Capitulo 7 - A viagem
- Quem essa mulher pensa que é? Vem me dar lição de moral e tava no maior clima com a outra lá... Era tudo o que me faltava. – me joguei ao lado de Larissa. – Isso tudo é culpa sua, Lari... Você não sabe beber e olha onde viemos parar! Você nunca mais me apronta uma dessas...
Bufei.
A ruiva não estava nem ai para mim, dormia feito uma pedra. Olhei para o teto, fechando os meus olhos e a imagem daquela mulher infernal veio à mente.
Mordi o lábio inferior, sentindo o corpo tenso.
O que estava acontecendo comigo? Ainda podia sentir o cheiro dela impregnado em meu olfato e o toque grosseiro em minha carne. Como ela conseguia me tirar do sério com tanta facilidade?
- Meu Deus, eu bati na Charlotte Allen. - somente naquele momento me dei conta do meu ato. - É oficial! Sou uma idiota. Aaaah, eu só me enrolo todo dia um pouco mais...
Abracei Larissa, que me abraçou de volta. Não foi nada fácil dormir, pois na minha cabeça os Allen dançavam samba.
Ou melhor, "brega".
No dia seguinte, acordei cedo e fiz minha amiga fazer o mesmo. Uma menina que trabalha para a Charlotte deixou analgésicos e roupas limpas. Um pouco depois que terminamos de nos vestir, William bateu na porta nos chamando para tomar café. Fiquei estranhamente frustrada quando Will comentou que a irmã teve que ir cedo para a empresa.
Nem teve a educação de nos esperar.
- Assistentes? - William olhava para Larissa e eu com preocupação.
Minha amiga havia colocado um óculos enorme, parecendo um besouro gigante.
"Onde ela tinha conseguido aquilo?"
- É uma grande oportunidade. Não podíamos recusar. - respondi sem muita convicção.
- Certeza que quer trabalhar com a Charlotte? Helena é uma amor, mas a minha irmã. - franzi o cenho.
- Ela é uma boa pessoa... - Larissa respondeu. - Isso é ciúmes?
Arregalei meus olhos.
- Larissa? - a olhei feio.
- Que? É verdade. O bonitão aí tá todo preocupado com a sua outra pretendente. - minha cara queimou em vergonha.
Larissa saiu da mesa, indo para a sala. Estranhei a sua atitude, ela não costumava agir daquela forma. Fiquei de pé, olhando para Will totalmente sem graça.
- Desculpe por isso... - coloquei a mão sobre a nuca.
- Tudo bem... Acho que eu não deveria ter falado aquilo. - ele sorriu visivelmente envergonhado.
- Eu já vou... Nós vemos na faculdade, tudo bem? - Will ficou de pé.
- Ah, claro... Claro... Sobre o que falamos ontem, ainda hoje irei conversar com a Pietra. - ele segurou a minha mão.
William se aproximou, me fazendo sentir um leve frio na barriga. Eu queria aquele beijo, entretanto não poderia, pois ele ainda era comprometido.
- Ainda não... - coloquei minha mão sobre o peitoral definido.
- Desculpa... Eu não consigo me controlar quando se trata de você. - mordi o lábio, ficando muito sem graça. - Até mais tarde...
- Até mais tarde...
- Lua... Vamos! Já são oito horas... - Larissa estava estranha.
Estávamos dentro do carro e a ruiva fingia que eu não estava ali. Ela olhava para a janela, me ignorando.
Respirei fundo.
- O que te deu? - ela demorou vários segundos até me olhar. - Anda, me xinga, me bate, mas diz alguma coisa!
Ela rolou os olhos.
- Quando planejava me dizer que tá tendo algo com o William? Pensei que fossemos amigas, Luane... - coloquei a mão sobre a testa.
- Eu... Desculpa, Lari. - ela franziu o cenho. - Não foi a minha intenção.
- Esquece! Não quero falar contigo agora. - ela voltou a olhar para a janela.
Bufei.
