O Celular de Julia começou a tocar. Era Tchaikovsky – a valsa dos flocos de neve do ballet “O Quebra Nozes”, uma das músicas preferidas da ex-bailarina, por mais que Julia não dançasse mais, a sua vida era repleta de referências a dança e já que tinha que acordar tão cedo, então que acordasse com uma música que gostava muito. O seu despertador tocava diariamente 4:45, pois as 5:30 tinha que abrir a padaria.

A jovem se arrumou fez sua higiene matinal, colocou uma calça jeans e a camiseta da padaria, calçou um tênis, arrumou o longo cabelo castanho em um coque e foi para a padaria. O Padeiro já estava lá e as primeiras fornadas já haviam saído e aquele cheiro gostoso de pão quentinho que ela tanto amava invadiu suas narinas. Organizou tudo o que precisava, tomou seu café conversando com o padeiro, vestiu seu avental e 5:30 em ponto levantou as portas da padaria. Não demorou a começar a chegar os clientes uns vindo buscar pães frescos para começar seu dia, outros tomavam café ali mesmo e se dirigiam para o trabalho e alguns jovens que acabaram de sair das boates e bares que haviam naquela região também paravam pra se alimentar antes de retornarem as suas casas. Julia realizava seu trabalho sempre com um sorriso no rosto e era muito atenciosa com os clientes. Hoje em especial ela ficou olhando aquela turma de amigos, na faixa de 20 anos ou no máximo 22 e pensou:

- Eu nunca pude fazer isso! Quantas etapas da minha vida foram perdidas por tudo que me aconteceu?

A jovem não ficava mais triste por isso, só sabia que os contratempos que a vida lhe impôs a roubaram momentos como aquele que qualquer jovem deveria passar... sair se divertir com os amigos, voltar de manhã para casa, dançar numa balada até seus pés não aguentarem mais e chegar em casa com segurança ou sem ter que se preocupar se gastou mais do que podia, pois se o fizesse não teria dinheiro para compra o leite ou o remédio de asma para sua filha.  A vida ou melhor a morte, lhe roubou seus sonhos, mas a nova vida a que foi submetida lhe conferiu novos sonhos e todos eles tinham a ver com sua filha.

Ainda em sua mente vagava este assunto:

-Não adianta achar ruim, somo apenas eu e Clara, enquanto ela for pequena e totalmente dependente de mim, minha vida tem que ser dedicada a ela... quem sabe um dia quando ela for mais velha e nós tivermos em uma condição de vida melhor eu poderei ter momentos para mim novamente... quem sabe...

Julia voltou a seu trabalho e afastou aqueles pensamentos que nada acrescentava, apenas a traziam tristeza por tudo que perdeu e quando começava a se sentir assim sempre pensava que Clara era seu presente que Deus mandou para ela superar tantas dificuldades, pois se não estivesse grávida naquela época provavelmente teria sucumbido a dor e tirado sua própria vida tamanho a consternação que a consumia.

Voltou a se concentrar aos seus afazeres e logo chegou Beatriz, sua amiga que também trabalhava na padaria e Dona Rita a proprietária. Julia voltou para sua Kitnet acordou e arrumou Clara para seu primeiro dia de aula, a menina estava animada, pois estava ansiosa para fazer amigos já que ela não convivia com outras crianças.

A mãe e apequena foram a pé para o cmei que ficava a apenas algumas quadras da padaria. As 7:30 chegaram lá e a primeira pessoa que viram foi a simpática secretaria que a atendeu quando foi fazer a matricula. A mulher foi extremamente educada e levou a aluna nova e sua mãe até a sala de aula onde foram recepcionadas pela professora e estagiária que se mostravam muito amáveis com as crianças. Ao deixar sua pequena para seu primeiro dia de aula, como boa mãe coruja que era fez questão de tirar fotos deste momento tão importante na vida de sua menina. A secretaria a acompanhou até a saída e disse que a mulher não precisava se preocupar, pois ali Clara estaria bem cuidada. Na saída Julia perguntou o nome da secretaria e a moça respondeu:

-Giovana, mas todo mundo me chama só de Gio.

-Um nome lindo para uma moça linda e educada.

A secretaria corou e desviou o olhar. Julia não entendeu aquela postura e pensou: - Ué não se pode mais elogiar as pessoas?

E a secretaria apenas agradeceu.

Se despediram e cada uma seguiu seu caminho.

