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  • A ORDEM DO LABRYS: CRÔNICAS DA HERDEIRA (AEL VOL II)
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A ORDEM DO LABRYS: CRÔNICAS DA HERDEIRA (AEL VOL II) por Jules_Lucena

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Palavras: 7326
Acessos: 495   |  Postado em: 02/02/2020

Notas iniciais:

Boa noite gente.

Ainda conseguindo manter nosso dia. Ufa!
Espero sinceramente que estejam curtindo os novos caminhos que estou seguindo e realmente é bastante importante para mim saber o que tem achado.
Sei que a dificuldade com a mudança dos nomes ainda continuam, mas logo passará.

Uma ótima leitura!

Capitulo 3 - A Horda das Crianças Esquecidas

O som do motor da moto ecoava por entre os corredores do antigo estacionamento do complexo esportivo que estava abandonado. Desceram duas rampas e todo o sinal de vida que Siggy conseguia ver era de alguns cães e gatos de rua que corriam e buscavam esconderijo. Ele não conseguia compreender o que haviam ido fazer ali e além disso, a dor em seu peito e o avançar das horas lhe lembravam que já deveria estar na cama há muito tempo.

Manu freou suavemente, mas ainda não desceu da moto, olhando para todos os lados como se procurasse por algo. Só então retirou o capacete e um silvo baixo e estridente foi ouvido. A garota sorriu e repetiu aquele som levando dois dedos aos lábios assoviando. Siggy desceu da garupa com dificuldade devido a dor que sentia e assim que Manu desligou o farol, o vazio daquele recinto deu lugar a pequenas figuras que saiam de cada buraco possível.

- São... Crianças... – O rapaz sussurrou e Manu sorriu para ele e foi em direção a elas. Logo a garota estava cercada por uma pequena horda de crianças maltrapilhas que a festejavam.

- Você voltou! – Uma voz se sobressaiu sobre as demais. Era uma menina um pouco maior que a maioria e que carregava um bebê nos braços.

- Oi Sid. – Manu disse assim que se ergueu do meio das crianças que a festejavam. – Eu disse que voltaria não foi? – Caminhou até a menina e gentilmente afastou uma mecha de cabelo negro do rosto assustado dela. – E eu trouxe algo para ajudar vocês. – Disse isso já sacando da mochila o envelope pardo amaçado que continha o prêmio ganho na luta.

- Então foi para isso que você precisava do dinheiro... – Siggy se aproximou e a menina recuou assustada.

- Tudo bem. Ele é meu amigo. – Manu deteve a menina. – Ele é legal. – Piscou um dos olhos para ela. – Siggy, essa é a Sidney. – A menina o olhou ainda desconfiada. – E esse aqui é o Remy. – Apresentou o bebezinho que a menina carregava e esse abriu um largo sorriso inocente e jogou-se nos braços de Manu.

- Nossa Manu... Tem muita grana aqui. – Sid assustou-se assim que abriu envelope. – Não podemos aceitar tudo isso. – Tentou devolver o dinheiro.

- Ei Sid... Essa é apenas uma pequena ajuda. A minha contribuição para a Horda das Crianças Esquecidas. – E piscou um dos olhos para ela. Siggy observava toda a cena e naquele instante não teve certeza se sua amiga estava usando seus poderes para dissuadir a menina ou apenas valendo-se de seu charme.

- Eh... Acho que esse dinheiro vai dar para comermos por uns dias. – Sid sorriu e todas as outras oito crianças festejaram.

Eram um grupo de cinco meninas e três meninos, com idades que variavam desde o pequeno bebê de colo até aquela que parecia ser a líder deles, que tinha pouco mais de onze anos.

Pouco tempo depois uma pilha de pizzas foi entregue por um assustado jovem que não conseguia compreender como havia chegado até lá, mas retornou com uma gorda gorjeta.

- Vamos Z! Pergunte! – Manu disse ainda com a boca cheia de pizza de peperonni. O rapaz a encarou por alguns instantes e voltou sua atenção para o grupo de crianças que se empanturravam de pizza e refrigerante.

- Como? Quer dizer... – Não encontrou as melhores palavras e apenas indicou aquela inusitada situação.

- Eu vi a Sid pedindo dinheiro em um sinal... Ha algumas semanas. Quando eu... Dei uma de minhas saídas a noite. – Olhou sugestivamente para o amigo.

- Ah sim... A “vigilante noturna”. – O rapaz gesticulou as aspas e recebeu uma careta de volta.

- Bom... A vi roubando um casal de turistas e a persegui até que cheguei aqui e a encontrei distribuindo a comida que havia comprado com o dinheiro do roubo. E então vi o Remy chorando num canto. Dentro de uma caixa velha. – Baixou a cabeça.

- Espera um instante... O garotinho é filho dela? – Questionou em tom de cochicho.

- Claro que não! A Sidney tem apenas onze anos. – Respondeu abruptamente.

- Eu achei o Remy ao lado da mãe dele... Num beco de Montmartre. – A garota se aproximou sem ser percebida, sobressaltando os dois. – Ele estava ao lado do corpo da mãe dele. – A menina baixou a cabeça. – Acho que foi uma overdose. – O rapaz se compadeceu com aquela narrativa e percebeu que não tinha dimensão alguma dos terrores que ocorriam na sociedade em que vivia nem tão pouco dos males que aquela menina já havia passado.

- Então você o pegou? – Ele inqueriu.

- Lógico né! Você queria que eu deixasse lá para morrer? – A menina explodiu.

