CAPÍTULO VINTE

Namoro às escondidas

                Luiza não se lembrava de estar tão feliz com alguém. Maria Eduarda estava longe de ser a patricinha mimada que imaginava. Muito pelo contrário, era uma garota simples, divertida e sem frescura. A única foi coisa que deixou a loirinha alarmada foi seu jeito possessivo. A morena era extremamente ciumenta. Isso ficou bem visível quando ela questionou a roupa que Luiza escolhera para ir à praia.

                — Amor melhor você ir com esse aqui — a morena lhe entregou outro biquíni que a parte de baixo é um sunquíni.

                — O que tem de errado com esse?

                — Ele é muito pequeno, não cobre nada os homens vão ficar te olhando.

                Luiza fita a namorada e percebe que ela tinha falado sério. A loira arqueou a sobrancelha.

                — Duda esse biquíni é do tamanho normal. Além do mais, até onde sei, é natural que os guris olhem as gurias — argumentou.

                — Essa calcinha é minúscula — contra argumentou a estudante. — Esse aqui é mais bonito amor. Veste esse.

                Luiza notou o tom de exigência velado nas palavras da namorada, não estava disposta a ceder. Pegou sua bermuda e a vestiu. Duda, trincou os dentes.

                — Pare de implicar com meu biquíni. Agora vamos senão desisto.

                — Você gosta de se mostrar né? — dispara a morena irritada. — O que custa trocar apenas a parte de baixo do biquíni.

                — Guria, vamos! — ignorou.

                Aquela era a primeira vez que o casal saia junto. Luiza tinha resistido o convite da morena para ir à praia. Aceitou depois de muita insistência. Maria Eduarda foi o caminho inteiro emburrada. Luiza foi para o barzinho que costumava frequentar com a prima. Acomodaram-se numa mesa.

                — Guria é só um biquíni. Se for para ficar de cara amarrada, melhor voltamos para casa.

                A morena, chamou o rapaz do bar e pedido uma cerveja.

                — Vai chover só pode! — Brincou Luana — Mulher de Deus tais vivas?

                Luiza se levantou e foi falar com as meninas, Duda a observava de longe. — Claro que tô guria. — Sorriu — Como vocês estão? — a loira deu um abraço e dois beijotes de comadre. Virou-se para Vera e fez o mesmo. — Faculdade que está tomando todo meu tempo.

                — Faculdade ou…— antes que ela terminasse a frase, Luiza fez um sinal para que se calasse.

                Sim, aquelas garotas eram duas prostitutas que Luiza tinha conhecido durante uma festa enquanto acompanhava um cliente. Vera e Luana foram bem simpáticas com elas. A loira acabou ganhando duas amigas. Duda ao perceber a movimentação logo se pôs ao lado da loira. Para evitar qualquer embaraço Luiza fez logo as apresentações.

                — Me deixa apresentar essa é Maria Eduarda. — Duda fuzilou a loira com os olhos. — Minha namorada — completou.

                As duas mulheres se mostraram surpresa. Logo deram um sorrisinho sacana para a gaúcha que sorriu de volta.

                — Você chegou agora?

                — Sim, viemos pegar aquele bronze. Podemos sentar com vocês? — perguntou Vera, mas já se sentando numa cadeira do lado de Duda.

                As três mulheres ficaram conversando animadamente. Duda não participava muito da conversa, mas escutava atentamente tudo o era dito. As amigas de Luiza eram bastante animadas. Elas ficaram por quase duas horas. Depois de despediram e foram embora.

                — Suas amigas têm cara de garotas de programas — dispara a morena agora sozinha com a namorada.

                Luiza gela. — Porque diz isso?

                — Primeiro, seus biquínis escrotos, depois elas só falam de festa, homem, viagens e sex*. Duvido muito que aquelas duas tenham condições de custear uma semana em Fernando de Noronha sozinhas. Sem contar o linguajar. Enfim. Não deveria se envolver com pessoas assim.

                — E você acha que só você tem condições de viajar para Fernando de Noronha? — questionou Luiza num tom irritado. O coração acelerar. — Duda você está sendo preconceituosa. Pobre também viaja sabia. E nem todo mundo vem de família rica — dispara a loira, já se levantando e recolhendo suas coisas.

                — Ainda é cedo.

                — Não, não é. Estou cansada. São 15h00min da tarde, hora de ir para casa.

