Final de semestre. Provas. Férias. Natal,  Ano Novo. O aniversário de Helena, que coincidia com o aniversário da capital paulista, foi comemorado em grande estilo numa festa organizada por Pérola e sua sogra Fran.

Helena passou a maior parte do tempo das férias no apartamento de Pérola, o que era de se esperar. Para o carnaval, que dessa vez aconteceria antes do início das aulas, planejaram aproveitar todos os blocos de rua possíveis, e para completar a festa, chamaram Lívia e Dante.  Anna Júlia também foi convidada, mas não pôde ir devido ao acúmulo de trabalho.

            “Pérola, eu amei a vista do seu apartamento!” Lívia observa  pela janela. “Olhando para esse parque aqui da sua janela até da impressão de que São Paulo não é feita de concreto!”

            “Há alguma padaria aqui? Estou louco para tomar um pingado de café da manhã.” Dante comenta.

            “Tem ali na esquina, podemos tomar um café daqui a pouco.” Helena responde.

“E quais são os planos para hoje? Já começaram os bloquinhos?” Lívia, ansiosa, pergunta.

            “Na verdade às 11 da manhã já começa um bloquinho na Brigadeiro Faria Lima. Estava pensando em almoçarmos e depois irmos curtir ali.” Pérola sugere.

            “Aquela tua amiga parente do Presidente vai também?” Dante questiona para Helena.

            “Não, ela detesta essas coisas. Aliás, ela anda tão ocupada que quase nem nos falamos. Última vez que a vi foi no Natal, pois teve uma comemoração na empresa.”

            “Que horas costuma acabar? Todos os dias os blocos acabam no mesmo horário?” Dante questiona.

            “Geralmente eles vão até a noite, por quê?” Pérola responde.

            “Dante queria aproveitar para visitar as cidades ao redor. Ele tem um amigo gaúcho que fez parte do Clube de Regatas com ele e está fazendo medicina no ABCD Paulista.” Lívia responde pelo namorado.

            “Clube de Regatas? Que coisa de rico.” Helena dá risada.

            “Amor, você não pode falar nada que seu pai é sócio do Paulistano.” Pérola responde, também rindo.

            “Paulistano?” Lívia questiona, participando da conversa.

            “Um clube de elite daqui da cidade.” Pérola explica. “Mudando de assunto, vocês vão fantasiados de quê?”

            “Compramos fantasias para o feriado inteiro, só para não repetir!” Lívia comenta, empolgada. “Hoje vamos de Aladdin e Jasmine.”

            “Aw! Fantasia de casal! Helena, por que não pensamos nisso?” Pérola faz bico.

            “Eu queria ir de Pikachu e você de Malévola, então acho que não tinha como combinarmos...” Helena dá de ombros.

 

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            O pequeno grupo resolveu chegar no bloco pouco depois do meio-dia,  com o sol de verão a pino e caixas de água de coco sendo vendidas a dez reais, além de cervejas das mais diversas marcas com preços triplicados, o que não impediu os jovens de aproveitarem e sucumbirem ao capitalismo carnavalesco.

            “Amor, eu já disse que você está gostoso?!” Lívia, já meio bêbada, comenta com o namorado.

            “Tu também estás muito gostosa, Liv.” Dante dá risada ao ver a namorada eufórica.

            “Mas eu digo que você está gostoso mesmo! Tão gostoso que me dá até raiva! Dá raiva porque quero ser possessiva com você e isso não é nem um pouco saudável!!”

            “Meu amor, de onde tu estás tirando isso?”

            “Dante, você me acha tóxica por ser possessiva? Digo... somos tóxicos?”

            “Lívia, tu já bebestes cerveja demais por hoje.” Dante ri mais uma vez.

            “Digo... a gente teve todos aqueles problemas por relacionamento aberto... será que temos problemas de confiança demais?”

            “Lívia, quando tu estás bêbada, ou tu ficas reflexiva ou tu falas demais... às vezes ambos. “

            “Mas é sério, Dante! Nós estamos bem, eu sei, melhores do que nunca, mas às vezes eu paro e penso que-”

            “Shh...” Dante a interrompe com um longo beijo. “Sem neuras, okay?” Dante a beija novamente.

            “Sem querer me intrometer no beijo de vocês, mas eu preciso dizer, vocês são o casal mais bonito desse bloco!” Uma outra garota vestida de policial os elogia.

            “Obrigada, moça! Somos mesmo, não somos?” Lívia ri, enquanto continua abraçada com o namorado.