Fomos até nossas casas e trocamos de roupa rapidamente. Eu não queria deixar Rodrigues, o motorista, esperando muito. O caminho inteiro até a empresa Allen foi feito no mais absoluto silêncio. Quando chegamos a primeira recepção, a funcionária do nariz empinado do outro dia nos atendeu.
- Que querem? - ergui a sobrancelha.
- Temos uma entrevista com a senhorita Charlotte. - Larissa respondeu por nós. - Priscila...
A mulher rolou os olhos.
- Um momento... – a garota parecia que vivia a ch*par limão. Para que tanto mal humor? - Podem subir...
- Liga não, Larissa. A outra recepcionista é gente de verdade. Obrigada, colega de trabalho. - pisquei para a aguada, que apenas ergueu as sobrancelhas.
- É com esse tipo que teremos que trabalhar? - a ruiva me encarou.
- Se acostuma...
Entramos no elevador junto com vários modelos que a Allen gerenciava. Eles passaram a conversar com minha amiga e eu como se também fossemos da área. Eram divertidos e elegantes. Alguns já havia visto em comerciais e outdoor’s.
Chegamos ao nosso andar.
Paola nos recebeu muito bem.
- Já podem entrar, meninas... - a mulher era a gentileza em pessoa.
- Obrigada... Estou nervosa. - Larissa parecia melhor.
- Fica tranquila. A dona Helena é uma mulher incrível e tenho certeza que você vai amar trabalhar com ela. - Paola abraçou minha amiga.
- Você é tão maravilhosa... Diferente da outra do primeiro andar... - Paola riu de meus dizeres.
- Ela só é mal amada... Não liguem e boa sorte!
- Obrigada! - Lari e eu dissemos juntas.
Quando abri a porta, primeiro meus olhos caíram sobre Helena. A morena olhava para a minha amiga como se ela fosse um ser de outro mundo. Depois olhei para Charlotte e ela me encarava de uma forma estranha. Senti algo no estômago, mas decidi ignorar.
- Bom dia, Helena, Charlotte... – falei, abrindo um sorriso. Eu estava um pouco nervosa.
- Bom dia... – Larissa olhava para Helena.
- Bom dia... – Helena e Charlotte responderam juntas.
- Bom, Helena, essa é a Larissa, sua futura assistente. - nos aproximamos.
- É um prazer, Larissa. Espero que possamos fazer uma bela dupla. - Helena estendeu a mão para a minha amiga que tentava ao máximo controlar o entusiasmo. Eu a conhecia muito bem.
- A senhorita é ainda mais linda pessoalmente. Sou fã do seu trabalho, assim como da Charlotte. É um imenso prazer estar aqui. - Helena abriu um sorriso.
O que estava se passando?
- É muito bom vê-la novamente, Luane... – Helena me abraçou brevemente.
- Digo o mesmo, Helena. Será maravilhoso trabalhar ao seu lado. – eu simpatizava de verdade com a morena.
Charlotte ergueu a sobrancelha.
- Larissa, você pode ir com a Helena até a sala dela. Vocês conversam e se estiver de acordo com tudo, amanhã você inicia o estágio. Tudo bem?
A ruiva sorriu.
- Perfeito, Charlotte. Obrigada pela oportunidade... - minha amiga e Helena saíram da sala, me deixando a sós com a toda poderosa.
Respirei fundo.
- Sente, senhorita Oliveira. - novamente ela com aquele tratamento idiota. - Aqui está o contrato... Leia com atenção e se for da sua vontade, assine.
Ela me olhava com sarcasmo.
Peguei o contrato e senti meu coração acelerar. Seria um ano inteiro de estágio, com muitos benefícios e eu precisaria trabalhar somente até o meio dia. O salário inicial não era nada mal.
Peguei a caneta e assinei meu nome.
- Senhorita Allen... Eu queria devolver uma coisa. - ela franziu o cenho. Entreguei o contrato a ela e abri minha bolsa, tirando de lá o envelope com os quarenta mil e um bolo que a mãe de Lari havia feito.
- O que é isso? - Charlotte se recusou a pegar.
- O bolo foi a mãe da Lari quem mandou... O outro é seu dinheiro... Vou cumprir com a minha parte, porém acho que não devo ficar com esse dinheiro. Não é correto.
