Capitulo 9 - Trabalhando muito
Anabelle ajeitou sua pequena arma na meia calça que usava. Seu vestido preto muito caro vinha a calhar no ambiente a qual se dirigia.
Suavemente conferiu se estava tudo na bolsa e programou o relógio para não perder o compromisso de mais tarde com o seu chefe.
Após fechar a pesada porta de madeira, percorreu todo o corredor e observando a localização das câmeras de segurança, descobriu um ponto cego quase imperceptível se ela não fosse, claro, a melhor em missões como aquelas. Desceu as escadas enquanto notava todos os olhares dos presentes virem em sua direção. Ela estava magnífica e isso sempre facilitava as coisas.
Anabelle nascera em um lar um tanto quanto instável. Seu pai a criara sozinho após ela perder a mãe para uma vida de aventuras. Ele lhe dera tudo o que ela precisava, apesar de ser um homem um tanto quanto fechado.
Ele trabalhava em uma empresa multinacional da área de armamento. Seu pai, melhor do que ninguém entendia de armas e isso talvez fosse a única coisa que ela herdara dele, além da capacidade de se esquivar das pessoas e das relações que nos prendem a algo ou alguém.
Anabelle já aos quatorze anos se destacou na escola após vencer em três distintas competições esportivas. Aos quinze desejou ir para o exército e o pai, sempre calado, nada disse.
Aprovada em primeiro lugar com muito esforço e dedicação, em pouco tempo se tornou a melhor em muitas áreas dentro do exército, se especializando em operações de grande dificuldade e elevado perigo. Também era boa com armas e isso só aumentava o seu prestígio entre as moças e rapazes.
Cresceu na incorporação e passou a ganhar muito dinheiro. Comprou uma casa para seu pai na área nobre de São Paulo, a mobiliou com os melhores móveis e eletrodomésticos e o velho não mais andava de ônibus: na enorme garagem possuía dois carros do ano e uma moto japonesa muito potente.
Ele nunca a pedira nada e apesar do desconforto no início, conhecia a filha o suficiente para saber que ela nunca o desampararia apesar de todos os excessos que cometia lhe dando todas aquelas coisas caras.
Só não largou o emprego como ela desejava. Isso ele não permitia. “O trabalho é o que me faz sentir digno. Se me tirar o trabalho, o que sobra de mim? Serei um velho esperando a morte chegar? Não, minha filha, eu não nasci para ficar á toa, por favor, me entenda, até porque você também é assim.”
Anabelle era uma mulher incrível. Ótima filha, ótima profissional e ótima para cair fora de relacionamentos que fossem longe demais, ou seja, mais que dois encontros como a mesma pessoa.
Sua paixão por aventura a fez receber aos vinte e um anos um convite que mudaria para sempre a sua vida.
Poucos sabiam, mas no Brasil existia uma filial de uma incorporação norte- americana especializada em missões especiais, que lidava com assuntos na área de política e economia. Além de bem conceituada, tal incorporação era tida como extremamente rígida para a contratação de seus investigadores. A equipe era pequena e composta pelos melhores profissionais que havia naquela área. E o chefe da IBIIN ficou sabendo de alguém muito bom, e para sua grande surpresa, era uma mulher.
Na área da espionagem raramente se encontrava no Brasil mulheres interessadas a arriscar tudo o que uma vida normal tinha a oferecer, como casamento, filhos, convívio com essa família, proteção aos mesmos, enfim, tudo que implica ter uma convivência mais longa com alguém. Não que fosse proibido ter ou adquirir família, porém seria mais complexo estar sempre distante, sempre tendo quem perder aos inimigos, porque se faziam muitos inimigos naquela profissão.
A empresa tinha como missão a proteção da América Latina, de manter seus dados em segurança e manter a diplomacia em áreas de grande complexidade. Como sede, escolheram o Brasil por ser um país grande, populoso e vítima de grandes desigualdades. Eles não eram uma incorporação de caridade, não mesmo. Mas também não estavam ali para fazer mal a ninguém. Apenas cumpriam ordens do poderoso país de origem, os EUA.
Anabelle quase não acreditou quando foi chamada através de um comunicado um tanto quanto estranho para trabalhar na IBIIN.
Era um dia chuvoso e caía uma tempestade lá fora. Acabava de chegar de uma missão na mata Amazônica, atrás de traficantes de drogas e enquanto tomava banho, seu celular chamou.
Sabia que aquele era um telefone apenas para o trabalho e uma ligação logo após uma missão super cansativa igual a que tinha sido realizada, coisa muito boa não se podia esperar.
Ainda molhada e com o cabelo cheio de xampu, atendeu:
_ Senhorita Anabelle, desculpe pela hora. Aqui é o Diretor Mattos. Eu preciso lhe passar um convite feito por um poderoso e muito leal amigo meu. Ele quer vê-la ainda hoje, se não se importa.
Sem entender o que Mattos queria ao certo e quase dizendo um palavrão, afinal estava muito cansada, concordou em ver o tal amigo do diretor dali a quarenta minutos.
Enquanto se vestia observava o silêncio da enorme casa. Sozinha. Não conseguia entender, mas começava a se encher de estar sempre sozinha.
Desvencilhando-se desses pensamentos que lhe vinha na hora errada, terminou de se arrumar e logo estava no seu carro luxuoso percorrendo as ruas da maior capital de toda a América Latina.