- Calma Sid. – Manu tentou tranquiliza-la. Já conhecia um pouco aquela garota e sabia o quanto ela era birrenta e agressiva, mas compreendia que se tratava de um mecanismo de defesa. – Ele só está curioso... Então eu tentei me aproximar deles. – Deu prosseguimento a sua narrativa. – Mas essa mocinha aqui é cabeça dura.

- Ei... Não me chame de mocinha!

- Foi mal! – Ergueu as mãos em sinal apaziguador. – Ela se esquivou e só depois, quando retornei na noite seguinte com comida e alguns agasalhos é que ela cedeu um pouco e deixou que eu me aproximasse e conhecesse melhor a Horda. – Sorriu e piscou o olho para dois garotos gêmeos de cinco anos que lhe sorriam com as bocas lambuzadas de catch*p. 

O choro insistente do pequeno Remy alertou a todos. O bebê tremia e esperneava no colo de Sidney e cuspia todo o leite que a menina tentava inutilmente lhe oferecer.

- O que ele tem? – Siggy estava visivelmente incomodando com o notório sofrimento da criança. – Está com alguma dor?

- São as drogas... – Sid respondeu secamente, mas haviam lágrimas em seus olhos. – Ele já nasceu viciado... – A menina o sacudia nos braços, tentando acalmá-lo de alguma maneira.

Foi inevitável para o rapaz não conter as lágrimas e dar vazão ao nó em sua garganta. Estava sendo confrontado com uma terrível realidade, que soava completamente diferente da sua privilegiada vida de suburbano de classe média. Observou Manu tomar o bebê nos braços e aperta-lo contra o próprio peito. Gentilmente encostou seu rosto no topo da cabecinha dele e tentou conter os movimentos descontrolados dele. Só então Siggy percebeu que ela balbuciava algo e gradativamente o garotinho foi se acalmando e logo caiu em um tranquilo sono.

- Ela fez de novo! – Uma garotinha negra se aproximou deles e sorria. O rapaz olhou para ela sem entender a que ela se referia. – Ela tirou a dor do Remy, igual fez comigo. – Afastou a densa cabeleira bagunçada que escondia um curativo na testa da menina.

Siggy compreendeu a que ela se referia e suspirou impressionado. Desde que conhecera Manu era surpreendido pelos incríveis feitos que a menina era capaz e pensava que jamais iria se cansar daquilo. Pensou inclusive se havia algum limite para ela. Contemplou aquela cena encantadora. Todas as crianças rodeavam Manu e silenciosamente a agradeciam e a idolatravam pelo que ela estava fazendo por elas.

Assistiu ainda ela se despedindo de cada uma deles, afirmando que talvez demorasse um pouco para retornar, mas jamais os abandonaria. Demorou-se mais com a despedida de Sidney, recebendo um demorado abraço da menina. Os viu retornarem para a escuridão do ginásio abandonado e saíram de lá em direção a moto.

- Você é uma pessoa muito boa Emanuelle Carpentier-Nichols. – Siggy afirmou assim que desceu da moto, ha poucos metros de sua casa. Haviam feito toda a vigem de volta em silêncio, imersos em seus pensamentos.

- Eu não sei Z! – Ela suspirou com a voz abafada pelo capacete. – Eu apenas me identifico com a Sid. Poderia ter sido eu... – Baixou a cabeça em resignação.

- Ei! – Ele a alertou logo após ela ligar o veículo para partir. – Por que você não leva essas crianças para a Fundação das suas mães? – Manu desligou o moto e retirou o capacete para poder encarar melhor o amigo.

- Eu pretendo... Mas para isso preciso conquistar ainda mais a confiança deles. – Disse sem tanta segurança de suas palavras. – Eles não acreditam nas pessoas, especialmente nos adultos. – Ela tentou se justificar. O que não desejava reconhecer era que estava apreciando o fato de ser a responsável pela segurança daquele pequeno grupo de pessoas. Sentia-se verdadeiramente importante e sabia que, de alguma maneira, suas mães iriam se orgulhar dela.

Despediu-se do amigo prometendo que lhe ligaria com frequência enquanto estivesse no Instituto, pois estava mais do que confiante de que teria o seu castigo revisto e em poucas horas estaria a caminho de um de seus lugares favoritos no mundo.

Desacelerou o veículo assim que acessou os limites da propriedade Carpentier. Tudo o que menos precisava era ser novamente descoberta e perder todas as suas chances de retornar a escola. Deixou a moto exatamente onde havia encontrado e ficou aliviada pelo fato de Helena só retornar no final de semana seguinte. Teria tempo de pensar numa boa justificativa para explicar os danos a moto favorita dela.

Esgueirou-se pelos jardins do castelo e alcançou a trepadeira que lhe levaria até o segundo andar. Subiu sem dificuldade alguma, tomando o cuidado para não ser vista por nenhuma das seguranças que faziam a ronda nos arredores.

- Droga Andrômeda! – Praguejou baixinho após tropeçar em sua gata que a esperava na sala onde ela havia entrado. De alguma maneira que ninguém conseguia explicar, aquele animal sempre sabia onde sua dona estaria e não desgrudava dela. Tomou a gata no colo e recebeu os primeiros gestos de carinho para logo em seguida ter seu polegar mordido por ela, obrigando-a a soltar a gata no chão. – Ah o amor dos gatos. – Sussurrou e caminhou tranquilamente em direção ao seu quarto.

Ao passar pela porta do quarto de suas mães, percebeu que estava entreaberta e, na ponta dos pés, colocou a cabeça lá dentro, para certificar-se de que estavam dormindo tranquilamente. Suspirou ao vê-las repousando, alheias a presença dela. Dominique repousava tranquila sobre o peito de Coraline que a envolvia em seus braços.