Ela passou a me encarar por vários segundos.
- Você é uma mulher honrada, senhorita Luane. Tenho que admitir. - ela ficou de pé, sem pegar o envelope que deixei sobre a mesa. - Bom, como minha assistente, vou te levar pra uma reunião. Termina antes do seu horário de faculdade. Somente pra você já ir pegando o jeito. Sim?
A mulher a minha frente as vezes me surpreendia muito.
- Tudo bem. - fiquei de pé. - Eu queria falar sobre ontem...
- Não temos nada a falar, senhorita Luane. - Helena entrou com a Larissa, que parecia mais feliz.
- Vamos para a reunião? - a morena chamou.
- Estávamos apenas esperando por vocês. Vamos. - Charlotte pegou uma pasta e saímos de sua sala.
Ao passarmos pela recepção, Paola fez um sinal positivo com os polegares, me fazendo sorrir. Andamos por um corredor até chegarmos a sala de reuniões e assim como toda a Allen Magazine, aquele espaço ostentava luxo e poder. Charlotte sentou com Helena. Larissa se colocou ao meu lado. Aos poucos os acionistas passaram a ocupar seus lugares. Alguns olhares caíram sobre Larissa e eu.
- Para que essa reunião, Charlotte? - um velho que já deveria ter uns duzentos anos perguntou. - Eu tinha coisas para fazer.
Olhei rapidamente para minha agora chefe e ela apenas abriu um grande sorriso.
- Então se retire, Maurício. Sua presença aqui tanto faz. - imediatamente o homem ficou rubro. Prendi meus lábios um ao outro para não deixar escapar o riso.
- Bom, acho que já podemos iniciar. - uma mulher que aparentava estar a beira dos quarenta se pronunciou. Ela era bonita e elegante.
- Pois bem... - Charlotte abriu a sua pasta e repassou vários documentos para todos os acionistas ali. - Deem uma olhada nesses gráficos...
Ela entregou um para Larissa e eu. Passei o olho, me surpreendendo com os números incríveis. Eu não entendia com perícia de administração de empresas, mas o suficiente para dizer que era fabuloso. A Allen arrogante sabia perfeitamente o que fazia e posso dizer, com maestria.
- Faz cinco anos que estou a frente desta empresa... - passei a olha-la. - É não é porque sou filha do dono como muitos pensam...
Charlotte ficou de pé.
- Pra chegar até a presidência, lugar antes ocupado por meu pai, tive que provar o meu valor... E não serão os senhores a me tirar daqui. Senhorita Luane?
Arregalei os olhos.
- Sim, senhorita Charlotte. - ela me olhou.
- De acordo com esses gráficos, como está sendo a minha gestão? - não vou negar, eu tremi mais que vara verde. Tinha a atenção de todos.
Contei até três.
- Uma gestão maravilhosa. Desde a sua ascensão, o capital da Allen triplicou. - Charlotte sorriu. – A Allen está vivendo um dos seus melhores momentos.
- Vocês querem mesmo bater de frente comigo? - a voz firme fez com que os velhos de terno se olhassem assustados. - Acham que não sei que estão loucos para me tirar do cargo por puro sexismo? Por favor, meus queridos.
A tirarem do cargo?
- Vão ter que engolir. A Allen tem dinheiro para comprar de volta todos os trinta por cento de ações vendidas a vocês. Se há alguém aqui que não está satisfeito com a minha gestão, por favor, se manifeste.
Olhei para todos e ninguém disse absolutamente nada. Olhei para Charlotte Allen e fiquei fascinada. Aquela mulher não era desse mundo.
- Sabia decisão, queridos. A reunião acaba por aqui. Tenham todos um ótimo dia. - Charlotte saiu da sala e eu imediatamente a segui. Olhei para trás e Larissa conversava com Helena. Sua felicidade era visível.
Entramos na sala da presidência.
- Era tudo o que me faltava. - ela sentou em sua poltrona. - Você já está liberada, senhorita Luane. E se prepare, está sexta iremos viajar. - eu havia esquecido completamente daquela viagem.