A criança ficou animada na escola e Julia voltou para a panificadora com o coração apertado, pois era a primeira vez que passaria tantas horas longe da sua pequena.

Quando retornava para a padaria, seu celular que estava no bolso da calça tocou e ela olhou aquele número desconhecido e atendeu:

-Alô.

- Alô, Bom Dia. Eu gostaria de falar com a senhorita Julia Mendes.

-É ela mesma quem está falando.

- Olá Senhorita aqui é da Kramer Advocacia e Contabilidade e gostaríamos de confirmar a sua presença na entrevista de emprego que será hoje à tarde as 13:30. Posso confirmar?

- Sim claro, que maravilha.

- Então, aguardamos a senhorita, apenas chegue na recepção e informe que você participará das entrevistas, que as funcionárias lhe encaminharão para o RH.

-Ok, muito obrigada.

Julia voltou a padaria pulando de alegria contou que sua entrevista seria a tarde e que estava nervosa. Dona Rita e Beatriz tentaram acalmá-la dizendo palavras de apoio e conforto.

Dona Rita a dispensou do trabalho pela manhã, para que ela pudesse se arrumar e dar uma revisada nos conteúdos que poderiam perguntar na entrevista. A jovem não teve condições de almoçar, estava nervosa. Se arrumou com uma das melhores roupas que tinha, vestiu uma saia midi no tom salmão, uma blusa azul marinho com uma estampa floral e casaqueto azul marinho, completou o outfit com um scarpin baixo na cor preta. Fez uma leve maquiagem que valorizava seus olhos verdes, já havia feito uma escova nos cabelos e optou por deixá-los soltos com a franja levemente para o lado direito. Olhou-se no espelho e ficou satisfeita com o resultado. Passou um perfume que havia ganho de natal de Dona Rita, ela não queria aceitar por que era um presente caro, mas Dona Rita fez questão presenteá-la, então agora a jovem candidata a uma vaga de emprego saia de sua Kitnet muito bem arrumada e usando seu Euphoria Forbidden da Calvin Klein.

Antes de ir para a entrevistas passou na padaria para se despedir dos seus amigos, foi recebida com um monte de assovio e ficou tímida e perguntou:

- Gente, vocês acham que eu exagerei? Tá de mais?

Beatriz interveio:

- Claro que não amiga, você está linda, elegante, está com cara de executiva de uma das maiores empresas do país.

Julia fez uma careta dizendo:

- Aí que exagero Bia.

Dona Rita a interrompeu:

-É verdade menina, você está linda, é extremamente inteligente, esforçada e dedicada. Essa vaga já é sua, e se por acaso eles não enxergarem tudo isso que você é, aquela empresa não é boa o suficiente para você.

As palavras de Dona Rita fizeram Julia se emocionar, mas ela não deixou nem uma lágrima cair para não borrar a maquiagem e saiu agradecendo o apoio, hoje em especial ela iria de carro de aplicativo para chegar lá antes do horário e também para não estragar seu look no transporte coletivo.

 

Ao descer do carro na frente daquela suntuosa construção, Julia começou a mentalizar pensamentos positivos.

Seguiu as orientações repassadas pelo telefone e logo encontrava-se no andar do RH onde ocorreria a seleção. Como havia chego meia hora antes, só estava ela e mais uma moça aguardando também nervosa, mas logo foram chegando os outros concorrentes a vaga. Estavam em um total de 10 pessoas o total de 4 mulheres e 6 homens, mas ninguém conversava.

As 13:30 em ponto foram chamados para uma grande sala de reunião onde receberam as informações sobre a seleção que ocorreria em 3 etapas: A primeira seria uma prova de conhecimentos técnicos, que seria realizada online nos ipads dispostos em cima da mesa e desta fase seriam eliminados 4 pessoas; a segunda etapa será uma avaliação de trabalho em grupo para analisar a capacidade dos profissionais em resolverem problemas no coletivo e nesta fase seriam eliminados mais 3 pessoas; a terceira e última etapa seria a entrevista com os proprietários da empresa e eles decidiram quem e quantos seriam contratados.

Após ouvirem todas as instruções a chefe da seleção que também era a coordenadora do RH da empresa e se chamava Cristina Faleiros concluiu dizendo:

- Vocês têm uma hora para resolverem todas as questões. Ao resolverem tudo cliquem em enviar que eu receberei o resultado aqui no meu computador e o sistema automaticamente montara o ranking determinando quem serão os seis que irão para a próxima fase considerando a quantidade de acertos. Alguma dúvida? Nenhuma, então podem começar.

