Capitulo 54 - Lisboa
(AVISO DE GATILHO PARA ASSÉDIO: O capítulo possui conteúdo com gatilhos. Se você não se sente confortável, por favor, não leia.)
Helena aterrissou no Aeroporto da Portela, em Lisboa, após cerca de dez horas de viagem sem escalas, direto do Aeroporto Internacional de Guarulhos. Pérola a aguardava com o bom e velho frapuccino e uma fatia de cheesecake, do jeito que a estudante gostava.
“Como foi a viagem?” Pérola a cumprimenta com um abraço cuidadoso para não derrubar o café da manhã, ou como é por lá conhecido, o pequeno almoço da garota.
“Foi boa, tranquila, exceto pelo suco de maçã que ofereceram no voo.”
“O que havia de errado com o suco de maçã?”
“Eu não gostei do suco de maçã que ofereceram no voo. Tinha gosto de urina. Não que eu já tivesse provado urina, mas... ah, você entendeu!” Helena dá de ombros e Pérola ri.
“Aiai, tenho tantos planos para sua estadia aqui! Vamos visitar os melhores clubes, os melhores bares, prepare-se para virar várias noites!” Pérola avisa.
“Você quem manda!” Helena parece animada para curtir as férias.
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Pérola levou Helena para seu apartamento em Campo de Ourique, um bairro consideravelmente nobre da capital portuguesa. A vista do décimo andar do prédio dava diretamente ao Porto de Lisboa e à praia.
“Você sempre prezou por um apartamento com uma boa vista...” Helena cruza os braços e contempla a paisagem.
“Você me conhece bem...” Pérola sorri, e então checa seu telefone. “Escuta, bebê, eu vou ter que ir porque eu tenho uma reunião de marketing com a empresa que me contratou para acertar os detalhes das gravações. Tem um restaurante no térreo, na hora do almoço você desce lá e pode botar na minha conta. Provavelmente vou chegar no fim da tarde porque ainda tenho que checar o estúdio e tudo mais. Eu te enviei uma mensagem o código para entrar no meu apartamento. Fique à vontade para conhecer o bairro, a famosa Casa de Fernando Pessoa fica aqui perto. Precisa conferir a réplica do quarto dele, é maravilhoso!”
“Ah, tudo bem, obrigada...” Helena coça a cabeça, confusa com tanta informação. “Mas acho que vou dormir um pouco, por motivos de jet lag.” A garota boceja e então é levada por Pérola para o quarto de visitas.
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Helena acordou da soneca já no meio da tarde, morrendo de fome. Foi procurar algo na geladeira mas só encontrou bebidas alcoólicas e uma lata de ervilhas. Resolveu então tomar um banho, arrumar-se e, ao invés de ir para o restaurante indicado pela anfitriã, saiu para procurar algum café e conhecer os arredores.
Em poucos minutos de caminhada, deparou-se com um simplório – porém muito bem decorado café, onde pediu um pastelzinho de Belém e um cappuccino com borda de chocolate.
Enquanto apreciava o movimento dos habitantes da cidade, o vaivém de portugueses com seus pares, ou mesmo sua prole, Helena quase finalizava seu lanche substituto de almoço quando parou um momento para checar seu celular.
Viu mensagens de sua mãe perguntando como estava, seu pai questionando se chegara bem, e até mensagens de Nicole pedindo fotos dos pontos turísticos, além outros amigos perguntando sobre a viagem. Respirou fundo, olhou mais uma vez o movimento, e resolveu mandar uma mensagem antes de responder ao resto dos questionários.
‘Hey... tudo bem por aí?’ Helena envia para Thaísa.
A turista ia e voltava no aplicativo de mensagens para ver se recebia algo, mas nada. Resolveu responder aos pais e amigos, sendo que sua mãe respondeu com uma foto dela junto à Nicole, mostrando que estavam no meio do expediente, dado a diferença de fuso horário.
Helena pagou a conta e saiu para andar mais um pouco, até chegar na Casa de Fernando Pessoa, ponto turístico que outrora foi o local de habitação do famoso poeta. Tirou fotos, postou algumas e quando saiu, já estava anoitecendo. Voltou ao apartamento, onde encontrou Pérola lendo um roteiro no chão da sala, cercada de papeis e dois notebooks.