            “Eu deveria prender vocês dois por serem tão gostosos! Esse Aladdin que parece um Apolo e essa Jasmine que parece uma atriz global!” A policial de mentirinha continua os elogios ébrios, intercalados com pequenas dancinhas ao som do trio elétrico ao fundo.

            “Essa moça está dando em cima da gente?” Dante cochicha.

            “Não faço ideia, ela está?” Lívia fica confusa.

            “Vem gente, dancem comigo!” A garota coloca a lata de cerveja no chão e puxa cada um por um braço, mordendo discretamente o lábio inferior.

            “Sim, ela está.” Dante balbucia e ambos acabam dando risada.

 

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            Pérola comprou duas latinhas de bebidas alcoólicas com sabor de frutas e entregou uma delas a Helena, que desistiu de ir fantasiada pelo fato de estar calor demais, enquanto Pérola adaptou uma forma tropicalista da personagem Malévola.

            “Amor, eu tenho uma notícia muito boa para lhe contar! Mas não sei se lhe conto aqui mesmo ou espero chegarmos em casa...” Pérola comenta, enquanto as duas curtem em algum lugar da Brigadeiro Faria Lima.

            “Pode contar aqui, senão vou ficar curiosa pelo resto do dia!” Helena responde, ansiosa.

            “Lembra que eu estava tentando entrar em parceria com aquela emissora famosa para ver se conseguia algum patrocínio?”

            “Lembro, você conseguiu?”

            “Não só consegui como me mandaram um e-mail agora há pouco me oferecendo para cobrir um documentário que eles querem fazer em Miami!”

            “Espera, sério?!” Helena abre um sorriso gigantesco. “Não acredito! Em Miami, ainda! Amo aquela cidade. Quando vai ser? Será que vai começar antes das aulas? Seria maravilhoso, eu poderia ir com você passar uns dias lá, já falo com meu pai e-”

            “Amor, amor... eu teria que ir no final de semana que antecede o início de suas aulas... e serão cinco meses de gravação.”

            “Sério isso? Cinco meses?” O rosto de Helena muda completamente. “Mas você iria ficar comigo esse semestre...”

            “Eu sei, meu amor, eu sei que prometi isso, mas é uma oportunidade única e-”

            “É uma oportunidade única e você não pode perder, eu sei, e eu nunca seria contra, Pérola, eu só preciso me readaptar, só isso.”

            “Além do mais, isso é maravilhoso, é uma oportunidade para finalmente apagar meu passado com uma oportunidade internacional de emprego que minha ex roubou de mim  uma vez.”

            “Com certeza.” Helena pega uma das mãos de Pérola. “Esse documentário vai ser um sucesso.”

 

 

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            Após dançarem e conversarem sobre o carnaval paulistano, a garota fantasiada de policial, que havia bebido tanto quanto Lívia, parecia empolgada em continuar a conversa com o casal.

            “Gente adorei vocês, quero super ser amiga de vocês dois. Seguinte: está tendo outro bloquinho lá na Barra Funda, é maravilhoso, o que vocês acham de vazarmos daqui e irmos para lá? A gente pode ir de metrô, é bem tranquilo. Eu moro lá perto também, se vocês quiserem parar pra tomar uma água por lá e tal.”

            “Nós estamos de carro.” Dante explica.

            “E podemos ir sim, por que não?” Lívia se empolga.

            “Certeza? Não achas melhor avisarmos Helena e Pérola?”

            “A gente manda mensagem.  Vai ser legal, vamos curtir dois bloquinhos em um dia só! Ah, vamos...” Lívia chacoalha o braço do namorado, que acaba sendo convencido.

 

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            “Amor, você não disse quase nada faz mais de uma hora...está tudo bem?” Pérola acaricia o rosto da namorada cabisbaixa.

            “Sim, sim, estou bem... estava só checando celular.” Helena disfarça o humor abalado. “Dante e Liv foram curtir outro bloquinho lá na Barra Funda, aliás. Encontraram uma nova amiga e foram para lá. Lívia acabou de me mandar isso.”

            “Nova amiga? Será que não é perigoso eles saírem com desconhecidos assim? Eles mal conhecem a cidade.”

            “Bom, eu já saí com amizades que havia acabado de fazer para mudar o rolê, normal.” Helena dá de ombros.

            “Sim, amor, eu sei. Mas eles não conhecem a cidade.”

            “Dante está de carro, nada que um GPS não resolva.” Helena continua a mexer no celular para se distrair.