 

Todos os participantes pegaram os ipads a sua frente e começaram a realizar a prova.

A prova estava difícil, mas como Julia havia terminado a faculdade a pouco tempo e estava fazendo pós-graduação, justamente na área de principal atuação da empresa ela não teve muita dificuldade em resolver as questões, pois tudo estava fresco em sua memória e ela consegui concluir tudo em 43 minutos sendo a primeira a terminar a avaliação. Quando clicou em enviar, a chefe do Rh se surpreendeu com a agilidade da jovem ao concluir a atividade, agora bastava o sistema lançar sua nota e comparar com a dos outros participantes.

Quando deu 59 minutos todos já haviam concluído e o sistema já havia lançado a nota dos participantes. Três rapazes e uma moça foram eliminados, Julia continuava na seletiva, respirou aliviada quando viu que tinha passado da primeira etapa.

A senhora Cristina deu 10 minutos para os participantes irem até o banheiro e tomarem uma água, mas quando estavam voltando um rapaz com ar arrogante, que também estava fazendo a prova a interpelou:

-Você acha que uma Barbie mimadinha como você tem chances aqui nesta empresa?

Julia o olhou sem entender tamanha hostilidade, mas o rapaz continuo:

- Desde quando mulheres entendem de contabilidade e de números? Esta é uma área para os homens, agora volta pra casa e vai esfriar a barriga numa pia de louça ou no tanque vai.

Julia odiou a postura daquele homem nojento e machista, por isso não se permitiu ficar por baixo, o olhou o nome do rapaz no crachá que ele usava e depois levantou a cabeça para olhar bem nos olhos dele e disse:

- Carlos o seu nome né? Então Carluxo, eu passei na prova com êxito, fui a primeira a terminar e você que terminou no limite dos 59 minutos? Então fica aí sendo um babaca enquanto assiste eu ficar com essa vaga.

Virou de costas e saiu, enquanto o rapaz ficou vermelho de raiva e olhando-a voltar para a sala da seleção.

Julia, sabia que a intenção do rapaz era apenas desestabilizá-la emocionalmente, por que ele se sentiu ameaçado por ela, mas isso não a impediu de voltar a sala tremendo de raiva daquele cara, sentou-se no seu lugar e começou a recitar o ho’ponopono para se acalmar voltar a se concentrar.

Quando todos voltaram, Cristina começou a orientação sobre a nova atividade.

-Vocês agora realizarão uma dinâmica de grupo. Vocês receberão uma lista de atividade a serem desenvolvidas e precisam realizar todas dentro de uma hora e trinta minutos.  Lembrem-se o trabalho é em grupo. A lista está dentro daquela caixa, quando a pegarem, começarei a contar o tempo.

O grupo de 6 pessoas que estavam na sala se aproximou da caixa, o cara babaca chamado Carlos empurrou o colega para pegar a lista primeiro e começou a ler a lista, porém não compartilhava com os outros o que estava escrito.

Julia falou em alto em bom tom para todos ouvirem:

-Colega, esta atividade é em grupo então todos devemos saber o que fazer, como você pegou a lista e está com ela nas mãos, então que tal ler em voz alta para todos juntos buscarmos as soluções?

Carlos a olhou com raiva, mas sabendo que estava sendo observado apenas respondeu:

- Claro colega, vou ler para todos ouvirem.

E assim a atividade desenrolou de forma tranquila, ou mais ou menos tranquila, pois era obvio que toda vez que Julia ia expor uma ideia ou sugestão para solução de problema Carlos a interrompia tentando anula-la, até que ela já sem paciência, mas demonstrando uma calma inabalável falou:

-Colega Carlos, quando uma pessoa fala o senhor não deve interromper, pois devemos ouvir as ideias de todos. Eu proponho que quem quiser falar tenha que levantar a mão e assim conseguiremos manter uma ordem de quem levantou a mão primeiro. O que o resto do grupo acha?

Todos concordaram e Carlos mais uma vez teve que se calar frente a Julia.

O Homem era um embuste, mas não dava pra negar que ele era ágil e inteligente para resolver os problemas.

