Capitulo 13 - Um pedido inesperado
Duda acordou pela manhã, indisposta. Havia sido despedida na noite anterior e para piorar o telefone de Giselle só dava desligado.
_ Helô, fui demitida.
_ Bom dia para você também e como assim demitida?_ Helô tomava café pelo barulho de mastigação que fazia.
_ Simples assim, como destruir um castelo de areia.
Nesse momento a campainha tocou interrompendo a conversa.
_ Espere um minuto, alguém tocou a campainha.
Helô fez um barulho de curiosidade não saciada do outro lado da linha enquanto Duda abria a porta.
_ Oi... _ Duda mal podia acreditar que estava de pijama e descabelada atendendo a porta para nada mais, nada menos uma Giselle bem vestida e recém saída do banho, percebido pelos cabelos molhados.
_ Oi, Duda! Espero não estar te atrapalhando. Vim muito cedo, mas acredito que jornalistas têm hábitos matutinos por dormirem muito mal.
Duda sorriu e continuou segurando o telefone, fazendo um sinal para que Giselle entrasse e aguardasse um pouco sentada no sofá.
“É tudo tão simples, acho que estou desacostumada com o básico.”
_ Pois é, Helô, como eu ia dizendo, um castelo de areia. _ Duda tentava continuar a conversa da melhor maneira que conseguia evitando o olhar inquisitivo de Giselle. _ Aquele filho da mãe veio me afrontar por causa de um artigo que escrevi para uma revista concorrente por encomenda. O fato é, não há nada que me impeça de vender artigos não jornalísticos para outra editora e foi isso que fiz, vendi uma crônica para o “O Amanhã” que foi publicado hoje. Eu e ele discutimos feio, aquele magricela idiota, ele quase foi para cima de mim.
_ Faço idéia, aquele sujeito não vale nada, como aquele primo meu nos disse. Você encontra coisa melhor para fazer do que se matar para trabalhar para alguém tão ignorante e bruto.
_ Também acho, Helô._ Duda olhou novamente para Giselle e apressou-se._ Vou sair para distribuir currículos mais tarde e aproveito e passo aí para ver Gabriel, já que não me interessa ver essa sua cara de sempre.
_ Sua boba, estaremos esperando. E cuidado, não confio na Giselle. E sei que foi ela que chegou aí agora.
Após uma careta, Duda desligou o telefone.
_ Você me pegou da pior forma possível: recém acordada.
Giselle riu. Até descabelada a achava bonita!
_ Me desculpe, talvez seja melhor eu voltar outra hora.
_ Não, por favor, fique. Estou curiosa para saber o motivo de tamanha surpresa em forma de visita.
Giselle sorriu ao que Duda pediu:
_ Apenas me dê um tempo para tomar um banho rápido. Acho que podemos tomar café aqui perto, o que acha?
_ É claro!
Enquanto Duda tomava banho, Giselle caminhava pelo apartamento. Saber que ela estava tão próxima e ao mesmo tempo tão longe, fez surgir em seu íntimo uma vontade louca de invadir o banheiro e tomar banho com ela. Mas se segurou o quanto pôde e ficou pensando no futuro da jornalista. Afinal, ela escrevia muito bem, merecia mesmo trabalhar em um lugar melhor. E ela era tão engraçada, quem não se encantaria trabalhando com ela? No mesmo instante uma onda de ciúme tomou conta da espiã.
“Um novo ambiente de trabalho, novas pessoas, novas mulheres. Essa cidade está cheia de lésbicas doidinhas para se casarem com alguém como a Duda. E o pior que nem posso cobrar nada dela, não somos nem namoradas!”
Minutos depois, Duda saiu do banheiro. Estava radiante, parecia feliz apesar de estar desempregada.
_ Vida nova, agora me sinto livre para correr atrás do que realmente quero. _ Ela falava enquanto passava pela sala. Entrou no quarto, vestiu a roupa e voltou para perto da espiã.