Manu adorava observá-las e encantava-se com o extraordinário amor que unia suas mães. Era algo que podia ser percebido por qualquer pessoa que as visse e que para aquela menina era palpável. Como se ela mesma pudesse senti-lo em seu intimo. Pensou mais uma vez que jamais poderia haver um amor como o delas e teve a certeza que nada nem ninguém poderia ser capaz de separá-las.

Com seu coração aquecido e o sono, comum a adolescência queimando seus olhos jogou-se em sua cama após um rápido banho. Abriu espaço para Andrômeda apossar-se de boa parte da cama e acariciou o pelo negro e macio dela. Observou a delicada pulseira de pano que usava no punho esquerdo e que lhe fora dada por Sidney. Antes de adormecer refez a promessa silenciosa de que sempre protegeria aquela menina e as demais crianças da Horda.

 

______

 

- Merde! – Manu praguejou ao saltar da cama, constatando que havia perdido e muito a hora. Correu para o seu closet e meteu-se no tradicional uniforme do Instituto Chermont. Adorava o fato de ter a liberdade de escolher entre a saia reta de cor vinho escura ou a calça justa que marcava seu corpo. Abotoou a blusa social branca de qualquer jeito e colocou o casaco cinza por sobre ela enquanto chutava sua mala para fora do armário. Catou um dos inúmeros cachecóis que possuía e que tinha o símbolo da escola e optou pelo que alternava tons de cinza e lilás. Carregou o sobretudo também cinza na mão e desceu as escadas aos saltos.

Quando estava na metade dela lembrou-se que havia esquecido algo imprescindível. Retornou xingando a si mesma e catou em uma caixa dentro de seu closet uma linda boina azul anil, ao melhor estilo francês e que finalizava o seu uniforme e tinha uma função primordial. E naquele ano mais do que em todos os outros. Acariciou o pequeno broxe dourado com uma joia lilás no centro e sentiu o orgulho transbordar em seu peito. Mas não pode se demorar naquele pensamento, pois precisava correr.

- Onde está a Mama Cora? – Irrompeu com tudo na cozinha.

- Bom dia para a Srta. também. – Foi a resposta que recebeu de Gema, a governanta da casa. – A Sra. Coraline já saiu tem algumas horas.

- Desculpa Gema, mas estou ferradamente atrasada. – Disse enquanto enchia um imenso copo com vitamina de banana.

- Onde você pensa que vai? – O clima ficou tenso assim que Dominique entrou na cozinha. Trazia em uma das mãos o jornal e na outra uma fumegante xícara de café.

- Para a escola... Sei que estou atrasada mamãe, mas posso pegar o trem das 10h e chegar a tempo das aulas da tarde. – Respondeu de boca cheia.

- Não precisa correr. – Disse tranquilamente sentando-se na frente da menina que a encarava com uma torrada suspensa no ar. – Não irás a lugar nenhum. – Bebericou o café sem se dar ao trabalho de encara-la.

- Como assim mamãe? – Disse incrédula.

- Não se faça de sonsa Emanuelle. Sabes muito bem que estás de castigo. – Abriu o jornal e o colocou entre elas. Desejava parecer impassível, mas por dentro estava detestando tudo aquilo. Odiava ter de punir a menina que tanto amava, mas sabia que seria necessário. O tilintar da xícara sobre o pires, seguido do balançar das panelas sobre as cabeças dela indicava que algo estava prestes a dar errado. – Controle-se Manu! – Baixou o jornal e finalmente a encarou nos olhos.

A governanta saiu da cozinha temendo o que estava prestes a acontecer ali e sem que palavra alguma fosse pronunciada, as duas mulheres travaram uma dura batalha mental. Sendo que Dominique esforçava-se com todas as suas forças para conter a ira explosiva de sua filha enquanto Manu só conseguia tremer e deixar que copiosas lágrimas caíssem. Ambas sentiam cada partícula de seus seres vibrando e pouco antes da explosão da menina, ela soltou o ar com força.

Havia sido derrotada!

Saiu da cozinha pisando firme e assim que ela passou pela porta, Dominique arriou de sua postura resoluta. Gotas de suor pingavam de sua testa e as mãos tremulas indicavam o quão extenuante havia sido aquele embate. Sua cabeça latej*v* e a boca amargava. Estava se tornando cada vez mais dolorido para ela aqueles confrontos.

- Gema? Um analgésico por favor. – Solicitou à governanta que acabara de retornar.

______

 

Praticamente corria por entre os corredores do castelo, sentindo as lágrimas lavando seu rosto. Desceu os degraus que levavam para a área externa do castelo e passou por algumas seguranças que a saldaram, mas foram ignoradas por elas.

Finalmente chegou ao seu destino. O imenso ginásio e academia que fora instalado ali para o seu treinamento. Empurrou a porta de ferro com tudo e praticamente arrancou as roupas que vestia. O grande retângulo central possuía um tatame para lutas márcias e era cercado por máquinas e equipamentos super modernos para exercitar o corpo ao extremo.

Parou bem no centro e chutou para longe os sapatos de cadarços que compunham o uniforme do Instituto e ficou apenas de calça e camiseta. Caminhou até um impressionante saco de areia e sem pensar em mais nada, começou a desferir socos e chutes nele. Visualizando a fonte se sua ira. E numa sequência impressionante de golpes arrancou o saco que era firmemente preso ao teto e o lançou ha metros de distância.

- Droga mãe! – Berrou ofegante.

- Você sabe que ela está certa não é mesmo? – Manu assustou-se com aquelas palavras e viu quem as disse. Com um lindíssimo scarpin vinho repousando sobre o pobre saco de areia que jazia ao chão estava Estela Marshall.