Ao final desta etapa a chefe do RH indicou os três nomes que iriam para a entrevista com os donos da empresa: Carlos Souza, Julia Mendes e Tamara Santos. A recrutadora agradeceu a presença de todos que haviam sido dispensados e falou para eles não deixarem de participar de uma próxima seletiva quando abrirem novas vagas.

Cristina levou o grupo até o último andar do prédio onde ficava a sala da diretoria e indicou que eles esperassem no hall de entrada dos escritórios. Entrou na sala, conversou com Victoria e Vinicius, entregou para cada um uma cópia dos resultados avaliativos dos 3 selecionados que aguardavam lá fora e Victoria não pode deixar de sorrir ao ver o nome Julia Mendes entre os selecionados, lembrou-se da moça bonita e assustada que se chocou contra sua secretaria na semana anterior. Os proprietários da empresa conversaram um pouco sobre os pré-selecionados e resolveram chamá-los por ordem alfabética. O primeiro a ser entrevistado foi Carlos, sua entrevista não durou mais do que quinze minutos e o rapaz saiu da sala com um ar de satisfação.

Logo chamaram Julia. A jovem respirou fundo, levantou-se e a caminho da sala repetiu: Deus me ilumine me guia e me proteja!

Quando entrou na sala teve um choque ao encontrar aquela mulher deslumbrante que tinha feito se arrepiar na semana passada, ela parecia ainda mais bonita do que se lembrava.

 Victoria estava em pé ao lado da janela tomando uma xicara de café, linda e poderosa, as duas ficaram se olhando por um tempo que pareceu interminável, até que Cristina interrompeu aquele contato visual convidando a candidata para sentar na poltrona a frente da mesa dos irmãos Kramer. Julia caminhou até o local destinado a ela enquanto, Victoria retornava a sua cadeira. Victor foi o primeiro a falar:

- Olá Julia, seja bem-vinda a nossa empresa. Eu sou Vinicius Kramer advogado e esta é Victoria Kramer, minha irmã e responsável pela contabilidade, inclusive se for aprovada nesta seleção é com ela que você irá trabalhar.

Ao ouvir isso Julia sentiu um frio na barriga, pois como seria ter aquele olhar cor de mel todos os dias a olhando? Só aqueles minutos já tinha passado juntas a deixavam incomodada. Estava estranhando seus próprios pensamentos, mas deduziu que era uma pré admiração por ali na sua frente vislumbrar um arquétipo da mulher executiva que pretenderia se tornar um dia.

Victoria assumiu a fala e sem tirar os olhos da jovem falou em um tom firme:

- Então Julia, observamos seu currículo você é uma pessoa muito jovem, mas vimos que teve ótimas notas na faculdade e já está fazendo especialização em auditoria que é justamente a área que atendemos aqui, vimos também que você foi muito bem nos testes da seletiva obtendo a maior nota de todos os concorrentes nas provas, mas agora nós gostaríamos de saber de você, por que devemos contratar a senhorita para a nossa empresa, de que forma pode contribuir conosco?

Julia estava um pouco intimidada por aquele olhar penetrante, mas respirou fundo e começou a responder.

- Primeiramente obrigada pela a oportunidade de estar aqui hoje e saibam que mesmo que eu não seja a pessoa escolhida nesta seletiva eu já levo uma grande experiência adquirida aqui tamanho o profissionalismo e seriedade de todo o processo. Em relação a minha contribuição, eu acredito que nós devemos ser sujeitos de transformação aonde formos ou no que fazemos, tenho certeza que ser contratada para trabalhar nesta empresa transformará a minha vida em diversos aspectos econômico, profissional e social, mas também tenho certeza que ao me contratarem trabalharei arduamente para transformarmos esta empresa que hoje está entre as grandes do sul e colocá-la como a grande empresa de auditoria do país e por que não do mundo? Tenha certeza senhora e senhor Kramer que eu não medirei esforços para isso. Sou jovem pretendo continuar estudando e me especializando para cada vez poder realizar um trabalho melhor. Falo inglês e arranho no francês o que com certeza ajudará em futuros contratos internacionais e o mais importante é que não tenho medo de trabalho duro e não é qualquer coisa que me assusta, então se me contratarem com certeza trabalharei com dedicação integral a empresa.

Victoria sorriu por dentro, havia gostado da garota, não só pela beleza singular, mas ela se mostrou uma jovem inteligente, sagaz e aparentemente muito dedicada.

Os irmãos se olharam, mas Victoria completou:

-Fale nós um pouquinho da sua vida pessoal.

