Capitulo 50
Diálogo com os Espíritos -- Capítulo 50
Alicia coçou a cabeça, pensativa, ela fitou Suélen.
-- Pode dar certo -- depois, virou a cabeça lentamente em direção à Fernanda, as sobrancelhas arqueadas por sobre os olhos cheios de dúvidas -- O que você acha, Nanda?
Fernanda mais do que nunca, estava apreensiva. Invadir a propriedade alheia era uma atitude totalmente ilegal e, provavelmente, perigosa. Então, tinha que pensar muito bem antes de concordar com aquela ideia maluca da amiga.
-- Tenho muito medo de me meter em uma baita encrenca.
Alicia deu alguns passos na direção dela e tentou suavizar a voz.
-- Não há necessidade de você entrar na casa. Precisamos apenas que fique vigiando de longe.
-- Isso mesmo -- concordou Suélen -- Vamos deixar o carro bem longe da casa para que caso ele volte, você tenha tempo de nos avisar.
-- É só por garantia. Vai ser tudo bem rápido -- completou Alicia.
-- Bem, nesse caso... -- Fernanda ficou mais tranquila -- Não posso perder o meu emprego.
-- Não se preocupe, vai dar tudo certo, meu amor -- disse Alicia, pegando a mão dela e segurando-a com firmeza -- De jeito algum envolverei você em confusão.
Os lábios de Alicia cobriram os de Fernanda com tanta ternura que ela precisou se esforçar para não chorar de emoção. Mesmo assim, algumas lágrimas escorreram de seus lindos olhos. Alicia passou a mão pelo seu rosto molhado e sorriu.
-- Eu te amo, minha minhoquinha.
-- Ei, precisamos sair para comprar as câmeras -- Suélen disse depois de pigarrear -- Não podemos perder mais tempo.
Alicia balançou a cabeça, concordando com a enfermeira.
-- Vamos.
Cléo apareceu por trás dela plantando as mãos nos quadris.
-- Seja lá onde for que vocês vão, eu também vou -- disse esbaforido.
-- Vai coisa nenhuma! -- Suélen protestou -- Você só causa problemas, confusões; enfim, não vai e ponto final.
-- Eu vou e... aiiiii...-- Cléo colocou a mão sobre a barriga e saiu correndo direto para o banheiro.
Suélen jogou a cabeça para trás e deu uma gargalhada maldosa.
-- O castigo vem a galope, montado num cavalo furioso e sem estribos. Queria me ferrar e se deu mal!!!
-- Você acha mesmo que o Cléo queria aprontar com você? -- Fernanda estava incrédula.
Suélen cruzou seus braços indignada.
-- E você ainda tem dúvida? -- olhou para Alicia e fez um trejeito de desaprovação -- Com quem será que ele aprendeu a fazer essa poção maldosa?
A frase despertou Alicia de seus devaneios.
-- Aprendeu droga nenhuma! -- disse, irritada -- As minhas poções maldosas sempre dão certo -- ela cobriu a boca com a mão tentando conter as palavras, mas já lhe haviam escapado. Por que, afinal, dissera aquilo?
-- Viu, viu -- Suélen virou a cabeça bruscamente na direção de Fernanda -- Eu disse que ela havia colocado algo na minha bebida. Eu sofri um atentado covarde e desumano, passei a noite inteira no banheiro.
-- Você ao menos tinha um banheiro. Pense em milhares de pessoas que não tem nem um banheiro pra cagar -- Alicia arrepiou-se como um galo de briga pronto para o combate.
Fernanda interviu, depressa.
-- Que feio, Alicia! Uma mulher adulta agindo como uma adolescente rebelde.
Alicia sacudiu os ombros.
-- Estou 50% "nem ligando" e os outros 50% "tô nem aí". Você mereceu.
-- Insuportável, isso é o que você é -- resmungou, Suélen.
-- As Olimpíadas não é em julho? Por que a tocha ainda está aqui?
-- Alicia! -- berrou Fernanda -- Modos, por favor!
-- Bocuda -- Alicia disse num murmúrio quase inaudível.
-- O que você disse? -- perguntou a psicóloga, desconfiada.
-- Sortuda -- ela disse, sorrindo e ajeitando o cabelo de Fernanda atrás da orelha -- Sortuda por ter uma namorada tão linda, emocionalmente tranquila, mentalmente ajustada e espiritualmente consciente.
-- Obrigada, amor -- ela sorriu e deu-lhe um beijo rápido na boca -- Dê-me cinco minutos para me vestir. Quero uma carona até o trabalho.