_ Quando arrumei esse emprego, estava muito precisada de dinheiro. Agora, tenho uma reserva considerável que juntei nos últimos meses, posso me manter durante certo tempo até conseguir um emprego que realmente me ofereça oportunidade de crescimento e mais, que eu possa trabalhar na área que quero.
“Então ela tem um plano. Isso é bom”.
_ E pelo o que ouvi da conversa entre você e Helô, você também é cronista.
_ Sim, nas horas que me sobravam, escrevia crônicas.
Duda pegou a sua bolsa e saíram rumo à lanchonete mais próxima.
Acabaram caminhando um pouco e pararam em uma padaria pequena e aconchegante duas ruas abaixo da casa de Duda. Sentaram- se numa mesa afastada e após fazerem os seus pedidos, recomeçaram a conversar.
_ Mas vamos parar de falar de mim, eu quero saber de você. Te liguei nos últimos dias e seu telefone só dava ora desligado, ora chamava até cair. Fiquei preocupada, sabia?
“Alguém que se preocupa e não é o meu pai.”
_ Me desculpa, acho que meu aparelho deve estar com defeitos, vou resolver isso mais tarde.
_ E o que tem feito?
_ Nada demais, só tenho trabalhado muito._ Anabelle lembrou-se da noite anterior no quarto de hotel e se sentiu culpada por ter que mentir._ Acho que preciso de férias. _ disse, mais para si do que para a ouvinte atenta e faminta.
_ Sei o que é isso. Se você vê que as merece, não vejo motivos para não tirá-las. _ aconselhou Duda comemorando com os olhos a chegada dos pedidos.
Após dar a primeira mordida no enorme sanduíche, Duda lembrou- se de sua curiosidade, sim, da sua curiosidade e perguntou:
_ Você não me disse até agora o motivo de sua amável visita.
_ Antes de mais nada_ Giselle observava assustada o apetite da outra_ você precisa parar de comer tanta bobagem. Não são nem nove horas da manhã e você só está ingerindo comida nada saudável na sua primeira refeição do dia. A primeira e mais importante refeição do dia.
Duda fez uma careta para a loira e com um gesto pediu que continuasse.
_ Bom, _ Giselle bebericou seu chá verde com uma pose de menina saúde um tanto quanto irônica, fazendo Duda sorrir com a boca cheia. _ eu vim te ver porque, bem, você aceitaria namorar comigo?
O que se seguiu a seguir foi uma cena pra lá de inusitada. Duda engasgou com o sanduíche e quase caiu da cadeira ao tentar ir para o banheiro regurgitar o que estava em sua boca agora.
Como um gato e demonstrando uma força incrível, Giselle a segurou e a levou para o banheiro.
Após cuspir tudo no vaso, sabia que a loira estava lá fora a esperando e esperando a resposta, teve vontade de soltar fogos de artifício para comemorar. Com pressa se recompôs e com uma Giselle preocupada voltou para a mesa.
_ Desculpe a cena, tenho a péssima mania de enfiar na boca mais comida do que cabe. _ Giselle gargalhou achando engraçado o jeito envergonhado da garota. _ Mas voltando ao assunto, é impressão minha ou você me pediu em namoro?
_ Sim, é isso mesmo.
Giselle parecia segura do que dissera e Duda teve vontade de fazer amor com ela ali mesmo.
_ Gente, meu trabalho estava mesmo me pesando. Saio do emprego e ganho uma namorada, será que você me traz sorte, minha cara Giselle?
Giselle. Ela estava namorando a Giselle. Ou será que elas no fundo, são a mesma pessoa?
Com um sorriso meio que triste, Anabelle/ Giselle quis saber a resposta:
_ Eu aceito, mas acho que precisamos conversar sobre isso.
_ Que tal irmos a algum lugar um pouco mais reservado? _ de forma maliciosa a loira propôs.
_ Não, teremos tempo para isso. Agora, preciso saber de coisinhas básicas sobre você.