Victor estranhou a pergunta, pois normalmente isto não interessava na seleção de emprego, mas não quis interromper a irmã.

Julia estranhou a pergunta, mas respondeu:

-Eu tenho 22 anos como você podem ter observado na ficha, terminei a graduação no meio do ano, já iniciei logo a especialização. Meus pais faleceram e eu não tenho irmãos, nem parentes. Sou apenas eu.

Victoria estranhou aquilo e não se aguentou e perguntou:

- Não tem ninguém mesmo?

- Não.

  Respondeu a jovem.

-Nem um namorado, um marido?

Julia franziu a testa e respondeu.

-Não.

-Ok então. – Disse Victoria – Senhorita Julia aguarde no hall de entrada que temo que realizar a entrevista com a terceira candidata e logo após chamaremos os três juntos para dar o nosso parecer.

Julia agradeceu e se retirou sobre o olhar atento de Victoria que a devorava com os olhos.

-Vic? Vic? – Vinicius falava, mas a irmã não respondia de tão vidrada que estava em Julia.

Então Victoria sentiu algo atingindo sua cara era um lenço de pano do irmão e ralhou com ele na mesma hora:

- O que foi Vini?

- Tô te emprestando um lenço pra você limpar essa baba que está escorrendo aí... – disse apontando para o queixo da irmã e gargalhando.

-Para de ser besta. – Arremessou o lenço novamente para o irmão, mas completou.

-A menina é bonita inteligente só isso, fiquei surpresa por ela ser tão jovem e não ter ninguém, triste isso né?

Realmente ouvir aquilo de Julia mexeu com Victoria, como se Julia precisasse de proteção.

O irmão então respondeu:

- Triste mesmo, mas veja você... você é uma velha solteirona, mas pelo menos tem seu irmãozão aqui pra te azucrinar.

-Aaaa vai se fu... Vinicius. Eu sou só 5 minutos mais velha que vc... e quer saber? Vamos terminar logo essas entrevistas por que já estou cansada

Cristina então chamou a terceira candidata.

 

No hall de entrada Carlos e Julia aguardavam o resultado da seletiva, os dois estavam apreensivos, 15 minutos depois Tamara saiu e também ficou aguardando no hall enquanto os irmãos e a chefe de RH provavelmente conversavam definindo o caminho de suas vidas. Então após 10 minutos foram chamados novamente.

Ao entrarem os três candidatos sentaram nas poltronas a frente e ouviram de Vitoria:

- Nós ficamos impressionados, com a capacidade de resolução de problemas dos três candidatos tanto que se tornou impossível escolher apenas um, então decidimos dar a oportunidade para os três trabalharem aqui durante o tempo de experiência de 3 meses, após este tempo resolveremos se vocês se adaptaram ou não a rotina da empresa.

Os três candidatos abriram um grande sorriso e respiraram aliviados, mas Victoria completou.

-Soubemos que houve uma desavença na atividade de resolução de problemas coletivos entre Julia e Carlos, espero que isso não se repita em nossa rotina de trabalho. Agora vocês podem passar no RH junto a Cristina e assinarem seus contratos, entreguem suas carteiras de trabalho para fazermos os registros, amanhã vocês farão os exames de saúde admissionais nos locais indicados e na quarta feira começam a trabalhar. Sejam bem-vindos a Kramer Advocacia e Contabilidade, que nossa parceria possa render bons frutos.

Vinicius cumprimentou os novos contratados e logo Victoria fez a mesma coisa, mas quando tocou a mão de Julia as duas sentiram um choque, um arrepio se olharam nos olhos e por algum motivo que nenhuma das duas soube responder aquele toque de mão durou mais do que o necessário e as duas ficaram se olhando como se estivessem se reconhecendo.

Vinicius pigarreou ao lado da irmã que como se acordasse de um transe desfez o contato, e voltou-se para Cristina dando algumas ordens a funcionária.

Quando todos saíram da sala Vinicius olhou para irmã e perguntou:

-Vic o que foi aquilo?

-Aquilo o que Vini?

- Você e aquela moça Julia? Aquele aperto de mão que não acabava nunca... e aquela troca de olhares? Hummm gostou da menina né?

- Aihnn não foi nada, tá louco?

-Victoria Kramer olha lá o que você vai aprontar, não que receber processo por assédio da nova funcionária, você sabe a regra “onde se ganha o pão, não se come a carne”.