                O tom da namorada realmente incomodou a gaúcha. Duda insistiu que Luiza fosse para sua casa. Mas a loira não quis. Sem alternativa a morena vai para casa sozinha.

                — Cadê a marrenta? — pergunta Bella.

                — Foi para casa.

                — O que houve?

                — Sou uma prostituta Isabela. Eu sou uma prostituta. — De repente os olhos da loira marejam — prostituta não namora. Prostituta não faz amor. Elas fodem. Fodem com quem lhe pagam. Elas apenas fodem. — Luiza cuspia as palavras.

                Bella lhe olhou compadecida, levantou-se e abraçou a prima com carinho. Luiza se entregou a um choro soluçante.

                — A Duda não é do tipo de namorada que respeita espaço.

                — Ela é ciumenta… e às vezes é tão… — Luiza afastou-se um pouco e limpou os olhos com o dorso da mão. — Eu não posso ficar com ela.

                — Mas ela já está aqui — Bella apontou para o coração da prima.

***

Luiza chegou a faculdade na segunda-feira decidida e terminar seu namoro. Depois de muitas horas de choro, uma intensa reflexão ela concluiu que não poderia se permitir amar a estudante. Ela senta-se no seu lugar de costume, espera suas amigas chegarem. Finge interesse a conversa, mas sua atenção está na porta de entrada. O professor já tinha iniciado a aula quando Duda e entra na sala afobada entonando o velho pedido de desculpa. A morena cruza a sala. O coração da loira badala ao vê-la caminhando em sua direção. Duda lhe envia um largo sorriso.

                — Mateus me deixa sentar aqui — pede a morena ao colega, que solícito, deixa Duda sentar no seu lugar.

                Amanda chega minutos depois. Como sempre esbanja simpatia. Seus olhos se cruzam com o da prostituta, sem perde a oportunidade Amanda lhe lança um sorriso e sua característica piscadela. Depois caminha até Duda.

                — Porque está sentada aqui?

                — Quis mudar, agora senta logo que a aula começou. — Retruca Duda.

                — Gu… deixa eu sentar aqui vai? — pede a morena a um colega. O rapaz tenta protestar, mas o professor, impaciente pede para Amanda se sentar. Irritado o rapaz cede lugar.

                “Só era o que me faltava, essas duas bem perto de mim” pensa Luiza, ao ver Duda e Amanda sentadas próxima dela.

                — Porque toda vez que passa por Luiza você fica se insinuando para ela? — pergunta Duda enciumada.

                — E desde quando isso importa? Luiza é gostosa já disse. E se tiver oportunidade eu pego — responde a outra. Amanda conhece Duda bem demais. Sabia que a morena estava com ciúmes. Suas ideias começam a se debater como asas de borboletas. — Aconteceu algo que queira me contar?

                Duda foge dos olhos da amiga. Luiza a tinha feito prometer que aquele namoro ficaria em segredo, ao menos por enquanto.

                — Maria Eduarda — chama Amanda.

                — O professor vai reclamar, depois conversamos.

                — Porque você não quis ir pra porto com a turma?

                — Porque não estava afim, Amanda.

                Amanda lhe olhava desconfiada.

                — Eu conheci uma garota! — dispara Duda. Segredos não era com ela.

                Luiza sentiu o coração badalar. De onde estava conseguia ouvir a conversa das garotas. Ela se virou, Amanda estava de costa para ela e Duda de frente. Ela fez sinal negativo com a cabeça. Duda entendeu o recado.

                — Como assim conheceu uma garota? — o tom era de surpresa. Amanda remexeu na cadeira, não contava com aquela declaração.

                — Fala baixo!

                “Por favor, não conta a ela.” Seus lábios sibilaram.

                — Conheci no Tinder. Me encontrei com ela e vamos ver no que dar.

                O semblante de Amanda mudou por completo. Assim que chegou o intervalo, Amanda arrastou Duda para conversar. Duda não lhe deu detalhes, apenas disse que tinha conhecido uma menina num aplicativo de paquera e que elas tinham saído juntas. Amanda, também não pediu detalhes, na verdade, a morena ficará surpresa em escutar da amiga que ela havia ficado com uma garota. Para contornar descontentamento Amanda narrou seu final de semana com os amigos em Porto de Galinhas. Duda ouvia tudo fingindo entusiasmos. Ela queria contar à amiga que também tinha tido um final de semana maravilhoso. Queria compartilhar com ela sua felicidade por ter se acertado de vez com seu amor. Mas havia a promessa. Por mais que não gostasse dessa ideia, Duda não quis contrariar Luiza.

