Capitulo 46 - O plano e a busca pelo sol menor
Em plena madrugada, o celular de Nicole despertou às três da manhã daquele início de sábado. Rapidamente se levantou, colocou uma troca de roupa na bolsa, maquiagem, tomou banho e aguardou Thaísa já dentro do carro.
“Pegou o pacote de biscoitos?” Nicole pergunta, logo quando a irmã entra no carro.
“Peguei sim, mas também vamos parar para tomar café da manhã, né?”
“Vamos sim.” Nicole começa a dirigir e faz uma volta que a irmã desconhece.
“Nicole, a rodovia é para lá. E que endereço é esse no GPS?”
“Eu sei que a rodovia é para lá, mas eu prometi que ia dar carona a uma amiga que também vai para o show.”
“Que amiga?”
“Helena.”
“Ela vai viajar com a gente?!”
“Vai sim, ué.”
“E por que não me avisou?”
“E que diferença isso faz?”
“Sei lá, só queria que tivesse me avisado, oras.”
Nicole dirigiu conforme as instruções do GPS e logo chegou no prédio de Helena, que já a aguardava com uma mochila e uma caixa de isopor.
Quando Helena entrou, Thaísa aproveitou que as duas estavam conversando para colocar o fone de ouvido e escutar as próprias músicas.
“Não vai cumprimentar a Helena?” Nicole tira um dos fones de ouvido da irmã.
“Ah, oi, Helena...” Thaísa olha para trás, abre um pequeno sorriso e volta a olhar para frente, novamente com os fones de ouvido.
“Pelo visto só seremos nós duas batendo papo na viagem...” Helena comenta com Nicole.
“Pois é, seria uma pena se...” Nicole aumenta o volume do som do carro no máximo em uma das músicas antigas do Matanza, atrapalhando a calma música que Thaísa tentava curtir.
“Nicole, para de graça!” Thaísa desliga o som do carro da irmã.
“Nicole, coitada da menina, não precisa encher o saco assim.” Helena, do banco de trás, repreende a amiga em detrimento da irmã.
“Obrigada.” Thaísa coloca novamente os fones de ouvido.
“Meu, tira isso, vamos conversar! Por que você tem essa mania de querer ser antissocial?” Nicole, sem tirar os olhos da direção, rapidamente arranca os fones da irmã.
“Que saco, hein, Nicole! Conversar o quê? A gente não tem assunto!”
“Sei lá, a Helena escolhe o tema do assunto, vai Helena, fala alguma coisa aí.”
“Bem...hã... Thaísa, não sabia que você gostava de Jimmy & Rats.”
“Eu não gosto. Meu plano é ficar do lado de fora e esperar vocês em qualquer lugar. Só estou indo para um evento sobre psicofármacos que vai ter hoje.” Thaísa explica.
“Você vai entrar sim, não comprei ingresso para você ficar do lado de fora.” Nicole franze a testa e Thaísa apenas revira os olhos.
“Espera. Psicofármacos? Vai ter alguma coisa a respeito? Eu nem estava sabendo!” Helena comenta.
“Sabia sim! Eu marquei você na rede social no evento, mas você não falou nada então achei que você e Pérola quisessem aproveitar o dia fazendo qualquer outra coisa.” Nicole responde.
“Eu não vi essa marcação! Poxa, eu adoro esse assunto, se eu soubesse teria comprado o passe para participar também.”
“A gente pode ver lá na entrada do evento se vocês podem entrar, acho que entrada para visitante deve ter ainda, difícil esgotar.” Thaísa se adianta. “Mas não sei se sua namorada vai gostar, o assunto dela é bem mais voltado para divagações do cotidiano e maquiagem na internet, não é?”
“Ela fala sobre várias coisas cotidianas sim, mas também expressa a opinião dela a respeito de diversas situações de importância para a sociedade.” Helena responde.
“Como por exemplo as burradas que nosso tio-avô faz...” Nicole ri. “Eu andei vendo um ou dois vídeos da sua namorada depois de você ter me contado a respeito, Helena, até que ela tem argumentos bem consistentes.”
“É fácil falar que ele faz burradas quando ele ainda está tentando consertar os erros do governo anterior.” Thaísa responde, com uma expressão de seriedade e impaciência.
“Sempre o governo anterior, sempre o governo anterior, você não troca o disco, né Thá?” Nicole responde no mesmo tom.
“Não troco não, porque se não fosse pelo nosso tio, o governo anterior teria ganhado as eleições novamente.” Thaís continua. “E a roubalheira permaneceria.”
“Você fala como se nossa família fosse santa, né, nosso primo que o diga...”
“Nicole, não vou continuar essa discussão na frente dos outros.” Thaísa responde.
“Que isso, a Helena é minha amiga e com certeza deve querer dizer algo a respeito, não é, Helena?”
“Bem, eu não vou me meter na discussão de vocês, não...”
“É porque lá no fundo você sabe que eu tenho razão, não é?” Thaísa se vira e pergunta para a estudante de Medicina sentada no banco de trás.
“Eu também nunca disse isso...” Helena tenta de todas as formas não entrar no debate. “Eu não apoio um presidente homofóbio e racista.”