“E aí? Curtiu andar por Campo de Ourique?” Pérola pergunta, variando entre um gole de cerveja e a leitura dos papéis.
“Curti sim. Mas acho que agora vou dormir, não paro de bocejar...”
“Você tem certeza que está bem?” Pérola estranha o comportamento da ex.
“Estou sim, só estou com muito sono...”
“A Helena que eu conheço estaria super empolgada, perguntando os planos para a primeira noite aqui, e ficaria mais empolgada quando eu contasse que planejei encontrar dois amigos influenciadores digitais lá na cervejaria que fica na beira da Praia de Cascais...”
“Ah... você já marcou?”
“Já sim, estava tudo combinado, só estava esperando você chegar para avisá-los... mas tudo bem, digo a eles que você quer descansar.”
“Não, não...” Helena coça os olhos e checa o celular rapidamente. “Quer saber? Vamos sim.”
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Pérola dirigiu por alguns quilômetros até finalmente chegar na Praia de Cascais, em uma das cervejarias mais conhecidas da região. As garotas pediram duas canecas de cerveja de café enquanto esperavam os dois influenciadores.
Um deles chegou primeiro e também pediu uma cerveja. Meia hora depois, o segundo chegou, com dois homens de terno, um de cada lado do jovem rapaz.
“Dois seguranças? Sério?” Helena pergunta.
“Esse gajo é famoso aqui em Portugal.” O influenciador que chegou primeiro responde.
“Pois é, ele foi um dos pioneiros aqui no país, Helena.” Pérola complementa.
“Martim, meu querido!” O jovem acompanhado dos seguranças cumprimenta o outro influenciador. “Pérola! Estás mais linda do que nunca! E esta moçoila convosco... tu tens nome?”
“Tenho. Helena.” A garota cumprimenta o rapaz, sem ao menos levantar o olhar pois estava mais preocupada em checar o celular.
“Helena! Filha de Zeus e de Leda...” O jovem famoso tenta se exibir.
“Hm...” Helena olha para Pérola e depois volta os olhos para o celular.
“Prazer, tu já deves me conhecer pelo meu canal.” O rapaz comenta.
“Na verdade, nunca ouvi falar...” Helena coça a cabeça.
“Ora pois...” O rapaz se surpreende. “Bem, sou o Vaz. Pode procurar aí pelos meus vídeos .”
“Está bem, depois eu faço isso.” Helena responde e para sua sorte o garçom se aproxima para servir mais chopp.
Algumas pessoas se aproximam para tentar pegar autógrafos do trio, sendo barrados pelos seguranças, e Helena, a única não-influenciadora no meio, concentrava-se apenas em olhar suas redes sociais.
“Então, esse final de semana teremos uma festa em minha casa, minha festa de aniversário, e gostaria de convidar-vos. Mas nós não vamos filmar nem publicar nada, será uma festa privada, pois vós sabeis que não gosto de publis na minha casa.” Vaz explica.
“Por mim está ótimo!” Pérola aceita de primeira.
“Publis?” Helena questiona.
“Publicidade.”
“De modo geral, você não curte que filmem o interior da sua casa, então?” Helena continua o questionário.
“Não gosto que as pessoas saibam o que tenho.” Vaz responde.
“Mas as pessoas presumem que você é rico, não? Provavelmente já sabem que você possui coisas de rico.”
“Sim, mas não gosto.”
“Mas se até as Kardashians mostram esse tipo de coisa, por que você não?”
“Helena, você lembra quando sofri ameaças? Do quão temerosa eu fiquei?” Pérola interrompe a conversa dos dois. “O Vaz recebe ameaças quase que diariamente.”
“Exatamente.” O rapaz movimenta a cabeça positivamente.
“Credo.” Helena franze a testa. “E de que adianta ganhar dinheiro assim, para viver com medo?”
“Helena!” Pérola dá uma cotovelada na ex.
“A pergunta faz sentido...” Vaz dá risada. “Tu és uma moçoila bem curiosa, gosto disto. Digo que vale a pena porque eu me divirto falando o que quero e ganhando por isso. Tenho certeza que Pérola partilha do meu pensamento.”
