As lembranças do dia anterior com Bernadete ficaram num lugar em sua mente chamado passado. Não queria pensar nela naquele momento. Queria apenas dormir, iria ter um dia cheio, seria o desfile dos irmãos Jone e Jones.

A pele estava bronzeada. Eduardo iria lhe matar. A marca do biquine denunciava que ela sumiu no dia anterior para uma diversão na praia.

Quando acordou colocou um saltinho, uma saia e uma blusa cumprida que escondesse seu corpo, mas sua pele estava morena mais do que o habitual, não tinha como esconder.

Deu um beijo em sua mãe e saiu para a agencia sem tomar café. Ao chegar tentou abrir a porta e sem sucesso, novamente estava travada e Dina como sempre não estava ali para poder abrir.

Ficou ali por volta de cinco minutos tentando abrir a porta e não obteve sucesso algum e por algum milagre alguém gentilmente ouviu suas suplicas e abriu.

_Oi.

Era Cacau. Ela lhe deu um sorriso e deu passagem para ela entrar.

_A Dina tá mais perdida do que agulha no palheiro, o Eduardo tá ocupando ela.

Cacau não disfarçou, olhou para sua pele bronzeada e tentou entender alguma coisa.

_O Eduardo e o Léo tentou ontem falar com você, e sem sucesso, onde estava? – Ajeitou seu óculos de grau olhando-a curiosa.

Agora Cacau também era sua chefe, teria que dizer.

_Sabe tá tão quente aqui e não resistir e fui para a praia.

_Sério...? Que legal. As praias daqui são boas?

_Demais... Eu não pensei que iria ficar assim, se soubesse teria me prevenido. Acho que o Eduardo vai me matar, hoje tem o desfile e eu assim.

_Será que ele te mata? – Sorriu gentil _Bom, eu to indo na sala dele agora, vamos lá comigo, se ele tentar te matar eu posso intervir, não é?

As duas sorriram e Cacau deu passagem para ela ir à frente.

_O que aconteceu com sua mão? Elas tão um pouco marcada. – Cacau parou-a antes de entrarem e nesse momento Emme não sabia responder.

_Ah, é uma longa história, eu nem sei por onde começar sabe?

_Bom, não precisa me explicar, só acho bom que coloquemos uma pulseira ou uma maquiagem.

Emme entrou na sala e não disse mais nada.

_Onde você estava? Meu Deus que pele é essa?

Emme se sentou. Naquele momento ela queria poder ser invisível,  já não bastava ter marcas em seus pulsos agora tinha sua pele e com certeza ouviria poucas e boas de seu chefe.

_Deixa eu explicar Eduardo... – Sorriu sem jeito e antes de prosseguir Eduardo cortou-a.

_Eu sabia que o Léo iria dá um jeito de avisar que os irmãos J exigiram bronzeamento para o desfile.

_O quê? É Sério? 

_Genteeee parece um bronzeamento de verdade, qual a marca desse produto?

Emme deu um sorriso de alivio e olhou para Cacau e essa apenas ficou observando seu jeito.

_Já disseram que você fica linda assim?

_Ah, obrigada.

_Não ficou linda Cacau?

_Sim Eduardo, está linda, mas Emme precisa dizer que de artificial ai não tem nada,  preferiu fazer um bronzeamento natural, e realmente não tem nenhuma comparação.

_Cadê o Léo Emme?  Eu ainda não o vir.

_Eu também não Eduardo e nem falei com ele.

_Você ainda não falou com seu namorado? – Cacau perguntou curiosa.

_Bom, quando acordei só me arrumei e vim pra cá, ainda nem tomei café.

_Ah que ótimo, a Cacau tava me chamando pra comer alguma coisa, saiu do hotel sem comer nada também, vá com ela minha querida e se puderem trazer algo para mim eu agradeço.

Emme olhou-a sem jeito. Aquela ideia com certeza não era uma boa ideia.

_Não to com muita fome...

_Bom, eu adoraria uma companhia, vamos? Não demoramos.

 Cacau se levantou.

_Tem como dizer não?

_Só se tiver com medo de mim. – Olhou-a nos olhos.

