CAPÍTULO DEZESSETE 

Festa surpresa

Trinta e um de abril de 2017. Luiza acorda desanimada. A gaúcha nunca gostou de comemorar seu aniversário. Não depois do seu décimo terceiro. O banho foi demorado. Não porque queria se embelezar para aquele dia, mas porque uma força mandava ficar em casa. Só em pensar em ir para universidade onde teria que distribuir falsos sorrisos e agradecer as felicitações de aniversário, lhe causava mau humor. No entanto, faltar não era opção, dali a duas semanas as provas começarão. A loira vestiu a primeira roupa que viu pela frente, calçou suas havaianas, pegou seus materiais e rumou a faculdade. Nada de glamour, nada de maquiagem, nada de nada. Assim que chegou a sua sala recebeu os comprimentos das amigas. Erica e Sandra entregaram seus presentes e enchiam a gaúcha de mimo. Outros colegas vieram lhe cumprimentar. Luiza tentou ser simpática, mas por dentro estava triste como todos os anos.

 — Seu presente será mais tarde — sussurrou Amanda no ouvido de Luiza — um orgasmo bem gostoso. — Diz Amanda oferecendo seu bom e velho sorriso safado. Luiza empurrou delicadamente a morena.

— Você não toma jeito guria!

Amanda lhe deu uma piscadinha e roubou um selinho bem no canto da boca da gaúcha. Duda viu e ficou enciumada, acabou passando pelas duas e dando um empurrão que se não fosse amparada por Amanda, Luiza teria caído no chão. Luiza sentiu uma imensa raiva, não estava com paciência, não naquele dia. Imediatamente foi tirar satisfação com Maria Eduarda. 

   — Qual é teu problema guria? Por pouco não me derrubasse — reclamou a estudante.

   — Pois antes tivesse caído — replica debochada.

   — Pois da próxima vez que você fizer isso vai ter troco, tá me entendendo? — O mau humor de Luiza era aparente. Duda baixou a pose.

— Vem Isa, o professor chegou — chama Erica a puxando para sua cadeira. — Você está muito mau-humorada mulher! Ânimo que hoje é dia de comemorar.

   O humor não melhorou. A loira arrependeu-se de ter ido a aula. Não queria ser grosseira com os amigos que esforçaram para tornar seu dia agradável. Mas a loira não conseguia ignorar o que aquela data lhe representava. No intervalo apressou-se para sair antes das amigas. Buscou um lugar mais tranquilo. Sentou-se num banco a baixo da árvore do outro lado do bloco H. Algumas lágrimas rolaram em seu rosto. Seu celular tocou, era cliente.

   — Certo então, posso sim. Às 17h00min, então!

    Luiza marcou um programa para aquela mesma tarde. Ela queria se anestesiar. Voltou a sala, pegou sua coisa e foi embora antes que pudesse ser interceptada. A loira aproveitou a solidão do seu apartamento para curtir sua fossa sozinha. A estudante ligou o computador para falar com a irmã no Skype, porém, havia um e-mail não lido. A loira não reconheceu o remetente. Ao clicar foi direcionada para um vídeo. De repente a voz de Vanessa da Mata tomou conta do quarto. 

AMADO

(Vanessa da Mata / Marcelo Jeneci)

(Álbum SIM)

Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu
Fico desejando nós, gastando o mar
Pôr-do-sol, postal, mais ninguém

(…)

    O coração disparou. Luiza ficou escutando a música repetidas vezes. Bella que havia chegado do trabalho mais cedo, estranhou encontrar a prima em casa. Por pouco seu plano não rolou de água abaixo. Isso porque ela e as amigas de Luiza planejavam fazer uma festinha surpresa. Mas a loira informou que tinha um trabalho naquela noite.

— Isa…

— Bella, é o que sou.

— Não, não é.

Luiza respirou fundo. Quando voltou a sala Vanessa estava vestida para matar. Bella lhe olhou com tristeza. A loira, saiu de casa. Seu trabalho nunca pareceu tão difícil. Por pouco Luiza não desistiu no ato. Mas esforçou-se para manter a Vanessa incorporada. Seu cliente era um homem na casa dos sessenta. Embora a pele flácida, tinha um espírito jovial. Adorava desfilar com a gaúcha. Muitas vezes não rolava sex* durante o programa. Na verdade, o que ele curtia era a companhia da loira e vê-la nua totalmente disponível para ele. E a loira implorou para que aquele fosse o dia. No entanto, seu sonho se esvaiu quando o viu tirando a roupa e buscando pelo preservativo. O programa nunca pareceu tão demorado. A loira agradeceu aos céus, por na hora H homem não conseguiu ereç*o. Embora não tenha sido a primeira vez. Ocorre que das outras vezes ele contava com a prostituta para inflar seu ego. O programa foi encerrado. A loira pegou um táxi e rumou de volta para casa. Seu coração estava apertado, ainda no carro ela voltou a abrir sua caixa de email, e a música tomou conta do ambiente. Por mais que tentasse ignorar, ela sabia quem tinha mandando aquela música.

