Demorou, mas saiu. kkkkkk
Capitulo 31 - Uma confissão inesperada
Capítulo 31 – Uma confissão inesperada
Usou as chaves para entrar e viu como a casa parecia silenciosa. Assim que entrou na sala, viu Pedro largado no sofá, mexendo em seu celular. Lia deu um leve pigarro, chamando a atenção dele, que pulou de surpresa e correu para abraçá-la.
— Mana! — Exclamou ele, contente e feliz.
— Oi, Pedro. — Se sentiu subitamente leve ao sentir o abraço dele e se permitiu sossegar ao menos um pouco ali. — Já estava com tantas saudades assim?
— Claro que sim. — Ele soltou-a aos poucos e depois a olhou. — Eu não sabia que já estava vindo. Você não me disse nada. Como veio até aqui? Estava esperando sua ligação para ir te buscar na parada do ônibus.
De repente o coração de Lia disparou e ela olhou para os lados vendo se mais alguém o tinha escutado, mas por sorte estavam a sós na sala. Aquela ainda não era a hora para um interrogatório. Pôs um dedo sobre os lábios, pedindo silêncio e sussurrou:
— A Liz me trouxe. Ela não quis deixar eu vir sozinha de ônibus.
Pedro pareceu surpreso por um momento, mas sorriu depois.
— E cadê minha cunhadinha? — Ele parecia ansioso e Lia gargalhou com o apelido.
— Já deve estar voltando para a cidade, ela veio apenas me deixar.
— Ah sim! — Sorriu. — E como vão as coisas com ela?
— Está tudo bem. — Sorriu levemente. — Cadê o pai e a mãe?
— Mamãe está no quarto e o papai saiu.
Nesse momento Lia sentiu algo quente e macio roçar em suas pernas, assustando-a. Olhou para o chão e viu uma bola de pelos brancos, era Gru, o gato da casa. Um sorriso instantâneo surgiu em sua face.
— Oi meu lindinho. — Falou fingindo uma voz infantil de dengo e debruçou-se para pegá-lo no colo. Ele estava todo manhoso e quentinho, ronronando como sempre. — Que saudades senti de você meu lindão.
— Esse gato adora quando você está por aqui. Nunca vi mais manhoso. — Pedro disse e pegou sua mala pesada. — Deixa eu levar isso para o seu quarto. Vamos!
Pôs o gato de volta no chão e subiu as escadas. Sentia uma familiaridade estranha ao voltar para casa dos pais depois de meses longe, até mesmo isso parecia diferente, sentia como se ali não fosse mais o seu lugar. Tinha que admitir que já estava se habituando ao apartamento e a rotina da cidade grande.
Enquanto passavam pelo corredor dos quartos, sua mãe apareceu e praticamente correu para esmagá-la em um abraço. Pedro seguiu para seu quarto, deixando-as a sós por um momento.
— Finalmente, meu bebê está em casa — declarou Nádia emocionada. — Por que não disse que estava vindo?
— Eu quis fazer uma surpresa. — Tentou disfarçar.
— E como veio até aqui? — Ela acariciou sua face. Sua mãe adorava um dengo.
— Vim de táxi do ponto de ônibus até aqui, não se preocupe.
Lia pegou na mão dela, que estava em seu rosto e fez carinho. No mesmo instante a mãe parou estática e seu olhar parecia espantado com algo. Quando Lia seguiu a direção dos olhos dela, viu que encaravam a mão da tatuagem. Gelou no lugar, agora sim iria escutar. Sua respiração ficou presa por alguns segundos.
— Mas o que é isso, Liana? — Perguntou com severidade e olhou-a à espera de uma resposta que não veio. — Você fez uma tatuagem?
O estômago de Lia revirou e seu coração explodiu de medo e nervosismo.
— Não é nada demais, mãe. Não pira! — Falou, tentando aparentar uma indiferença e segurança que não sentia.
— Pode me explicar essa coisa na sua mão, Liana? — Ela parecia verdadeiramente incomodada. — Você nunca foi disso. Por que fez uma tatuagem e logo em um lugar tão visível?
Se ela já estava tão aborrecida com uma simples tatuagem, imagina quando dissesse sobre seu envolvimento com outra mulher, teve ânsia até em imaginar esse momento e por alguns instantes pensou em evitar o assunto por mais tempo, talvez não estivesse pronta como pensava estar.
— Porque eu senti vontade — revidou impetuosa. Estava com medo, mas jamais iria demonstrar isso, até porque não havia feito nada de errado. — Hoje em dia é muito comum. Deixa de fazer drama.
— Olhe bem como a senhorita fala comigo. — Nádia apontou o dedo para ela filha o que a fez calar-se. — Você ainda me deve obediência.
— Desculpe, mãe. — Reconsiderou. Não era bom bater de frente naquele momento e despertar a ira dela antes da hora. — Também não precisa disso tudo. Não tem nada demais.
Pedro voltou do quarto e percebeu a tensão entre as duas. Logo ele se pôs ao lado de Lia.
— Calma, mãe. É apenas uma tatuagem e é tão discreta. Lia ainda é a mesma pessoa.
— Ah! — Dona Nádia esbravejou. — Vocês sempre unidos.
Pedro abraçou os ombros da irmã, aliviando a tensão do momento.
— Cadê a alegria dona Nádia? — Ele voltou a falar. — Lia finalmente está aqui. A senhora passou meses chorando por isso, vamos aproveitar.
— Eu não posso mandar em vocês mesmo. — Ela negava com a cabeça em reprovação, mas voltou a abraçar a filha. Elas eram quase da mesma altura e tinham os mesmos cabelos castanhos curtinhos. — Só quero entender de onde saiu isso.
— Eu apenas fiquei com vontade de fazer uma, já disse. Não é coisa de outro mundo.
Apesar da mãe ser bem estudada, aquele pensamento de cidade pequena não saía dela. Era cultural. Estava extremamente desconfortável com o exagero, mas também aliviada.
“Poderia ter sido bem pior”, pensou.
As duas finalmente se separaram e Nádia falou com alegria:
— Vou descer e fazer uma coisa que você ama. Advinha?
Lia sorriu feito boba quando ela disse aquilo.
— Pudim?
— Sim. — A mãe olhou para a tatuagem mais uma vez e negou com a cabeça mais uma vez. — Enfim, vá tomar um banho e descansar até a hora do almoço, querida.
— Obrigada, mãe.
Finalmente ela foi até o quarto com Pedro em seu encalço. Lia olhou todo o cômodo ao redor, admirando tudo e se sentido saudosa. Correu até o seu rádio, ligando-o em uma música de MPB para relaxar.
Os dois se jogaram sobre a cama e Lia pegou seu celular, viu que havia recebido uma mensagem de Cris.
Cris: “Amiga, qualquer coisa você me manda uma mensagem ou liga para mim, ok? Boa sorte. ”
Lia sorriu com o carinho e preocupação dela. Os dias tinham sido tão corridos que mal haviam conversado propriamente. No dia anterior tinha lhe dito sobre a sua decisão e a amiga a apoiou como sempre.
Lia: “Obrigada, minha amiga. Assim que eu contar te digo como foi tudo. Bjs! ”
— Está falando com a Liz já? — Pedro quis saber e ela colocou o celular de lado para lhe dar atenção.
— Não. Era a Cris. Ela estava me desejando boa sorte.
O irmão calou-se por um momento e Lia viu como ele parecia pensativo.
— O que foi? — Quis saber impaciente.
— Quando disse que Liz veio te deixar, pensei que vocês duas iam conversar juntas com o pai e a mãe.
