar inglês o que ajuda muito, pois estes dias recebemos a ligação de um CEO inglês a senhora não estava e foi ela junto com a Tereza que passaram as informações necessárias para o cliente.
-Sério? Não sabia disso. Lembro que a Tereza havia me dito sobre a ligação, mas ela não me disse que Julia a havia ajudado. Bom saber! Mas acho que é isso. Entre em contato com a empresa do plano de saúde assim que estiver tudo certo me avise. Traga a carteirinha de Julia e Maria Clara aqui na minha sala junto com o contrato, ok?
-Sim senhora. Deseja mais alguma coisa?
-A Julia está de atestado, a filha dela não passou bem. São três dias de afastamento com possiblidade de ampliação. Faça o registro que assim que ela puder ela trará o atestado. Muito obrigada Cristina e conto com sua descrição.
-Sim senhora.
A chefe do RH saiu da sala pensando: -Com certeza a chefa deve ter um caso com essa moça! Onde já se viu alguém ter tantas regalias assim tão rápido? – Mas optou por deixar esses pensamentos de lado, afinal ela que era chefa que se resolvesse caso isto desse problema dentro da empresa.
Victória tinha certeza que estava fazendo a coisa certa, Julia precisava de um apoio e para a empresária não custava nada ajudá-la.
Perto de meio dia, Cristina voltou com já com tudo acertado sobre o plano de saúde da funcionária e como o solicitado entregou a carteirinha e o contrato nas mãos de Victoria que verificou se estava tudo de acordo com o solicitado, agradeceu e pediu que a funcionaria saísse.
Pegou um papel carta timbrado da empresa, a próprio punho escreveu um bilhete para a jovem, colocou em um envelope junto com o contrato e as carteirinhas. Pediu que Neila chamasse o motoboy e que entregasse o envelope em mãos na casa de Julia.
A manhã havia passado rapidamente. Maria Clara já estava melhor, a febre havia cedido e a pequena já estava com uma respiração melhor.
Julia aproveitou que estava em casa e fez uma faxina na kitinet enquanto Clara estava quietinha no sofá assistindo um desenho, pois sabia que pó e ácaros pioravam a situação de sua filha. A pequena oscilava entre dormir e acordar, pois o remédio para alergia era muito forte e deixava a pequena amuada e sem vontade de fazer nada.
Aproximadamente 13 horas da tarde Beatriz, vai até a Kitinet com um envelope em mãos endereçado a Julia e com o timbre da empresa onde trabalhava:
-Julia o motoboy trouxe esse envelope para você.
-Ué que estranho, tem a logo da Kramer A. C. o que será que é?
- Não sei, abre logo que também estou curiosa.
Julia abriu o envelope tirou os papéis, que haviam dentro depositando-os em cima da bancada da cozinha, viu uma carteirinha verde e vermelha de um plano de saúde no seu nome e no de Clara e um bilhete escrito a próprio punho. Pegou o bilhete escrito em uma caligrafia fina e delicada para ler e seus olhos se encheram de lágrimas, pois não acreditava que aquilo seria possível:
Julia,
Desculpe-me se fui invasiva, mas tomei a liberdade de entrar em contato com o RH da nossa empresa e solicitar a inclusão imediata sua e de Maria Clara no plano de saúde que a empresa oferece aos seus funcionários. Em razão de uma solicitação minha junto a gerente do plano, ele não tem carência e você pode começar a usá-lo imediatamente. Então já pode ligar para algumas das clinicas conveniadas e marcar aqueles exames para a Clarinha.
Estimo sinceras melhoras a “princesa unicórnio” e desejo profundamente que você nunca mais se sinta desamparada.
Beijos
Victoria Kramer
Ps : Já falei com o Rh sobre seu atestado, pode ficar tranquila apenas ao retornar, leve-o até a Cristina ok?
Julia apenas baixou o bilhete e deixou as lágrimas escorrerem, não acreditava que tantas coisas boas estavam acontecendo consigo, mas se perguntou: Por que ela está fazendo isso? Será que ela é assim com todos seus funcionários?