_Eu, medo? Imagina... Vamos sim.

_Ok, só vou pegar minha bolsa.

Cacau saiu.

Eduardo esperou que ela fechasse a porta e deu atenção para uns papeis que estava sobre a mesa e comentou:

_Não sei se te contei, mas a Cacau é uma prima distante.

_Ah que legal, eu não sabia.

_Sim, uma prima, mas não temos muita intimidade ainda, mas antes de dividir com ela essa agencia eu procurei saber algumas coisas dela. Ela já foi casada por muitos anos com um homem por ordens dos pais dela...

_Eduardo, eu prefiro não saber, entende? Ela é apenas minha chefe, a vida dela pessoal não me... Você sabe.

Eduardo sorriu e admirou-se mais ainda por ver que ela não gostava de comentários da vida alheia.

_Tudo bem, sem problema.

Cacau apareceu na porta e chamou-a. Emme se levantou e disse um “Até logo” e saiu.

_Eu ainda não conheço nada por aqui.

_Ah, não tem problema, tem uma padaria aqui pertinho, vamos no meu carro então.

_Vamos... 

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Os assuntos não eram muitos, mas a vontade de estarem perto era tão grande que se esqueceram do tempo.

_Sabe que de todas ali você é a mais simpática.

Emme sorriu.

_Só ta falando isso porque te trouxe na melhor padaria daqui.

_Imagina Emme, uma simples padaria não é motivo de elogios para sua beleza. Que bom que nós te temos como nossa modelo.

_Hum, já falou isso pra quantas?

As duas se encararam, Emme simplesmente não lhe dava brecha, sempre tinha uma resposta na ponta da língua.

_Nenhuma. Você é a primeira porque é especial. Não costumo errar, mas você me encantou.

_E você sabe que é minha chefe e que namoro o Léo, entre nós, eu e você só vamos ter essa relação. A conta, por favor.

_Ei, calma... – Tocou em seu braço. _Me desculpa.

_Só desculpo se parar com esses elogios. Não é simplesmente olhar no facebook meus interesse por homens e mulheres que pode chegar e dizer que sou especial. Posso ser especial, mas não pra você.

Cacau calou-se. Percebeu que foi rápido demais com seus elogios. Estava com vergonha disso.

Depois que entraram no carro ela quebrou o silencio se desculpando novamente.

_Sei que está namorando e parece ser fiel, só que fui sincera falando essas coisas.

_Tudo bem, passou... Hoje vai ser um dia longo, já devíamos tá na agencia.

O trajeto até a agencia foi estranho. Emme não poderia aceitar seus elogios, ela estava lhe flertando. Ela era sua chefe.

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A tarde toda permaneceu sem trocarem uma palavra, apenas olhares. Todos os modelos foram para o local do desfile. Séria um evento grande, que incluía fotógrafos, pessoas de revistas e televisão.

Os irmãos J e J eram conhecidos por todo o Brasil. Seus biquínis vestiam famosos e pretendia vestir mais ainda depois daquele desfile.

Emme olhou rápido para as pessoas que estavam na primeira fila, não que as outras filas não fossem importantes, mas era ali, naquela primeira que tinha grandes nomes da moda, inclusive, Bernadete, ela estava com seu marido. Ela também agenciava modelos e levavam eles para fora do Brasil para terem mais sucesso no mundo da moda.

E tudo tinha um porquê de negar as cantadas de Cacau. A agência de Bernadete foi a primeira a contrata-la como modelo, mesmo sem experiência alguma. Foi quando aos dezoitos anos estava no supermercado com sua mãe, o marido dela, Raul olhou-a dos pés a cabeça e lhe disse que tinha um grande talento, então, ele deu seu telefone e no dia seguinte ela estava lá, pronta para trabalhar e foi quando conheceu B. Bernadete era charmosa, já tinha dois filhos no tempo e quarenta anos de idade. Mulher experiente que lhe seduziu, quando Emme percebeu havia se apaixonado por ela, não se importava com a idade, teve a curiosidade de saber como era seu corpo e sem Raul perceber as duas estavam rolando nas camas de motéis e na mesa da sala na agência.