— Está louco? — A irritadinha arregalou os olhos, não queria nem pensar naquela possibilidade. Jamais faria Liz passar por aquele desconforto junto dela, aquele era um momento que precisava ter sozinha com a família antes de poder envolvê-la. — Eu não faço ideia de como eles vão reagir, jamais a faria passar por essa tensão.
— É bem melhor mesmo. — O irmão concordou e aprumou-se no colchão, cruzando as pernas. — Eles vão ficar chocados com a notícia, até eu fiquei um pouco.
Lia sorriu em deboche.
— Eu bem seria feliz se eles reagissem como você, mas eu tenho certeza que não vai ser esse o caso. — Suspirou pesadamente e seus ombros caíram, levou as mãos até o rosto, esfregando-o. — Eles vão pirar, mano.
— Hey! — Pedro aproximou-se dela e a abraçou. — Eu vou ficar do seu lado o tempo todo.
— Obrigada. — Lia ficava menos tensa ao saber que tinha ao menos o apoio do irmão. Isso lhe passava um pouco mais de força e esperança. — Muito importante ouvir isso de você.
— Já disse que pode sempre contar comigo. — Pedro a encarou no fundo dos olhos. —Tem certeza que está pronta para fazer isso?
Lia deu uma risada irônica e sem humor.
— Acho que nunca estarei realmente pronta para contar algo assim, mas não irei prorrogar isso, eles já estão reclamando do meu jeito “distante”. Sabe que não gosto de mentir para eles.
— Liz está te pressionando para contar logo? — Ele pareceu meu incerto e Lia ficou surpresa com a pergunta, então logo tratou de esclarecer.
— Não, Pedro. Nem se preocupe. A Liz nunca fez isso. Nunca exigiu nada, muito pelo contrário. Ela sempre respeitou o meu tempo e ofereceu todo o apoio. Até se dispôs a falar com eles também, mas eu não deixei.
— Eu também não faria isso, sei lá. Também tentaria poupar a pessoa.
— Exatamente — concluiu desanimada. Nem queria pensar no quão desgastante seria aquele momento. — Enfim, vamos trocar de assunto, por favor?! Não quero sofrer antes da hora.
— Ok. Desculpe! Você está certa. — Pedro concordou e abriu um sorrisinho sapeca. — E como andam as coisas entre vocês? Tudo bem?
— Tudo perfeito! — Abriu um sorriso besta e feliz, era inevitável não fazer isso ao falar de Liz. — Estou parecendo uma idiota, não é?
— Idiota, não. Só apaixonada.
— Nem me fale. — Suspirou e ficou se lembrando das últimas semanas com ela. Tudo estava tão perfeito, até mesmo as discussões bestas. — Quando eu ia me imaginar tão apaixonada assim? Ainda mais por uma mulher.
— Sentimentos não deveriam ser aplicados à gênero. Você está apaixonada, mana. Ponto. Não importa quem seja. A Liz é incrível, você não poderia estar com uma pessoa melhor. Eu vejo como ela te trata e como você se sente, isso não poderia me deixar mais feliz.
O coração de Lia se aqueceu com as lindas palavras do irmão, teve até uma súbita vontade de chorar, mas se controlou. Pedro era sempre incrível, o melhor rapaz que já conhecera e o amava muito.
— Eu não sei se já te disse isso um dia, mas... — Segurou as mãos dele e o olhou com ternura. — Tenho muito orgulho de ser sua irmã. Muito mesmo.
— E eu tenho orgulho de você também.
Os dois se abraçaram mais uma vez e para disfarçar a emoção, Pedro perguntou:
— E como está a Vivi? Sempre a vê?
Lia sorriu com a mudança de assunto e ainda mais pelo carinho e empolgação com o qual ele perguntou pela morena.
— Vivi está ótima e sim, eu sempre a vejo. — Lembrou-se da última conversa que tivera com ela e sorriu. — Inclusive, da última vez que nós duas conversamos na semana passada ela perguntou por você. Não estão se falando?
— Mais ou menos. — Ele ficou subitamente tímido. — Trocamos o “whats” e nos primeiros dias conversamos muito mesmo, mas as coisas acabaram esfriando com a distância, ou assim me pareceu, não sei ao certo.
— O que aconteceu entre vocês mesmo? Liz disse que vocês dormiram juntos.
Pedro pareceu envergonhado e depois soltou um sorrisinho maroto.
— Rá! — Lia exclamou risonha. — Sabia!
— Não é o que está pensando. A gente não transou. A Vivi é uma garota muito especial. Conversamos muito e apenas demos um bom amasso.
— Sei — declarou desconfiada. Achava meio impossível acreditar naquela conversa, mas ele parecia sincero. Não acreditava que eles haviam perdido a oportunidade.
— Eu juro que não rolou isso, é sério! — Ele parecia mesmo sincero e Lia acreditou. Pedro sempre foi um cara sensível e respeitador, isso ela sempre fez questão de ensinar a ele, respeito pelas meninas. — Quero ir até lá para vê-la de novo.
— Mas você pode voltar comigo agora nas férias e passar uns dias no nosso apartamento — Sugeriu animada. Seria ótimo ter a presença do irmão lá.
— Isso é verdade. — Pedro ficou pensativo por um tempo. — Sabe, estou mesmo pensando em qual faculdade me inscrever assim que sair os resultados do Enem.
— E já decidiu?
— Quero ir para a Federal onde você estuda, a mesma.
— Pedro, isso será ótimo! — Lia ficou super animada com a notícia e se debruçou na cama para abraçá-lo. — Vai ser perfeito, podemos morar juntos. Que incrível saber que está pensando assim.
— É a melhor que eu poderia ir, mas será complicado. As notas para entrar em engenharia lá precisam ser bem altas.
— Isso é verdade, mas eu sei que você vai conseguir. Se é isso mesmo que você quer, eu super apoio.
— Obrigada, mana.
Os dois conversaram por bastante tempo até que a porta foi aberta sem cerimônias. Era o senhor Horácio, seu pai.
— Minha princesa em casa finalmente! — Ele entrou no quarto com um sorriso feliz e abriu os braços. — Venha falar com o seu velho.
Lia sentiu uma alegria enorme tomar conta de si ao ver o pai. Sentia mais saudades dele e da mãe do que pensara.
— Pai! —Levantou-se da cama rapidamente e se atirou nos braços protetores e cheios de carinho dele. — Finalmente estou aqui.
Os dois sorriram no abraço e ficaram daquela forma por algum tempo. Só esperava um abraço daqueles quando finalmente revelasse sobre o seu romance com Liz, tanto dele quanto da mãe. Não custava nada sonhar.
— Tão bom ver os dois aqui de conversa como sempre — revelou Horácio depois de se afastarem. — Logo logo Pedro estará saindo de casa também para estudar. — De repente ele olhou para o filho e sorriu. — Já falou com ela sobre isso?
— Acabamos de conversar justamente sobre o assunto. — Pedro respondeu animado.
— Ele voltou da sua festa de aniversário ainda mais resolvido com essa escolha da universidade. Não sei do quê que ele tanto gostou lá. — O pai parecia intrigado e especulativo.
— Meus amigos são muito simpáticos e receptivos, deve ter sido isso. — Saiu em socorro do irmão que parecia um pouco tímido.
— Pedro comentou que foi uma festa e tanto, que terminaram a madrugada na praia. — Horácio falou pensativo e a olhou bem. — Isso é algo que nunca imaginei você fazendo.
Lia suspirou. Ali, naquele momento, esse tipo de pensamento era o que mais a assustava. Xingava a si mesma por ter se contentado em ser tão quieta por tanto tempo. A vontade que tinha em se aventurar sempre esteve dentro de si, apenas nunca encontrara alguém para alçar voo junto de si, mas agora tinha Liz e ao lado dela sentia que podia fazer tudo.