Beatriz que olhava amiga sem entender nada ficou preocupada, já arrancando o bilhete da mão da amiga e disse:
-Me dá aqui esse bilhete deixa eu entender esse teu choro.
Beatriz leu o bilhete, tampando a boca com a mão e no final em uma reação explosiva externalizou:
-Puta que pariu Julia, essa mulher tá muito afim de você Ju!
Julia ainda chorava e não respondeu, a amiga percebendo como ela estava tocada e sensibilizada com aquele cuidado vindo da chefa a abraçou e disse.
-Amiga não chora, tá tudo bem sua chefe está só te adiantando algo a que você teria direito quando fosse contratada em definitivo e particularmente acho isso ótimo, pois quer dizer que ela não pretende te demitir tão cedo e além do mais ela nutre um carinho muito grande por você.
-Por que ela está fazendo isso?
-Eu acredito que ela seja uma pessoa boa, mas principalmente por que eu acho que ela gosta de você.
Julia ficou pensando, sobre isso, pois não queria se aproveitar da situação para obter benefícios com sua chefe.
-Bom eu não estou em posição de recusar este abono, preciso ligar agradecendo.
-Isso mesmo, ligue e agradeça, mas lembre-se de que você é uma funcionária da empresa teria direito a isso de qualquer forma, então não se sinta se aproveitando ou explorando a chefona ok?
Julia sorriu e apenas fez um sinal de positivo com a cabeça.
-Amiga vou voltar pra padaria, agora seca essas lágrimas e liga pra sua anja pra agradecer.
Julia riu da amiga que saiu da kit a deixando ali com seus pensamentos. Leu o bilhete novamente, leu o contrato, assinou, baixou o aplicativo no plano do celular para ter acesso aos médicos e clinicas que atendiam pelo plano, guardou as carteirinhas do plano e resolveu ligar.
Procurou o número de Victória em seu celular e apertou o teclar para ligar. Tocou por duas vezes até atender e ela ouvir aquela voz poderosa que a arrepiou da cabeça aos pés.
“Alô. ”
“Olá Victória, tudo bem? ”
Victoria sorria feliz em ouvir a voz da moça.
“Olá Julia, que bom receber sua ligação, como esta nossa princesa unicórnio? ”
“Ah ela está muito melhor, graças a você que apareceu, ontem como um anjo par anos ajudar. ”
Julia se surpreendeu com sua ousadia e Victoria ficou vermelha com as palavras da moça.
“Imagina Julia, foi uma honra ajudá-la, imagino o quanto deve ser difícil ver um filho passando mal e não conseguir fazer nada”
“Sim é muito difícil mesmo é uma dor, uma sensação de impotência que eu não desejo a ninguém. ”
“Pois é, eu também não. ”
As duas deram um leve sorriso e Julia continuou.
“Victoria, eu gostaria de agradecer a senhora por tudo o que fez...”
Em tom de brincadeira Victória falou
“Senhora não, me chame apenas de Victória, Vic, Vi, como você preferir, mas deixe o senhora, apenas para o ambiente de trabalho combinado? ”
“Combinado”
As duas riram e Julia completou.
“Então Vic, recebi o contrato e a carteirinha do plano de saúde, você não faz ideia de como isso é importante para mim e para a Clara. Poder oferecer um plano de saúde de qualidade para minha filha sempre foi um dos meus sonhos e agora por estar trabalhando na sua empresa isso se tornou possível. Agradeço imensamente sua atenção conosco, você é uma pessoa muito humana e se eu a conhecesse antes jamais teria mentido da entrevista de admissão. ”
“Julia eu que fico feliz em pode ajudar, eu compreendi sua história, seu medo e acho que nenhuma mulher deveria passar por essas situações, porém não posso falar pelos outros empresários, mas posso cuidar para que na minha empresa situações de machismo e misoginia não aconteçam.”
Neste momento Julia lembrou das chantagens de Carlos, ponderou se deveria ou não contar a chefa sobre o que vinha passando, mas pensou que como Victoria já sabia da situação e ele não teria mais como chantageá-la, era melhor deixar para lá e não incomodar mais Victoria com seus assuntos pessoais já que ela vinha sendo tão amável e respeitosa consigo.
