- Se eu gosto? Claro, ela é minha melhor amiga – falei rapidamente

- Não estou perguntando nesse sentido, você sabe – falou olhando nos meus olhos.

- Que isso, não. Claro que não. Deus me livre – eu sorri bebendo meu vinho – Aiai eu e a Isabela, era só o que me faltava – falei resmungando

- Vocês já ficaram? - perguntou  

- Não, meu Deus.

- Desculpa, Ana. É que você parece meio tensa quando falamos dela – falou Júlia logo sentando no meu colo de frente pra mim – Deve ser minha imaginação fértil, perdão.

 - Tudo bem, sem problema – coloquei minhas mãos nas coxas dela. - Então vem cá deixa eu te dar um beijo gostoso

Eu sorri pra ela e nós nos beijamos, lentamente. Júlia tinha um beijo doce que me fazia querer mais e mais. Logo eu senti suas mãos apertando meus seios e tentando abrir os botões da minha blusa. Eu interrompi o beijo devagar segurando as mãos delas e disse

- Vamos devagar? Não quero apressar as coisas agora – falei olhando pra ela

- Claro meu anjo – disse me dando um selinho – Eu espero o tempo que for preciso. - Obrigada Ju, você é incrível e tudo estava maravilhoso mas eu vou ter que ir agora. Amanhã eu trabalho muito – falei acariciando o rosto dela.

- Está bem, sem problemas. Amanhã também começa minha residência. A gente marca pra se encontrar novamente – disse

- Sério? Parabéns! Te desejo toda sorte do mundo – falei sincera

- Obrigada meu bem, vai dar tudo certo – me deu um selinho

A gente se despediu e eu segui pra casa. A verdade é que aquele papo todo da Isa me incomodou e eu me senti pressionada. Eu não gosto de pensar na possibilidade de estar gostando da Isabela. Segui com o carro para casa de resolvi dar uma volta de carro na orla. Se tem uma coisa que eu adoro é o ventinho da praia pela noite. Segui dirigindo, olhando o movimento até que...

O carro simplesmente parou.

A pronto, o carro inventa de dar problema hora dessa da noite. Que merd*. Liguei o pisca alerta e desci do carro.

- Caramba o que eu vou fazer agora? Que merd* cara!

Passei as mãos no cabelo, eu estava mais perdida do que nunca. Entrei no carro novamente e liguei para o seguro. Provável que teriam que rebocar o carro. Ótimo! Eu estava no meio da avenida atlântica com carro parado.

Até que eu ouvi alguém batendo no vidro do carro

- Senhora? – chamou

Olhei para o lado. Que legal, a polícia. Abaixei o vidro do carro

- Boa noite – falei

- Algum problema, senhora? – perguntou o policial

- Meu carro morreu aqui, já acionei o seguro. – eu disse

- Certo. – falou

- Por favor, desça do carro com sua habilitação e documento do veículo.

Ah que beleza! Era só o que me faltava, dois policiais desocupados querendo encher o meu saco.

- Claro – respondi pegando meus documentos e descendo do carro. Um dos policiais pegou meus documentos e perguntou

- A senhora é de São Paulo? – perguntou rindo (provavelmente da minha cara)

- Sim, moro aqui agora, eu estava a caminho de casa quando meu carro parou.

- Certo, a senhora aguarda aqui um minuto que a gente vai averiguar seus documentos – disse se afastando e indo até a viatura.

Encostei a cabeça no carro e fiquei me perguntando o que eu havia feito pra merecer isso tudo numa noite só. Nesse momento o guincho chegou e eu comecei a resolver os trâmites, pois de fato levariam o meu carro, que não ligava nem por um decreto.

Enquanto levavam o carro o policial me entregava os documentos.

- Está tudo certo gracinha. Nenhuma pendência – disse o policial

- Certo, obrigada. – guardei os documentos e peguei o celular para chamar o Uber

- A senhora por acaso ingeriu bebida alcoolica antes de dirigir? – perguntou o policial

Fudeu!

- Não! – respondi seca

- Se a senhora quiser a gente leva a senhora pra casa – falou o safado

- Não obrigada, eu vou de Uber mesmo – respondi

- A senhora não vai querer ir de uber, é perigoso a essa hora. – falou colocando a mão na arma.

Nesse momento o medo tomou conta de mim. Eu tentava manter o controle, mas eu estava sozinha e com medo. Eu engoli seco e um carro parou ao nosso lado. Era uma Lamborghini prata. E eu estava me perguntando “que dia mais aleatório é esse?” O vidro abaixou e eu respirei aliviada. Obrigada meu Deus.

- Algum problema com essa moça policial? – perguntou

- N-não senhora. Ela teve um probleminha com o carro dela, estávamos oferecendo carona apenas. – se justificou

- Obrigada Sr, mas pode deixar que eu levo ela para casa. – Isabela olhou pra mim – Vamos?

Eu sem pensar duas vezes corri pro lado do carona e entrei no carro.

- Está tudo bem? – perguntou ela seguindo com o carro

- Eu acho que sim, um deles estava de gracinha comigo. – falei encostando a cabeça no banco, já cansada.

- “Homens” – falamos juntas.

Isa colocou a mão na minha perna, acariciou e disse

- Não precisa ficar com medo, tá tudo bem Ana – falou enquanto dirigia

- Está sim, obrigada Isa – eu disse grata

- Vou te deixar em casa.

Seguimos em silêncio até meu endereço. Eu estava um pouco cansada de tudo e preocupada com meu carro. Isa estacionou o carro e eu disse

- Quer entrar um pouco?  

- Ah não, eu vou pra casa. Tá bem tarde – disse ela

- Só um pouquinho, entra pra tomar uma água ou um suco e aproveita pra conhecer meu apartamento.