— Não foi nada demais. — Tentou disfarçar o quanto pode o incômodo. — A galera é muito responsável, foi tudo muito divertido e tranquilo.
— Foi mesmo. — O irmão concordou. — Aquele dia foi um dos melhores que passei.
Horácio apenas sorria da interação dos dois, alheio ao assunto que realmente iria impactar a todos mais tarde. Lia percebeu quando ele baixou o olhar por um instante e pousou os olhos na mão dela, vendo a tatuagem finalmente. Havia ficado tão feliz em vê-lo que nem estava mais lembrando da tatuagem. Ficou sem jeito, observando a reação dele.
Ele passou um bom tempo apenas olhando a imagem sem dizer mais nada. Lia quase conseguia ouvir o cérebro dele funcionando rapidamente.
— Pai! — Chamou-o com cautela.
— O que significa isso? — Pegou o pulso dela e olhou para o desenho se sua mão.
Mais uma vez, Lia gelou no lugar com aquela mesma sensação como se tivesse feito algo errado.
— É uma tatuagem, pai. Nada demais.
— Tatuagem? — Ele pareceu mais sério que o normal. — Você nunca foi de fazer essas coisas, Liana. O que está acontecendo?
Lia odiava se sentir daquela forma, como se fosse uma criancinha levando bronca. Olhou para o irmão e o viu estático, observando os dois.
— Nada, pai. É apenas uma tatuagem. O que tem demais nisso? — Ela já começava a se alterar com toda a comoção por uma simples tatuagem.
— Estou apenas dizendo que nunca te vi você fazer esse tipo de coisa. — Defendeu-se Horácio e depois com a voz mais tranquila, tentou apaziguar a filha. — Calma!
— Estou calma! — Retrucou, voltando a si. — Tudo bem com isso? É apenas um desenho, simples e delicado, só isso.
— Ok. — Ele fez um gesto com os braços, defendendo-se. — O importante é que você já está em casa com a sua família.
— Exatamente. — Pedro pronunciou-se. — Vamos aproveitar a Lia essas férias.
— Vamos sim. — O pai a abraçou mais uma vez e sussurrou: — Desculpe por ter me alterado um pouco, apenas fiquei surpreso.
— Tudo bem, pai. — Lia estava mais do que feliz em ouvir aquelas palavras, ainda foi melhor do que a reação da mãe. — Vamos esquecer isso.
— Ok, vou deixar vocês dois à sós, trocando confissões. Logo o almoço vai estar pronto.
— Está bem, pai.
Ele saiu deixando os dois sozinhos novamente.
— Se eles já ficaram assim por uma simples tatuagem, imagina como será quando souberem de tudo — confessou preocupada. — porr*! Estou ferrada.
— Lia, eles podem nos surpreender. Nunca devemos jogar essa possibilidade fora.
— Humpf! — Exclamou aborrecida. — Por algum motivo eu acho difícil acreditar nisso.
Os dois conversaram até quase meio dia e o telefone de Lia tocou com o som de uma notificação. Era Liz.
Liz: “Já cheguei. Está tudo bem por aí? ”
Lia espantou-se. Achava que ela tinha chegado muito rápido. Pediu licença ao irmão para ficar um pouco sozinha e começou a teclar com ela.
Lia: “Mas já? Foi muito rápido. ”
Liz: “Sim, confesso que vim mais rápido do que o normal. ”
Lia: “Aff. Cuidado. ”
Liz: “Eu estou bem, não se preocupe. E por aí, como está? Eles falaram o quê da tatuagem? ”
Suspirou. Liz parecia ainda mais preocupada com essa conversa do que ela própria.
Lia: “Está tudo bem. Eles não gostaram muito do que viram, mas não tive maiores problemas. Eles ficaram surpresos, não estavam acreditando. Aí perguntaram pq eu havia feito aquilo já que nunca fui disso. PQP! Como se fosse uma grande coisa. ”
Liz: “Dá um desconto para eles. Você era uma menina muita certinha. Isso acabou. ”
Lia: “Acabou nada. Continuo certinha. ”
Liz: “ kkkkkkkkkkkk... SQN, Lia. Você não tem nada de certinha. ”
Lia: “Ah tá certo. Uhum. Ok. ”
Liz: “Mas é sério, quando você planeja contar para eles? ”
Lia: “O quanto antes, assim que surgir uma oportunidade e me der coragem. ”
As duas passaram um bom tempo conversando até a sua mãe gritar da escada que o almoço estava pronto. Ela se despediu de Liz e foi para a cozinha. A refeição foi feita sob um verdadeiro inquérito sobre como estava a sua vida, a faculdade e o intercâmbio, o qual ela disse que não estava tão segura quanto a prova que havia feito, e os pais, como sempre, lhe confortaram com palavras de carinho e apoio.
A todo momento sentia os olhares nervosos de Pedro sobre si, especulando de longe se Lia iria tocar no assunto a qualquer momento. Por várias vezes quis iniciar o assunto, mas a coragem lhe faltou todas as vezes em que havia feito menção de contar. As palavras morriam em sua boca, como sentimentos sufocados pelo medo. Era a pior sensação que já havia sentido.
— Ainda estou querendo entender essa tatuagem na sua mão. — A mãe disparou sem aviso prévio e Lia fechou a cara automaticamente. De novo aquele assunto?
O silêncio se instaurou na mesa por um tempo enquanto o seu coração batia de nervosismo. Não entendia o alarde todo por uma simples tatuagem. Teve medo, com certeza eles diriam que aquilo era má influência de Liz quando finalmente contasse tudo sobre as duas.
— Também fiquei surpreso. — O pai concordou e deu um longo gole em seu suco, depois voltou a olhar para a mão dela que estava sobre a mesa. — Por acaso tem algo a ver com essa aliança no seu dedo?
— Aliança? — A mãe deu um pulo do outro lado da mesa e imediatamente olhou na mesma direção que o marido.
“Puta que pariu” pensou em desespero e fechou os olhos. Já estava tão acostumada com aquela aliança que nem mesmo havia pensado em tirá-la antes. Aquele era o momento para finalmente começar o assunto e pensou seriamente por longos segundos. O olhar dos pais estava intenso sobre si. Odiava aquele tipo de atenção.
Fazendo-se de indiferente, deu de ombros e tentou mudar o rumo da conversa.
— Por que essa tatuagem está incomodando tanto? — Rebateu atrevida. — Nada mudou depois dela. Eu sou a mesma garota estudiosa, responsável de sempre e...
— Ah sim. — Dona Nádia falou em tom debochado. — Tão responsável que não queria vir mais para casa. — Naquele momento teve de se conter para não responder à altura. A mãe lançou um olhar desaprovador para a aliança. — Não mude de assunto, Liana. Que anel é esse? Está de namorico, é isso?
“Ah se ela soubesse desse namorico”. Lia sentiu seu coração bater na goela e teve de engolir em seco.
Pedro remexeu-se ao seu lado e os dois trocaram olhares. Ele estava apreensivo e fez sinal de “ok” sem que os pais vissem. O momento era aquele, sabia disso, porém, as palavras simplesmente não saiam. Estava intimidada pela reação dos dois e pela forma como sua mãe olhara para a aliança... estava completamente insegura.
Era um embaraço ser o centro de uma conversa tão intimidante. Geralmente Pedro era quem sempre levava as broncas. Lia sempre era foco dos elogios deles. Parecia que isso iria mudar também.
— É apenas um anel. — Seu coração doeu no peito ao negar a verdade, mas naquele momento não se sentia pronta para falar tudo. — E eu já disse que fiz a tatuagem porque quis e achei bonita. Só isso. — O tom de sua voz saiu irritado e firme.