“Muito Obrigada por pensar assim, se todos fossem com você o mundo com certeza seria um lugar melhor. ”
Victoria deu uma risada.
“Não exagera Julia que de anjo eu não tenho nada”.
Victoria se reprendeu pelo pensamento nada angelical que teve com sua funcionária.
“Claro que todos vivemos com coisas boas e ruins dentro da gente, mas Vic saiba que ontem você foi sim um anjo que ajudou a salvar minha filha, você é uma mulher maravilhosa! ”
Fez-se um silêncio um tanto constrangedor e empresaria quebrou o clima dando uma risada de forma divertida.
“ok, agora você me deixou tímida”
As duas mulheres riam. A conversa fluiu de forma tranquila por mais alguns minutos até que Clara acordou chorando reclamando de dor de cabeça.
“Vic vou lá cuidar de Clarinha que acordou chorando”.
“Ok vai lá sim e diz que a tia Vic que ela ainda nem conhece mandou um beijo estralado na buchecha dela”
Julia riu com a forma simples de Victoria falar.
“Pode deixar que eu falo sim e se você tiver um tempo passa aqui amanhã para conhece-la um pouco melhor”.
“Bom essa semana está uma correria aqui na empresa, mas se der eu passo sim”.
“Ok então combinado. Beijos Vic e mais uma vez obrigada por tudo”.
“Beijos e até mais.”
E assim desligaram o telefone, mas com aquela sensação de que nenhuma das duas queriam desligar.
E Julia foi atender as necessidades de Clarinha.
O dia passou tão rápido cuidando de sua pequena e também com tantos pensamentos roubando a atenção de Julia que ela até se esqueceu que Giovana passaria ali no final da tarde. Aproximadamente as 18horas da tarde escutou Giovana chamando no portão lateral da padaria e foi atende-la:
-Oi Gio, faz um favor, da a volta pela padaria, pede pra Beatriz te trazer aqui ali por dentro que eu estou dando banho na Clara.
Giovana fez então o que Julia pediu e chegando no balcão perguntou:
-Oi quem é Beatriz?
A atendente então chamou Bia vem aqui, tem uma moça te procurando.
Beatriz se aproximou com um sorrisão aberto, olhando aquela moça bonita que a procurava.
-Olá eu sou Beatriz como posso te ajudar?
A secretária percebendo o olhar nada discreto da moça sorriu e disse.
-Olá Beatriz eu sou Giovana amiga da Julia e ela pediu para você me mostra o caminho aqui por dentro até a Kitinet dela.
-Ah ok, vamos lá então.
Enquanto as duas caminhavam Bia perguntou.
-Você trabalha com ela?
-Não, na verdade eu sou secretaria da escola onde Maria Clara estuda e eu vim ver como a pequena está e se Julia está precisando de algo.
-Hummmm entendi.
Beatriz que era ligeira já entendeu que a moça também estava interessada em Julia e ficou pensando, essa minha amiga tá podendo heim? Duas gatas atrás dela e eu aqui super disponível e na seca.
As duas chegaram a porta da kit e Bia gritou:
-Juuuu sua amiga Giovana tá aqui.
E ambas ouviram a resposta vindo do banheiro.
-Bia faz sala pra ela um pouquinho que estou terminando de dar banho na Clara e Bia põe a água pra ferver pra eu fazer um café.
Beatriz respondeu
-Tá bom.
E já foi pegando a chaleira, enchendo de água e colocando no fogo.
Giovana percebeu a intimidade das duas e como já havia percebido que Beatriz era homossexual deduziu que talvez as duas tivessem algo, então resolveu investigar.
-Você e Julia se conhecem a muito tempo?
-Nós conhecemos a mais ou menos uns três anos, desde quando ela se mudou pra cá e começou a trabalhar na padaria.
-hummm... E o pai de Clara nunca apareceu por aqui?