- Senhorita Allen, eu... - o telefone tocou.
Charlotte fez um gesto para que eu parasse e eu o fiz.
- Sim, Paola...
- Dona Charlotte, o Max quer falar com a senhorita. – ela acionou o viva-voz.
- Peça para ele entrar... Obrigada.
A porta foi aberta e por lá passou o diretor de filmagens.
- Luane, minha querida... É justamente de você que eu preciso pra agora. - ele veio até a mim, me dando dois beijinhos na bochecha.
- Oi Max... O que posso fazer por você? - o cara era a gentileza em pessoa.
- Menina... Um cliente escolheu você pra fazer um comercial pra sua loja. Charlotte, querida, o Adrian bateu o pé que quer ela... - abri a boca levemente e olhei para a minha chefe.
- O que você acha, senhorita Luane? Quer fazer o comercial? - mordi o lábio levemente. A primeira vez eu havia adorado, não posso negar.
Seria um ótimo extra.
- Eu aceito, senhorita Charlotte. É para agora? - olhei para Max.
- Agora mesmo, meu amor... Venha. - ele saiu me puxando.
Apenas deu tempo de olhar para a minha chefe e podia jurar que vi um sorriso naquele rosto sempre tão fechado.
- Ei, pra onde você vai? – Larissa estava saindo da sala de Helena.
- Deus, quem é essa beldade? – Max segurou as pontas dos fios de cabelos de Lari. – Natural...
- Ela é a Larissa, minha amiga. Lari, lembra do Max? Do comercial que te falei? – minha amiga sorriu.
- É um prazer conhece-lo. Nossa, já ouvi falar muito de você. – Max sorriu.
- Só coisas boas, eu espero...
- Não poderia ser diferente. Aonde vão?
- Vou levar essa outra beldade pra maquiar. Venha conosco, querida. – e não deu outra.
Seguimos até o estúdio de gravações e o olhar encantado de Larissa me fez sorrir. Observava tudo com muita atenção e sorria a cada detalhe que encontrava. Na certa, minha amiga deveria estar imaginando mil e uma coisas.
- Só um segundo, querida... – Max me fez sentar em frente ao espelho para me maquiar.
- Lua, isso é tão maravilhoso. Sinto vontade de chorar... – ela segurou a minha mão. – Agora você, gravando outro comercial. Estou tão feliz...
Larissa é a melhor pessoa que existe. A ruiva torcia com sinceridade pelo bem do próximo.
- Como foi com a Helena? – ela sorriu mais ainda.
- Ela é maravilhosa, sabe... Tão educada, atenciosa. – ergui a sobrancelha. – Assinei meu contrato na hora. Ela é linda, não é?
- Sim, a Helena parece até artista de Hollywood. – havia notado algo mais, porém guardaria para mim.
- Uma Angelina Jolie dos cabelos cacheados... E o que foi aquela reunião? – Sandro passou a me maquiar. – A Charlotte é tão foda... Viu a cara de idiota daqueles velhos?
Não pude rir, mas eu quis.
- Foi muito engraçado. Charlotte realmente é uma empresária incrível. – Lari ergueu as sobrancelhas. – Nem começa, Lari...
- Você também vai ser maquiada, minha diva? – Sandro perguntou a Larissa, que apenas sorriu.
- Não, não... Estou apenas acompanhando a Lua.
- Não é modelo?
Os dois engataram uma conversa e Sandro cobriu a ruiva de elogios. Ri bastante com algumas bobagens que os dois passaram a falar. Dei uma breve olhada ao redor e a sensação de estar em casa foi muito forte.
Eu estava adorando estar ali.
O comercial era de roupas para uma grande empresa da cidade, a Allen promovia a imagem empresas de diferentes áreas. O dono estava presente, acompanhando toda a gravação e fotos. Me divertir bastante, pois a equipe composta por dez membros me deixou super a vontade. Perdi as contas de quantas roupas vesti aquela manhã. Me perdi tanto, que nem ao menos lembrei que teria que ir para a faculdade. Quando tudo foi finalizado, corri para trocar de roupa. Larissa me esperava. A ruiva já havia feito amizade com todos ali.