“Maldito impulso” xingou mentalmente. Já estava arrependida de ter feito a tatuagem ali. Deveria ter ignorado a opinião de Liz e feito em um lugar mais escondido, mas nem pensara em nada na hora, aquele olhar dela sempre conseguia tudo de si.
— No telefone você disse que tinha algo para nos falar. — O pai a lembrou bem e ficou a lhe analisar. — Tem certeza que não é sobre isso? Pode nos dizer qualquer coisa, filha.
— Ah sim, estou vendo isso. — O sarcasmo tomou conta. Sempre que estava insegura ou com medo, atacava para se proteger. Era um reflexo natural. Nunca havia gostado de se fazer de vítima. — Era sobre a tatuagem que eu ia falar, ou melhor, mostrar. — Mentiu mais uma vez.
— Hum. — A mãe exclamou e permaneceu em silêncio. — Você parece diferente.
— Eu sou a mesma de sempre. — Lia estava exasperada. Só queria sair dali.
— Ok. Vamos deixar esse assunto para lá. — Horácio falou mais brando, ele parecia sentir o seu incômodo. — O importante é que você está aqui e que estamos juntos.
— Amém! — Pedro exclamou sem que ninguém esperasse. Ele parecia tão apreensivo quanto Lia. — Eu já estava ficando nervoso daqui com esse inquérito.
Aquilo os fez sorrir de leve o que amenizou um pouco a situação. Olhou para o irmão e agradeceu com um sorriso. Pedro sempre a ajudava em tudo. Era muito grata por tê-lo. A mãe levantou-se da mesa e foi buscar a sobremesa para que se servissem, ao menos era pudim, o que lhe deixava menos triste.
Terminar toda a refeição foi dose, sentia uma vontade imensa de chorar. Não deveria ser tão difícil dizer a eles o que se passava. No fundo não queria que ninguém estragasse a sua tão recente felicidade. Aquele momento era muito importante, queria tanto compartilhar a notícia com eles, mas o medo e insegurança eram bem maiores...
Assim que pôde, escapou de volta para o quarto com o pretexto de que iria tirar um cochilo. Deitou-se na cama se sentindo vazia e teve vontade de chorar. O que faria a seguir? Estava realmente assustada em contar sobre o relacionamento para os pais.
Falava para si mesma que não estava fazendo nada de errado, mas era difícil. Sempre cresceu em uma sociedade que apontava aquilo tudo como errado, feio e pecado. Ficou por muito tempo pensando e imaginando na decepção que causaria a eles. Seria a única pessoa da família a se assumir “gay”, já conseguia ouvir os sussurros dos tios e tias quando soubessem e a situação constrangedora que seria tudo aquilo.
À noite a mãe fez uma lasanha para a janta e depois foram para a sala assistir filme e conversar. E assim passou-se o primeiro dia na casa dos pais. Quando voltou para o quarto ainda não estava com sono já que passara a tarde toda dormindo. Tentava ler quando recebeu uma mensagem da namorada.
Liz: “Está tudo bem? ”
Suspirou com a pergunta, se sentia uma covarde já que havia dito que falaria logo com os pais e sendo sincera como sempre, teclou de volta:
Lia: “Está tudo bem sim, não se preocupe. Eu não consegui falar com eles ainda. ”
Liz: “Eu sei bem como se sente. Não precisa forçar nada. Faça tudo no seu tempo, ok? ”
Lia: “Ok. E como está por aí? Não tem nada para fazer aqui. Aff ”
Liz: “kkkkk. Tudo bem por aqui sim. ”
Lia: “Você está onde? ”
Liz: “Em casa, sozinha. Por quê? ”
Lia: “Por nada. Pensei que iria sair com os meninos hoje. ”
Liz: “Não precisa ter ciúmes, não estou a fim de sair sem você. Acabei me acostumando. Estou aqui no meu quarto tocando violão. ”
Lia: “Quero um áudio. Já sinto sua falta. ”
Liz: “Também já estou com saudades. Vou tocar uma para você. ”
Uns dez minutos depois, Liz lhe mandou um áudio tocando e cantando “Wish you were here” do Pink Floyd. Que perfeito! Amava aquela música que ficou ainda mais linda na voz dela. Seu peito já estava apertado de saudades.
Por que tinha que ter se apaixonado logo por uma mulher? Por quê? Seria tão mais fácil ter o coração partido pelos Carlos ou Rodrigos da vida. Independentemente de quem quer que fosse, contando que fosse do sex* masculino, que era o certo, o correto, não teria problemas. Não conseguia nem cogitar a possibilidade de estar com qualquer outra pessoa que não fosse Liz, nem homem ou mulher, ninguém! Só ela lhe interessava.
***
O domingo foi igualmente tedioso. Dormiu até tarde e meio dia eles foram almoçar em um ótimo restaurante no centro da cidade junto com alguns outros familiares, incluindo o seu tio Olavo, aquele mesmo que ela havia perdido o aniversário.
Ele era o irmão do seu pai. Lia gostava muito dele e assim que se encontraram, o abraçou saudosamente, desculpando-se por ter faltado ao aniversário dele. Segundo tio Olavo, ela era a sobrinha favorita dele.
Lia se sentia deslocada ao estar junto de toda a família. Aquele não parecia mais ser o seu lugar, era como se algo estivesse faltando. Durante o almoço, que demorou a acabar, ela trocou algumas mensagens com Liz. A namorada lhe perguntava todos os dias como as coisas estavam.
Apenas se entrosou mais na conversa quando sua mãe pediu que ela contasse a todos sobre a vaga de intercâmbio a qual estava concorrendo. Todos a parabenizaram e lhe falaram palavras de incentivo.
— Essa minha sobrinha vive dando orgulho para a família. — Tio Olavo falou, mas depois corrigiu-se. — Aliás, tanto ela quanto o Pedro. Os dois são ótimos filhos. Quem dera os meus fossem tão dedicados aos estudos assim.
Lia nunca havia sentido tanto o peso do orgulho que a sua família lhe depositava. Com certeza aquela admiração toda sumiria quando contasse que estava namorando uma menina. Era aflitivo pensar naquilo, sentia como se realmente estivesse fazendo algo errado. Sabia que estava deixando o medo levar a melhor, que era covardia, mas não era fácil mudar um hábito de anos.
Quando voltou ao quarto, pensou tanto no que fazer que acabou dormindo a tarde toda. Acordou-se com batidas na porta quando já estava anoitecendo. Levantou-se para destrancá-la e deu de cara com o pai.
— Estava dormindo? — Perguntou carinhoso.
— Sim, acabei de acordar. — Esfregou os olhos e soltou um bocejo.
— Vamos fazer um churrasco agora. Pedro está indo no supermercado comprar umas coisas, está te chamando para ir junto.
Mesmo ainda estando grogue, animou-se. Já estava pensando mesmo no marasmo que era o domingo à noite ali naquela cidade. Ao menos teria um pouco de diversão.
— Ok, eu já desço para ir com ele.
Vestiu-se rapidamente e foi encontrar-se com eles no deck. Viu que o carro do seu pai não estava na garagem.
— O Pedro já foi? — Anunciou sua presença e os pais, que estavam acendendo a churrasqueira.
— Ele está lá fora te esperando. — A mãe comunicou.
— Tudo bem. Até logo.
— Até. — Os dois responderam em uníssono.
Quando chegou lá fora, viu que o irmão sentava no banco do carona e estava com a janela aberta.
— Você dirige agora. — Pedro informou em tom de brincadeira. Lia sorriu e correu até o carro, acomodando-se no banco do motorista.
— Ah, obrigada. Tenho que admitir que estou viciada em dirigir — respondeu animada e ligou o carro rapidamente.
— Eu sei bem como é. Estou vendo que Liz realmente te ensinou direitinho. — Ele parecia impressionado quando a viu dar a partida e sair tão rápido do lugar.