-Bom essas coisas acho melhor você perguntar pra ela, mas já posso adiantar que ele nunca quis saber de nenhuma das duas.
Gio pensou em voz alta:
-Babaca.
Beatriz riu e completou.
-É eu também acho.
E as duas riram juntas e Beatriz completou.
-Julia é uma moça, na verdade uma mulher muito querida, merece encontrar uma pessoa bacana e eu realmente espero que aquele babaca nunca apareça por aqui.
Giovana sorriu de alivio, pois foi a deixa que precisava para entender que Bia e Julia não tinham nada, além de amizade.
-Giovana tu presta a atenção na água, já deixei as coisas preparadas ali na pia, se Ju demorar pra voltar você pode fazer o favor de ir passando o café? É que preciso voltar para a padaria.
-Claro tranquilo, vai lá sim.
Então Beatriz se virou para voltar a padaria, mas já na porta olhou e deu uma bela secada em Giovana que sorriu constrangida, passou a mão no cabelo curto atrás do pescoço pensando no olhar malicioso que a amiga de Julia havia lhe lançado.
Não demorou nem um minuto e Julia saí do banheiro com Maria Clara enrolada em um roupãozinho de unicórnio, coisa mais fofa aquele chifrinho colorido e a pequena grita quando vê Giovana:
-Tia Gio, você veio me ver?
-Claro que vim pequena, ontem você estava muito dodóizinha e eu fiquei preocupada.
-Agora eu já tô melhorzinha.
Julia interrompe as duas e diz:
-Senhorita unicórnio, vamos por uma roupinha pra não ficar dodói de novo não é mesmo?
A pequena apenas diz: - Tá. – e Julia complementa: -Gio, já voltou aqui só um minutinho.
As duas somem pela porta do quarto que, mas logo voltam e Maria Clara corre e pula no colo de Giovana que sorri com o gesto da criança.
-Pelo jeito já esta melhor mesmo, ontem não conseguia nem abrir os olhos e hoje já esta faceirinha deste jeito.
-Sim é que minha mamãe e a outra moça me levaram ao médico e fiquei boa.
Julia estranhou a fala da filha, pois achou que sua filha não lembrasse de Victória e então fazendo coseguinha na pequena Julia pergunta:
-Como você se lembra disso heim?
-Eu não sei, só sei que lembro de uma moça muito bonita me carregando no colo.
-Hum foi a hora que voltamos pra casa. Mas que memória essa sua heim mocinha.
A pequena desceu do colo de Giovana e foi correndo buscar uma boneca e depois voltou para o colo de Giovana.
Então Giovana diz olhando para Clara:
-Bom Julia pelo jeito ela está melhor mesmo.
-Sim Graças a Deus, mas foi um susto ontem e se não fosse você e Victoria me ajudarem me dando carona eu nem sei como teria feito para me virar sozinha com Clara.
-Julia já te disse e vou repetir, você pode contar comigo sempre que precisar.
-Muito obrigada Gio, você é uma querida.
As duas continuaram conversando tomando um café e interagindo com Clara que brincava de boneca sentada no colo de Giovana.
Julia sentia que Giovana lhe dedicava, mais atenção do que uma amiga normalmente dedicaria, porém apesar de achá-la uma mulher muito bonita, seu corpo não respondia da mesma forma como quando estava perto de Victoria.
Perto das 19:30 horas, Giovana disse que iria embora, pois não queria atrapalhar a rotina diária de mãe e filha.
Maria Clara pegou um livrinho de colorir e foi pintar enquanto, Julia acompanha a visita até a saída.
-Gio muito obrigada por tudo, você tem sido uma ótima amiga.
-Julia conte comigo sempre que precisar.
As duas se deram um longo e apertado abraço e Giovana ao beijar o rosto de Julia para se despedir, propositalmente colocou os lábios no cantinho na boca dando quase um selinho na mais nova que recuou imediatamente. Giovana percebendo que havia ido longe demais apenas se desculpou e saiu pelo portão tímida.
