Capitulo 48
Diálogo com os Espíritos -- Capítulo 48
Osvaldo ficou indignado com a frieza do rapaz.
-- Você é insensível e cruel -- o pai de Fernanda esbravejou.
-- Você é muito esquentadinho. Estava apenas brincando -- Cléo revelou, empinando o nariz -- Se você não tem dinheiro, tenha pelo menos bom humor. Porque pobre mal humorado, ninguém aguenta.
Osvaldo sustentou o olhar, mas, quando ele abriu a boca para falar algo, ouviu o chamado da recepcionista:
-- Senhor, Osvaldo. Pode entrar.
A realidade abateu-se sobre Osvaldo como um balde de água fria. Ele olhou para ela e depois para Cléo.
-- Vamos entrar.
-- Já está calminho, irmão?
-- Falaremos sobre isso em outra ocasião.
Osvaldo estava preocupado demais para pensar em outra coisa que não fosse a conversa com o médico.
A Assistente Social apontou para uma cadeira do lado oposto da pequena mesa de mogno junto a qual Fernanda e uma pedagoga estavam sentadas.
-- Sente-se, por favor -- ela esperou que Alicia se acomodasse antes de sentar-se na outra cadeira.
-- Obrigada! -- Alicia aparentava calma, mas na verdade suas mãos tremiam.
-- Fernanda me contou que você quer fazer uma denuncia de maus tratos a uma criança.
-- Sim, a Milena. Ela mora com o pai em Niterói.
-- E a mãe?
-- Morreu em um acidente de carro.
-- Hum, tadinha! -- a Assistente Social a encarou -- Você invadiu a casa do pai da criança? Sabe que isso é crime, não é mesmo?
-- Isso não vem ao caso. Estou aqui porque acredito que a menina esteja sofrendo maus-tratos e não para ser investigada.
-- Invadiu ou não invadiu?
Alicia começou a se irritar com todas aquelas perguntas. Sim, ela estivera na casa de Jean. Invadiu a casa, o quarto, mas foi necessário.
-- Invadi -- Sua voz soou baixa.
-- E o que aconteceu?
Alicia prendeu a respiração ao ver a maneira irritada como ela fazia as perguntas.
-- Encontrei a menina trancada em um dos quarto -- respondeu quase num murmúrio.
A Assistente Social enrijeceu o corpo para melhor observar Alicia.
-- Você é médica?
-- Sim, ortopedista.
-- Entendo -- seu olhar a examinava da cabeça aos pés -- Você pode nos falar sobre o pai da menina, não?
-- Claro -- Alicia se levantou, enfiou as mãos nos bolsos da calça e começou a contar para aquelas pessoas tudo o que precisava ser dito, em meio a um profundo silêncio. Perto do fim de sua narrativa, a Assistente social perguntou:
-- Você tem vínculos genéticos ou por afinidade com a Milena?
-- Vínculo por afinidade -- Alicia concordou, com receio que a revelação causasse algum problema -- Eu era casada com a mãe dela.
A Assistente Social ergueu as sobrancelhas em interrogação.
-- Casada?
-- Francamente, Fátima! -- interferiu Fernanda -- Nós não precisamos de um interrogatório. O principal é que a criança fique em segurança, não interessa se a doutora era casada ou não com a mãe da Milena -- ela se virou para a pedagoga disfarçando a irritação -- Vamos levar o caso ao Ministério Público.
Alicia estava extremamente grata por essa inesperada intervenção de Fernanda. A atitude de apoio da psicóloga dava-lhe forças para continuar.
-- Além dos hematomas, existe mais alguma coisa que possamos incluir na notificação? A marca no braço da menina pode não significar que ela esteja sendo maltratada -- a Assistente Social parecia enxergar segundas intenções na denúncia de Alicia.
-- Ah, não? -- Alicia ironizou -- Você acha que pode ter sido um carinho?
-- O que estou querendo dizer -- continuou Fátima -- É que esse pai pode ter machucado a menina em um momento de descuido, usado de força excessiva quando a pegou no colo, sei lá. Ele poderá alegar qualquer coisa.
-- Sim. Ele é do tipo que faria isso -- Alicia, sentou-se, passando as mãos pelos cabelos loiros; não parecia mais tão confiante como antes. Olhou para Fernanda um pouco decepcionada. A psicóloga sorriu para ela, com amabilidade, mas sem muita empolgação.