— Ela é uma excelente professora. — Exibiu a namorada com orgulho e riu bobamente. — Aliás, ela é boa em tudo.
Pedro brincou muito com seu jeitinho apaixonado até chegarem no supermercado. Foram atrás de um bom pedaço de carne para assar e mais algumas outras coisas que a mãe pedira.
— Vamos beber alguma coisa? — O irmão perguntou.
Lia parou por um instante. Nunca fora de beber em casa antes, nem mesmo quando eles se reuniam em um churrasco como aquele, porém, estava com muita vontade de beber alguma coisa para conseguir relaxar, precisava de álcool.
— Vou pegar algumas Ices. E você?
— Pode ser o mesmo para mim.
Pegaram as bebidas por último e foram para o caixa. Rapidamente já estavam de volta em casa. Vinham conversando descontraidamente até chegarem. Lia apertou no controle que abria o portão e lentamente estacionou perfeitamente na garagem que ficava próxima ao deck onde os pais estavam.
Pegaram as compras rapidamente e saíram. Quando chegaram lá, observou que os pais a olhavam surpresos. “Putz!” dera mais uma mancada e chegara dirigindo na frente deles. E é claro que os dois eram cientes de que ela não dirigia. Qual desculpa iria inventar para justificar sua recente habilidade de motorista?
— Você que veio dirigindo, Lia? — O pai perguntou bobamente surpreso e de forma retórica.
— Vim sim. — Deu de ombros e tentou fugir do assunto. — Nós vamos tomar um banho na piscina? Eu vou vestir meu biquíni.
Já estava para entrar pelas portas de vidro quando ouviu sua mãe chamá-la de volta.
— Desde quando você sabe dirigir? — Perguntou inquisidora, pondo as mãos nos quadris.
— Ah... — Não soube o que responder de imediato. Pedro ao seu lado apenas a olhava cúmplice. — Uma amiga me ensinou. De vez em quando eu dirijo o carro dela.
A mentira comprimiu seu peito dolorosamente. Sentia-se mal em mentir e negar sobre a verdadeira natureza de sua mudança e sentimentos. Sua vontade foi de gritar que a sua namorada havia lhe ensinado, mas apenas mentiu e nem ao menos esperou por uma nova reação dos pais, saiu praticamente correndo dali.
Subiu até o quarto com o coração disparado. Fechou a porta e escorou-se contra a mesma, mantendo os olhos fechados. Estava se sentindo a pior das criaturas ao negar a namorada e a si própria daquela forma. Não podia se enganar, já tivera outra oportunidade de falar sobre o assunto, mas a sua coragem pareceu sumir completamente...
Depois de se recompor do “embaraço” desceu já com as roupas de banho e viu que o pai já havia começado a assar a carne. Pedro estava na piscina, nadando e sua mãe preparava algumas coisas para a janta.
— Traz as bebidas para cá. — O irmão pediu assim que a viu. — Eu coloquei na geladeira.
Meio sem jeito, Lia foi até a cozinha e voltou com duas garrafas de ice. Sua mãe franziu o cenho quando a viu sentar-se na beira da piscina e viu os filhos brindando e bebendo. Lia tentou fazer-se de indiferente e não dar espaço para perguntas incômodas, não estava fazendo nada demais.
— Que novidade é essa você bebendo agora? — Dona Nádia perguntou, incomodada como sempre. O pai apenas estava calado, olhando a cena.
Irritou-se com o tom de voz acusador. Pedro que era mais novo já bebia e nunca a viu dizer nada. Por que era errado ela fazer o mesmo e ele não? Maldito machismo. Ele estava instaurado até mesmo nas próprias mulheres.
— Não se preocupe com isso. Vou beber pouco — respondeu atrevida. Jamais daria o braço a torcer sobre a insegurança que sentia.
— Agora era mesmo só o que me faltava. — A mãe reclamou, mas o marido abraçou-a por trás, acalmando-a. — Não bastava o Pedro, agora Lia também.
— Calma, Nádia. Nossas crianças estão crescendo, é normal. Pelo menos os dois estão bebendo aqui sob nossas vistas e não fazendo algo errado por aí.
— Será mesmo, Horácio? — A mãe virou-se aborrecida para o marido. — Você por acaso sabe de todos os passos deles fora dessa casa? Principalmente a Lia que está em outra cidade. Pensa que engoli a história dessa tatuagem até agora? Aí tem...
A irritadinha, apesar da raiva que sentia com as palavras da mãe, também estava triste. Não precisava daquele alarde todo, entendia que ela havia sido educada de outra forma e respeitava isso, só queria o mesmo de volta.
— Mãe, por favor! — Pedro interviu. — Não vamos estragar esse momento com besteiras.
— Deixa ela, Pedro. — Tentou acalmar o irmão, mas ela própria também estava puta de raiva. — Eu vou sair daqui. Chega!
Lia saiu da piscina com pressa ainda sob os protestos da mãe, que reclamava da sua mudança. Aguentou o quanto pôde para não começar uma discussão. Já havia iniciado errado com os pais e perdido vários pontos que iria precisar posteriormente.
Ao chegar no quarto correu para o banheiro e ficou embaixo da água quente, tentando acalmar-se. Estava puta de raiva e mais ainda com a sua falta de coragem. Não imaginava que iria se sentir tão intimidada assim por eles. Sua mãe era o seu maior medo, ela iria pirar demais, tinha certeza disso, ainda mais sabendo como ela era explosiva.
Deitou-se para tentar dormir e seu celular tocou. Era Liz. Seu coração bateu acelerado. Já ia atender, mas refreou-se. O que teria a dizer para ela? Nada! Por que não havia tido coragem para isso ainda. Pela primeira vez estava com vergonha de falar com a namorada sobre algo. Estava sensível demais, confusa demais e acabou não a atendendo naquela noite...
***
Na esperança de apaziguar as coisas e tentar ganhar pontos com os pais, Lia comportou-se direitinho durante a semana. O assunto sobre a sua recente mudança não voltou a ser mencionado. Bastava se comportar como antigamente, ou seja, não fazer nada, o que foi uma tarefa árdua.
Nos dias que se seguiram, apenas lia os seus livros e assistia filmes, como sempre fizera. Nada de bebidas ou algum traço que pudesse lhe denunciar. Ela e Liz se falaram bem menos naquela semana. Agradecia pela namorada ser compreensiva e lhe dar espaço, sabia o quanto estava sendo escrota com ela, mas não tinha muito o que fazer, precisava de tempo.
Toda noite durante as refeições, tentava puxar o assunto, mas algo sempre a impedia. Era mais forte do que ela. Mais um final de semana vinha se aproximando e logo o sábado chegou, onde os pais estariam em casa o dia todo.
Passou o dia na cozinha ajudando a mãe com alguns afazeres e depois juntou-se ao pai que estava lavando o carro nos fundos do quintal.
— Minha princesinha veio me ajudar? — Falou todo sorridente quando a viu.
Lia teve vontade de revirar os olhos com o apelido. Sentia-se incomodada ao ser chamada assim. Nunca havia ligado muito antes, mas naqueles dias estava.
— Vou ajudar sim. O que o senhor precisa? — Ofereceu-se solícita.
Rapidamente o pai lhe entregou água e detergente neutro e ela o ajudou. No rádio ele escutava músicas do Belchior, sempre cresceu escutando aquele tipo de música e agradecia aos céus por isso.
Sentia o olhar do pai constantemente sobre si. Ele parecia lhe analisar de alguma forma.
— O que foi? — Acabou não se contendo, mesmo tendo medo do que ele tinha a falar.
— Você parece diferente...
— Isso ainda é por causa da tatuagem? — Perguntou já se exaltando.