- Tudo bem, só porque mas eu não sei dizer não pra você. – falou rindo

Nós descemos do carro e subimos pro meu apartamento.

- Ana, quando você tiver algum problema você pode contar comigo. Se eu não estiver aqui eu peço alguém pra te ajudar você sabe. –

 Sim, tudo bem. Eu nem imaginei que o carro fosse dar algo do tipo, tá praticamente novo. Que loucura. – eu disse entrando no ap com ela

- E onde você estava tão tarde da noite? – perguntou

- A para, tá cedo ainda – falei tentando não responder

- Deixe-me ver – disse olhando pra mim – Você está toda arrumada e cheirosa. Provavelmente estava com alguém. Quem era?

- Eu estava com uma amiga, só isso – falei – quer um suco? Água?

- Quero uma dose de whisky – pediu

- Mas você está dirigindo – reclamei

- Uma dose só não faz mal – retrucou

- Está bem, vou tomar também, preciso.

Segui para o barzinho da sala e servi whisky pra mim e pra ela.

- Pronto – entreguei

- Obrigada – disse ela tomando de uma vez – Então, não vai me falar com quem estava?

- Ai, Isa. Por que você é tão curiosa hein? – perguntei

- Deixa eu fazer minhas contas então... – disse ela levantando-se indo até o whisky para servir mais. - Levando em conta que ontem no ensaio você e Júlia não paravam de se olhar e que na hora que você saiu ela foi atrás... – tomou mais da bebida – Existe a grande possibilidade de você ter saído com ela hoje.

Eu levantei, fui até ela pegando o copo de sua mão bebendo o restante do whisky que tinha em seu copo.

- Sim, eu estava com a Júlia – dei uma pausa enquanto ela me olhava seriamente – E não, você não vai beber mais. Está dirigindo! – falei colocando o copo ao lado da garrafa.

Ela sorriu pra mim de lado

- Você não muda nada né? – aproximou o rosto do meu – Ainda continua mandona e sensata. Sempre a mais responsável.

Estávamos olhando nos olhos uma da outra. E aquela sensação de novo. Eu não vou cometer o mesmo erro novamente.

- E você continua inconsequente as vezes né Isabela – falei me afastando – Como foi seu final de semana? Trabalhou muito? Curtiu bastante? - perguntei desviando o olhar e me servindo novamente.

- Bom, nada de novo. Fiz alguns shows, e só – respondeu

- Nem namorado novo? – perguntei

Ela começou a dar risada

- Vai me dizer que você andou lendo fake news por aí?

- Eu? Faça-me um favor né Isabela, eu nem tenho tempo pra isso – eu disse servindo bebida

- De onde você tirou essa história de namorado? – perguntou ela

- Ué, você está sempre namorando, pegando alguém por aí – falei bebendo mais um pouco

- Olha Ana, a mídia faz de tudo pra me ver com alguém por aí. É claro que existem peguetes e tal. Mas é coisa de festa mesmo. Nada sério – ela falou

- Ah sim, sei como é, sempre assim – falei bebendo novamente – E aí, curtiu o apartamento?

- Sim, é lindo. Você tem muito bom gosto. Sempre teve – ela se aproximou – O dia foi estressante hoje, loira? Você está bebendo muito, vai com calma.

- Muita informação na minha cabeça – respirei fundo – Meu pai, trabalho, e um monte de coisa pra me deixar perturbada.

- Ei, vem cá. Tá tudo bem – falou me abraçando e beijando minha testa. – A vida de adulto é muito louca né? Bem que a gente podia voltar a ser criança pra não ter tanto problema assim.

Retribui o abraço, escondendo meu rosto no seu pescoço, apertando-a em mim.

- Sim, eu adorava nossa infância. Adorava nossa amizade e nossas loucuras. Mas eu como sempre vivo fazendo merd*, me afastei de você. – Eu me afastei dela e fui novamente encher o copo pra beber mais. Eu já não queria saber de mais nada.

Isabela bufou, respirando fundo.

- Sei que isso é uma coisa que me machuca e que pelos seus motivos te machuca também. Mas acho que chegou a hora da gente virar a página e seguir em frente. Não vai adiantar nada ficarmos remoendo nossas atitudes – falou seriamente

- Nossaaa – falei mais alto, me sentindo um pouco embriagada – Você nunca foi tão sábia em toda sua vida. - falei com deboche

- Ana, o que que tá acontecendo com você – perguntou preocupada

- Acontece que desde que eu voltei, minha vida virou uma loucura. – terminei de beber meu copo Isabela se aproximou, tirou o copo da minha mão e disse suavemente

- Ana Clara, o que está acontecendo? – insistiu olhando nos meus olhos

Eu fechei os olhos, respirei fundo olhei pra ela novamente e falei

- Você, Isabela. Você é o que está acontecendo comigo.

Ela ficou um tempo em silêncio e não pronunciou nenhuma palavra. Levantou a cabeça, ficou olhando pro teto e eu coloquei mais whisky no meu copo e virei outra dose.

- Bom – respirou fundo novamente – É melhor eu ir embora, quando você estiver melhor você me procura, tá bem? – Se aproximou, beijou minha testa e se afastou.

Antes que ela fosse embora eu a puxei pra mim e disse - Não vai embora – eu pedi.

Ela olhou nos meus olhos, e eu só queria saber no que ela estava pensando. Ficamos nos olhando por um tempo. Eu coloquei o copo na mesinha e levei minhas mãos no rosto dela. A respiração da Isabela começava a acelerar e a minha também. Ela virou o rosto pro lado, desviando o olhar.

- Você ficou com a Júlia hoje, Ana Clara?

Fim do capítulo