Emme decretou ali o fim de sua carreira que nem havia começado. Era inexperiente, não sabia onde encontrar outra agencia para trabalhar. Depois de um tempo não conseguia mais trans*r com Bernadete, pois sempre ficava com a consciência pesada de Raul descobrir e acabar com sua vida, mas às vezes não conseguia se conter e sempre caia na tentação de ligar para ela e saírem para se divertir.

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Ela que abriu o desfile, e Cacau que estava no camarote teve a chance de pela primeira vez olhar para seu corpo que além do rosto era lindo. Cintura fina, barriga desenhada. O biquine não fazia jus a sua beleza.

Quando estava na passarela percebia olhares para seu corpo, a peça de roupa era linda. Sentia a combinação dos dois, tanto do objeto como do corpo. Bernadete olhou-a admirada.

_Eu falei que se nós contratássemos ela por mais tempo quem estaria ganhando dinheiro éramos nós, mas não, você inventou de entrega-la para o mão fechada do Eduardo. – Raul comentou com ela.

_Querido, tudo tem um motivo e um porque... Não se preocupe, temos modelos lindas também, não como ela, mas temos.

O final do desfile foi um sucesso, Emme segurava a mão de Léo usando as peças. Depois todos os modelos ficaram por ali dando entrevista e tudo mais. Cacau olhava para Emme sem parar. Emme dava uma entrevista para a televisão elogiando o trabalho dos irmãos J e J.

Bernadete ficou esperando ela terminar e depois que terminou segurou na sua mão discretamente e puxou-a para um local escondido.

_Você estava simplesmente linda, seu corpo uma maravilha.

_Obrigada B. – Disse desconcertada. _Precisamos voltar pra lá, vamos?

_Não, espera. Não mereço nenhum beijinho? Eu vim somente para lhe prestigiar.

_Você veio prestigiar os irmãos J e J. – E sorriu não acreditando em nada no que ela dizia.

_Meu marido poderia vim sozinho, mas quando eu soube que você ia desfilar quis acompanha-lo. Por que não me contou?  Vem cá vem me dá um beijo. Você sabe que sempre quando me tem eu fico com abstinência de você.

_Não B, aqui é perigoso, o Léo tá aqui.

_Aquele franguinho lá da passarela? – B sorriu e não se importou, beijou-a como desejava.

O beijo foi demorado, B não queria se soltar de jeito nenhum, só quando ouviram uma pancada forte e passos foi que se soltaram assustadas.

_Eu disse que era perigoso.

_Não foi nada, foi só que caiu aqui... Vem cá, você tá linda assim. – B novamente a beijou. Era difícil segurar Bernadete, mas não era impossível.

_Vamos fazer assim, depois que terminar tudo a gente se encontra, pode ser? – Sugeriu Emme tentando se sair.

_Ok, combinado. – Beijou-a mais uma vez e elas saíram ajeitando suas roupas e Léo que estava procurando Emme assim que a avistou segurou em sua mão e foram tirar fotos juntos.

_Vocês podem se beijar? – Pediu um fotografo. Eduardo estava ali perto dos dois acompanhado por uma moça bonita.

_Beijo na boca? Tipo, um beijo mesmo? – Emme perguntou e sorriu nervosa.

_Vocês são ou não são namorados?

_Sim, claro.

Léo meio sem jeito olhou para Emme e segurou em sua cintura. Lembrou-se do que Eduardo disse: “No desfile vão querer um beijo de vocês, então a beije, isso vai ser melhor para todos.”.

Bernadete olhou-os. Cacau também. Parecia que todos esperavam por aquele beijo. Eles diziam ser um casal, mas sequer fotos juntos eles tinham.

Léo segurou firme sua cintura e puxou-a mais para si. Delicadamente aproximou de seus lábios sentindo sua respiração forte e fechou seus olhos. Foi um beijo de um minuto. Foi o tempo que Eduardo deu para ele ficar grudado. Depois os dois saíram do beijo e se abraçaram. A plateia aplaudiu.

Depois do abraço um olhou para o outro e tomaram um drinque que lhes deram tentando absorver o que tinha acontecido ali.

Fim do capítulo