“É bem isso aí mesmo!” Pérola sorri.
“Hey, que horas são no Brasil?” Helena pergunta, mudando completamente de assunto.
“Deve ser quase sete da noite, por quê?” Pérola responde.
“Nada não, só queria saber.” Helena dá de ombros.
“Moiçoila, Helena de Troia, onde tu moras no Brasil?” Vaz pergunta.
“Faço faculdade no interior de São Paulo.” Helena responde mais uma vez sem tirar os olhos do celular.
“A sério? E o que fazes de faculdade?”
“Medicina.” Helena responde.
“Medicina? A sério? Fixe! Minha ex é médica.” Vaz continua o papo.
“É aquela que fez o jogo das dez verdades com você no vídeo?” Pérola questiona.
“Essa mesma. Tinha certeza que casaríamos, mas a vida tinha outros planos.” Vaz dá de ombros.
“Planos do gajo levar uma rapariga por semana para a suíte dele...” Martim dá risada.
“Só uma por semana? Esse foi seu plano pós término?” Pérola brinca.
“Woah!” Vaz ri.
“Bom saber, Pérola...” Helena faz cara de surpresa.
“Ah para, Helena, você fez pior...” Pérola revira os olhos. “Você transou com uma ex de dois anos atrás.”
“Espera, como você sabe?”
“Porque você me mandou mensagem bêbada no dia que saiu com a sua amiga grávida para falar dessa outra ex.”
“Ah é. Lembrei, conversei bastante com você sobre isso. Cara, naquele dia eu passei mal.”
“Espera, ela e tu são ex namoradas?” Vaz pergunta.
“Sim.”
“Woah...fixe! E tu estás dormindo na casa da tua ex? Deveis estar trepando até desidratares, huh?”
“Uh... não?” Helena arqueia uma sobrancelha, enojada pelo comentário.
“Nós fizemos um pacto.” Pérola explica. “Com garotas é diferente, Vaz, tem toda uma história por trás, complicado demais. Depois do incidente da Helena e da outra ex dela, decidimos não cometer esse erro.”
“Percebo.” Vaz balança a cabeça positivamente.
“Aqui vocês usam o verbo perceber como se fosse o verbo entender, né?” Helena questiona.
“Exato, Helena de Troia!” Vaz responde com um sorriso.
“Bem, pessoal, tenho que ir, estou a terminar de editar um vídeo que gravei e preciso postar amanhã.” Martim avisa.
“Ah, percebo, queres uma boleia? Vou-me também.” Vaz se levanta.
“Para mim, vocês estão falando um idioma completamente diferente.” Helena se esforça para entender o português de Portugal.
“O Vaz ofereceu uma carona para o Martim, Lena.” Pérola explica.
“Ah, obrigada pela tradução.” Helena ri.
“E vós, não quereis uma boleia também?” Vaz oferece.
“Não, obrigada, estamos de carro, Vaz.” Pérola explica.
“Certo. Estareis em minha festa, então?”
“Pode contar conosco!” Pérola faz um sinal de joinha com a mão e o grupo se despede.
________//________
Antes de chegar em casa, as meninas passam no drive thru para pedir o jantar, dado que mais beberam do que se alimentaram no passeio.
Chegando no apartamento, Pérola arrumou a mesa de café e deixou Helena à vontade enquanto terminava de ler seu script.
Helena checava seu celular mais uma vez, quando finalmente recebeu uma chamada que alegrou por completo seu dia.
“Com licença, posso atender na sacada?” Helena pergunta, apontando para a varanda.
“Vai lá! Só puxar a porta de vidro.” Pérola responde.
“Hey, Thaísa! Achei que tivesse esquecido de mim...” Helena finalmente atende.
“Sua bobinha... é que eu fiquei o dia todo no Instituto com meu pai, desculpe-me. Saí agora à noite... você nem faz ideia do que aconteceu.”
“O quê?” Helena parece interessada pela conversa.