-- Tudo bem. Vá lá -- assim que Fernanda saiu da sala, Alicia olhou para a enfermeira com aquele olhar de deboche e, se sentou no sofá em frente a ela -- Aceita uma bebida?
Cristina desligou o celular e ficou olhando para a namorada por um bom tempo. Natália foi para perto dela e perguntou, ansiosa:
-- O que houve? Ouvi você dizer que a Alicia vai até a casa do Jean!
Cristina percebeu que Natália estava transtornada.
-- Sim, foi o que Alicia me disse -- ela respondeu, com uma voz cuidadosamente reservada.
-- Fazer o que na casa desse homem? Alicia está desconfiada de algo? -- ela esfregou as mãos úmidas no tecido macio do vestido.
Estranhando a curiosidade exagerada da namorada, Cristina a estudou por um longo momento. Depois, sentou-se atrás de sua mesa, onde havia uma pilha de exames para analisar.
-- Não entendo porque toda essa aflição -- Cristina bufou aborrecida -- Não temos nada a ver com isso.
-- Claro que temos! -- exclamou com azedume -- Alicia é nossa amiga. E sabemos que o Jean é uma pessoa cruel, de índole violenta. Sabe-se lá o que ele pode fazer contra ela -- disse Natália, prendendo uma mecha dos cabelos loiros atrás da orelha ao sentar-se numa cadeira.
Cristina franziu a testa ao perceber que Natália não a deixaria em paz até que contasse tudo nos mínimos detalhes.
-- Tudo bem! -- Cristina suspirou e abanou a cabeça positivamente -- Vou te contar o que a Alicia vai fazer na casa do Jean.
-- Acho bom mesmo -- disse Natália, inclinando-se para a frente.
-- A Alicia e a... -- começou a falar, mas foi interrompida por uma leve batida na porta -- Só um instante, deve ser importante -- Cristina abriu a porta e olhou para todos os lados -- Que estranho! Não tem ninguém.
Natália não deu importância.
-- Deixa pra lá, deve ser uma técnica de enfermagem querendo alguma informação -- comentou, com enorme indiferença -- Vamos continuar a nossa conversa.
Cristina estava retornando para o seu lugar quando ouviu novamente as leves batidas na porta. Ficou imóvel por um instante, confusas, Cristina e Natália olharam-se e deram de ombros.
-- Ah não! Agora foi demais! -- caminhou rapidamente, abriu a porta e saiu para o corredor. Olhou para o lado esquerdo e viu uma silhueta indistinta caminhando na direção da ala pediátrica -- Ei, espere! -- disse forçando os olhos para ver melhor -- Já estou irritada.
Irritada era pouco, ela estava furiosa vendo a mulher caminhar sem dar a menor importância ao seu chamado.
Magra e alta, a mulher tinha o rosto obscurecido pela sombra. Cristina se posicionou atrás dela e colocou a mão em seu ombro.
-- Ei moça, foi você quem bateu na porta do meu consultório? Deseja falar comigo? -- perguntou Cristina, e ela se virou lentamente para fitá-la.
-- Tem ideia de quanto mal fazemos por essa maldita necessidade de falar?
Cristina piscou os olhos diversas vezes antes de abrir a boca.
-- E... E... Eliane Macedo? Mas, você... -- ela estremeceu, brevemente.
-- Há momentos de falar e há momentos de calar; saber o tempo de cada momento e para quem poder falar é, uma grande sabedoria.
Com os olhos arregalados e a boca seca, Cristina não sabia o que pensar.
-- O que está querendo dizer?
A moça se afastou um pouco.
-- As pessoas nem sempre são o que pensamos, por trás de uma bela aparência pode se esconder um monstro horripilante. E por trás de um monstro pode se esconder uma linda alma.
-- De quem você está falando?
-- Você sabe, Cristina. Você sabe.
-- Cristina! -- Natália a chamou da porta do consultório -- Vem logo! O que faz aí parada?
Cristina girou a cabeça rapidamente em direção à namorada.
-- Estou conversando com a... -- para a sua surpresa, quando se virou, a moça já havia desaparecido -- Mas, que droga é essa! -- Cristina falou e olhou para o corredor deserto pensativamente. Não estava louca, Eliane Macedo estava ali conversando com ela. Estava sim e, não sumiria assim do nada. Manteve o olhar fixo no branco das paredes, como se algo fosse surgir através do concreto. Ela se voltou, ficando de frente para a porta do consultório, não querendo dar a chance de Natália protestar -- Vamos ter que deixar essa conversa para outro momento. Fui chamada para uma emergência.