- Em proibir que eu vá para a escola? Claro que não tia! – Manu bufava andando de um lado para o outro. – O que a senhora está fazendo aqui? – Parou abruptamente.

- É bom revê-la também criança. – Caminhou até ela.

- Desculpa tia... Mas é que... Ahhhh – Berrou. – A mãe me tira do sério. E é bom revê-la também. – Recebeu o abraço da menina.

- Estou a caminho de Atenas. Encontrarei com a Helena lá amanhã então pensei em passar aqui para dar um oi e matar a saudade de minha sobrinha favorita. – Conseguiu arrancar um sorriso da carrancuda garota. – E também... – Retirou seu blazer o soltando-o sobre uma pilha de pesos e fez o mesmo com os sapatos. – Preciso checar como anda... – Dobrou as mangas de sua caríssima blusa de ceda cor de marfim. – O seu treinamento. – Colocou-se em posição de ataque o que arrancou um suspiro excitado de Manu.

- A senhora vai se surpreender... – Disse já partindo para cima dela. – Num balé sincronizado as duas duelavam e os sons dos estalos dos golpes delas atraiu a atenção das guardas que estavam mais próximas. Todas ali, sem exceção, já haviam treinado com a menina e haviam sido vencidas por ela, então era mais do que empolgante ver a criatura enfrentando sua mestra.

Após longos minutos de luta, Manu conseguiu sobrepujar Estela e mais uma vez cometeu o erro de vangloriar-se para a sua plateia, o que lhe custou uma rasteira e um duro golpe contra seu rosto.

- Já lhe disse para nunca baixar a guarda. – Estela lhe ofereceu a mão para que levantasse. E ao contrário do que se poderia esperar, a menina não se chateou com a aparente derrota, pois acabara de aprender mais alguns novos golpes.

O que nenhuma das duas viu, foi que Dominique assistia aquela luta. Estava encostada na parede, do lado de fora do ginásio. Reconhecia que aquele treinamento era importante para a menina e mesmo relutando, precisou ceder. Embora soubesse que só os dons que a garota possuía eram mais do que suficientes para protegê-la, fazia parte do pacto que estabeleceram. Se ela não iria utilizá-los, precisaria se defender de outras maneiras.

E como já era de se esperar, a menina se destacou em exatamente tudo o que se propunha a fazer, superando por muito todos os desafios que lhe foram lançados e por méritos próprios, evitando valer-se de seus dons e poderes. A menina apenas esforçou-se ao extremo e não parava de impressionar com suas façanhas. E isso lhe lembrou o Torneio das Amazonas e o castigo dado a sua filha. A competição mais dura e completa que acontecia no Instituto Chermont e que servia, entre outras coisas, para destacar as mais notáveis garotas para os mais variados cargos dentro da Ordem.

E Manu era a atual tricampeã e estava prestes a ultrapassar o recorde que era de quatro títulos, justamente daquela mesma mulher que treinava sua filha naquele instante. Estela há muito que era o nome a ser batido e por mais de vinte anos, as meninas vinham tentando ultrapassar seus impressionantes feitos e era esperado que alguém como Manu fosse a pessoa certa para isso. Porém, o castigo infligido a menina poderia ameaçar essa conquista e Dominique sabia que isso era o que mais estava magoando a sua filha.

“Mas ela precisa aprender...” Disse para si mesma enquanto suspirava e se afastava para não ser vista, pois Manu e Estela vinham em sua direção.

 

______

 

O deslumbre e encantamento eram impossíveis de serem contidos e o assovio proferido por aquela menina indicava isso.

- É maravilhoso não é? – Outra menina se aproximou dela, parando ao seu lado.

- Nem sei se existe uma palavra que consiga definir o que é estar aqui, no Instituto Chermont. Você sabia que esse ano o colégio completa duzentos anos? Ele foi fundado por uma das mulheres mais fantásticas e injustiçadas da história.

- Sim... A Professora Ariane Gerard! – A outra menina respondeu e ambas trocaram olhares cumplices. – Prazer, eu sou a Fay Poirot. – A garota de pele clara e cabelos castanhos cor de mel estendeu a mão para a outra.

- Inês! – Aceitou o cumprimento. Inês Munoz. – Respondeu com denotado sotaque espanhol uma garota de cabelos extremamente escuros e pele bronzeada.

Ambas estavam diante do portão principal que dava acesso ao impressionante complexo educacional que era o Instituto Chermont. As garotas estavam junto a uma boa quantidade de outras calouras que estavam chegando pela primeira vez naquele lugar impressionante.

Mais atrás os carros dos país ficavam no limite que era reservado para eles e as despedidas eram marcadas por lágrimas e inúmeras recomendações daqueles que jamais haviam se afastado tanto tempo de suas filhas. Muitos idiomas eram ouvidos indicando que a multiplicidade de nacionalidades compunha o público daquela antiga instituição.

Ha muito que o Instituto não era reservado apenas às meninas francesas e o recrutamento – único jeito de acessar a aquela escola – era feito nos quatro cantos do mundo e oferecia bolsas de estudos para que toda e qualquer menina, independente de sua classe social, tivesse a oportunidade de estudar lá.

Os altos muros de pedra cobertos de trepadeiras traziam todo o charme e história daquela construção que foi crescendo ao longo dos seus duzentos anos e acompanhou todas as transformações culturais e econômicas que sacolejavam o mundo e sempre esteve na vanguarda da educação e a filosofia daquela instituição dialogava com o pensamento de sua fundadora, a professora Ariane Gerard. O que pouquíssimas pessoas sabiam era que aquela fora a primeira identidade assumida por Evelyne Chermont e que a idealização da escola foi em homenagem a sua mãe e seria uma forma de prepararem as jovens meninas para fazerem parte da Ordem do Labrys.