- Vamos? – me aproximei dela.
- Luane Oliveira? – o empresário, dono da marca contratante, se aproximou. – Sou Adrian Valente.
- É um prazer, senhor Valente. – lhe apertei a mão.
- Queria lhe dizer pessoalmente que estou muito feliz de trabalhar com a senhorita e também lhe fazer um convite... – olhei rapidamente para entrada e vi Charlotte parada, me olhando fixamente. – Queria lhe contratar pra ser nossa principal garota propaganda.
Abri a boca levemente.
- Nossa... É um convite maravilhoso. – a minha vida estava tomando um rumo inesperado.
- Olhe, esse é o meu cartão. Espero a senhorita e seu empresário segunda que vem. O que acha? – sorri, ficando confusa. Eu não tinha empresário.
- Tudo bem... – peguei o cartão. – A que horas posso ir a seu escritório?
- Às dez está perfeito. Aguardo a senhorita e mais uma vez, estou muito feliz com este primeiro trabalho.
- Foi um grande prazer... Segunda-feira lhe encontro. – o elegante homem sorriu e se afastou.
- Nossa... Lua...– vi Charlotte se aproximar. – Você... Você vai ser garota propaganda da marca A. L... – Larissa segurou minha mão.
- Isso é verdade, senhorita Luane? – me senti nervosa com a presença da Allen.
- Ainda não sei... Isso tudo é tão... – coloquei a mão sobre a nuca. – Inesperado.
Charlotte segurou minha outra mão e o meu corpo todo arrepiou.
- Você tá tendo uma grande oportunidade... Deseja dar uma vida melhor a sua família, não é mesmo? – ela me olhava fixamente. Acenei em positivo, sem conseguir me pronunciar. – Então abrace esta oportunidade e não deixe duvidas bobas serem maiores...
Sabe, uma sensação incrível de segurança me invadiu e eu não soube explicar de onde veio.
- Você tem razão, Charlotte... – ouvi-la me chamar apenas por meu nome me deixou estranhamente feliz. – Eu vou abraçar essa oportunidade... – sua mão apertou a minha e somente naquele momento notei que a minha estava ali.
Desfiz o contato, não entendendo minha postura.
- Você precisa de um empresário e eu irei resolver isso. A Allen cuidará de sua imagem, eu faço questão. Agora, venham... Vou leva-las a faculdade... - a loira aceitou sem questionamentos ou birras.
Já estávamos dentro do carro em direção a faculdade. Larissa e Luane conversavam animadas sobre a nova façanha da loira. De uma forma inédita, eu me sentia feliz pela felicidade alheia. Sendo bastante sincera, jamais me importei com ninguém além de mim mesma. O relacionamento entre minha família e eu jamais foi de muita demonstração de afeto. Cresci em um ambiente totalmente diferente do que é considerado normal.
- Charlotte... Você é a Helena são amigas há muito tempo? - a voz da ruiva me tirou de minha divagação.
- Faz anos... Helena e eu somos como irmãs. - olhei rapidamente para a ruiva pelo retrovisor. Para a minha surpresa, Luane aceitou sentar ao meu lado. - O que achou da sua chefe?
Estava curiosa, pois havia notado algo.
- Ela é tão incrível... Eu tô muito animada pra começar a trabalhar com ela. Acho que nem vou conseguir dormir essa noite de ansiedade. - sorri. Larissa tinha algo que encantava. Talvez fosse a áurea inocente que a ruiva carregava.
- Tenho certeza que vocês duas irão se dar muito bem. Helena é uma pessoa maravilhosa. - falar dela era fácil. Minha amiga é um ser humano sem igual.
- Eu também tenho certeza. Ela é tão linda... Eu fiquei besta quando olhei para aquela mulher. - rir, não conseguindo me conter.
Olhei para Luane e a loira estava de cenho franzido.
- Helena arrasa corações. Na faculdade havia muitos caras que viviam atrás dela. Era uma loucura.