— Por tudo, Lia. Tenha calma, eu só estou tentando conversar com você, não estou te acusando de nada.
Perante aquilo ficou calada e apenas escutou o que ele tinha a dizer.
— Só ficamos surpresos, só isso. Será que também pode entender o nosso lado como pais? Você passa um semestre inteiro afastada e volta com uma tatuagem, sabendo dirigir e agora bebendo...
— Eu já expliquei tudo isso.
— Eu sei, princesa. Só quero que nos entenda, principalmente a sua mãe. Ela tem medo de que você se machuque.
— Me machucar? — Não estava entendendo onde ele queria chegar. — O que o senhor está querendo dizer?
— Naquele dia que nos falamos por telefone. Você falou muito séria sobre ter uma conversa com a gente. Não engoli que era apenas sobre a tatuagem.
Lia deu de ombros e olhou para o chão, com o nervosismo lhe tomando completamente. Se perguntava se deveria conversar primeiro com ele. Não tinha certeza, mas por um breve momento teve vontade de lhe contar tudo, pela primeira vez desde que chegara. Brincou com a aliança em seu dedo tentando aliviar a insegurança.
— O senhor está certo. Não era apenas sobre a tatuagem — sussurrou nervosa, seu coração quis sair pela boca. — É que...
Já estava prestes a falar quando ouviu o grito da mãe, chamando-os para o almoço. Suspirou frustrada. Seu pai parecia da mesma forma. Os dois se olharam em compreensão e não disseram mais nada depois disso.
Lia passou a tarde pensativa. Não queria mais esconder aquela verdade. O momento mais cedo com o pai havia sido revelador para si mesma por algum motivo. Sentiu uma esperança de que talvez as coisas não pudessem ser tão horríveis como imaginava. Estava na sala “assistindo” TV, quando recebeu uma mensagem de Liz.
Liz: “Irritadinha. Não quero que você se sinta pressionada. Apenas saiba que estou do seu lado sempre. Sempre! Sei o quanto tudo isso é difícil e mesmo sentindo saudades, quis te dar espaço para respirar e clarear as ideias. Sei que isso é apenas entre vocês e eu não quero jamais me met*r, mas saiba que nós não estamos fazendo nada de errado. Seus pais te amam, eu tenho certeza disso, sei que eles só querem te ver bem e feliz. Pode demorar, mas um dia eles vão nos entender. Apenas não negue a si mesma. Você é a pessoa mais incrível que conheço e sou louca por você. Não importa o que aconteça, eu vou estar do seu lado. ”
A mensagem a deixou extremamente emotiva e decidida. Liz nunca havia feito algo do tipo antes, lhe mandando textos carinhosos e emotivos. Teve vontade de chorar de tão tocada que ficou com as palavras de carinho e apoio dela. Como que em um estalo a culpa ou o que quer que fosse, deu lugar a coragem. Todo o amor que sentia por Liz a atingiu com força.
O medo que sentia por estar se relacionando com outra mulher havia nublado até mesmo a saudade, mas aquela linda mensagem, depois de dias sem se falarem, só lhe deu ainda mais certeza de que nada importava. Somente as duas. Aquela decisão que tomara na cidade de contar tudo a eles, finalmente foi se tornando mais clara e em um impulso, respondeu-a:
Lia: “Me deseja sorte, meu amor. ”
Antes que mudasse de ideia, foi até o quarto dos pais e bateu na porta. Sua mãe abriu e lhe deu um sorriso.
— Oi, querida.
— Posso entrar? — Queria falar com os dois a sós, nem mesmo Pedro ela iria envolver naquele momento.
A mãe afastou-se imediatamente. Entrou e encostou a porta ao passar. Viu que o pai estava sentando na sua mesa e mexia no computador. Imediatamente ele parou o que fazia e olhou-a com atenção.
— Preciso conversar com vocês dois sobre algo.
Dona Nádia sentou-se na cama e logo o marido foi fazer-lhe companhia. Os dois estavam muito calados e sérios como se já esperassem uma bomba. Permaneceu de pé bem em frente a eles, era melhor assim para que a coragem não faltasse.
— Pode dizer, filha. — A mãe a incentivou.
Suspirou profundamente. Não havia nunca ensaiado essa conversa e não sabia nem por onde começar. Com a boca seca e a respiração alterada, soltou em um fiapo de voz:
— Estou apaixonada!
Eles se olharam em silêncio. Seu pai sorriu e falou:
— Eu sabia que era isso. Essa aliança é de compromisso, não é?
— É sim, pai. É uma aliança de compromisso.
— Você estava diferente. Eu estava só esperando você dizer para ter certeza. — Nádia disparou. — Pode nos dizer quem é esse rapaz de sorte?
Aquela era a hora mais esperada e mais temida de todas. Suas mãos estavam suadas e vacilou por alguns segundos. Não sabia o que dizer, não havia um jeito fácil de responder àquela pergunta. Não importava como usaria as palavras, o baque seria o mesmo. Portanto, resolveu ser sincera e não enrolar mais.
— A senhora quer dizer garota de sorte.
Viu quando a mãe juntou as sobrancelhas sem entender nada, o pai também estava da mesma forma.
— O que está nos dizendo, Lia? — Dessa vez foi o pai que falou seriamente.
Sua pulsação estava tão acelerada que podia ouvi-la perfeitamente. Engoliu em seco e voltou a dizer:
— Eu estou apaixonada por uma garota. O nome dela é Lisandra e nos conhecemos na universidade.
Falou tudo de uma vez e observou bem a reação dos dois. Sua mãe estava de queixo caído e com uma expressão séria na face, quanto ao seu pai, ele apenas permaneceu olhando para ela como se não acreditasse no que acabara de falar.
— Mas que brincadeira de mal gosto é essa, Liana Alcântara? — A mãe levantou-se, aproximando-se. — Você está louca de falar uma coisa dessas?
A merd* já estava feita. Não tinha mais para onde fugir ou como retirar suas palavras. Sentia que suas mãos estavam tremendo e fechou os olhos por alguns poucos segundos.
— Eu não estou louca e nem muito menos brincando. Eu me apaixonei por uma garota. Não pude fazer nada para evitar...
— Não! — A mãe tampou os ouvidos e começou a negar com a cabeça de um lado para o outro. — Eu sabia que tinha algo de errado e que você estava escondendo alguma coisa, mas eu nunca ia esperar algo desse tipo.
A forma como ela falava, parecendo enojada era o que mais cortava o seu coração. Por um momento pensou que iria desmaiar de tanto nervosismo, se sentia um pouco fraca. Passara o dia tão nervosa que nem havia comido direito. Olhou para o pai à procura de apoio, mas ele ainda estava estático e calado.
— Você está louca, Liana? — A mãe esbravejou. Ela estava agindo do jeitinho que imaginara, talvez até pior o que só aumentava a sua insegurança. — Isso é errado. É pecado. Você nunca foi dessas coisas...
— Eu não tive escolha, mãe. Eu tenho passado meses me torturando por isso. Acha que escolhi por livre e espontânea vontade estar nessa situação?
— Porque sabe que isso é errado. — As palavras dela foram como açoites em sua alma. Sua mãe estava irada. — Não foi isso que Deus deixou como certo...
— Sinceramente eu não sei mais o que é certo ou errado. Eu só sei o que sinto por ela e que estou apaixonada...
— Eu não acredito no que estou ouvindo.
O pior aconteceu quando viu lágrimas escorrerem dos olhos de Dona Nádia.
— Onde foi que eu errei, meu Deus? — Ela pôs a mão sobre a testa em desespero. — Isso não pode estar acontecendo. Só pode ser um pesadelo.