Giselle quase se arrependeu de ter pedido, mas gostava dela e estava feito. Agora vinha a parte mais difícil: mentir.
_ Que dia você nasceu? Você tem irmãos? É de que cidade? Como se chama a empresa em que trabalha?
Lembrando do seu velho texto que teve que decorar sobre essa nova identidade, respondeu sem exitar:
_ Nasci em 1985, no dia 07 de novembro na cidade de São José do Rio Preto, aqui em São Paulo. Foi lá que me criei e fui criada pelo meu pai, não tenho irmãos.
Não conseguira. Mentir teria sido mais fácil agora, mas um nome falso era suficiente. Ela tinha direito de saber algo que fosse verdade além de seu sentimento.
_ Vejamos, você é mais velha do que imaginei.
_ Isso é ruim?
_ Não, isso é interessante.
_ Por quê?
_ Bom, posso te contar uma bela história se topar ir comigo para um parque aqui perto.
Giselle consentiu e elas dividiram a despesa apesar da jornalista demonstrar aborrecimento em não pagá-la sozinha.
Saíram andando e voltaram a conversar:
_ Quando eu tinha 15 anos, me envolvi com uma mulher de 20. Posso dizer que me apaixonei profundamente por ela. _ Giselle quase morreu de ciúme por dentro ao ouvir aquilo. Seria ela apenas mais uma paixão na vida da jornalista?_ Ficamos juntas por seis meses e ela me dispensou dizendo que nossa idade era um desafio que eu não conseguia vencer, que eu era muito infantil apesar de uma ótima companheira para os momentos difíceis. Ela também fez uma previsão, pelo menos pareceu isso quando disse para mim na época: “Você nunca vai se envolver com alguém mais velho que te leve a sério e te ame de verdade. Precisa morrer e nascer de novo para conseguir ter alguém adulto contigo.”
_ Nossa, que garota idiota.
_ Pois é e hoje também acho isso, mas na época fiquei meio que bolada com essa “previsão” que ela fez.
_ E hoje, tempos depois, uma mulher mais velha te pedir em namoro é no mínimo uma boa surpresa e além de ser quebrada essa maldição de tantos anos.
_ Sim, e mais, você é linda e sabe disso. Não é uma beleza comum, você é diferente, é elegante, sabe como se comportar, como chamar a atenção ou o que fazer para não ser notada. Tem sempre os melhores palpites nas conversas, sem agredir as pessoas você consegue respeito e até temor.
Giselle se surpreendeu com o fato de que aquela baixinha fosse tão atenta quanto parecia agora.
_ Você é estável, possui um bom emprego, deve ganhar uma boa grana, tenho certeza que pode conseguir alguém bem melhor do que eu, mas aqui está você e tenho certeza que se perguntando a mesma coisa há tempos antes de vir até aqui me pedir em namoro: Por que eu?
Giselle fora pega de surpresa. Parecia seu lado racional falando e olhando nos seus olhos.
A essa altura já estavam sentadas na bela praça do bairro de Duda. O ambiente parecia emanar paz apesar das tendências contrárias do papo de ambas.
_ Talvez seja hora de me abrir um pouco mais, sei lá. Construir algo junto com alguém de quem eu goste, me permitir sair um pouco do controle. Eu quero você, mesmo que você estivesse morando na favela ou num palácio nos Estados Unidos, eu viria atrás. Eu me sinto bem quando estou com você. Preciso de você. Esse é o porquê.
Não havia nada mais a ser dito.
Esse é um daqueles momentos que qualquer ato que não fosse um beijo estragaria tudo. E elas entenderam isso.
Caladas caminharam de volta até à casa de Duda. Lá chegando, se beijaram, se tocaram, se morderam, se lamberam, se amaram.
Ao final, horas depois, Giselle estava deitada sobre o peito nu de Duda, sentindo uma paz que ainda não conhecera.
Ao lado de Duda tudo era diferente. E isso era tudo.
Fim do capítulo
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