Alguém a esperava na porta. Entrou na imensa sala da mansão do diretor não sem antes ter notado três carros pretos blindados parados a porta.
O homem que a esperava além do diretor, estava muito bem vestido e era muito bonito. Loiro, olhos verdes e uma pele queimada que entregava uma recente ida à praia, contrastavam com o diretor, um homem baixo, gordo e meio careca, apesar de estar sempre vestido impecavelmente.
Ao notarem a chegada da bela mulher, os dois homens se levantaram do sofá e a cumprimentara de forma amável.
_ Queira se sentar, senhorita Anabelle. Espero que não se incomode, terei que sair para resolver um problema. Vocês podem conversar no meu escritório, que o nosso amigo Maldonado já sabe onde fica. _ O pequeno homem analisou a face curiosa e sempre atenta da bela loira a sua frente e continuou. _ Está em boas mãos, não se preocupe, ele costuma ser uma ótima companhia quando não está bêbado.
Os dois riram e Anabelle que começava a se sentir tensa, agradeceu aos céus, já que não acreditava em Deus, por ter trago sua arma logo ali, presa a cintura.
O diretor saiu e sem muitas delongas, Anabelle e Maldonado dirigiram-se para o escritório gigantesco de Mattos.
Após trancar a porta, o belo homem deu voz a seus pensamentos.
_ Como já sabe, sou Maldonado, Albert Jhonson Maldonado para ser exato. Sim, vamos falar muito de exatidão esta noite, que não será longa infelizmente, mas lhe causará grandes mudanças, digamos, em sua cabeça inteligente.
Anabelle por um minuto quis pedir para ele ir direto ao ponto, mas algo lhe dizia que ele era do tipo poeta, que se revelava nas entrelinhas de conversas muitas vezes aparentemente banais. Sabia como lidar com pessoas assim: prestar a atenção aos sempre enormes detalhes.
_ Como já lhe foi adiantado, eu quero lhe fazer um convite, um tanto quanto estranho, já que o meu melhor amigo é o seu chefe e vai me matar se você aceitar trabalhar comigo.
“Então é isso, uma proposta de emprego.” Anabelle sorriu e o homem continuou parecendo ler seus pensamentos.
_ Isso não é uma simples proposta de emprego, como você deve imaginar. Hoje, vou te oferecer o que julgo ser a melhor proposta de toda a sua vida. Milhares de pessoas vivem toda uma vida para conseguir uma vaga no grupo que comando e muitos não conseguem nem serem entrevistados por um dos meus milhares de empregados.
“Vejamos, um grupo, ele é o chefão, amigo do meu chefe, e o mesmo possui muitos funcionários. Sim, essa era a linguagem do poder.”
_ Eu não sou dono da incorporação para que trabalho. Na verdade, ninguém o é, igualmente a empresa para qual você trabalha. A incorporação se chama: Incorporação Brasileira de Investigação e Inteligência. Não fazemos parte do governo brasileiro, mas sim do governo norte- americano e somos responsáveis por gerar milhares de dados que são utilizados nas mais diversas áreas do conhecimento humano. Nossa missão é facilitar que informações tidas como confidenciais ganhem caminhos mais, vamos dizer, abrangentes, indo direto para o nosso banco de dados, onde estarão seguras, se é que me entende.
Anabelle não podia acreditar, sabia sim da existência dessa empresa e sabia de toda a lenda que fora criada em torno dela. Aquele era um emprego que muitos sonhavam e só os melhores conseguiam. E ser ela a escolhida, apesar de saber que era muito boa no que fazia, não deixava de lhe arrepiar até o último pelo da cabeça.
_ Minha cara Anabelle, sua formação acadêmica e militar são perfeitas e os resultados que você obteve em todas as missões a você designada a tornam a peça- chave que preciso para ter uma equipe perfeita. O meu último espião ou investigador, como prefiro que se refiram a meus empregados, a ocupar a missão que lhe ofereço foi morto por uma organização terrorista em Cuba. Há dois anos procuro alguém com todas as qualidades que preciso e após muita chantagem emocional, tive a sorte de conseguir saber de você através de Mattos, meu velho amigo de faculdade e padrinho do meu filho mais velho. Sou de nacionalidade norte- americana, como pode perceber pelo meu sotaque ainda ruim. Lidero a equipe da IBBIN há quinze anos e nunca tivemos tanto trabalho quanto agora. Preciso que você também entenda que o que estou te pedindo hoje não é nada fácil, dado que você terá uma vida mais dura do que a que tem hoje. Mas não há como desistir, salvo raríssimas exceções. Eu quero que você seja a minha investigadora na área de missões de alta periculosidade e isso requer muito treinamento antes de ir para a ação, não subjugando o seu treinamento no Exército Brasileiro, mas temos uma missão um tanto quanto distinta da qual você foi treinada para exercer, certo?
Calada, sem saber o que dizer, Anabelle ouviu imóvel o homem a sua frente falar enquanto gesticulava como o bom orador que demonstrava ser. Na sua cabeça se passou o risco que aquilo seria para a família que já possuía: seu velho e silencioso pai. Não que desejasse ser mãe, na verdade possuía verdadeira pânico só de se imaginar com uma obrigação com outra pessoa além dela mesma, mas até um simples namoro descompromissado se tornaria um possível risco para sua integridade e da pessoa com que estava.
Fim do capítulo
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