— Senhor pode me deixar próximo a pracinha de Boa Viagem, por favor — pede a prostituta.

    Luiza atravessou a avenida em direção ao calçadão de Boa viagem. Tirou as sandálias de salto alto e desceu pela escadaria que levava a faixa de areia. A maré estava baixa e o vento trazia uma brisa gelada. Luiza pensou na sua trajetória. Acabara de fazer vinte e três anos. Por muito tempo conseguiu se blindar. Em sua vida só existia a Vanessa. Mas a mudança para aquela cidade tudo mudou. Luiza via a Vanessa esmaecendo a cada soprar do vento. Isso lhe deixava totalmente vulnerável. A loira levantou-se, deixou seus pertences na areia e foi de encontro ao mar. A água estava morna, submersas a loira tentou lavar sua alma com aquela água salgada. Aquele momento solitário e reflexivo ajudou a acalmar seu coração. Quando voltou a areia, pegou o celular para consultar a hora. Eram 21h42min e havia inúmeras ligações de Isabela. 

Horas antes.

    Os amigos ignoravam a tristeza que perpetuava no coração da gaúcha. Mas o carinho que sentia por ela era verdadeiro. Seus amigos, compactuam para fazer uma grande festa para ela. Mas, Bella sabendo do sentimento da prima em relação a aniversário, conseguiu convencer os amigos mais íntimo a algo mais simples. No apartamento, estava o maior corre, corre para que a festa surpresa ficasse pronta.

— Você convidou essas duas? — pergunta Erica torcendo o nariz para as duas patricinhas.

— Na verdade foi o Lucas. 

Amanda e Duda descobriram que estavam planejando uma festa surpresa para Luiza, embora não tivessem sido convidadas, elas não iam perder a oportunidade. Grudaram no Lucas até ele sem alternativa as trazer.

— Que demorar, não acha melhor ligar para ver onde ela está? — sugeri Túlio.

   — Tem razão! — Bella liga para o celular de Luiza, chama, chama e ninguém atende. Ela insiste. Depois acaba desistindo imaginando que a prima estava com algum cliente.

Meia hora depois Luiza ver as chamadas de Bella e resolve ligar.

   — Oi.

   — Guria, tais à aonde? Estou ficando preocupada — diz Bella.

  — Já estou indo para casa, peguei o ônibus já. 

   — O que aconteceu? — pergunta ao sentir a voz rouca da prima — sua voz está estranha.

   — Bella, daqui uns vinte minutos chego em casa.

— Tá bom!

    Luiza já tinha pegado um ônibus para ir para casa. Molhada e toda suja de areia, duvidou se algum táxi ia querer levá-la. Chegou ao prédio o porteiro a olhou surpreso. Ela cumprimentou o homem e pegou o elevador. Logo o porteiro avisou a Bella. Todos se esconderam. Quando Luiza abriu a porta deu de cara com Bella a abraçando assustada. Logo em seguida todos apareceram na sala gritando:

  — SURPRESA.

    Surpresa mesmo, todos a olharam espantados. Luiza sentiu a batida brusca no peito quando encontrou aqueles olhos castanhos arregalados.

   — Isa o que aconteceu com você? 

  — Calma gente, fui dá uma volta na praia e não resistir a um banho — disse tentando tranquilizar as pessoas.

   — Tomar banho de mar é… hum sozinha foi? — disse Amanda maliciosa.

   — É Amanda sozinha, SOZINHA. — Frisou. — Gente obrigada pela surpresa, nunca, ninguém fez uma festa assim para mim. — Foi sincera.

   — Amiga você merece. Mas agora vai te ajeitar — disse Erica.

   — Vou lá. — Saiu em direção ao quarto. Duda a acompanhava com os olhos.

    Luiza assim que entrou no quarto tirou sua roupa molhada e correu para o banheiro. Ela estava nervosa. Não conseguia acreditar que Duda estivesse em sua casa. Enquanto todos se distraiam Duda saiu em direção aonde Luiza tinha entrado. Entrou no quarto dela e olhou cada detalhe. O quarto era simples e extremamente organizado. Não conteve sua curiosidade olhou para a tela do computador que estava aberta.

— Ela recebeu o e-mail — sorriu. 

    Duda não percebeu que Luiza já tinha entrado no quarto e fechado a porta. Ela foi se aproximando ficou atrás dela. Duda aperta no play sem querer, então a música tomou conta do ambiente. A morena se assusta.

— Eu sabia que tinha sido você — murmura a loira.

O rosto de Duda fica vermelho.

— Porque você estava vestida com aquela roupa vulgar? — pergunta a morena.

Luiza não lhe responde. Estava tomada pela música. Pela presença. Pelo sentimento. A loira não conseguia mais se enganar, estava amando a garota a sua frente. Duda tenta falar alguma coisa, mas Luiza a puxa pela cintura os corpos se tocam, a respiração fica forte, os lábios se juntam, o beijo acontece. Luiza a beija com suavidade. A toalha de Luiza vai parar no chão. Duda prende o ar, quando ver a mulher que tem roubado sua paz nua pela primeira vez.