 

 

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            Já curtindo há algum tempo no bloquinho da Barra Funda, Lívia, distraída, acabou rasgando a parte superior da fantasia, de modo que parte de seu peito ficaria exposta se ela não segurasse e tampasse.

            “Droga, acho que temos que ir, eu não vou conseguir ficar segurando e não trouxe nenhuma roupa extra no carro.” Lívia reclama.

            “Vamos então.” Dante ajuda fazendo cobertura para que a namorada não se exponha.

            “Espera, a gente provavelmente veste o mesmo número, vamos lá em casa e você troca de roupa e pode continuar curtindo mais um pouco!” A policial de mentirinha sugere.

            “Pode ser! O que você acha, Dante?”

            “Tudo bem, até porque eu bebi um pouco agora e não estou muito confiável no volante no momento. Vamos lá então.”

             O casal seguiu a garota por alguns quarteirões e chegaram em um sobrado. Foram para o andar de cima, no quarto da garota, para que ela pudesse emprestar uma roupa a Lívia.

            “Meus pais aproveitaram para viajar no carnaval e fiquei em casa.” A garota explica, enquanto procura uma blusa. “Fico sozinha e a primeira coisa que faço é chamar gente bêbada em casa.” A garota ri.

            “Não achas perigoso não? Digo, poderíamos ser criminosos.” Dante comenta.

            “E vocês são?”

            “Não.” Dante arqueia uma sobrancelha.

            “Meu único crime é amar demais esse gostoso.” Lívia, sentada na cama, puxa o namorado e lhe dá um beijo.

            “Olha que vou pedir um beijo triplo, hein!” A garota brinca, e, ao pegar a blusa que vai emprestar, joga em cima do casal.

            “Oi?” Lívia interrompe o beijo, pigarreia e começa a arrumar a blusa para vesti-la.

            “Nada, só disse que ia pedir um beijo triplo, mas podem continuar se pegando aí em cima da minha cama!” A garota continua a falar em tom de brincadeira, sempre com uma risada no final.

            Dante e Lívia se entreolharam, meio estranhos. Mas o relacionamento deles havia chegado em um nível que já se comunicavam por micro expressões faciais.

            “Só um beijo triplo então?” Lívia pergunta.

            “Só, eu prometo.” A garota responde.

            “E a gente nunca mais fala disso, certo? O que acontece em São Paulo fica em São Paulo.” Dante propõe.

            “Exatamente.” Lívia concorda.

 

            A garota se aproximou dos dois e se inclinou. O casal se aproximou e começou o beijo a dois, e então a garota entrou. As bocas se movimentavam rapidamente, enquanto Dante e Lívia perceberam que estavam curtindo mais do que deveriam.

 

            “Espera.” Lívia interrompe o beijo. “Se isso virar algo mais...” Ela olha para Dante. “Na época do acordo a gente tinha prometido não fazer nada a três porque sentiríamos ciúmes.”

            “Se depender de mim, ninguém sente ciúme de ninguém porque eu acho vocês gostosos no mesmo nível.” A garota dá de ombros.

            “Tu queres?” Dante pergunta para Lívia.

            “Você quer?” Lívia devolve a pergunta para o namorado.

            “Olha gente...” A garota tira a blusa decotada de uniforme policial. “Só sei que eu quero.”

            “Você trouxe a vértebra do packer?” Lívia faz outra pergunta ao amado. “Aquela para deixar ereto...”

            “Sim, eu vim com ela. Só ajustar.” Dante responde, já entendendo o recado, tirando o colete e a calça e ficando apenas com a cueca com o packer, ajustando-o para ficar ereto e bem seguro, ao mesmo tempo que Lívia também tirava o resto da roupa.

            “Caramba, vocês são mais gostosos do que eu imaginava. Ao mesmo tempo que estou louca para dar pra esse carinha, estou também doida para ch*par essa guria.” A garota comenta, já nua, enquanto o casal se ajeita.

 

            Dante então iniciou a ação beijando sua namorada e logo em seguida beijando a garota desconhecida, com os três de pé. Lívia massageava o peito da garota enquanto ela era beijada por Dante. A garota então interrompeu o beijo e começou a massagear com os dedos a vulva de Lívia, enquanto Dante pegava a desconhecida por trás e começou a beijar o pescoço da garota, que sentiu o packer bater em suas nádegas.

 

            “Senta aqui na cama.” A garota pede e Lívia obedece.