Um som eletrônico alertou todas as jovens meninas que o portão finalmente seria aberto e a medida que as duas metades se afastavam um imenso caminho de pedras seguia até a impressionante construção do prédio principal. Para a surpresa e total encantamento das calouras, as estudantes veteranas ladeavam o caminho e as recepcionavam com acenos e palmas. Todas vestiam um dos trajes solenes daquela instituição e enchiam as meninas de orgulho por estarem ali.

- Ano que vem seremos nós ali. – Inês cochichou com Fey que arregalou os imensos olhos castanhos com aquela constatação. Mais adiante viram a escadaria do prédio principal e na base dela, quatro alunas, que eram formandas, as esperavam e cada uma delas usava uma boina de cores diferentes.

- Qual a sua cor? – Fey questionou a sua mais nova amiga ansiando que a menina possuísse o mesmo envelope azul anil que o seu. Para a felicidade de ambas, compartilharam aquela sorte, o que significava que estariam juntas no mesmo dormitório, mas que internamente as meninas consideravam como irmandades. Porém estranharam em não ver nenhuma das garotas com uma boina daquela cor. Haviam apenas as cores verde, vermelha, amarelo e branco.

Antes que pudessem continuar vibrando com suas descobertas, as meninas viram as imensas portas de madeira se abrirem na larga varanda principal do castelo e de lá, trajando suas túnicas cerimoniais de mestres, vinham os professores daquela instituição. A imensa maioria era de mulheres, mas havia alguns homens também. E as idades também variavam.

Os suspiros de admiração foram audíveis quando as meninas avistaram a reitora daquela instituição. A Professora Coraline Nichols era uma celebridade mundialmente conhecida desde o lançamento de seus livros sobre a Ordem do Labrys e mais recentemente sobre os achados arqueológicos que solaparam o mundo acadêmico. Cora era um verdadeiro ídolo para aquelas jovens meninas que não viam a hora de estudarem com ela.

- Bom dia a todas e todos. – Cora disse olhando também para seu corpo docente e funcionários da instituição que também estavam lá para a recepção das calouras. – Sou a Reitora Nichols...

- Como se ninguém soubesse disso. – Sussurou uma jovem garota asiática e com óculos imensos para seu magro rosto. Ela estava atrás de Inés e Fey que viram que a menina segurava um envelope amarelo. As três riram da afirmação da menina.

- Sejam muito bem-vindas ao Instituto Chermont! – Coraline sorria verdadeiramente, pois amava aquela situação. Receber jovens promissoras e poder contribuir para a formação delas era o que poderia considerar o trabalho de seus sonhos. E já o fazia ha sete anos, desde que se tornara reitora daquela Instituição logo após concluir o seu pós-doutorado. – Acredito que já se inteiraram sobre as normas de nossa instituição. – Ergueu uma cópia do manual de admissão que todas recebiam quando se matriculavam. – E como sabem, é tradição que vocês sejam distribuídas entre nossos dormitórios e essa distribuição se dá de acordo com as entrevistas admissionais e os questionários que vocês preenchem. – Continuava explicando os procedimentos. – Sendo assim temos o dormitório Deméter... – A jovem que possuía uma boina na cor verde adiantou-se e várias das demais veteranas que usavam uma igual vibraram. – Peço que aquelas que receberam um envelope dessa cor, formem uma fila diante da Srta Monique, que será sua monitora. – Uma agitada movimentação se fez e um grupo de pouco mais de vinte meninas se posicionou onde fora pedido. – Dessa maneira as demais façam o mesmo a medida que eu for anunciando. Dormitório Afrodite... Sarah – A jovem de boina vermelha se posicionou. – Dormitório Hera, Cláudia... – A garota de boina branca adiantou-se. – Dormitório Atena, Graziela – Uma impressionante jovem de pele cor de canela que chamava atenção por sua estatura empertigou sua postura e ajustou sua boina amarela no topo de sua cabeça. Uma onda de vibração ainda mais alta irrompeu naqueles jardins.

- Parece que as meninas da deusa da sabedoria tem um fã-clube poderoso. – Fey comentou. – Mas onde está a nossa monitora? – A garota inqueriu, pois só havia sobrado um grupo de pouco mais de quinze meninas, todas com seus envelopes azuis em mãos.

- Para as meninas que estão com o envelope azul, o seu dormitório é o Ártemis. – Cora baixou a cabeça e suspirou ao encarar Sophie e Marc, que estavam ao seu lado e faziam parte do corpo docente do Instituto. – Uma onda de vibração ainda mais alta ecoou, indicando que havia uma verdadeira competição entre aquelas duas irmandades. – Houve um pequeno contratempo com a monitora de vocês... A Srta Emanuelle Carpentier-Nichols. – Todas as calouras, sem exceção iniciaram um burburinho ao ouvirem aquele nome, pois sua detentora possuía, provavelmente, os dois sobrenomes mais importantes da história daquela instituição. Cora olhou para as jovens mais próximas e fez sua escolha. – Srta Janaina... – Acenou para uma jovem colombiana que era da turma de Manu. – Faça às vezes de monitora até que a Emanuelle possa assumir. – Sorriu desajeitadamente. A jovem acenou positivamente com a cabeça e organizou suas calouras.

- Nichols... Será que a nossa monitora é parente da reitora? – Inês questionou a Fey que deu de ombros.

- É a filha dela. – Janaina respondeu discretamente e pediu que fizessem silêncio.