Julia revirou os olhos para o irmão, bufou e respondeu:

- Deixa de besteira e vamos trabalhar que ainda tenho que encerrar uns relatórios antes de poder goz*r do meu merecido descanso.

 

Vinicius ficou observando sua irmã fugir da conversa e pensou: - Vai rolar muita água embaixo dessa ponte ainda. E então se dirigiu para sua sala.

 

Victoria voltou para sua sala e foi direto ao banheiro, queria jogar uma agua no pulso e no pescoço para desfazer aquele torpor que a tomou, estava com uma sensação estranha, nunca tinha ficado assim na presença de uma pessoa que mal conhecia. Com certeza não foi por causa dela – a mulher pensou – deve ter baixado minha pressão, é com certeza foi isso.

Sentou-se em sua cadeira e ficou lá por mais meia hora, sem fazer nada apenas pensando no que havia acontecido. Resolveu então ir embora, já que não conseguiria fazer mais nada naquele dia, desceu para a garagem subterrânea onde estava estacionado seu Porsche Cayenne.

Ao sair com o carro da garagem, Victoria viu Julia sentada no ponto de ônibus, trocando seus scarpins por um tênis, achou aquilo engraçado, pois poucas mulheres desfariam seu look bem montado para colocar um tênis e se sentir mais confortável para pegar o ônibus. Passou devagar para ficar olhando a jovem, viu que ela olhou para o carro, mas devido ao insulfilm escuro que havia nos vidros era impossível ver quem estava dentro do carro, então Victoria seguiu seu caminho sorrindo da cena que viu.

 

Julia após ir ao RH, ficou sabendo o quanto ganharia e quais benefícios a empresa ofertava, e além do salário que já era maior do que ela esperava, também receberia auxilio transporte, meia bolsa de estudo para qualquer graduação ou especialização que quisesse fazer e também vale refeição. A jovem saiu dando pulos de alegria da sua nova empresa, parou no ponto de ônibus trocou seus sapatos pelo tênis para ir embora a pé, pois como ainda levaria um mês para receber seu primeiro salário achou por bem que era melhor economizar o dinheiro da passagem, ainda mais que havia gasto todas suas economias com os remédios de alergia de sua filha.

Foi caminhando até a escola de Clara e chegou lá quando sinal estava batendo, ficou no portão esperando até que abrisse para que os responsáveis pudessem buscar as crianças nas salas.

Logo na entrada encontrou Giovana que a olhou e sorriu dizendo:

- Gostei do modelito, saia chique e tênis.

As duas riram do comentário, mas Julia explicou:

-É difícil vir caminhando do meu trabalho até aqui usando saltos, então troco para poder andar com mais tranquilidade nessas calçadas esburacadas e cheias de pedra sapo de Curitiba.

- Pedras sapos?

A jovem riu e respondeu:

- É assim que chamo aquelas pedras soltas que acumulam água embaixo e quando você pisa elas espirram em você.

As duas riram da definição, pois era um saco mesmo quando pisavam nestas pedras.

-A entendi você tem razão, mas sobre o modelito, você fica linda de qualquer jeito.

Julia corou com o comentário e apenas agradeceu e se despediu dizendo que precisa ir buscar sua pequena. Se despediu da secretaria e foi até a sala de Clara, chegando lá sua pequena já a esperava com a mochilinha nas costas e quando viu a mãe disparou correndo para abraça-la:

-Mamãe, mamãe a escola é muito legal, mas eu estava com tanta saudades.

-É meu amor? Eu também estava com saudades, mas agora teremos que nos acostumar com isso, sabe por que?

A criança olhou para ela sem entender, fazendo um carinha de interrogação e a mãe respondeu:

-Por que a mamãe arrumou um emprego.

A pequena deu um gritinho de felicidade e pulou no colo da mãe.

A professora olhava a interação das duas e disse:

- Sua filha é maravilhosa, parabéns pela criação que está dando a ela e parabéns também pelo emprego sei como está difícil o mercado por aí hoje.

Julia conversou mais um pouco com a professora de sua filha e depois foram embora caminhando. Julia estava ansiosa para contar para Dona Rita e para Beatriz que tinha conseguindo um emprego, pois agora sim era certeza que sua vida andaria para frente. Chegando na padaria comemoraram a contratação da jovem contadora em meio a muita alegria, pão de queijo e cappuccino.

 

Fim do capítulo