Escrito por Elisa Rodrigues
Capitulo 18 - O Domingo da Revelação
Era um domingo ensolarado, inebriante de alegria e propicio para um dia em família. Seis meses haviam se passado desde o falecimento de Arnaldo. A tristeza permanecia no coração de Amanda. Sua mãe Cláudia chorava todos os dias, porém seguiam vivendo um dia de cada vez. Gisele havia sido chamada pra assumir seu tão conquistado concurso. Foi um bom motivo para decidirem fazer um almoço de domingo para comemorar essa vitória de Gisele, afinal em tempos tão difíceis obter uma boa classificação em um concurso público federal não é uma conquista qualquer. Foi um motivo de felicidade para a familia passado o semestre que trouxe tanta tristeza.
Gisele fez questão de convidar a família de Bruna para estarem presentes nessa comemoração. Uma excelente oportunidade para estreitar ainda mais o laço de amizade ora conquistado na praia entre as famílias, mas infelizmente distanciado devido as circunstâncias de uma vida. Não poderia faltar Camila, namorada de Gisele que estava mais radiante de felicidade que a própria concurseira, ambas já planejavam se casar assim que Gisele se efetivasse.
O almoço seguiu com tranquilidade, riram bastante, conversaram sobre viagens e projetos de vida. A viúva conseguiu esboçar sorrisos e retomar para si um pouco de estima que havia sido perdida ao longo dos anos quando fora motivada pelos pais de Bruna para fazer atividade que ocupassem seu dia a dia.
Como Arnaldo dispunha de um bom emprego, conseguiu deixar para Cláudia um bom seguro de vida suficiente para que a viúva se mantivesse estabilizada financeiramente caso viesse a estar ausente, tendo em vista que, Arnaldo já tinha conhecimento de um problema cardíaco pouco mais de 10 anos.
Cinco meses após o falecimento de Arnaldo, Cláudia encontrou no escritório da casa guardado nas coisas do falecido vários exames que comprovavam um problema cardíaco que ele tratava as escondidas pouco mais de 9 anos. Tal descoberta trouxe muita tristeza a Cláudia por se sentir impotente de não ter podido ajudar seu marido devido ao fato dele não expor a problemática a tempo.
- Porque ele não me contou Arnaldo¿ Gritou em voz alta a viúva. Como se Arnaldo ali pudesse estar. E prosseguiu:
- Poderíamos ter feito tratamento e lhe ajudado evitando rotinas e estress. Recomendações que estavam em seus laudos além da medicação. Ah Arnaldo sempre foi sisudo, estressado e teimoso...
Cláudia assim que descobriu o feito, fez questão de expor a descoberta aos prantos para suas filhas, principalmente para Amanda que ainda carregava em seu coração aquele aperto culpabilizatório da morte de seu pai.
Quando desabafou para suas filhas Amanda e Gisele, apesar de sofreguidão as três mulheres sentiram uma certa tranquilidade, pois de fato infelizmente Arnaldo foi teimoso para não abrir seus problemas para família que poderia estar ciente de seu descoberto problema de saúde.
Enquanto o dia de domingo corria, Cláudia ficara a imaginar se Arnaldo estivesse ali, vivenciando esse momento em família. Mesmo conservadora a viúva só almejava a felicidade de suas filhas. E bateu em si certa satisfação. Ver a alegria de sua filha Gisele comemorando uma conquista, era uma conquista pessoal da viúva que abriu certa vez mão de seus gostos em prol de um sentimento e relacionamento desenvolvido com Arnaldo.
Ver os sorrisos em Amanda que agora ao menos transpassava paz, deixou o coração de Claudia alegre.
Após a sobremesa, todos sentaram a varanda para prosear. Quando a campainha toca. Todos se assustaram, afinal quem poderia ser numa tarde de domingo¿
Amanda teve a proatividade e foi ao portão ver quem era. Ao chegar viu que era uma mulher e uma criança do sex* masculino aparentando pouco mais de 10 anos. Amanda sentiu um certo frio na barriga, mas não conseguiu interpretar a sensação.
- Boa tarde senhorita, é aqui que é a residência de Arnaldo Solis¿ - perguntou a mulher que acompanhava a criança.
- Sim. Respondeu a ruiva. – Porém ele não reside mais aqui.
- E a Gisele ainda mora aqui¿ Indagou a criança.
Amanda ficou assustada pelo fato da mulher perguntar de seu pai e a criança perguntar de sua irmã e de pronto fez um chamado a Gisele:
- Gisele, venha aqui por favor.