- Vocês tem o restante da manhã livre para se acomodarem. – Cora voltou a sua posição. – E logo após o almoço, terão suas aulas inaugurais. Mais uma vez, sejam todas muito bem-vindas. – Todos a aplaudiram e ela seguiu para dentro do prédio, conversando com seus amigos.

- O que a Manu aprontou dessa vez? – Sophie perguntou enquanto seguiam para o corredor onde ficavam as suas salas.

- Saiu sozinha à noite. – Respondeu após um suspiro derrotado.

- De novo? – Marc parou com as mãos na cintura. – Agora entendo esse novo fio branco aqui. – Brincou ao mexer nos cabelos da amiga.

- Você precisa ver o que ela faz com a Dominique. – Retirou sua túnica cinza pouco antes de se despedir dos amigos e seguir para a sua sala que ficava no final do corredor largo de tijolos e de colunas altas e pomposas.

Cruzou a porta e deu de cara com sua secretária que a esperava com certo ar de nervosismo.

- Está tudo bem Tânia? – Questionou a senhora que tinha idade para ser sua mãe.

- Sra Nichols... Não tive como evitar que ela entrasse. – Cora estranhou aquela informação.

- Tem algum em minha sala? – Questionou já com a mão na maçaneta. Estranhou aquela situação, pois sua agenda naquela manhã estava reservada apenas a recepção das calouras. E antes que a sua secretária lhe respondesse, teve a resposta.

- Helena? Algum problema? Pensei que estavas em Atenas. – Alarmou-se. A expressão da amiga lhe dizia que algo não estava bem.

- Cora! Eu preciso muito de sua ajuda.

 

______

 

Um jovem rapaz esguio de cabelos ruivos e pele extremamente branca e pálida era focalizado na tela do computador de Dominique.

- Essa foto tem dois anos. Acho que ele está um pouco diferente agora. – Estela informava enquanto repassava uma série de documentos para sua Mestra. – Pelo que conseguimos apurar, ele tem uma série de problemas de saúde. – Apontou um prontuário médico que estava no nome de Vitor Hugo. O nome que o jovem irmão de Manu estava usando na ocasião.

- Eles são tão parecidos... – Dominique suspirou ao acariciar a tela do computador.

- Não acho. A não ser pelo cabelo... Manu é infinitamente mais bonita que ele. – Estela opinou.

- Me refiro ao pai dele. – Disse secamente.

- Azar o dele. – Estela serviu-se de mais uma dose de whisky. - Quer?

- Não, obrigada. Minha tolerância ao álcool está uma porcaria e a ultima coisa que desejo é mais uma ressaca. – Arrepiou-se ao lembrar-se da ocasião quando comemoraram o aniversário de Helena.

- Ah... Carpentier, você não sabe o quanto é divertido vê-la sucumbindo aos males mortais. – Estela gargalhou e recebeu uma careta de reprovação. – Acho que jamais vou cansar disso.

- Mas é curioso isso... – Apontou o prontuário do menino. – Segundo isso aqui esse garoto está vivendo uma sobrevida... Problemas respiratórios... – Apontou a cânula que ele usava no nariz e que levava oxigênio para seus pulmões direto de um cilindro que arrastava para todos os lados.

- Está na fila de transplante de pulmões. – Estela reiterou.

- Sofre com baixa imunidade e vive se internando. – Dom continuou.

- Nada a ver com a Manu. – A outra emendou.

- Pois é... Manu nunca teve um resfriado se quer. – Espreguiçou-se. 

- Essa menina é o mais próximo que podemos chegar de um super-humano. – Estela acariciou o queixo que ainda trazia as dores de um dos golpes recebidos durante o treino de mais cedo. – Tem certeza que são gêmeos mesmo?

Dominique não a respondeu, pois estava bastante preocupada com as informações que recebia. Finalmente estava recebendo notícias concretas acerca daquele misterioso menino, que chegou a duvidar que realmente existisse, embora sentisse, através de Manu, a existência dele.

- Precisamos discutir tudo isso com a Cúpula. – Concluiu. – Ele estava em São Petesburgo?

- Sim, mas já verificamos e ele não está mais lá. Seguimos pistas até a Ucrânia e a Sérvia, mas eram frias. Apenas para nos despistar. Igual quando usaram impostores. Sabe o que parece? – Perguntou retoricamente. – Que todos os esforços do Martelo estão em apenas proteger esse menino. Deixaram de lado praticamente todas as suas operações.

- Sim... Mas ainda são extremamente poderosos e influentes. – Apontou para a foto congelada em sua tela. – Para conseguirem escondê-lo de nós por todos esses anos.

- Só que estamos chegando perto. – Estela reafirmou.

- Mas agora temos um rosto... Falta apenas o nome. – Dominique concluiu. – Leve esses informações com você. Não quero nada disso em casa, especialmente com Manu perambulando por aqui.

- Ela vai ficar de castigo quanto tempo?

- Apenas alguns dias... Longe de mim querer que ela perca o ano ou o Torneio. – Piscou um dos olhos para a amiga. – Não vejo a hora dela bater o seu recorde. – A provocou. – Mas, por enquanto, é bom ela pensar que terá maiores consequências por suas ações. – Sacudiu a cabeleira que estava mais curta. – Essa menina vai acabar com a minha sanidade.

- Mas você a ama. – Estela constatou o óbvio.

- Mais do que tudo. Faria tudo por essa garota. – Havia a mais pura sinceridade naquelas palavras e era inegável para todos que conheciam Dominique Carpentier todas as transformações que aquela poderosa mulher havia passado desde que se tornara mãe de alguém tão extraordinária como Manu.