Fátima suspirou, enfastiada, e passou as mãos pelos cabelos, parecendo mais compreensiva. Depois, disse:
-- Quero que entenda que estou dizendo isso por anos de experiência nesta profissão. Nesses casos os pais costumam inventar as mais diversas histórias, algumas bem esdrúxulas, mas que devido a falta de provas, o Ministério Público, não tem muito o que fazer.
Alicia parecia chocada. Depois de hesitar, disse:
-- O que vocês fazem nesse caso?
-- Sempre que o Conselho Tutelar recebe a notícia da prática, em tese, de crime contra criança ou adolescente, levamos o caso imediatamente ao Ministério Público. Eles se prontificam a aplicar, desde logo, medidas de proteção à criança, bem como realizar um trabalho de orientação aos seus pais ou responsável.
-- Vocês não avaliarão o caso?
-- A avaliação acerca da efetiva caracterização ou não do crime cabe ao Ministério Público, após a devida investigação do fato pela autoridade policial. A propósito, o Conselho Tutelar não é órgão de segurança pública, e não nos cabe a realização do trabalho de investigação policial, substituindo o papel da polícia judiciária (polícia civil). O que podemos fazer é nos prontificar a auxiliar a autoridade policial no acionamento de nossos serviços como psicólogos, assistentes sociais e pedagogos. Inclusive para evitar a "revitimização" da criança, quando da coleta de provas sobre o ocorrido. Atuamos sempre sob a coordenação da autoridade policial (ou do Ministério Público), inclusive para evitar prejuízos na coleta de provas.
Alicia deu um sorriso leve e estendeu as mãos num gesto de alívio.
-- Fico bem mais tranquila em saber que vocês levarão o caso adiante. Estou muito preocupada com a Milena.
-- Mas, não se anime muito -- Fatima falava com uma sinceridade que chegava a doer -- Vale lembrar que, em casos como esse, é preciso proceder com extrema cautela, diligência e profissionalismo, de modo a, de um lado, responsabilizar o agente e, de outro, proteger a vítima.
Fernanda olhou para a tela do computador e começou a digitar.
-- Vou preencher a notificação. Quanto mais cedo estabelecermos um "protocolo" de atendimento interinstitucional e definirmos as responsabilidades de cada um, mais rapidamente o fato será apurado e a Milena receberá o atendimento que se fizer necessário.
-- Sente-se melhor, irmão?
Osvaldo se encostou na parede e olhou sério para ele.
-- Sim, estou bem melhor agora. Depois que o médico disse que esse tipo de câncer é tratável e que tem alto índice de cura, parece que tirei um caminhão de cima dos ombros.
-- Eu disse para você não se desesperar. Na maioria das vezes transformamos um copo d'água em tempestade. Devemos equacionar os problemas e dimensioná-los de acordo com a escala que eles realmente têm.
-- Sábias palavras, meu rapaz?
Cléo foi até a porta do quarto e voltou
-- Algum tempo atrás estava em uma banheira cheia de espumas. Soltei um pum e formou-se várias bolinhas. O meu namorado entrou no banheiro bem naquele instante e, viu as bolinhas. Entrei em desespero, pensei até em mergulhar e só sair da água quando estivesse roxo. Achei que ele fosse me achar um mau educado, um porcalhão.
Osvaldo cruzou os braços sobre o peito e o encarou.
-- O que essa imoralidade tem a ver com a minha preocupação exagerada?
-- Tudo a ver. O meu namorado olhou para as bolinhas e disse: Que coisinha linda, amor. Você fez para mim? -- Cléo fez um coração com as mãos -- Viu como não vale a pena sofrer por antecipação!
Osvaldo deu um profundo suspiro, balançou a cabeça de um lado para o outro, depois, sentou-se na beira da cama.
-- Eu gosto de você e vou ajudá-lo a se curar.
-- Mas, eu não estou gripado!
-- Quero que se cure dessa maldição que carrega com você. Entendeu?
-- Ah! OVNI, não se preocupe, eu entendi o que você quis dizer -- Cléo se sentou ao lado dele na cama -- Pelo jeito você não aprendeu nada com a sua doença, não é mesmo? Não ficamos doentes por acaso, mas a doença física possibilita o exercício do autoconhecimento, para revermos o nosso jeito de viver a vida e promovermos mudanças em nossas atitudes, especialmente aquelas que machucam o próximo -- o rapaz, riu e se ergueu -- Mas, mesmo você sendo um doente homofóbico, é sempre bom conversar. Bem, agora vou levar o Yuki para passear.