- E não é para menos. Até eu que não curto o babado, fiquei maravilhada.
Interessante.
- Vocês duas nunca se pegaram?
- Larissa! - Luane ralhou com a ruiva, me fazendo rir.
- Que foi? É uma pergunta simples...
- Às vezes você é uma...
- Tá tudo bem... - interferir na pequena discussão. - Não, Helena e eu somos como irmãs...
A conversa com a ruiva fluiu e em muitos momentos, a mais jovem me fez rir. Luane apenas acompanhava a conversa, rindo de alguns dizeres da amiga. Chegamos em frente a faculdade. Larissa foi a primeira a descer. Agradeci pelo bolo e pedi a ela que dissesse a sua mãe que estava maravilhoso. Luane esperou a amiga se afastar um pouco para falar com outras meninas.
- Obrigada... - franzi o cenho. A loira me encarou. - Por sua causa, isso tudo tá sendo possível.
Eu não estava acostumada com aquele tipo de conversa.
- Não precisa me agradecer... Você tá ganhando seu espaço. Aproveita tudo isso... - limpei a garganta. - Ainda hoje seu empresário entrará em contato... Agora vá... Já está muito atrasada.
Luane me olhou sorrindo e pela primeira vez eu era o alvo de seu sorriso.
- Precisa aprender a receber um agradecimento... - ela saiu do carro, me deixando com cara de boba.
Estava confusa com aquela situação toda. Desde que entrei no estúdio mais cedo e vi Luane tão à vontade gravando o comercial, senti que deveria romper aquele contrato e não fazê-la ser o pivô do fim de um casamento. Aquela mulher me fazia duvidar e colocar em julgamento as minhas próprias atitudes.
Respirei fundo.
Coloquei o carro em movimento, desejando ir para casa. Sim, eu iria romper o contrato, mas somente depois de nossa viagem ao Rio. Não entendia o porquê, mas ansiava pela companhia da loira.
Precisava conversar com Helena.
Não voltei para o escritório aquele dia, liguei para Helena e pedi para que ela jantasse comigo. Aproveitei para descansar um pouco e ligar para Caleb, um grande empresário com quem trabalhava há anos. Mandei um pequeno demonstrativo sobre Luane e ele aceitou no mesma momento cuidar de sua carreira. Ele iria entrar em contato com ela naquele mesmo dia.
- O jantar será sua massa preferida... - Helena e eu entravamos na cozinha. - Marina caprichou.
- O cheiro está divino. Trouxe aquele vinho maravilhoso... Vou arrumar a mesa.
Depois de arrumar tudo e nos servir, Helena e eu passamos a conversar de início sobre coisas da empresa até chegarmos em Larissa e Luane.
- Percebi o quanto você ficou encantada com a Larissa... - Helena sorriu.
- E como você queria que eu ficasse? Você sabe o quanto sou admiradora da beleza, por pouco não fui agente, aí me aparece aquela mulher lindíssima pra ser minha assistente? Eu fiquei de queixo caído. - rimos.
- Tem certeza que foi apenas isso? - a morena franziu o cenho.
- Como assim, Charlotte? - ri.
- Nada... Acho que vou deixar você mesma perceber.
- Não vem com história, Charlotte. Agora me diz, o que queria falar? - ela mudou de assunto, me fazendo ter ainda mais certeza que algo estava fora do normal.
Ela iria notar em algum momento.
- Vou liberar a Luane do contrato... - tomei um gole do vinho.
- Está falando sério? - ela ficou surpresa.
- Preciso ser sincera com você... Luane mexe com a minha líbido. - deixei a morena ainda mais surpresa. - Desperta em mim algo que eu não consigo compreender. Hoje, quando a vi no estúdio, senti algo que somente você consegue ter de minha parte...
- O que?
- Empatia... Não é justo usá-la pra acabar com o relacionamento da Daniela. - respirei fundo. - Aliás, acredito que nem ao menos irei a esse casamento.
- Estou muito surpresa, Charlotte. - ela segurou minha mão. - Mas muito feliz com sua atitude. Eu sinto muito carinho pela Luane. Meu santo bateu com o dela. Ela é uma boa pessoa. Sua atitude me deixa orgulhosa...