 

______

 

Dominique acabara de desligar a vídeo-chamada que fizeram com Cora. Sua companheira estava preocupadíssima como a relação das duas e a reação de Manu, que ainda procurava evitar o convívio com a mãe e preferia passar o dia enfurnada com os livros e os treinos.

“Ela é realmente fenomenal!” Reafirmou algo que era constatado diariamente. Todos os feitos que a menina vinha conquistando só reafirmavam isso, contudo o temperamento dificílimo da menina tornava o convívio cada vez mais imprevisível.

Espreguiçou-se e encarou a pilha de textos e livros que apinhavam a sua imensa mesa em sua biblioteca. Voltou sua atenção para uma moderna caixa metálica que trazia o símbolo da Fundação Ártemis na tampa. Acariciou o frio metal e após digitar o código certo, o som do destravamento e a leve mudança na temperatura próxima a caixa indicava que ela fora aperta.

Ergueu a tampa e suspirou com extrema devoção diante do conteúdo dela. Envoltos por delicadas películas plásticas estavam uma série de pergaminhos antiguissimos que faziam parte da maior descoberta arqueológica do século e que conferiram a sua esposa ainda mais notoriedade no mundo acadêmico.

Ha cerca de cinco anos, Coraline Nichols, após um extenuante estudo para o seu pós-doutoramento havia descoberto importantes pistas acerca da origem da Ordem e seguindo tais pistas, fez uma aterradora descoberta. Arrepiou-se com as implicações trazidas pelo conteúdo dos milhares de pergaminhos que foram encontrados.

Muita coisa ainda estava sendo traduzida e interpretada por elas e pelas anciãs, e naquele momento, necessitavam de toda a sua atenção. Mas Dominique não conseguia a concentração devida. Pois o que já havia sido descoberto trazia graves consequências para a Ordem e diretamente para ela mesma e especialmente para a sua filha.

Fechou bruscamente a caixa, como se quisesse manter aquela realidade confinada e se ergueu. Uma já familiar agonia percorreu seu corpo e sentiu a necessidade de extravasá-la. A noite já ia tarde e a movimentação no castelo era mínima. Fez questão de ir até o quarto de Manu, para certificar-se que ela estaria nele. Pela fresta da porta viu a luz do abajur ligada, iluminando um livro que era lido por Manu.

“Sim, eu estou aqui.” Foi a resposta que obteve através daquela conexão, para a investigação mental que fez para verificar se a menina não havia usado novamente o mesmo truque para despistá-las. Não disse mais nada, Apenas afastou-se cabisbaixa. Foi até seu quarto e parou no meio do closet, pensando o que desejava fazer para extravasar a energia que lhe consumia. Fitou suas botas de equitação e pensou que montar seria uma boa possibilidade, mas findou por concluir que não seria a melhor válvula de escape e então uma ideia dominou sua atenção. Despiu-se, para vestir roupas mais confortáveis, uma calça de moleton cinza escura que ficava bem justa em suas pernas e uma camiseta negra, coladíssima em seu abdômen. Finalizou com seu par de tênis favoritos e prendeu seus cabelos num rabo de cavalo que deixava alguns cachos soltos, devido ao novo corte de cabelo.

Encarou sua figura no espelho e gostou do que viu. Apesar dos seus quase 400 anos de vida, o seu corpo estava muito bem, apenas aparentando os quarenta e poucos anos que deveria ter, mas sabia que precisava contribuir para sua boa forma.

Desceu as escadas que levavam ao ginásio de treinos de Manu e não precisou ligar as luzes, pois a belíssima lua garantia uma boa visibilidade. Alongou-se um pouco e riu de uma pequena dor em suas costas após um leve estalo. Apesar das dores e dessabores, estava amando a sua mortalidade.

Parou diante do coitado saco de areia que fora arrancado por Manu mais cedo e o ergueu sem maiores esforços e o prendeu novamente. Girou em seu próprio eixo e deu o primeiro chute, verificando se estava firme. Seguiu dando novos chutes e socos e sentindo a enxurrada de endorfinas percorrendo sua corrente sanguínea, lançou numa corrida na pista que rodeava as extremidades do ginásio.

Quando estava na quinta volta, e mais distante da porta a viu. Parada sob a soleira da porta, Manu lhe observava com ar surpreso. No meio de suas pernas Andrômeda se lambia. Diminuiu o ritmo quando foi chegando perto da menina e ofegou um pouco diante dela.

- Qual o seu recorde da pista? – Manu perguntou após um desconfortável silêncio. Dominique arregalou os olhos e deixou que um leve sorriso se formasse.

- Quer descobrir? – Afastou-se um pouco, ainda um pouco receosa e percebeu que a menina ainda a encarava com dúvidas. Mas assistiu com o coração aos pulos ela se posicionar ao seu lado. A olhou e voltou a se admirar com a impressionante presença dela. Estava uns 10 centímetros mais alta que ela e estava em impressionante forma física. A viu se abaixar um pouco para posicionar-se para a corrida. Trocaram um olhar sugestivo e então Manu voltou-se para sua gata. Andrômeda as olhou com seu ar de soberba e como se compreendo o que lhe foi pedido, deu um rápido miado que serviu de “tiro” de largada para a corrida.

As duas deram várias voltas alternando-se na dianteira, mas o que realmente chamava a atenção era a impressionante velocidade que elas atingiam.

Nenhuma das duas disse nada, mas estavam partilhando um cada vez mais raro momento de cumplicidade. Em determinado momento, Manu atentou-se no avermelhado rosto de sua mãe e viu que várias gotas de suor escorriam dele. Sentia que poderia correr por mais inúmeras voltas, mas viu que sua mãe já não conseguiria o mesmo então decidiu. E sutilmente diminuiu seu ritmo e numa ultima explosão de esforço, a viu lhe ultrapassar e parara exausta diante de Andrômeda que a olhou com os imensos olhos amarelos arregalados.