Osvaldo foi atrás dele.
-- Deitar-se na mesma cama que uma pessoa do mesmo sex* é pecado.
-- Amar não é pecado, OVNI. Pecado é excitar a pessoa, e não terminar o trabalho -- respondeu o rapaz enquanto atravessava a sala -- Agora, por favor. Vá para o quarto!
-- Fazer o que?
-- Pentear o saco, tirar ranho do nariz, se masturbar. Sei lá!
Tomado de irritação Osvaldo esbravejou:
-- Tudo para você gira em torno de sex*.
-- Claro! A gente tem que aproveitar enquanto pode, porque um dia você é jovem, e no outro você está tendo câimbra durante o sex* -- Cléo examinou Osvaldo de alto a baixo, com uma expressão de desdém -- Você tem jeito de quem só trabalha, chora, paga boleto, tenta emagrecer e tem dor nas costas.
-- Você é um depravado.
Cléo sacudiu os ombros e virou-se para sair. Porém, algo chamou a sua atenção.
-- O celular da falecida!
Osvaldo parou ao seu lado e olhou para o aparelho que ele segurava.
-- Você escutou o que a doutora disse: "Ele deve estar com algum problema, está há horas na tomada e ainda não ganhou carga. Não mexa nele. Ouviu?"
Cléo olhou para o aparelho.
-- Não carregou nada. Estive pensando. Digamos que eu abra e consiga consertar?
-- Digamos que você abra e destrua o celular? -- indagou Osvaldo
-- E se tiver uma conversa entre a falecida e o Jean? -- esse pensamento causou-lhe urticárias por todo o corpo. Ele colocou o celular sobre a mesinha de centro e sentou-se no tapete felpudo.
-- A doutora vai te jogar pela janela. Depois não diga que não avisei -- dito isso, Osvaldo deu a volta e saiu rapidamente da sala.
"Aquele aparelho pode ser uma prova importante contra o Jean".
Estas últimas palavras ditas por Alicia foram as únicas que lhe ficaram na cabeça, as únicas que conseguiu guardar.
-- Vou abrir o aparelho. Acho que vai dar merd*, mas vou tentar só para ter certeza.
Passava das onze quando Alicia e Fernanda chegaram em casa. Fernanda tirou os sapatos e foi para o quarto a fim de tomar um banho para se refrescar, enquanto Alicia foi ver se o celular de Thais havia carregado.
-- Que droga! Nem um pauzinho -- sentou-se, desanimada, no sofá e apoiou a cabeça numa almofada. Foi assim que Fernanda a encontrou.
-- O que foi amor? -- Fernanda sentou-se ao lado dela no sofá.
-- O celular está estragado.
A psicóloga franziu as sobrancelhas e dirigindo o olhar para ela, indagou:
-- Já tentou trocar a bateria?
Alicia fez um gesto positivo com a cabeça.
-- Acabei de fazer isso. Não deu certo.
-- O que você vai fazer agora?
Alicia apoiou a cabeça no ombro de Fernanda.
-- Vou levar até uma assistência técnica. Talvez eles consigam consertar -- ela soltou um longo suspiro -- Antes ele dava um sinal de vida. Até acendia uma luzinha. Agora, apagou completamente.
Fernanda fez um carinho em seu rosto, forçando-a a erguer o queixo.
-- Não se preocupe, amor. Tenho certeza de que vai dar tudo certo. Você me ensinou que nunca devemos desanimar, então, não me decepcione.
Olhando nos olhos dela, a expressão do rosto de Alicia mudou.
-- Você é o meu porto seguro -- sussurrou ela. E a beijou.
Cléo Fechou a porta do quarto e fitou Osvaldo demoradamente.
-- Elas estão conversando lá na sala -- o olhar luminoso expressando ansiedade.
-- E daí? É normal as pessoas conversarem -- o pai de Fernanda se encostou na cômoda e olhou desconfiado para ele -- O que foi que você aprontou agora?
Cléo ergueu os ombros e nada falou, limitando-se apenas a olhar para a mão fechada.