Lia sentiu vontade de chorar, já não sabia o que fazer. Estava se sentindo tonta e estranha. Apenas ficou parada no canto escutando a mãe esbravejar coisas que deixaram a sua consciência ainda mais pesada. O pai estava de pé, olhando pela janela do quarto. Ele ainda não havia dito uma palavra sequer sobre o assunto.
— É por causa dessa garota que você não quer mais passar tempo com sua família? — A mãe voltou a falar enraivecida depois de algum tempo. — Foi ela que te convenceu a fazer essa tatuagem e a começar a beber?
— Ninguém me convenceu a nada, mãe. — Estava se controlando nas respostas e dando a ela a sua cota de surto, mas não deixaria que culpassem Liz por coisas que não tinham nada a ver com suas escolhas. — Eu só faço o que eu quero e ninguém além de mim mesma pode ser responsabilizada por isso.
— Está cega! Chega aqui completamente diferente e ainda quer nos dar lição de moral.
Nesse momento a mãe a pegou pelo pulso bruscamente, o que doeu um pouco. Tentou puxar de volta, mas ela a segurava com força, enquanto olhava irada para a tatuagem.
— Ai mãe. ME SOLTA! — Gritou com raiva. — ME LARGA!
Nesse momento viu que o pai finalmente saiu do torpor em que se encontrava e correu até as duas.
— Já chega, Nádia. — Ordenou seriamente e com facilidade a fez soltar o braço de Lia. — Está machucando a nossa filha.
— ESSA NÃO É A MINHA FILHA. — Gritou de volta, ainda chorando. — EU NÃO SEI MAIS QUEM ELA É.
Nesse momento a visão de Lia começou a embaçar e as suas pernas enfraqueceram. Sentou-se na cama o mais rápido possível antes que cedesse de vez. Aquela declaração da mãe doeu mais do que poderia suportar. Sempre fora motivo de elogios. Sempre fora considerada a princesa da família, a certinha que só estudava.
E agora era apenas uma desconhecida? Sério que a própria mãe a estava negando?
A porta do quarto escancarou-se e Pedro surgiu. Parecia preocupado e estancou quando viu a cena e se deu conta do que havia acontecido. Com certeza ele havia escutado a gritaria das duas. Rapidamente ele sentou-se ao lado da irmã e a abraçou todo protetor.
— Você sabia disso, Pedro? — O pai falou em tom severo de onde estava. Ele ainda a segurava a esposa.
— Sabia sim, pai.
— Vocês sempre se acobertam, não é? Você concorda com o que a sua irmã está fazendo? — Nádia cuspiu as palavras rancorosamente. — Esse pecado...
— Não é pecado nenhum amar alguém, mãe. — Pedro virou-se para a irmã. — Você está bem, Lia?
— Só um pouco tonta.
— Vamos sair daqui.
Ele a pôs de pé e retirou-a do quarto, levando-a para o dele e trancando a porta.
— O que aconteceu, Lia? — Perguntou preocupado. — Eu pensei que iria me chamar para contar tudo a eles.
— Eu precisava falar com eles à sós. Desculpe maninho.
— Foi tão ruim como pareceu ser? Eu só ouvi gritos seus e da mamãe.
Lia pôs as mãos sobre o rosto e lágrimas indesejadas rolaram por sua face.
— Ela ficou possessa, Pedro. Não vai aceitar isso, não vai mesmo.
Uma angústia tomou conta de si ao finalmente falar aquilo em voz alta e atestar que o maior medo que sentia realmente estava virando realidade, ou seja, eles serem contra o seu relacionamento.
— O que eles disseram? — Podia ver como o irmão estava preocupado.
— Mamãe disse que eu era uma louca, que isso é pecado e basicamente está pensando que Liz é uma má influência para mim.
— Poxa, mana, sinto muito mesmo. E o pai disse o quê?
— Ele só ficou calado o tempo todo, mas não parecia nada feliz. Mamãe está certa, eu sou mesmo uma louca.
— Hey. — O irmão retirou as mãos de sua face e a fez encará-lo. — Você não fez nada de errado, Lia. Não diga isso!
— Mas eu sempre soube que isso era errado...
— Ninguém manda no coração, maninha. — Pacientemente ele enxugava suas lágrimas. — Você não está fazendo nada de mal.
Lia apenas ficou parada onde estava, pensando em como o clima na casa seria tenso daqui para frente. Não iria suportar isso. Seu celular, há muito esquecido no bolso, tocou. Sobressaltou-se com o mesmo e viu que Liz ligava, mas não estava com condições de atendê-la no momento, não queria deixá-la preocupada, por isso resolveu se acalmar primeiro e lhe retornar depois.
Foi até o banheiro do irmão e lavou bem o rosto, também assoando o nariz e recompondo-se. Olhando bem para a tela do celular viu que havia mensagens dela.
Liz: “Como assim boa sorte? O que você vai fazer? ”
“Boa sorte! ”
“O que aconteceu? Estou preocupada! ”
“Só me diz se você está bem. Preciso saber se está tudo bem. ”
Lia sorriu internamente com as mensagens dela toda preocupada. Aquelas palavras aqueceram o seu coração, a simples existência dela deixava tudo melhor, aliás, tudo que acontecera foi para poderem ficar juntas.
Voltando ao quarto, mandou uma mensagem e viu que ela estava online. Pedro apenas a olhava preocupado.
Lia: “Eu já contei tudo. Foi horrível. ”
Assim que ela leu, seu telefone voltou a tocar e dessa vez saiu do quarto do irmão para atendê-la. Ao passar em frente ao quarto dos pais, podia ouvir que os dois discutiam alguma coisa o que só lhe deixou ainda mais arrasada. Correu até seu quarto e trancou-se, depois a atendeu com pressa.
— Linda. Como você está? — Só em ouvir a sua voz já se sentia melhor, era como um refúgio. Que saudades sentia dela!
— Nada bem. — Resolveu ser sincera. — Eles não aceitaram e agora estão discutindo.
— O que aconteceu? — Perguntou preocupada.
— Minha mãe ficou transtornada e meu pai com cara de poucos amigos. — Fungou um pouco ao lembrar da cena. — Mas agora já foi. Finalmente eu consegui dizer, não estava aguentando mais. O clima está péssimo aqui, nem sei como vai ser nos próximos dias.
— Sinto muito fazer você passar por isso, Lia. — A voz dela estava pesarosa. Ela estava se culpando.
— Você não tem culpa de nada. Nós não temos culpa de nada. Apenas aconteceu. — Tentou acalmá-la. Isso era amor, não era? Ajudar o outro mesmo estando em pedaços. — Eu só queria um abraço seu agora.
— Lia, vem comigo! — Liz chamou-a, mas não conseguiu entender o que ela quis dizer.
— Como assim?
— Eu estou bem aqui em frente à sua casa. Vem comigo!
Lia correu até a janela e realmente a viu parada e escorada no carro estacionado bem em frente ao portão. Seu coração bateu acelerado ao vê-la de longe. O que ela estava fazendo ali? Não tinha como ter chegado tão rápido desde quando mandou a mensagem, a não ser que...
— Liz, se meus pais te virem aí vão pirar.
— Eu não me importo. Preciso ver você. Não vou deixar ninguém te machucar.
Ouvir aquilo significou o mundo para Lia e lágrimas de emoção escaparam mais uma vez. Não importava o que acontecesse, Liz estava ali para ela e ninguém poderia mudar isso. Sabia que aquilo não seria uma boa ideia, mas precisava vê-la.
— Eu já estou indo.
— Ok.
Assim que desligou o telefone, Lia pegou sua mochila e rapidamente colocou algumas mudas de roupa por precaução. Não fazia ideia de como seria daqui em diante, mas tinha certeza que talvez eles até a proibissem de ver Liz. Saiu do quarto às pressas, mas assim que foi descendo as escadas, viu que os pais estavam na sala e eles lhe lançaram um olhar rígido e severo.