— Duda… o que você está fazendo comigo…

 Luiza volta tomar aqueles lábios doces, empurrando a morena até fazê-la deitar na cama. A loira não dar espaço para nada, rapidamente encaixou seu corpo nu no corpo de Duda, que sente o sex* da outra tocar sua coxa. O beijo vai aumentando o ritmo, Duda sente os seios da loira sobre o seu. Luiza, começa a se movimentar na coxa da outra. Os beijos vão ganhando urgência. Seus lábios descem para o pescoço de Duda que começa a arranhar as costas da loira. A gaúcha queria mais que beijo, queria tê-la. Luiza queria senti-la. Duda nunca sentira tamanha excitação. Sua intimidade doía, os lábios da loira desceram por seu colo, as mãos dela massageava seus seios, depois desceram pela lateral do seu corpo. 

— Quero você Duda… Preciso de você! 

Maria Eduarda fechou os olhos quando sentiu o calor da boca da loira nos seus seios pela primeira vez. Luiza passou à língua ao redor do bico fazendo a morena gem*r baixinho. Depois ch*pou, sugou com vontade, ora um, ora outro. Suas mãos tentavam desabotoar a bermuda.

   — Parar, eu não quero. — Foi à única coisa que conseguiu dizer. 

Luiza encontrou um castanho assustado. Silenciosamente Luiza se levantou-se.

   — Qual é o problema? Eu sei que foi você que mandou a música, porque você… — Luiza não teve tempo de terminar, Duda se soltou e saiu do quarto, deixando a loira para trás. 

    Luiza jogou-se para trás. “Essa guria vai me enlouquecer” retrucou a loira. 

Duda voltou sala e saiu sem falar com ninguém, Amanda que até então estava num papo muito interessante com a irmã de Túlio só então percebeu que a amiga não estava perto dela. Preocupada ela vai atrás de Duda, que apertava freneticamente o botão do elevador.

   — O que aconteceu Duda? Porque você está chorando?

   — Nada, Amanda quero ir embora daqui.

    As duas entraram no elevador. Duda não queria contar o que estava acontecendo.

— Só vou embora quando me dizer o que porr* está acontecendo, com você. Somos amigas e não guardamos segredos lembra?

— Me tira daqui que eu conto.

Amanda dirigiu até um quiosque de coco na praia que fica bem na frente do seu prédio em Boa Viagem. Sentou-se na companhia da amiga que chorou copiosamente.

   — Amanda será que sou lésbica?

Amanda não pode deixar de rir com aquela pergunta. — Ora amiga e eu que vou saber é?

   — Todo mundo acha que eu sou. Os meninos da faculdade ficam me chamando de sapatão pelas minhas costas — diz inconformada.

   — E você ligar? Deixa esse povo falar Duda. E caso for, o que tem de errado? Eu sou 80% lésbica e vivo muito bem assim.

   — Você é uma devassa Amanda — retruca. — Uma safada que não sabe o que quer. Isso é nojento sabia?

   — Você está sendo preconceituosa Duda — Amanda usa um tom defensivo. — Eu nem sei porque ainda fico com meninos, mas não para sex*. Sexo mesmo só com mulheres. Mas não me acho nenhuma anormal por isso. Anormal é esse seu preconceito idiota vai acabar te ferrando. Eu sou sua amiga por isso relevo muitas coisas. Mas coloque uma coisa na sua cabeça, cada um tem o direito de foder com quem quiser. — Amanda dar um gole na sua cerveja. — Você é muito dura às vezes.

   — Desculpa. Esse lance de ficar com meninas e meninos acho muito confuso. Porque ou você gosta ou não gosta.

— Duda, há pessoas que não se apaixona pelo gênero e sim pela pessoa. Agora porque essa conversa hein?

Duda dar um gole na sua cerveja. Parece se preparar para conversa. — Estou confusa. Você sabe que só tive dois namorados o Igor e o Pedro…

— Eu sei que você é virgem Duda — dispara Amanda, começando a se incomodar com aquela conversa.

   — Não sou Amanda. Esqueceu que transei com aquela tarada. — A morena dar um suspiro — Fiquei com uma garota e nem lembro se a experiência foi boa ou não. Eu não quero ser lésbica.

   — Esquece isso Duda. E esquece a Luiza também. Ficar remoendo esse fato não vai trazer a lembrança de volta. Sabe o que tu precisas e ter outra experiência com uma garota. Se tu quiseres posso resolver teu problema. Só então vai saber de que gosta de meninos ou de meninas — disse num tom de brincadeira.

   — Praticamente um incesto né sua boba — Amanda cai na gargalhada. — Minha mãe fica perguntando direto se eu sou lésbica, isso já está me enchendo o saco.

— E porque ela está perguntando isso?

   Duda se cala, não se sente confortável de contar a amiga o que anda acontecendo entre ela e Luiza. Amanda lhe olha desconfiada. Duda era péssima para esconder as coisas. A morena sabia que se espremesse descobriria o que estava acontecendo. O problema era que a morena não sabia se queria realmente descobrir. Invés de confrontar, pegou o caminho mais rápido.

Fim do capítulo