-- O que você tem aí na mão?
-- Dedos.
-- Não se faça de bobo. O que você está segurando?
-- Nada.
-- Me mostra, vamos! -- Osvaldo avançou sobre ele e obrigou-o a abrir a mão -- O que é isso?
Cléo segurava uma pequena pecinha preta.
-- Uma parte insignificante do celular -- ele percebeu que Osvaldo o encarava alarmado -- O que foi? Não tenho culpa se sobrou uma peça na hora que montei de volta.
Créditos:
https://www.childfundbrasil.org.br/blog/3-formas-de-denunciar-a-violencia-e-abuso-infantil/
https://www.facebook.com/vandinhacontos
Fim do capítulo
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jakerj2709
Em: 04/02/2020
Olá querida autora quanto tempo não comento ,mas quero que saiba que nunca te abandonei amo suas histórias,bom Vandinha acho que está na hora da doutora, pedir ajuda as meninas , concordo plenamente com nossa amiga NOVAAQUI, rsrsrs Natascha ia invadir a casa vestida de Mulheres de preto ,enquanto Alex ia tentar resgatar com uns amigos da federal lembra que ela sempre ajudava o delegado com generosas contribuições...rapidinho ela ia desvendar o assassinato da ThaÃs,apesar de achar que a médica que tem obsessão por ela tem algo com o crime...Mais uma vez obrigada por nos presentear com mais uma história ...sua fã número um Jake
Resposta do autor:
Olá minha querida.
Que saudade!
Infelizmente a Alexandra e a Natasha estão curtindo umas belas férias na Ilha do Falcão e não poderão ajudar a nossa amiga Alicia. Mas, uma outra parceira vai surgir para se unir à ela.
Quem será?
Quem viver virá!
Beijos. Apareça.
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HelOliveira
Em: 03/02/2020
Cleo tinha certeza que ia dá M....e ainda mexeu mesmo assim no celular....o.que fazer com essa criatura que faz graça e raiva ao mesmo tempo..kkk
Acho que eu concordo com a colega Alexandra e Cia resolvo isso, pq essa conversa com o conselho tutelar já desanimou.
Até o próximo
Resposta do autor:
Olá HelOliveira!
Infelizmente a Alexandra e a Natasha estão curtindo umas belas férias na Ilha do Falcão e não poderão ajudar a nossa amiga Alicia. Mas, uma outra parceira vai surgir para se unir à ela.
No próximo capítulo vamos descobrir quem é.
Cléo está cada vez mais chato e metido. Porque será?
Beijão garota. Até mais!
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NovaAqui
Em: 03/02/2020
Será que o ministério público vai se manifestar e seguir com as investigações? Tomara que sim, mas o meu achismo, acho que não. Eles não vão fazer nada e provavelmente a doutora mediúnica ( me lembrou Bruninha e aquela turma louca kkkkk) vá invadir a casa do pai louco novamente. Teremos emoção.
Acho que a Alicia deveria chamar Alexandra, Natasha e Bruna para ajudá-la, essa assistente social só colocou areia. Com essas três aí rapidinho o pai iria em cana, Alícia iria ter o nome na certidão de nascimento de Milena e Thaís iria descansar kkkkk viajei, né Vandinha? Kkkkkk 🥰â¤ï¸
Nem doente o OVNI não para de se achar o sono da verdade? Cléo será a salvação desse homem.
Ansiosa para ver a doutora e Fernanda jogando Cléo pela janela kkkkk Osvaldo falou para ele não mexer no celular. Viado duzinferno 🤦
Abraços fraternos procês aí!😘
Resposta do autor:
Olá NovaAqui!
Infelizmente a Alexandra e a Natasha estão curtindo umas belas férias na Ilha do Falcão e não poderão ajudar a nossa amiga Alicia. Mas, uma outra parceira vai surgir para se unir à ela.
Então, em partes você acertou.
O Cléo está cada vez pior, deixa a docteur descobrir que foi ele quem mexeu no celular.
Beijão. Até mais!
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Mille
Em: 03/02/2020
Kkkkkkk
Vandinha como você deixa o Cléo mexer no celular.
Alicia vai ficar braba quando souber.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille!
E você achou que ele não fosse mexer?
O Cléo é a criatura mais curiosa e metida do mundo. O sujeito chega a ter urticárias.
Beijão. Até mais!
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