“Um dos funcionários simplesmente surtou e quebrou alguns refrigeradores contendo tubos de ensaio com amostras sorológicas, fiquei até quase 9 da noite ligando para os clientes cadastrados pedindo para reagendarem outro exame. Foi um caos! Meu pai ainda cuidou para que a notícia não vazasse para imprensa assim repentinamente, ele preferiu que falássemos com os clientes sob sigilo, mas amanhã estará nos tabloides online da região, com certeza.”
“Caramba! Imagino o susto que vocês devem ter levado! Mas vocês estão bem?”
“Sim, nós estamos, o surto foi no meio da madrugada, nós só vimos pela manhã e descobrimos quem era por causa das câmeras de segurança.”
“Certo... eu estava preocupada, você não respondeu o dia inteiro...”
“Awn, estava preocupadinha, é? Já está se apegando, por acaso?” Thaísa provoca.
“Ha-ha-há, eu estava preocupada porque você costuma entrar em encrencas e dessa vez eu não estava aí para lhe livrar.”
“Não, muito obrigada, da última vez que você me livrou, tive que fazer amizade com a Gabriele.” Thaísa ri.
“Poxa, mas foi vantajoso, reduzi uma inimiga para você!”
“Não sei o que é pior, viu.” Thaísa ri novamente. “Mas e aí, como anda a viagem?”
“Boa, até, a gente saiu com dois outros influenciadores, o Vaz e o Martim.”
“Esse Martim eu nunca ouvi falar mas eu assisto a alguns vídeos do Vaz, ele é bem idiota mas quando estou entediada fica divertido.”
“Falar a verdade para você, nunca tinha ouvido nada a respeito de nenhum dos dois.” Helena responde enquanto admira o horizonte.
Alguns segundos de silêncio. Helena não sabia como continuar o papo.
“Vou para São Paulo esse final de semana, mamãe e papai querem visitar Nicole.” Thaísa quebra o gelo.
“Que legal!”
“Pois é, eles queriam marcar um jantar com a sua mãe, mas quando Nicole contou por videochamada que a chefe namora outra mulher, eles cortaram o assunto na hora! Foi até engraçado.”
“Imagino a sua cara vendo a cena...”
“Para minha sorte, eu estava em outro cômodo, só ouvi a conversa mesmo.”
Helena e Thaísa conversaram por quase duas horas, até serem interrompidas pelo aviso de bateria acabando do celular de Helena.
“Bom, acho que é hora de dar boa noite...” Helena comenta, nos poucos segundos restantes de bateria.
“Pois é... eu nem vi o tempo passar...” Thaísa responde.
“Eu também não... mas não vou admitir que gostei de falar com você no telefone.” Helena brinca.
“Ah, eu também não!” Thaísa responde rindo.
“Boa noite então...”
“Boa noite, beijão...”
“Beijo...” Helena desliga a chamada, com um sorriso bobo no rosto.
________//________
O dia da festa de aniversário de Vaz havia chegado e as meninas se dirigiram para a mansão do rapaz, um pouco afastada da região central da cidade, cercada de seguranças que exigiam identificação e nome na lista de convidados.
Ao adentrarem, depararam-se com dezenas de pessoas, talvez centenas, embebedando-se, cheirando carreiras, fumando, era como se Helena e Pérola estivessem em um filme universitário dos anos 2000.
As meninas cumprimentaram o aniversariante, entregaram-lhe os presentes e então Pérola dispersou para interagir com alguns conhecidos brasileiros que também foram convidados. Helena foi para uma área descoberta, próximo à piscina, a fim de pegar um sinal melhor e, como se fosse novidade, foi checar suas redes sociais, quando foi surpreendida por uma ligação de Thaísa.
“Oi! Estava pensando em você agorinha mesmo.” Helena atende.
“Oi, Helena... ai, você não vai acreditar...” Thaísa soa aflita.
“O que houve?”
“Sabe essas nossas conversas diárias por telefone?” A garota fala quase cochichando. “Então, meus pais andam desconfiando demais, fazendo perguntas, até que meu pai disse que combinou com o filho do amigo dele de me levar para jantar amanhã depois de irmos à Igreja...”
“É sério isso?”
