Lívia aproveitou que ganhou uma bolsa de pesquisa e alugou um apartamento menor, de um quarto só, com Dante, assim ela não dependeria dos pais para sobreviver na faculdade. Teve que abrir mão do apartamento dos sonhos, que dividia com Helena e Anna Júlia, mas a independência parecia naquele momento bem mais saborosa do que qualquer outra experiência. Dante ainda dependia de seus progenitores, mas tudo que gastava no cartão de seus pais lhe era cobrado em trabalho pelo menos em parte das férias. Assim, de certo modo, não necessitariam da aprovação da família para começarem a morar juntos.

“Eu nem acredito que vamos ter o primeiro cantinho só nosso!” Lívia carrega uma pequena bolsa com a última leva de roupas que trouxe do antigo apartamento.

“Pois é...quem diria, não?” Dante carrega duas caixas enormes e mal consegue respirar.

“Coloque ali no canto que depois eu arrumo.” Lívia ordena. “Vai montando os móveis enquanto eu começo a organizar e decorar.”

“Por que eu não posso ajudar a decorar?”

“Dante, depois que a Helena saiu do apartamento que vocês dividiam, você resolveu decorar do seu jeito e aquilo simplesmente ficou parecendo um bar de esporte. Aliás, ficou parecendo um bar de esporte com apologia ao Corinthians.” Lívia revira os olhos.

“Certo, mas eu não vou querer decoração do Palmeiras aqui também.” Dante retruca.

“Dante, não vai ter decoração de futebol, você não entendeu?!”

“Okay...” Dante torce o lábio e resolve começar a montar a mobília.

 

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Após passarem praticamente o dia todo arrumando tudo, Dante foi tomar um banho refrescante enquanto Lívia requentava a comida do almoço para serví-la no jantar.

Ao sair do banho, Dante pegou seu prato e levou para o quarto, onde Lívia já terminava sua refeição.

“Estou tão moído que nem sei se vou no primeiro dia de aula.” Dante comenta.

“Ah, vamos sim, lembra que depois os calouros pagam cerveja para nós no bar ali do lado. E não se esqueça que você já está no ciclo clínico, então já vão socar matéria desde o primeiro dia.”

O casal terminou o jantar, finalizou a limpeza dos pratos e talheres e voltou para a cama. Quando Dante já se sentia confortável com a cabeça no travesseiro, sentiu os lábios de Lívia em seu pescoço.

“Juras, amor? Eu passei o dia montando móveis e levando caixas para todos os lados...” Dante resmunga, de olhos fechados.

“Nossa, o Dante do começo do namoro teria feito tudo isso e ainda me comido umas três vezes seguidas... só porque agora conseguiu me amarrar vai desistir de estrear o novo quarto?”

“Acho que eu consigo, sei lá... só se for uma rapidinha, pode ser?” Dante se levanta em um piscar de olhos coloca o packer.

“Aceito nos termos que você quiser!” Lívia sorri e logo Dante pula em cima da garota para beijá-la.

“Caramba, já estás molhada?!” Dante fica surpreso ao colocar dois dedos na vulva da namorada.

“O que eu posso dizer? Você é gostoso...” Lívia dá de ombros e ri.

“Tu levas bem a sério o conceito de uma rapidinha...” Dante ri e logo posiciona a cabeça do packer na entrada da vulva.

“No dia que eu deixar de ficar molhada antes de trepar com você, pode ter certeza que fiquei doen-.......” Lívia sente o packer entrando e faz uma hiperextensão com a cabeça e pescoço, cada vez mais ofegante conforme Dante impulsiona as estocadas.

“Hey, a matéria de amanhã é Endocrinologia né?” Dante pergunta, enquanto diminui o ritmo das estocadas.

“Eu...não...lembro...Dante..e p-por que v-você está p-perguntando isso a-agora no m-meio da n-nossa...?”

“É que eu gosto de te ver ofegante tentando responder...” Dante ri com malícia enquanto as últimas estocadas fazem Lívia gritar de prazer, gem*nte cada vez mais alto.

“HEY!” Ouve-se um grito do apartamento ao lado.

“Ai.... eu esqueci que essas paredes são finas...” Lívia arregala os olhos.

“Poxa, pelo menos no apartamento antigo podíamos trans*r a vontade...” Dante interrompe o coito e retira o packer.

“Porém com o dinheiro que eu ganho eu só consigo bancar a minha parte em um apartamento como esse, Dante. E você sabe o quanto eu queria sair da dependência da minha família antes mesmo de terminar a faculdade.” Lívia responde, recompondo-se.

“Mas tu sabes que eu pagaria a maior parte sem problema.” Dante vai até o banheiro para limpar o instrumento.