Cristina fez força para se mexer e saiu rapidamente sem olhar para trás. Natália saiu correndo atrás da namorada, mas era tarde, ela já havia entrado no elevador.
Osvaldo entrou silenciosamente na cozinha e parou na grande porta de correr que separa o cômodo da sala. A primeira sessão de quimioterapia se aproximava. Fernanda estava ocupada demais com os seu próprios problemas e com certeza não poderia acompanhá-lo nas sessões. Fechou os olhos e se imaginou sozinho, passando pelo momento mais difícil de sua vida. Fizera um grande sacrifício ao deixar a sua casa, seu lar, sua família, para buscar o tratamento adequado. Mas agora, a tristeza se apoderava dele, quando pensava em Matilde.
Seu olhar piscou quando percebeu que Cléo o encarava.
-- Credo, parece invisível -- resmungou.
-- O bom de ser invisível, é que ninguém te vê -- ele disse, rindo.
-- O que há de tão engraçado? -- indagou, furioso.
-- Você está com jeito de quem não aguenta mais de tédio.
-- E estou mesmo, acho que vou sair para caminhar.
-- Essa eu pago para ver -- comentou irônico.
-- Que tal pagar para levar um soco? -- Osvaldo propôs, cerrando os punhos.
-- Nada de violência, irmão -- disse, lutando para conter o riso -- Não discuto com gente que nasceu por cesariana. Não sabe nem nascer, imagina conversar -- Cléo voltou a fazer as unhas -- O irmão é igual árabe. Você não entende nada, e do nada explode. Só estava querendo saber o motivo da sua tristeza.
Osvaldo caminhou até uma cadeira e deixou-se cair nela, repentinamente mais desanimado do que podia suportar.
-- Apesar de tudo, do gênio difícil, de ser contra o meu tratamento, de mentir para mim sobre o resultado dos exames, estou sentindo a falta da Matilde. Amar dói, sabia?
-- Eu sei que amar dói. Mas você já cagou duro? Dói pra caramba.
Osvaldo jogou a cabeça para trás, os enormes olhos faiscando, mas se controlou.
-- Ah, irmão! Quem chora por relacionamento, é adolescente. Adulto chora quando esquece a roupa no varal em dia de chuva. E tem mais: Ex é igual prisão: se você voltar, é porque ainda não aprendeu.
-- Matilde não é a minha ex. Estamos apenas dando um tempo em nosso casamento.
-- Meu namorado pediu um tempo e 3 dias depois postou a foto com o tempo, no Facebook.
-- Assim não dá! -- Osvaldo se levantou irritado -- Tenho coisas melhores para fazer do que ficar aqui ouvindo asneiras.
-- Ah, tem é? Tipo o que?
O homem coçou a cabeça sem saber o que responder.
-- Viu! -- Cléo largou o alicate de unha -- Por que não vai tomar um sorvete. Tem uma sorveteria do outro lado da rua.
-- Não tenho dinheiro, a Matilde ficou com todo o meu pagamento -- ele respondeu, meio sem jeito.
-- Leva o meu cartão -- ofereceu.
-- Obrigado, você é muito gentil. No crédito ou no débito?
-- Tenta na sorte -- respondeu, voltando a tirar a cutícula -- Aiii...
-- O que foi? -- Osvaldo se aproximou, preocupado.
-- Tirei um bife -- ele fez uma careta.
-- Isso deve doer um bocado, né.
-- Para ficar bonita tem que sofrer. Nunca ouviu essa frase antes?
-- Umas quinhentas vezes -- disse, se afastando -- A Fernanda sempre fala isso.
-- Então! -- ele voltou ao que estava fazendo -- Com o preço que a carne está hoje, faço questão de guardar até o bife que arranco do dedo.
-- Que mal lhe pergunte, faz três dia que vi você pintando as unhas. Precisa ser com tanta frequência assim?
Cleo levantou a cabeça para responder.
-- As unhas estavam lindas e maravilhosas até o momento que mexi naquela droga de celular. Quebrei a unha do indicador quando forcei para abrir.
-- Castigo divino.
-- Falando nisso, às vezes, quando estou quase dormindo o meu corpo dá um pulo. Será que estou possuído pelo inimigo?
-- É bem provável. Se você quiser, posso tentar expulsar o demônio que está dentro de você. Pense nisso, rapaz.
-- Vou pensar -- Então, com um sorriso, voltou a abaixar a cabeça -- Para quando está agendada a primeira sessão de quimioterapia?
-- Só para semana que vem. Demorado, né?