“Eu ainda não estou acreditando que meu próprio pai está querendo me arranjar um pretendente, como se eu fosse uma adolescente de quinze anos que não soubesse escolher! Ele nunca fez isso antes, eu acho que ele está super desconfiado.”
“Mas você acha que alguém falou algo para ele?”
“Eu não sei... só sei que precisamos cortar as ligações até você voltar, fico com medo de algum deles ter ouvido, ou de algum dos empregados ter escutado.”
“Tudo bem...” Helena se desanima um pouco, mas compreende. “E você vai nesse encontro?”
“Tenho que ir, senão meu pai desconfiaria ainda mais, entretanto já tenho um jeito de escapar bem rápido, vou fingir que não passei bem com a comida e volto logo para casa... Helena, estou ouvindo passos perto do meu quarto, acho que é meu pai. A gente se fala por mensagem, beijo.” Thaísa se despede e desliga logo em seguida, sem ao menos dar a chance de Helena responder.
“Helena!” Martim vê a brasileira e a cumprimenta! Venhas beber conosco! Aceitas um gin com tônica?” Ele aponta para um grupo de pessoas desconhecidas pela garota.
“Um copo cairia bem!”
Não só um copo caiu bem como vários outros após o primeiro. Helena se divertia com o novo grupo de amigos que arranjou. Jogou conversa fora e até ensinou primeiros socorros quando adicionou ao mix algumas doses de tequila. Algumas horas de diversão renderam um pouco de distração para a jovem estudante, até que Pérola a chamou em um canto para irem embora.
“Okay, deixa eu só ir ao banheiro rapidinho, pode ser?” Helena pede.
“Tudo bem, fico lhe esperando aqui. Os banheiros ficam no segundo andar.” Pérola aponta.
Helena então subiu ao segundo andar e finalmente encontrou um banheiro enorme. Entrou, urinou em paz, lavou as mãos e, ao sair, deparou-se com Vaz.
“Helena! Minha querida... estás aproveitando a festa?” O rapaz pergunta, com um copo de whiskey em mãos.
“Sim, estou... digo, estava, a Pérola quer ir embora agora.”
“Mas já? A diversão só está começando!”
“Pois é, mas a gente se divertiu bastante, já. Muito boa a sua festa, está de parabéns.”
“Ora pois... Ah! Já ia me esquecendo, tenho algo para lhe dar. Acompanha-me.” Vaz guia Helena para um quarto colossal, digno de uma suíte presidencial.
“O que é?” Helena olha meio assustada ao adentrar.
“Veja bem, eu disse que namorei uma médica, pois bem, eu, de muito bom grado, presenteá-la-ia mas ela terminou comigo antes que pudesse entregar isto...” Vaz tira de sua gaveta uma caixa com estetoscópio. “O vendedor disse-me que é de última geração. Queres?”
“Ah...” Helena sorri meio bêbada e sem graça. “Eu agradeço muito, mas meu pai me deu um igual no semestre passado... foi logo quando saiu a versão mais recente desse esteto. Mas sério, por que não vende ou sei lá, doa para alguém que necessite?”
“Uau...” Vaz fica surpreso. “Tu não és uma rapariga que te impressionas fácil, huh?” O rapaz sutilmente fecha a porta.
“Isso aí era você tentando me impressionar?” Helena faz uma careta ébria de incrédula. “Por quê?”
“Porque eu tenho uma certa queda por médicas que têm como um dos passatempos ficar com outras garotas...” Vaz se aproxima, encurralando Helena em um dos cantos da parede.
“Mas eu fico SÓ com garotas... eu sou lésbica...” Helena responde, começando a ficar com medo.
“Mas nunca experimentastes?” Vaz coloca as mãos sobre a cintura de Helena.
“E-eu já beijei meu amigo... o que você está fazendo?!” Helena coloca as mãos nos ombros do rapaz para tentar empurrá-lo.
“Não estou a falar de beijar... estou a dizer sobre um gajo estar por cima de ti enquanto te comes...” Vaz começa a beijar violentamente o pescoço de Helena, que tenta com todas as forças empurrá-lo mas não consegue devido ao enfraquecimento ébrio.