 

 

A namorada de Dante logo abriu as pernas para que a nova amiga do casal pudesse explorar com o dedo médio e anelar. Enquanto Lívia fechava os olhos, soltava gemidos baixos e fazia uma hiperextensão com o pescoço, a garota elevou as nádegas e olhou para Dante, dando uma piscadinha. O garoto entendeu bem, cuspiu no packer e se posicionou para penetrar o canal vagin*l da garota.

“Não, fica desajeitado nessa posição. Você sabe o que eu quis dizer.” A garota vira o rosto novamente, enquanto continua a penetrar Lívia com os dedos.

“Okay então.” Dante cospe mais uma vez no packer e penetra no outro orifício da garota, que no mesmo instante fecha os olhos e demonstra uma expressão de prazer ao ser penetrada, diminuindo até o movimento com os dedos em Lívia.  

“Coloca mais um dedo!” Lívia pede, e enquanto a garota era estocada por Dante, retomou o ritmo para penetrar cada vez mais forte a namorada do rapaz.

 

O trio permaneceu na posição por um bom tempo, até a garota pedir para mudar a posição. Dante foi ao banheiro para lavar rapidamente o packer e pediu uma camisinha para poder penetrar com mais facilidade. A garota  também foi ao banheiro e pegou um strap-on e outra camisinha. Quando voltaram, a garota desconhecida se posicionou deitada, e Lívia ficou cima. Enquanto Lívia era penetrada pela vulva, um pouco inclinada, Dante se posicionou atrás, em cima das pernas da desconhecida, e começou a comer Lívia pelo orifício anal.

“Pelos d-deuses, isso é muito b-b-bom!” Lívia não consegue se conter de prazer sendo duplamente penetrada.

 

Dante, com sua experiência de uma vida regada a tais aventuras, penetrava com cada vez mais força, fazendo Lívia gritar e nem se importar se metade da rua pudesse ouvir.

 

 

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Helena e Pérola voltaram ao apartamento da influenciadora, e Pérola foi para o banheiro retirar a maquiagem enquanto Helena retirou as roupas para poder tomar um banho.

“Helena, não vou suportar esse seu silêncio, você ficou assim desde que lhe contei a notícia.” Pérola reclama, enquanto passa algodão com um hidratante de base oleosa.

“Eu não estou fazendo silêncio.” Helena responde, entrando no chuveiro.

“Você está diferente. Pode ser sincera comigo, você está chateada com a situação?”

“Não estou chateada.” Helena fecha o box por dentro e começa seu banho.

“Helena!” Pérola interrompe a limpeza facial e abre o box do chuveiro. “Você está visivelmente chateada!”

“O que você esperava?!” Helena finalmente desabafa. “Mas eu não posso fazer nada, isso é uma conquista sua, eu queria poder ir junto, mas eu não posso e mais uma vez vejo alguém sair da minha vida sem poder fazer nada! A história se repete e tudo que posso fazer é assistir de longe!”

“Meu amor...” Pérola inclina a cabeça, sentindo o coração apertar. “Quem disse que vou lhe abandonar?”

“Você vai morar a milhares de quilômetros de mim! E quem garante que não vai ficar por lá definitivamente depois do documentário?”

“Helena, nós sobrevivemos por meses dessa maneira, vivendo em cidades diferentes!”

“Mas agora serão países diferentes! É uma questão de tempo para você sair da minha vida.” Helena abaixa a cabeça e deixa a água do chuveiro escorrer sobre seu cabelo.

“Amor...” Pérola finalmente entende o que a namorada quer dizer. “Eu não sou a Isabel.”

“O quê? Quem disse que você era ela? Aliás por que tocou no nome dela? Não devia ter lhe contado sobre a minha vida.”

“Você está com medo de eu fazer com você o mesmo que a Isabel fez, Helena. Mas como eu disse anteriormente, eu não sou ela. Vamos continuar como estamos, nada vai mudar, está bem?” Pérola entra no box e dá um beijo em Helena, acalmando-a.

 

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Após várias horas de curtição, Dante e Lívia tomaram um rápido banho com a garota e foram embora. A noite estava movimentada, ainda com várias pessoas de fantasia.

“Nós nem perguntamos o nome dela e ela ainda me emprestou essa blusa...” Lívia comenta, enquanto caminham em direção o carro estacionado a várias quadras dali.

“Foi melhor assim. Quando ela entregou para ti, disse que poderias ficar com a peça de roupa, não?

“Disse sim. Acho que vai ser uma lembrança dessa loucura que a gente fez..” Lívia ri.

“Pois é...” Dante ri também. Mas enfim...tu gostaste da experiência?”