Estancou no lugar e ainda pensou em voltar, mas não poderia fazer isso. Jamais iria baixar a cabeça e eles tinham que entender isso.
— Posso saber onde a senhorita pensa que vai? — Seu pai perguntou, cruzando os braços.
— Eu sinceramente não aguento estar aqui agora. Preciso de ar.
Sua mãe deu uma gargalhada maldosa e foi para o pé da escada, bloqueando o seu caminho.
— Para quê essa mochila?
— Me deixa passar, mãe. — Pediu entre dentes. — Eu não quero mais brigar. Não aguento outra vez.
— Você só sai daqui por cima do meu cadáver.
Aquilo fez Lia recuar. Não seria nada fácil passar por eles agora. Apertou as chaves nas mãos. Tentou forçar caminho, mas ela não a deixou passar.
— Para onde pensa que está indo, Lia? — Seu pai voltou a indagar.
— Eu já disse que quero respirar um pouco. Se eu ficar aqui vou enlouquecer. Não é nada fácil ver esse olhar de vocês.
— Essa é a sua casa. Não vamos deixar você sair por aí a essa hora e sozinha. — Horácio a repreendeu.
— ESTOU SUFOCANDO AQUI! — Gritou. Já estava ferrada mesmo, não tinha nada a perder. Liz estava logo ali, esperando-a e nada a faria parar agora.
A mãe a segurou pelos ombros, impedindo-a mais uma vez.
— Eu sou sua mãe e digo que você não vai. Acha que as pessoas de fora se preocupam com você mais do que eu?
— Se a senhora é mesmo tão preocupada comigo não teria dito todas aquelas coisas e me machucado tanto. — Não conseguia conter a mágoa.
— EU SOU SUA MÃE, LIA. — A gritaria já estava recomeçando.
— Deixa ela, Nádia. — O pai ordenou e as duas o olharam.
Lia tinha medo daquele silêncio todo dele.
— Você está louco, Horácio? — A mãe o olhou sem entender e aproveitou a distração para passar correndo. — Volta aqui, Lia.
Conseguiu abrir a porta rapidamente, mas sentia os passos pesados dela vindo ao seu encontro. Saiu correndo pelo jardim até o portão preto onde Liz a esperava. Assim que a viu, a namorada se chocou contra o portão ansiosa por vê-la.
— O que está acontecendo? — Liz perguntou assustada e com o olhar fixo para a casa.
— Eles me viram saindo. — Suas mãos tremiam tanto que mal conseguiu abrir o cadeado do portão para seguir.
— Liana! — Podia ouvir a mãe gritando atrás de si e vindo ao seu encontro. — Olha isso, Horácio. É essa a garota por quem ela está apaixonada? — Terminou em tom debochado.
Abriu o portão e virou-se para ver o que acontecia. Seu pai, mais uma vez, segurava a esposa que estava irada ao vê-la partir. Conseguia ver os olhares fixos dele em Liz, que estava bem à sua frente. Pedro apareceu na porta de casa, parecendo assustado e também as olhou de longe. Na pressa nem havia dito a ele que estava saindo.
— Deixe ela ir, Nádia. Não vale a pena brigar mais por hoje. Lia já é bem grandinha.
Uma lágrima escapou mais uma vez de seus olhos e correu para Liz, jogando-se em seus braços e sentindo o cheiro do perfume dela acalmar os seus sentidos. Abraçou-a apertado, matando a saudade que sentia por terem passado uma semana toda longe.
— Linda, eu sinto muito. — A rockeira sussurrou em seu ouvido.
— Só me tira daqui, por favor!
As duas entraram no carro e Liz rapidamente deu a partida, levando-as para longe. No carro deixou escapar algumas lágrimas. Seu peito estava apertado de dor pela confusão toda que causara. Seus pais deveriam estar decepcionadíssimos com suas atitudes, mas não poderia ficar naquele clima horrível.
— Lia... — Liz a chamou. — Olha para mim.
Ela atendeu ao seu chamado e a namorada apenas segurou a sua mão.
— Eu não quero falar nada agora, por favor! Só me leve para algum lugar.
— Tudo bem, linda.
Liz respeitou seu espaço e logo ligou o rádio colocando uma música para tocar. Era uma que nunca havia escutado antes. Na sua cabeça só conseguia relembrar das faces decepcionadas e tristes dos pais e uma dor alucinante somada a desespero tomou conta de si.
O que havia feito? Como seria dali para frente? Perguntou-se mentalmente. Estava fraca e sem rumo...
Fim do capítulo
Primeiramente, peço desculpas por esse enorme atraso.
Eu sei o quanto é chato a demora por atualização, que quebra tanto o raciocínio quanto a leitura, mas eu estava com a inspiração em baixa e não poderia escrever logo esse capítulo de qualquer jeito.
Eu espero mesmo que gostem.
Bjs!
Comentar este capítulo:
patty-321
Em: 20/09/2020
Gente como é difícil. Imagino quantas jovens já passaram por isso. Difícil pros pais tb, a maioria coloca suas expectativas nos filhos.
Resposta do autor:
É uma situação muito delicada e tensa. Essa experiência foi baseada totalmente em mim. Já foi terrível, mas infelizmente, existem reações bem piores. Os pais têm a mania de culpar a outra pessoa, sendo que isso não tem nada a ver. Ainda mais a Lia que nunca foi o estilo de "Maria-vai-com-as-outras".
Aurelia
Em: 02/12/2019
Que bom que voltou, li logo que postou mas foi tão rápido antes de ir trabalhar que acabei não entendendo algumas coisas, agora que li mais calmamente deu certo, complicada essa situação da Liana hein? Os pais não aceitaram o crescimento da filha, o pai ficou calado sem esboçar nenhum parecer, talvez seja um bom sinal, agora é que são elas, espero que eles não deixem de pagar a faculdade da Lia e se acontecer que ela possa lutar pelo seu amor pela Liz. Tenho quase certeza que a Liz ficou por perto a semana toda e ainda bem que ficou, esse é o momento de apoiar a Liana, a aceitação da família é sempre complicado, mas estando juntas é o que importa e depois vai melhorando, nem sempre é assim, mas não desista Liana e lute sempre. Ansiosa pelo próximo. Bjos e até
Resposta do autor:
Olá Aurelia querida.
Sempre muito bom receber os seus comentários. Inclusive, peço perdão por ter demorado tanto em te responder.
Olha, é muito tenso sim a situação da Lia. Ele sempre foi vista como a perfeitinha, a princesa da família. Foi um choque para os pais receber a notícia de que a filha curte garotas. Eles não esperavam por isso nem em.um milhão de anos.
A mãe da Lia é bem parecida com ela, as duas são explosivas. Quanto ao pai... eu tenho medo de pessoas muito caladas.
Sim, a Liz a esperou a semana toda, não queria deixar a sua irritadinha lá sozinha. Ela sabia o quanto seria difícil para Lia ser rejeitada pelos pais, devo dizer até que me superei com as atitudes de Liz, ela está muito entregue e vai fazer de tudo para que as coisas funcionem...
Beijinhos e espero muito te ver pelo próximo.
Mais uma vez, perdão pela minha enorma falta em demorar tanto a te responder.
[Faça o login para poder comentar]
Master
Em: 02/12/2019
Amei que voltou autora, amo demais essa história volta logo .
Resposta do autor:
Olá Master
Rsrsrs... voltei sim e não vou parar de postar. Sei que tenho andado ausente daqui.
Inclusive, desculpe a demora em te responder.
Fico tão feliz em ver que vocês gostam tanto da estória, fico toda boa.
Por favor, não desista de nós.
Te aguardo no próximo capítulo.
Beijinhos.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]