“Para, Vaz, por favor, eu vou gritar! SOCORRO! SOCORRO ALGUÉM ME AJU-” Antes que Helena pudesse terminar de gritar, o rapaz tampa a boca da convidada, que encara com olhos arregalados o rapaz.
“Pensas que alguém vai te escutar? Está uma barulheira lá fora, todos estão a se divertir! Por que não nos divertimos também?” Vaz joga a garota na cama com força, que, ao tentar fugir, é agarrada novamente e começa a chorar.
Em meio a lágrimas e tentativas de gritos abafados, tudo que Helena conseguiu ver foi a porta sendo aberta com força, e três pessoas entrando no quarto. Para a sorte da garota, não houve tempo de Vaz fazer absolutamente nada, uma vez que Martim o pegou, Pérola a socorreu uma terceira pessoa ainda socou o influenciador enquanto estava sendo imobilizado por Vaz.
“Está tudo bem, meu anjo, está tudo bem.” Pérola abraça a ex namorada.
“Eu q-quero sair daqui!” Helena exclama, com a voz trêmula.
“Vamos.” Pérola ajuda Helena, que caminhava com as pernas bambas, até a saída da mansão.
Durante o trajeto de volta para casa, Helena tentava esconder as lágrimas olhando para o lado oposto da motorista, enquanto Pérola dirigia sem saber como abordar a situação.
“Se você quiser, a gente vai até à polícia.”
“De que adianta? Ele não chegou a consumar nada, será a minha palavra contra a dele e eu ainda sou uma turista passando uns dias aqui enquanto ele nasceu aqui e é uma das pessoas mais famosas da cidade dele.”
“Mas há testemunhas, Helena! Eu senti que você estava demorando demais no banheiro e fui lhe procurar. Quando não lhe encontrei, fui atrás do Martim e de um amigo dele, e quando passamos perto do quarto daquele canalha ouvimos seus gritos abafados. Eu juro, se não tivéssemos chegado a tempo, eu nunca me perdoaria, eu quero matar esse cara, podemos lançar alguma campanha para destruir a carreira dele, acabar com tudo que aquele desgraçado já construiu!”
“Eu não quero me submeter a tudo isso... ele é famoso, eu não quero que isso caia na mídia, eu não quero me expor. Deixa isso para lá, Pérola. Uma hora o carma chega e não perdoa.” Helena enxuga as lágrimas e abre o vidro do carro para sentir o vento.
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Ao término da viagem, Helena se despediu da ex e pegou o avião de volta a São Paulo. Perto do final do voo, adormeceu na poltrona da classe executiva. Seu sono parecia tranquilo, até que começou a suar e se remexer.
“Não... eu não quero!” Helena exclama, enquanto dorme.
“Senhorita?” Uma aeromoça a cutuca. “Senhorita, está tudo bem?”
“Oi?” Helena acorda, ensopada em suor e assustada. “O quê? O que aconteceu?”
“Desculpe, a senhorita estava exclamando alguma coisa, pensei que não estivesse bem.”
“Ah, eu que peço desculpas, acho que tive um pesadelo... pode me dar um copo de água por favor?” Helena pede, enquanto enxuga o suor em um lenço que trouxe na bolsa.
“Aqui, senhorita.” A aeromoça retorna com um copo de água.
“Obrigada.” Ainda um pouco ofegante, Helena termina de beber enquanto aguarda os poucos minutos restantes para a aterrissagem.
Ao chegar em terra, a jovem foi recepcionada pelo motorista da empresa de seus pais ao lado de Nicole, com uma plaquinha.
“Helena!” A garota sorri e abraça a amiga.
“Nicole! Como é bom lhe ver!” Helena retribui o abraço apertando mais forte ainda a amiga.
“Sua mãe me mandou com o Pepe para lhe buscar.”
“Poxa, eu agradeço, mas eu iria pegar um táxi até a casa do meu pai, combinei com ele de cuidar dos gêmeos essa tarde.”
“Bem, dona Helena, posso lhe levar até lá, afinal também trabalho para o seu pai.” Pepe, o motorista, responde.
“Perfeito! Mas antes, vamos parar para almoçar, né? Você tem muita coisa para me contar e, ah, quero saber quais são os planos futuros para com a minha irmã, afinal nenhuma das duas me contaram detalhe nenhum até agora.” Nicole já começa a cobrar em tom de brincadeira.