“Eu não ia querer isso, meu amor, você bem sabe.” Lívia o acompanha e vai até o chuveiro para tomar banho.

“Bem, o importante é que agora temos um lugar só nosso.” Apesar dos pesares, Dante se sente feliz com a mudança.

 

 

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Já perto da hora de dormir, Helena criou coragem suficiente para fazer uma ligação que protelou o dia inteiro para efetuar.

 

“Alô?” Quem atende do outro lado é Thaísa.

“Oi, Thaísa... tudo bem?” Helena pergunta.

“Tudo sim.” Thaísa responde seca.

“Está empolgada com a volta às aulas amanhã?”

“Sim, como sempre.”

“Legal... quer almoçar comigo amanhã depois da aula?”

“Ah, deixa para a próxima, pode ser?”

“Está bem...” Helena estranha a reação mas prefere não aprofundar.

 

 

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O primeiro dia de aula, como sempre, foi repleto de vai e vem de alunos, abraços, reencontros e risadas. Ao final do horário letivo matutino, Helena viu Thaísa saindo sozinha da sala de aula e resolveu alcançá-la.

“Hey! Como foi a aula?” Helena pergunta enquanto acompanha Thaísa.

“Foi boa, mas o pessoal estava mais interessado em marcar o churrasco de integração do que qualquer outra coisa.” A garota dá de ombros.

“Ah sim... bem típico do segundo semestre.” Helena ri. “Você está indo almoçar?” A garota se prepara para repetir o convite.

“Eu vou almoçar com meu pai, Helena...” Thaísa já corta rapidamente.

“Certo... e esse final de semana, quer fazer alguma coisa? Ouvi dizer que vai ter um show acústico bacana lá naquele parque que nós fomos e-”

“Ah, eu sei, ouvi um pessoal da minha sala comentando, acho melhor eu não ir, sabe como é, né...” Thaísa corta novamente.

“Bom, então a gente vê alguma coisa diferente para fazer no sábado, o que acha?”

“Eu tenho um evento da Igreja para organizar, Helena, realmente eu estou muito ocupada. Agora eu tenho que ir que o carro do meu pai está ali na frente.” Thaísa mais uma vez se esquiva e logo se despede apenas com meio sorriso.

 

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No início da noite, Helena conseguiu encaixar um horário para uma consulta por videochamada com sua terapeuta. A conversa foi longa, e acabou passando do horário previsto devido à gravidade do assunto. Ao terminar, Helena saiu de seu quarto para comer um lanche e viu Anna sentada no sofá, olhando-a de modo diferente, enquanto segurava Érin.

“O que foi, tem algo errado na minha cara?” Helena arqueia uma sobrancelha e aponta para o próprio rosto.

“Helena...” Anna não se segura e começa a chorar.

“Hey, o que houve?!” Helena se senta ao lado da amiga.

“Desde que me tornei mãe eu tenho estado muito emotiva, e minha audição também melhorou bastante e-”

“E você escutou minha conversa com a psicóloga...” Helena suspira.

“Desculpa, mas eu não fazia ideia de que isso havia acontecido com você lá em Portugal, e eu não imagino o quanto isso deve ter lhe afetado...” Anna continua a se debulhar em lágrimas.

“Eu não quis contar para ninguém porque não queria me expor. Mas ter desabafado com a psicóloga parece ter tirado um peso enorme de mim.”

“Se você precisar de alguém para conversar além da sua psicoterapeuta, saiba que estou aqui...” Anna tenta ajudar em meio as próprias lágrimas.

“Acho que quem precisa de ajuda agora é você, Anna.” Helena acaba rindo e pega Érin no colo.

“Ai, obrigada...” Anna dá uma bela fungada no nariz e se acalma. “Eu preciso confessar também que ouvi a parte que você falou da Thaísa... por que ela está lhe ignorando?”

“Eu mandei mensagem para a irmã dela fazendo essa mesma pergunta. Ela deve ter me respondido enquanto eu estava no meio da sessão.” Helena ajeita a bebê de modo a segurá-la com um braço só enquanto tira o celular do bolso e procura por mensagens. “Ah, realmente respondeu... pediu para eu ligar para ela quando pudesse.” A estudante devolve o bebê para a mãe. “Você escuta alguma coisa da varanda?”

“Não sei, mas já que você quer privacidade eu vou levar a Érin para o meu quarto...” Anna Júlia logo se recompõe e se recolhe com sua filha em seus aposentos.

 

 

Antes de fazer qualquer ligação, Helena resolveu calmamente fazer o lanche, pois sabia que com fome não raciocinaria direito.