Gisele foi até o portão e ao avistar a criança, com um misto de alegria e de preocupação disse:
- Guilherme, o que fazes aqui¿
Gisele abraçou o menino com tamanha alegria e saudosismo. Na sequência cumprimentou a moça que o acompanhava que era sua mãe. Gisele verbalizou para Amanda:
- Lembra-te que vos disse que tínhamos um irmão¿
Amanda ficou sem reação. Num misto de surpresa ficou muda e sem esboçar fisicamente qualquer manifestação. A moça que acompanhava a criança explanou com tom ameno e reticente:
- Decidi vir aqui... Estou há meses esperando por Arnaldo que toda semana ia em nossa casa visitar o Guilherme, porém há seis meses ele se ausentou.
Fiquei com receio de ir ao trabalho dele, mesmo sabendo onde ele trabalhava. Porém, tomei coragem e procurei o Sr. Antonio há três meses para obter notícias de Arnaldo. Fui pega de surpresa com a informação do falecimento de Arnaldo.
Prosseguiu seguido de lágrimas e pausas a moça em sua tênue explicação as irmãs Sollis:
- No dia dessa surpresa, fui pra casa sem saber exatamente que atitude tomar. Levei três meses pra tomar a decisão de vir até a residência de vocês. Fiquei cuidando por dias a rotina de vocês, e hoje tomei coragem de vir aqui para conversar com a família.
E prosseguia:
- Arnaldo dizia que jamais poderia expor que tinha um filho advindo de uma relação fora do casamento. Sempre respeitei, pois Arnaldo sempre teve um temperamento truculento. Por gostar de Arnaldo me escondi todos estes anos. Sentia muito não poder dar ao meu filho uma presença paterna constante, porém respeitava por saber que eu em nome de um sentimento me submeti a condição de amante.
De dentro da casa a viúva deu um sorrateiro grito:
- Meninas que demora, nossas visitas vão se sentir desprezadas.
Quando de pronto, Cláudia chega ao portão, sem entender o que lá se passara, esboçou:
- Gisele e Amanda quanta demora!
O silêncio tomou conta da varanda. Minutos de pausa e um a um se olhavam num tórrido silencio gritante. Observação seria a palavra naquele momento.
Cláudia olhava a moça. A moça olhava Cláudia. Guilherme, Amanda e Gisele observavam as duas.
Uma tarde de domingo que teria uma grande revelação.
NOVE MESES ANTES
Arnaldo cumprimentou Guilherme com certa avidez. Arnaldo sempre chegara cansado e corrido para visitá-lo, mas aquele dia ele estava muito mais nervoso que o convencional.
- Não aguento mais minhas filhas. Exclamou com voz alta ao entrar na sala pedindo um copo de agua para Carmem.
- Carmem, estou com sérios problemas com minhas filhas...resmungou Arnaldo.
- Gisele de alguma maneira descobriu a existência do Guilherme. Já não basta os problemas que tenho enfrentado com Amanda, agora tenho mais essa preocupação.
Carmem aproximou-me de Arnaldo e disse:
- Acalme-se, estou aqui contigo. E deu um abraço em Arnaldo tentando tranquiliza-lo.
Após a saída de Arnaldo, Carmem ficou a pensar sobre a situação vivenciada nesse enlace. Privar Guilherme de conhecer suas irmãs, privar a família da existência de uma criança fora do casamento “bem sucedido” incomodava-lhe. Por vezes, Carmen se colocava no lugar de Cláudia caso ela algum dia ela viesse a descobrir que seu marido que tanto cobrou boas condutas, há alguns anos atrás envolveu-se com a secretaria de seu chefe Antônio e dessa relação fora do casamento “modelo” nasceu um menino que era o sonho de Arnaldo.
Apesar de distante, Carmen refletia os problemas e situações da vida de Arnaldo. Não apoiava em hipótese alguma as posturas do mesmo quando comentava sobre os planos com sua filha Amanda e o filho de seu chefe. Bem como não apoiava as exigências que Arnaldo fazia com relação as condutas de Amanda.
Carmem sempre dizia pra Arnaldo deixar que suas filhas tomassem as rédeas da própria vida e deixassem que elas traçassem seu futuro profissional ou amoroso. Mas Arnaldo teimoso como sempre, sempre achava que estava agindo corretamente. Escutava a mãe de seu filho Guilherme, mas não abria mão de suas decisões.
Fim do capítulo
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