Mordi o lábio.
- Aquela garota me tira do sério... - Helena gargalhou.
- Charlotte Allen perdendo o controle... Achei que jamais veria algo assim.
- Acontece nas melhores famílias. - ri junto com minha amiga.
Passamos a noite toda conversando, até que minha amiga foi para casa. Tomei um banho rápido e deitei para descansar. Não consegui dormir de imediato, pois a imagem de uma garota insolente não deixou.
A minha cabeça trabalhava a todo vapor.
3 de setembro de 2019.
No dia seguinte, o primeiro dia de fato de trabalho de Larissa e Luane iniciou. Trabalhar com a loira era fácil, pois ela aprendia tudo muito rápido e fazia o que eu pedia com eficiência. Chegou a me dar ideias para um comercial que seria produzido naquele mesmo dia. No fim da tarde, eu estava saindo da empresa quando recebi uma mensagem e fiquei surpresa ao ver que se tratava de Luane.
Abri o aplicativo de mensagens, percebi que era uma foto com uma pequena frase.
"Olha isso."
Abri a imagem e se tratava de um outdoor com a bela loira vestida com um terninho preto da coleção de Adrian. A foto havia ficado maravilhosa. Luane teria uma carreira incrível se optasse por aquele caminho.
"Aproveite."
Enviei a mensagem, ficando realmente feliz pelo sucesso dela.
6 de setembro de 2019.
Os dias se passaram e quando percebi, já era sexta-feira. Eu terminava de arrumar minha pequena mala. As nove da noite o nosso voou sairia. Combinei com Luane de nos encontrar no aeroporto.
Estava terminando de me vestir, quando alguém bateu na porta.
- Pode entrar... - William entrou, parecia sério.
- Posso falar com você um minuto? - o encarei.
- Seja breve... - ele respirou fundo.
- Queria pedir que ficasse longe da Luane, que a respeitasse nessa viagem. - ergui as sobrancelhas.
- Como é? - William me olhou fixamente. – Por acaso acha que sou alguma selvagem que agarra mulheres a força?
- Não... Eu não quis dizer isso. – fechei os punhos com força. - Eu gosto dela e assim que conseguir terminar meu relacionamento com a Pietra, irei pedir a Luane que coloque um fim a esse contrato absurdo. - respirei fundo.
- Ainda nem terminou seu relacionamento e já se acha dono dela? Ela pediu pra interceder por ela? – a possibilidade fez meu sangue ferver.
- Não, é óbvio que não. Luane não sabe que iria falar com você. Não sei sobre seus planos, mas se você fizer algum mal a ela...
- Era somente isso? - o interrompi. - Se era, saia por favor.
Lhe dei as costas, pegando a minha mala e celular. Passei por ele, sem lhe dirigir o olhar. Minutos depois eu estava indo para o aeroporto com a conversa martelando em minha mente. Talvez aquela viagem clareasse alguma coisa. Pensar em Luane com o meu irmão me causava raiva.
“Era tudo o que me faltava.”
Alguns minutos depois cheguei ao aeroporto. Luane estava sentada próxima a entrada, distraída com o celular. Rodrigues retirou minha pequena bagagem e foi embora. A loira ainda não havia notado a minha presença. Me aproximei e ela finalmente levantou a cabeça, sorrindo ao me ver.
O seu sorriso me desconcertou.
- Boa noite, Luane... Está a muito tempo aqui? – ela ficou de pé.
- Boa noite, Charlotte... Não, faz apenas vinte minutos que cheguei. – aquela mulher era bela demais.
- Vamos entrar? – ela apenas assentiu e foi a minha frente.
Lembrei novamente da conversa com o meu irmão e senti a raiva queimar em meu interior, algo inédito nos meus 28 anos. Imaginar eles juntos estava me deixando com... Ciúmes? Sim, ao menos para mim mesma, eu deveria admitir. Uma parte muito grande do meu ser queria aquela mulher com todas as forças e de todas as formas possíveis, mas ainda havia a outra a me alertar. Ela gritava que eu deveria fugir, não sucumbir de maneira alguma.