 

“Alô? Nicole? Você pediu para eu ligar...” Helena finalmente realiza a chamada.

“Helena! Sim, eu queria falar com você e perguntar por que raios você estragou tudo?!?”

“Estraguei o quê?”

“Estragou tudo com a Thaísa! Lá no bar hippie, quando você decidiu cortá-la, a menina já tem a maior dificuldade de se envolver com alguém e você ainda complica tudo!”

“Ah...” Helena começa a se lembrar. “Mas eu não compliquei, eu só disse que estava resolvendo algumas coisas! Então é por isso que ela está recusando todos os meus convites para sair?”

“Você tem que se decidir, garota! Minha irmã não é um boneco que você escolhe a hora que quer brincar.” Nicole claramente se irrita.

“Uau...” Helena se assusta. “Talvez primeiro você devesse se perguntar os motivos de eu estar assim antes de sair fazendo julgamento.”

“Não preciso fazer julgamento quando vejo alguém fazendo minha irmã de palhaça.”

“Ok, então, Nicole. Muito obrigada pela ligação.” Helena aperta o botão de desligar, e toda plenitude adquirida na sessão de psicoterapia é jogada por água abaixo.

 

 

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Dante mexia no celular em sua nova casa, tranquilamente deitado em sua cama, enquanto Lívia pegava dois baldes e um esfregão, encaminhando-se para o banheiro.

“Onde tu vais essa hora com isso?” Dante pergunta.

“Lavar o banheiro, ué, prefiro lavar à noite.” Lívia responde com certo tom de obviedade.

“Mas eu já contratei o serviço da diarista, ela vem amanhã, amor.” Dante explica com naturalidade.

“Quando foi que você contratou? E por que não me falou nada? Dante, eu tenho que fazer orçamento de tudo, você sabe que o dinheiro da bolsa não dá para muita coisa!”

“Mas foi minha mãe que ofereceu, inclusive ela já transferiu o dinheiro na conta da diarista. Está tudo resolvido, poxa.”

“Dante!” Lívia suspira e coloca os baldes no chão. “Você tem que me avisar essas coisas! Isso não é mais como era antes, quando eu passava boa parte do tempo na sua casa, mas tinha minha própria residência... isso aqui agora é o nosso lar! Temos que tomar esse tipo de decisão juntos!”

“Desculpa, amor...” Dante dá de ombros. “Da próxima vez eu te aviso. Agora por que não vens para a cama? Daqui a pouco vai passar um filme de ação na TV, parece interessante.”

“Depois dessa eu queria mesmo era fazer você dormir no sofá por não me avisar.” Lívia deita ao lado do garoto. “Porém eu não resisto a esse cavanhaque fofo me pedindo desculpas.” Após um longo selinho, Lívia se recosta no ombro do namorido e sorri.

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Dias se passaram e Helena continuava sem falar com nenhuma das garotas Bragança. Já era tarde da noite e ela se preparava para dormir quando teve que atender uma ligação de sua mãe.

“Alô? Aconteceu alguma coisa, mãe?” Helena atende, preocupada.

“Não, filha, só queria saber como você está.”

“Eu já lhe respondi por mensagem que estou bem, por que ligou?” Helena responde, em tom grosseiro.

“Calma! Não precisa se exaltar, filha. É que a Nicole me contou que vocês brigaram e...”

“Ah, claro que ela contou.” Helena se irrita.

“Eu só queria entender o que aconteceu, ela me relatou que você tem andado estranha.”

“Ela também relatou que ficou nervosinha só porque não quis sair com a irmã dela?”

“Não, ela-”

“Então, da próxima vez checa os fatos, mãe.” Helena responde e quase que instantaneamente se arrepende por ter elevado a voz. “Mãe, desculpa, eu...”

“Tudo bem, está tudo bem.” Claramente a tonalidade da mãe não demonstrava estar tudo bem. “Na hora que você estiver mais calma a gente conversa civilizadamente.”

 

Helena ouviu a ligação ser encerrada e suspirou com aquele ar de auto decepção. Sentou-se na beirada da própria cama e perguntou a si mesma o que estava acontecendo. Em um momento de lucidez, foi ver uma das poucas pessoas que ainda não havia procurado briga.

 

“A Érin está dormindo?” Helena abre cuidadosamente a porta do quarto de Anna Júlia e aponta para o berço.

“Está sim, mas não precisa cochichar, só falar baixo.” Anna explica. “Você está bem?”

“Não.” Helena se senta ao lado da amiga deitada. “Acho que tive uma discussão com a minha mãe. Fui grossa com ela.”

“Ah, Helena... não creio! Ligue para ela de volta agora mesmo, peça perdão! Você está arrependida, certo?”