-- Na China, construíram um hospital em 6 dias. No Brasil, em 6 dias não entregam nem o resultado do exame de fezes. Tudo é demorado.
-- O pior é que não tenho ninguém pra me acompanhar -- reclamou.
-- Se quiser, eu o acompanho. Não tenho nada de importante pra fazer.
Osvaldo disfarçou um sorriso.
-- Obrigado!
-- Por nada. Pode parecer que não me importo. Mas lá no fundo, eu realmente não me importo. Agora, por favor, vá tomar o sorvete e me deixe terminar as unhas. O cartão está lá no quarto, em cima da cômoda.
Alicia pegou a última caixa no porta-malas do carro antes de olhar para Suélen
-- Pronto. Agora vamos subir e aprender a instalar. Não quero ter dúvidas no momento que estivermos instalando na casa do Jean.
-- Eu tenho alguma noção de como instalar, mas é melhor estarmos craques. Teremos que ser rápidas.
-- Sim -- a loira concordou com Suélen.
-- Alicia!
As duas se viraram imediatamente em direção à voz. A ortopedista abriu um sorriso enorme.
-- Cris, que surpresa! Não estava de plantão?
-- Sim, estou -- ela olhou por sobre o ombro para Suélen e a cumprimentou com um aceno -- É que, depois que conversamos pelo celular aconteceu uma coisa muita estranha comigo -- ela hesitou por um momento, antes de continuar -- Você lembra da Eliane Macedo?
-- Claro. Aquela paciente do aneurisma da aorta -- Alicia abriu os braços sem entender o motivo da pergunta -- O que tem Eliane? -- indagou, curiosa.
-- É que... Acabei de conversar com ela lá no hospital.
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Fim do capítulo
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Vanderly
Em: 18/11/2021
Olá Vandinha, tudo bem?
Comecei a ler esta história ontem e estou adorando. Pena que a autora parou de atualizar já faz um tempão.
Vandinha, já li todas as tuas histórias finalizadas e agora estou ansiosa pela atualização dessa. Ou autora! Volta a postar capítulos por favor!
Espero que esteja tudo bem contigo.
Amanhã já vou começar a ler a próxima da lista. Por favor não demore!
PS:. Amei todas as tuas histórias, ri muito com as loucuras dos personagens.
Um forte abraço!
Vanderly
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Lea
Em: 14/04/2021
Essa história foi abandonada?¿????
Andreia
Em: 10/04/2023
Boa tarde TD bem com vc está autora, vc vai terminar está linda história muito emocionante e interessante e as histórias de amor e superação são lindas por favor termina está fantástica e perfeita história das duas é muito envolvente não deixa de terminar autora e vc continua de parabéns. Bjs e abraços.
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Mille
Em: 25/07/2020
Oi Vandinha
Espero que esteja tudo bem com você e sua famÃlia. Momento triste que o mundo vive e onde existem guerreiros lutando todos os dias para salvar vidas seja direta ou indiretamente. Está sempre em minhas orações.
"As letras que viram palavras, que viram frases, que viram histórias, que tocam nossos corações." Muita inspirações para continuar sempre nos presenteando com suas histórias. Feliz dia do escritor
Bjus
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HelOliveira
Em: 24/02/2020
Mas que na hora da Cristina começar a ver as coisas, se a ajuda tem que pela Eliane que seja bem vinda, Natália é perigosa e espero que não dê um alerta para o Jean.
Agora vamos ver como fica, até o próximo
Bjos
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Brescia
Em: 22/02/2020
Bom dia mocinha.
A Nathália com seu egoísmo e sua doentia fixação em querer a Alícia se uniu a Jean para se livrar de quem a estava impedindo de conseguir o seu escopo.
P.S: a mocinha está fazendo a minha Cleo muito impulsiva e má.:(
Baci piccola.
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NovaAqui
Em: 21/02/2020
Eliane Macedo abriu os olhos de Cristina para alguém. Será que é para Natália?
Natalia não gostava de Thaís. Podemos ter outra suspeita além de Jean. Mistério
Acho que Alícia devia procurar alguma orientação no Centro Espírita
Bom carnaval procês aí!
Abraços fraternos!
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Mille
Em: 21/02/2020
Ola Vandinha
Cris é melhor não comentar nada com a víbora da Natalia, e acho que tem dedo dela na morte da Thais.
Ja estou imaginando a Alicia e Suelen dentro da casa, e com certeza as almas irão dar uma forcinha a elas.
Bjus e até o próximo capítulo
Um otimo carnaval
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