“Shit!”
- Você quer alguma coisa? - perguntei a loira que estava sentada ao meu lado. Ela brincava com o cinto de segurança.
- Só estou um pouco nervosa... É a primeira vez que entro em um avião. - ela olhava para o teto.
Seu estado me deixava com muita vontade de rir.
- Só tenta relaxar... Em poucas horas estaremos no Rio. - a loira parecia estar rezando.
- Eu espero mesmo que sim, porque senão irei ter um treco aqui mesmo. – não resisti e acabei rindo.
Luane Oliveira era uma mulher divertida sem muito esforço.
- Não fica rindo, Charlotte...
- Aprendeu a me chamar só pelo nome? – ela me olhou.
- Você também vive implicando comigo me chamando de senhorita Luane... – ela fez uma careta.
- Como você bem disse, é para implicar. – ela ergueu a sobrancelha. – Viu só? Sua paciência é super limitada.
- Olha quem fala... - foi anunciado a decolagem. – Ai, meu pai amado... – ela fechou os olhos e quando o avião levantou voou, senti a mão gelada de Luane procurar pela minha.
- Tá tudo bem... Conta até cem... - e em um ato desconhecido para mim, acolhi sua mão entre a minha, tentando lhe passar segurança. – E relaxe...
Eu não estava me reconhecendo.
- Não solta a minha mão... Por favor. – ela estava de olhos fechados. Por Deus, que sensação maluca era aquela?
- Estou aqui... – o avião ficou estável e aos poucos a mulher ao meu lado relaxou. O contato de nossas mãos chegou ao fim, me deixando com a sensação de vazio.
- Obrigada... – os olhos azuis me miravam. – Eu sou muito bobona mesmo. Deve me achar uma tonta.
- Não precisa agradecer e tudo bem ter medo... Eu também tinha. – a minha voz saiu... Amável?
Não, definitivamente aquela Charlotte não era eu.
- Mesmo? Você parece ser tão segura de tudo. – sorri apenas com os lábios.
- Nem tudo é o que parece. Agora que sua carreira de Modelo e atriz tá decolando, haverá viagens de avião e você se acostuma. – Luane franziu o cenho.
- Não havia pensado nisso. Na verdade, ainda não parei pra pensar em nada disso. É tudo tão... Novo. – ela parecia um pouco perdida.
- Não pense nisso agora. Durma um pouco. – decidi encerrar aquela conversa, porque eu me sentia perturbada.
- Tem razão... Vou dormir.
Dali a três horas e meia chegaríamos, então decidi dormir um pouco também para fugir de meus pensamentos. Eles estavam me deixando louca.
Ao chegarmos no Rio, fomos direto para o hotel. Havia reservado dois quartos. Deixei Luane no seu e segui para o meu, para tomar banho e poder dormir melhor. No dia seguinte, aconteceria a reunião com o empresário dono de uma fortuna em diamantes. Foi marcado um almoço no restaurante do próprio hotel. Aquele seria um bom negócio para a Allen. Ficar encarregada da publicidade e promoção das joias criadas por Mateo. Ele era novo no mercado, o que deixava tudo ainda mais interessante.
- Está tudo bem aí? - perguntei assim que Luane atendeu.
- Sim, sim... Estou muito cansada, mas tá tudo bem... - ouvi seu bocejo.
- Descanse, amanhã será um longo dia. - olhei o relógio. – Ou melhor, daqui a umas horas.
- Tudo bem... Descansa também. Boa noite, chefe... Dorme bem.
- Boa noite, senhorita Luane...
Finalizei a ligação, encarando o celular.
"Dorme bem? Chefe? Que sensação é essa? Por Deus, eu preciso dormir."
- Charlotte... O que te passa? – respirei fundo.
Coloquei o celular sobre o criado mudo, desliguei o abajur e pouco tempo depois, peguei no sono.
Fim do capítulo
os caps estão sendo postados as segundas, quartas e sextas.
saiam da moita...
boa tarde...
agooooooooooora que são elas haha
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