“Estou, eu pedi desculpa, mas ela ficou bem chateada...” Helena suspira. “Disse para eu ligar quando estivesse mais calma. E eu nem sei porque estou irritada.”

“Como anda a psicoterapia?”

“Vai bem, estou processando dentro de mim os acontecimentos das férias. Mas, por mais que eu esteja trabalhando isso, o fato de outras pessoas não saberem o que aconteceu comigo e ficarem me julgando por estar agindo diferente me deixa frustrada.”

“...e aí está a raiz da sua irritação, minha querida.”

“Mas ainda assim não faz o menor sentido eu estar brava com pessoas que mal sabem o que está acontecendo, sabe?”

“Você não está brava com elas. Está brava por não ter coragem de falar com elas e projeta essa raiva nelas.”

“Caramba, a maternidade elevou mesmo seu nível de sabedoria, hein!” Helena ri.

“Você já me disse isso mas eu não me canso de ouvir!” Anna também ri, esbanjando sua nova habilidade.

“Mas eu não sei como retirar essa projeção, porque eu ainda não tenho coragem de falar para ninguém.”

“E não precisa falar. Mas tente fazer as pazes, isso já é um começo.” Anna aconselha.

“Obrigada, obi-anna-kenobi.” Helena brinca e dá um longo abraço em sua amiga.

 

 

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Aos poucos, Helena voltou a conversar normalmente com sua mãe e Nicole. Cada videochamada por Skype com sua terapeuta fazia Helena colar novamente os cacos que o trauma havia estilhaçado, mas algo lá no fundo, bem lá no fundo ainda comichava. Algumas consultas na psiquiatra lhe renderam uma nova medicação, o que lhe deu confiança para puxar assunto com Thaísa logo após uma palestra dada à noite.

“Hey...” Helena sorri e decide cumprimentar Thaísa com um beijo no rosto.

“Hey... não vi você na palestra, não sabia que você gostava de otorrinolaringologia...” Thaísa parece surpresa.

“Bem, eu precisava completar algumas horas extracurriculares em eventos, então aqui estou.” Helena dá de ombros. “Você veio com alguém?”

“Meu pai me trouxe, agora vou ligar para ele me buscar.”

“Você realmente evita ao máximo ter que dirigir, né?”

“Você já sabe que tenho medo e só faço isso em caso de emergência, então não precisa pegar no meu pé por causa disso...” Thaísa já arma sua defesa, temendo que a conversa tome um rumo indesejável.

“Não! Desculpe-me, não quis pegar no pé.” Helena engole seco e mais uma vez se arrepende por ter cruzado a linha da intimidade. “Eu só... escuta, você não quer uma carona? Até esperar seu pai chegar...”

“Bem...” Thaísa olha para o celular. “Ele provavelmente iria esperar o jornal acabar para vir me buscar, de qualquer forma.” A garota dá de ombros. “Tudo bem, mas depois você me passa o valor da gasolina para dividirmos.”

 

Thaísa então entrou no carro de Helena e as duas seguiram pelas ruas da cidade. Ao se aproximar do casarão da estudante do 2º semestre, Helena por fim estacionou o carro no mesmo lugar que havia parado no primeiro encontro.

“Pelo menos hoje seu pai não está na porta nos esperando.” Helena comenta, rindo.

“É porque ele provavelmente pensa que eu ainda estou na palestra e vou ligar para ele.” Thaísa explica, séria.

“Eu sei, é que eu lembrei do nosso-ah, enfim, foi engraçado na minha cabeça.” Helena se embola nas palavras.

“O que foi engraçado?” Thaísa fica curiosa.

“É que-“ Helena solta um pequeno riso. “É que naquele primeiro encontro você não me beijou porque seu pai estava lá na frente. Isso foi irônico porque hoje que estamos tecnicamente distantes, seu pai não está ali.”

“Tecnicamente distantes...” Thaísa fica pensativa e suspira. “Pois é.”

“Eu sonhei com você umas noites atrás.” Helena revela.

“Isso é alguma maneira sórdida de me iludir novamente para depois me cortar e me fazer sofrer por justamente não conseguir parar de pensar em você?” O coração de Thaísa dispara.

“Você não para de pensar em mim?” Helena pergunta, segurando o sorriso.

“Que droga!” Thaísa bufa.

“É uma droga mesmo, porque eu também não paro de pensar em você.” Helena afirma e, na velocidade de um raio, retira o cinto de segurança e avança com sua boca sobre os lábios de Thaísa, beijando-a, desejando-a como se fosse a única fonte de água em meio ao deserto.

 

Fim do capítulo