Julia ficou ali pensando no que aconteceu e sentiu um frio na barriga, mas não foi de excitação, mas sim de surpresa, pois sabia que não havia um pingo de interesse de sua parte por Giovana, mas gostaria muito de manter uma bela amizade com a secretaria e então pensou alto:
-Eu espero que ela entenda isso.
Deu um suspiro e voltou para dentro, para terminar de organizar o jantar para Clara, afinal toda sua atenção deveria ser exclusivamente para sua princesa.
Fim do capítulo
Hello Girls,
Estou um pouco atrasada com a escrita, então só teremos extra se até segunda ou terça eu conseguir escrever um capitulo inteiro, ok? Então orem pra eu conseguir haha
Já digo de ante mão que o próximo capitulo é um divisor de águas, mas enquanto isso neste capitulo, tenho pensado em um pensamento popular que vi em algum lugar "a melhor forma de atingir o coração de uma mãe é pelo seus filhos" e nesta lógica como Victoria esta se saindo heim?
Beijos garotas, bom finds e até o próximo capitulo
Ana
Comentar este capítulo:
olivia
Em: 07/03/2020
Oi , voltei la no inicio pela , curiosidade! Você enche meu coração de alegria pois, a cada capítulo mais admiração pelos personagens eo carater da Victoria em relação a Julia!!! Parabéns ! Abraços !!!!!
Resposta do autor:
Oi Olivia
muito obrigada pelo comentário, fico muito feliz em saber que as leitoras estão curtindo a história, pq vou te contar uma coisa, dá um trabalho danado escrever viu hahaha
Eu estou apaixonada por Victoria e Julia e louca pra conseguir concluir esta obra com sucesso.
Mais uma vez obrigada e nos encontramos no próximo capitulo.
Bjos
cris05
Em: 06/03/2020
Julia está com tudo e não está prosa! Vic e Gio atrás dela...rsrs.
Não quero que a Gio sofra, shippo Gio e Bia.
Adorei este cuidado da Vic com a Julia e a Clarinha. E a Julia merece, tadinha. Passou por muita coisa ruim.
P.S Estou orando muiiiiiito, autora, pra que você consiga escrever um capítulo inteiro e nos presentear com um extra.
Beijos e bom finds
Resposta do autor:
Olá Cris
Infelizmente não consegui adiantar a escrita este finds, Sorry!
Mas, garanto que o proximo capitulo vale por dois com certeza e vocês não vão se arrepender pela espera.
A Gio é uma querida, vamos torcer para tudo dar certo pra ela.
E Vic já esta de quatro por Julia, afinal quem faz isso por alguem hoje em dia? Vamos combinar que só algume muito apaixonada não é mesmo?
Beijos e nos vemos no próximo capitulo
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Mille
Em: 06/03/2020
Ola Ana
A Vic preocupada com a Julia e a pequena.
Gio infelizmente a Julia só ver você como amiga, mais a Beatriz está solteira e já insinuando.
Quero só ver a cara do Carlos quando a Julia dizer que não vai fazer o trabalho dele.
Julia deixa de ser besta mulher devia ter contado.
Mais a verdade sempre aparece mesmo que demore, a máscara dele irá cair. Desde o princípio ele foi machista.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille
Só lamento, mas Gio rodou nessa hahaha ela é uma querida então desejo que ele se encontre e encontre alguém nessa história.
Temos tretas pra rolar ainda com Carlos.
Vic e Julia estão se conhecendo melhor, mas o que Vic fez foi lindo não é mesmo?
Bjos e até o próximo capitulo
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Master
Em: 06/03/2020
Oi autora, lindo esse cuidado da vic com as duas ela já está se saindo uma ótima mãe.
Linda essa família, só quero o primeiro bjeito que seja bem quenteðŸ˜ðŸ˜ a gio é uma pessoa bacana ela merece alguém legal a beatriz seria ótimo ela já se interesou e a giovana não foi indiferente ficou sem jeito com a secada da bia formariam o belo casal.
Resposta do autor:
Menina do céu, vou te contar uma coisa... Se preprara pro proximo capitulo pq ele vale por dóis e vocês vão querer mais hahaha
Beijos e até sexta
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