                — Oi! Pensei que não fosse encontrar você sozinha — diz a loira. — Você não contou nada né?

                Os olhos castanhos se aborreceram. — Amanda é minha irmã. Nunca escondi nada dela.

                — Duda…

                — Não contei Luiza.

                A loira sorri e rouba um beijo da morena. As duas cessam minutos depois.

                — Saudades… — fala a morena, lançando um olhar apaixonado. Luiza suspira.

                — Guria porque você tem que deixar as coisas ainda mais difícil… — Luiza volta a tomar os lábios doces da namorada. As duas namoram entre os corredores da biblioteca. Depois de beijos e amassos. Elas se afastam.

                — Hoje será na sua casa ou na minha? — pergunta Duda antes de ir.

                — Hoje não Duda, preciso fazer umas coisas com Isabela.

                — Isa…

                Luiza a beijou pela última vez. Sua decisão de terminar com a morena foi pelo ralo. Ela voltou a sua sala pegou suas coisas e foi embora. O final do mês chegará e as contas também. Naquele mês Luiza mal tinha trabalhado. Toda aquela tensão com Maria Eduarda começava a atrapalhar a vida da Vanessa. Mas não tinha jeito. Luiza pegou o outro celular na gaveta do móvel do seu quarto. Consultou sua agenda. Deu um suspiro pesado. Tinha dois programas marcados para aquela noite. Precisava se arrumar.

***

                Vanessa chegou pontualmente no flat indicado. Seu cliente era um homem na casa dos cinquenta. Alto, magro, pouco favorecido de beleza, e para completar extremamente grosso. Se achava “O CARA’’. O bom, era que o sex* era sempre rápido. A penetração durava poucos minutos. O homem se vangloriava como se aquilo fosse normal. Muitas vezes a prostituta sentia como se as palavras fossem escapar da sua boca. “Isso não é tesão. Na verdade, chama-se ejaculação precoce.” Mas, como uma puta experiente, a loira sabia elevar seu ego do cliente. Enaltece sua performance e o homem envaidecido sempre lhe pagava mais do que o acordado.

                A loira saiu do motel. E seguiu para seu segundo encontro. O coração estava angustiado. Dizia para si mesmo, que aquele era seu trabalho. Engoliu o choro, retocou o batom, respirou fundo. E Vanessa estava pronta para mais uma rodada. Aroldo lhe recebeu com o costumeiro sorriso. Luiza tentou correspondê-lo. Ela até simpatizava com aquele cliente. Normalmente não era sex* que ele procurava e sim companhia. E para sua sorte, aquela era uma noite que o homem só queria degustar de um bom vinho, de um prato que custava o triplo do seu pagamento. Olhares furtivo. E por fim. Ir para casa com um belo cheque.

                — Eu a deixo em casa — sugeriu o homem.

                — Obrigada, mas pego um táxi.

                — Vanessa, viajarei para São Paulo, gostaria que me acompanhasse. — Luiza fitou o homem. Se preparou para uma desculpa.

                — Antes de me dar uma resposta. Pense um pouco, serão apenas alguns dias. Pago o preço que cobrar.

                Luiza forçou um sorriso. E levantou-se, despediu-se do homem e foi embora. Durante o percurso para casa a prostituta foi tomada por uma tristeza profunda. Antes de Duda, tudo era mais simples, aquilo não passava de um acordo comercial. Precisava de dinheiro e vender seu corpo era uma forma de conseguir. Além de se manter, mesmo estudando em uma universidade pública, as despesas do seu curso eram absurdas. Além do mais, Luiza tinha uma dívida com sua mãe, do qual todo mês era cobrada cada centavo. Chegou em casa chorosa, tomou um banho demorado e tentou se acalmar. Mas seu peito doía, sua alma doía. Desligou o telefone da Vanessa e jogou no fundo de sua gaveta. Em seu celular havia mais de vinte ligações perdidas. Todas dela. Além de dezenas de mensagem no whatsapp. Luiza desligou seu telefone e tentou dormir.

Fim do capítulo