- Parabéns... Você venceu. – Manu desabou ao seu lado e ofegou no mesmo ritmo dela.

- Obrigada! – Lhe disse olhando de lado. E silenciosamente Manu compreendeu que sua mãe sabia o que ela tinha feito e ambas se encararam por alguns instantes com expressões indecifráveis e acima de qualquer possível resquício de ira ou raiva, havia algo muito mais poderoso.

“Me desculpe.” Manu proferiu mentalmente assim que se levantou. Dominique a olhou de baixo para cima e sentiu seu coração vibrar. Fazia um bom tempo que a menina não estabelecia aquela comunicação entre elas espontaneamente. “Sei que tudo que a senhora faz é para o meu bem.” Manu gesticulou uma pausa, e disse antes que a mulher pudesse se posicionar.

- E entendo o que precisas fazer comigo. – Sorriu doce e sinceramente para sua mãe e Dominique transbordou de alivio e felicidade pois viu nos olhos tão amados a sua menina. – Sei que não sou uma pessoa muito fácil. – Colocou ambas as mãos nas costas e se balançou um pouco, exatamente como fazia quando criança. – Mas... – Novamente interrompeu Dominique que já estava de pé. – A senhora também não é. – Sorriu serelepe, pois sabia que poderia estar provocando-a.

- Acho que temos isso em comum. – Dom complementou.

- Nada mal viu?

- Oi? – A mulher realmente não havia compreendido.

- A corrida! Nada mal para uma coroa.

- Quem é coroa aqui? – A cutucou na cintura, exatamente onde sabia que ela sentia cocegas.

- Mama... Não é senhora que tem quase 400 anos? – Disse em meio as gargalhadas tentando, sem muito esforço, desvencilhar-se das mãos de sua mãe.

- Pois bem... Pirralha. – Ergueu o queixo e ambas sabia que aquele era gesto que determinava o papel de cada uma naquela relação. – Essa “coroa” aqui ainda tem muito para lhe ensinar. – Disse parada, com ambas as mãos na cintura bem no centro do tatame. Manu ergueu uma das sobrancelhas, num gesto que copiava perfeitamente dela.

Os redondos olhos da menina adquiriram um brilho que ousava ofuscar a luz da belíssima lua que iluminava aquele ambiente. Desde que começara os seus treinamentos físicos, jamais havia lutado com sua mãe e não foi por falta de insistência. A empolgação podia ser sentida no ar.

- Prometo pegar leva com a senhora. – A pitada de arrogância, tão característica das mulheres Chermont, não podia ser contida.

- Só que eu não! – Dominique disse já partindo para cima da menina que, por uma fração de segundos, conseguiu se esquivar dos dois primeiros golpes de sua mãe e cambaleou para trás, afastando-se um pouco, tamanha a surpresa que a assombrou devido a potência dos golpes de sua mãe.

Um sorriso que misturava pitadas de sadismo e provocação dançou nos lábios de Dominique diante do estarrecimento da filha e não quis deixar que ela pensasse por muito tempo, partiu novamente em direção a ela e numa dança que beirava a perfeição, elas duelavam de forma idêntica se esquivando e se defendendo no ultimo instante.

Então, um poderoso trovão irrompeu ao longe quando Manu juntou suas forças para dar um golpe de misericórdia e tentar sobrepujar sua mãe. Simultaneamente ao trovão foi o som oco do soco de Manu atingindo a palma da mão direita de Dominque que, para a total incredulidade da menina, segurou o potentíssimo soco.

Ambas pausaram ofegantes por alguns segundos e a garota não conseguia esconder a surpresa e o encantamento. A mulher, por sua vez buscava se resignar diante daquela constatação. E então ambas riram, deliciadas com a energia daquele embate, só que o sorriso de Dominique terminou primeiro que o da sua filha e novamente a surpreendendo, desferiu três rapidíssimos socos que por muito pouco não atingiram o rosto de Manu. Contudo, esse ímpeto de sua mãe lhe deu um vislumbre de uma baixa de guarda e a destreza que lhe fora tão bem ensinada por suas professoras lhe dizia para não perder a oportunidade.

Firmou seu pé de apoio mais uma vez e, de baixo para cima, acertou o queixo a pontinho do queixo de Dom que cambaleou para trás, completamente atordoada com a violência do golpe e o a latejante dor que queimava seu rosto.

- Mãe!? – Manu desesperou-se e caminhou até sua mãe que lhe deu as costas. O que a menina não viu foi o conflituoso sorriso de orgulho da sua filha e do seu próprio que fora duramente ferido. E agarrando-se a esse segundo girou no próprio eixo e acertou a lateral direita do abdômen de Manu com seu joelho e um potente soco estalou na face esquerda.

- Suas tias sempre lhe dizem para não baixar a guarda. – Dominique disse ofegante, sorrindo, ignorando a dor em seu queixo.

- Ai! – Manu soltou um sonoro gemido e caiu ao chão, com ambas as mãos comprimindo suas costelas.

Dom ainda sorria, achando que era mais algum truque da menina, mas sentiu seu chão ser roubado debaixo de seus pés, quando a menina ergueu a cabeça e a encarou cuspindo uma considerável porção de sangue.

- Manu?? – E só teve tempo de amparar a filha antes que ela caísse ao chão de vez.

 

Fim do capítulo


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Comentários para 3 - Capitulo 3 - A Horda das Crianças Esquecidas:
patty-321
patty-321

Em: 31/03/2020

Pqp! Que foi isso?

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