“Gostei sim, acho que amadurecemos um pouco no relacionamento. Pensei que morreria de ciúmes, mas eu percebi que quando estávamos de frente um para outro, você olhava para mim e dava um sorriso terno...” Lívia segura a mão do namorado e a beija.

“Também gostei... era algo que eu não fazia há tempos. Mas fazer contigo foi especial. Não é algo que eu gostaria de fazer com frequência, mas concordo que nos fez bem nesse momento de nossas vidas.” Dante sorri de modo afetuoso.

 

 

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No segundo dia de carnaval, Dante e Lívia aproveitaram um bloquinho vestidos de Batman e mulher-gato, mas foram embora mais cedo pois marcaram um jantar com um amigo da época do Clube de Regatas do garoto, que além de tudo foi também colega de Ensino Médio, no primeiro colegial.

Combinaram de se encontrar em um restaurante de comida francesa em São Bernardo do Campo. O amigo do rapaz avisou que iria se atrasar, mas no fim das contas conseguiu chegar a tempo.

“Mil desculpas, pessoal, a galera da atlética da minha faculdade resolveu organizar alguns eventos de carnaval então fiquei extremamente atarefado. Mas enfim... olha para ti, Alessandra! Digo, digo.. Dante, certo? Caramba... é estranho , né? Preciso me acostumar, faz tempo que a gente não se vê. Da última vez que te vi, tu ainda eras Alessandra... há quanto tempo, não é mesmo? Ah! Essa que é sua namorada, né! Prazer em conhecer-te!” O rapaz dispara a falar e encerra oferecendo um aperto de mão.

“Pois é.” Dante pigarreia, completamente sem graça. “Bem... Cauã, essa é Lívia. Lívia, esse é o Cauã.”

“Prazer.” Lívia sorri. “Então você também faz Medicina, Cauã?”

“Sim, pois é, tanto meus pais quanto os pais da Alessandra, digo, do Dante são médicos, então era meio que nosso dever continuar o legado.”

“Bem, eu não acho que seja tanto um dever, a gente entra no curso porque tem aptidão para essa área.” Lívia rebate.

“Acho que deveríamos chamar o garçom, não?” Dante corta o assunto e já acena para um dos funcionários.

“Mas então, como foi essa tal transformação? Quando tu decidiste virar homem?” Cauã continua a defecar pela boca sem a mínima noção do que está fazendo.

“Eu não decidi, e a gente chama de transição, e... ah, o garçom já está vindo.” Dante suspira aliviado.

O trio faz os pedidos e Dante respira fundo, torcendo para que não demorasse a chegada dos pratos. Cauã ainda errou pronomes várias vezes, sendo corrigido ora por Dante, ora por Lívia, que, diga-se de passagem, já não suportava mais o amigo do namorado.

“Ah, eu havia me esquecido...” Cauã fala de boca cheia. “Lívia, isso eu preciso te contar, foi uma das cenas mais engraçadas que envolveu minha amizade com a antiga Alessandra...digo antiga porque agora é Dante e, ah, tu me entendestes. Pois bem. Foi na formatura, eu já não estudava mais no colégio dela, digo, dele, mas fui na festa. No final da festa, a Alê – bem, eu posso chamar pelo antigo nome quando me refiro ao passado né? Enfim, a Alê ficou tão louca, mas tão louca que ela tirou a roupa no estacionamento e pediu para que a filmassem fingindo que estava trans*ndo com o diploma!” Cauã disparou a dar risada.

“Eu não achei graça nisso...” Lívia responde. “Para você foi uma piada, mas o Dante estava fora da realidade e era seu dever como amigo ter impedido isso.”

“E além disso, não, Cauã, tu não precisas se referir a mim com pronome feminino e nem pelo meu nome antigo em momento algum.” Dante complementa, já irritado.

“Okay, desculpa, irmão, é que eu estava acostumado e-”

“Não importa que tu estavas acostumado. Esse sou eu agora, e eu exijo respeito.” Dante limpa a boca com guardanapo e encerra a discussão. Pede a conta, e para evitar que a situação piore, mantem-se em silêncio.

 

Lívia despediu-se com um pequeno sorriso, extremamente forçado, e Cauã tentou pedir desculpas mais uma vez. Dante acenou com a cabeça, como se tivesse a intenção de desculpar o amigo, mas sabia que dali a amizade não vingaria mais, afinal, Dante prezava pelo respeito – e paz – acima de tudo.

 

Fim do capítulo