“Eu sei, eu sei...” Helena ri. “Mas vamos almoçar porque não comi quase nada no avião.”
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O motorista as deixou no restaurante enquanto foi resolver algumas burocracias para a mãe de Helena. Enquanto as garotas almoçavam, aproveitavam para colocar o papo em dia.
“Então, minha irmã falou sobre o lance do encontro arranjado pelo meu pai. Por essa sinceramente não esperava, sempre achei que eles confiavam inteiramente nela.” Nicole conta.
“Também não esperava, mas tudo bem, ela quis ser uma garota obediente aos pais, eu entendo.”
“Ela lhe contou que o garoto tentou beijá-la? Cara, foi demais, eu gargalhei.”
“Não me contou não... agora me conta, como foi?” Helena fica curiosa.
“O garoto a puxou antes de entrarem no carro para voltarem para casa, e daí ela fingiu que estava passando mal e ia vomitar na frente dele, o garoto ficou assustado e correu para levá-la logo!”
“Ah, o velho truque de passar mal, ela me contou que iria usar.”
“Menina esperta essa minha irmã... mas e aí, como foi na Europa?”
“Foi tudo bem...” Helena desvia o olhar, dá um falso sorriso e, segurando o garfo, brinca com o resto da comida no prato.
“Nossa, essa não era a reação que eu esperava...”
“Foi divertido até, mas tem uma hora que a gente só quer voltar para casa...”
“Hmm... voltar para casa ou voltar para os encontros com minha irmã?” Nicole dá uma piscadinha.
“Boba...” Helena revira os olhos e ri, envergonhada.
“E você volta quando para o interior, aliás?”
“No final de semana que vem. Quer vir junto comigo? Não queria pegar estrada sozinha...” Helena pede com sinceridade.
“Sério? É uma rodovia tão tranquila... mas eu vou sim, aproveito e vejo meu avô que chegará lá dentro de poucos dias.” Nicole comenta.
“O seu avô paterno? Irmão do Presidente?”
“Esse mesmo, o Coronel em carne e osso. É o conservadorismo em pessoa. Mas adivinha, a Thaísa o adora, literalmente ela o venera, acho que é a pessoa favorita dela em todo o Universo.”
“Sério? O avô? Jurava que fosse o pai de vocês o dono desse posto.”
“Ela ama nosso pai, mas com o nosso avô é diferente. Com a perda da nossa avó, o vovô passou uns tempos em casa quando a Thaísa era pequena, aí ele se agarrou com todas as forças nela, passou vários ensinamentos a ela, enfim, na época eu já era uma pré adolescente que, apesar de me não me rebelar, eu questionava tudo, e ele não gostava disso. A Thaísa sempre aceitava sem perguntar e tomava tudo o que ele dizia como verdade absoluta, e ele adorava isso porque ganhava toda a atenção dela.”
“Entendi...” Apesar de responder positivamente, a cabeça de Helena parecia estar em outra dimensão.
“Hey, Terra chamando Helena!” Nicole estala os dedos.
“Oi? O que foi? Eu estava prestando atenção.” Helena suspira e volta a mexer no pedaço de carne restante.
“Você está diferente... não sei se é porque faz tempo que não lhe vejo ou se foi o efeito Europa, mas você está diferente.”
“Não estou não... só estou um pouco cansada.” Helena suspira e finalmente finaliza o prato. “Só estou cansada.” Ela repete para si mesma enquanto dentro de si, tenta espantar os flashes daquele mesmo pesadelo.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
rhina
Em: 04/09/2020
Boa noite.
Helena passou por um momento traumatizante. Coisas que marca. Fere e deixa sequelas.
Sabe Autora......Thaisa. Ela é um luxo de tão requintada. Profunda. Moça de familia. Pra casar. Com ela foi diálogo antes de chegar na cama. Mas porque não estou empolgada?????
Rhina
Resposta do autor:
Talvez, apenas talvez, a personagem Isabel ainda "assombre" essa parte da história, pelo fato de termos nos envolvido tanto com o plot das duas!
O que acha?
Beijão!
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