“Quanto ao racismo, foram declarações que ele já admitiu que foram exageros. E ele não é homofóbico, ele só tem determinados valores que não são compatíveis com o seu estilo de vida, Helena.” Thaísa continua justificando.
“Estilo de vida dela? E o que seria o estilo de vida dela, hein?” Nicole provoca.
“Vocês me entenderam.” Thaísa engole seco e franze a testa, olhando para a irmã.
“Como eu disse, não vou entrar nessa discussão. Concordamos em discordar.” Helena prefere manter a compostura não prosseguir com as provocações iniciadas por Nicole em direção a Thaísa, mesmo sabendo da verdade.
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No apartamento de Dante, Lívia acordou um pouco mais cedo do que o normal para uma manhã de sábado. Aproveitou para ver as notícias do dia pelo celular enquanto tomava o café expresso da nova máquina enviada pela mãe de Dante.
“Isso é hora de estar acordada?” Dante sai do quarto bocejando.
“Olha quem fala, você também está de pé, meu amor.” Lívia ri.
“Eu só vim buscar um copo de água e voltar a dormir. Tu estás até tomando café!”
“Fiquei sem sono. Viu que vai ter um mini festival sertanejo aqui na cidade ao lado?” Lívia não se conforma com as ideias que surgem por aí.
“Vi sim, vai ter algumas duplas sertanejas bacanas mas nem falei nada porque tu não curte.”
“Mas você curte, não? Porque eu lembro que falamos sobre isso na festa junina.”
“Não é que eu curta, eu escuto quando estou sozinho e deprimido.” Dante dá de ombros. “E também não reclamo quando está tocando em alguma festa.”
“Então você curte sim.” Lívia ri. “Podemos ir se você quiser, eu não ligo, de verdade.”
“Só não sei se conseguiremos comprar ingresso a tempo.” Dante coça a cabeça.
“Ah, não precisa, é naquele recinto que cabe quase duzentas mil pessoas, que eles usam para eventos agropecuários, sabe? A gente só precisaria chegar cedo para ficar em um lugar bacana, mas dificilmente lota, ainda mais pelo porte da cidade.” Lívia explica.
“Beleza. Agora eu vou voltar a dormir porque tenho prova semana que vem e preciso aproveitar meu sono desde já.” Dante boceja mais uma vez e retorna ao quarto.
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Já havia passado da hora do almoço, e as garotas, após enfrentarem um trânsito infernal, finalmente chegaram ao terminal Barra Funda para encontrar Pérola, que já aguardava no estacionamento ao lado de sua moto. O casal, ao se encontrar, cedeu ao sentimentalismo e trocou um beijo digno de capítulo final de novela. Thaísa desviou o olhar, mais uma vez completamente desconfortável, e Nicole segurou o riso ao perceber a situação da irmã.
“Amor, eu vi sua mensagem sobre irmos ao congresso, mas eu já havia combinad-”
“Tudo bem, imaginei que não dava mesmo.” Helena interrompe a namorada, conforme haviam combinado também por mensagem. “Meninas, eu vou ter que ficar com a Pérola.” Ela comenta, com certa pressa.
“Não precisava de tamanha sutileza...” Nicole brinca. “Aproveita sua namorada aí, nos vemos à noite, no show.” A garota guia a irmã de volta para o carro a fim de poderem ver a tal convenção.
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Algumas horas depois, nuas e com o suor escorrendo pelo corpo, Pérola e Helena descansavam após o que seria o sexto ou sétimo round. Pérola abaixou mais ainda a temperatura do ar condicionado no quarto, enquanto as garotas recuperavam o fôlego.
“Quer mais?” Helena pergunta, entre pequenos beijos próximo a barriga e região inguinal.
“Amor, eu acho que está na hora de tomarmos um banho e nos arrumarmos, não?” Pérola mostra a hora pelo celular.
“Caramba! Eu ainda preciso lavar o cabelo, ele ficou todo oleoso por causa do suor.”
“Bom, a gente pode lavar juntas...” Pérola já lança aquele olhar malicioso que Helena compreende bem... e adora!
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Nicole e Thaísa caminharam entre vários pôsteres sobre pesquisas locais e stands a respeito de novidade no mundo dos medicamentos neuropsiquiátricos a tarde toda, apenas com pausas para refeições. Ao final do dia, Nicole pegou o carro e foi com a irmã para ir até o lugar do show.
“Tinha uma garota de um grupo de pesquisa lá em um dos stands que não tirava os olhos de você.” Nicole comenta, enquanto aguardam mais uma vez no trânsito.
“Para de inventar, Nicole. Eu não gosto desse tipo de comentário.” Thaísa revira os olhos.
“Calma, eu só disse que ela estava lhe paquerando. Que mal há nisso?”
“Já pedi para parar.”
“Nossa, Thaísa, você é realmente uma pessoa amarga.”
“Na verdade só estou cansada, eu não queria ir nesse show, só vou porque você comprou um ingresso para mim também.”
“Eu não queria deixar você solta por aí em qualquer lugar, o papai me mataria.”
“Nada a ver. Tem como me deixar nesse endereço?” Thaísa mostra a tela do celular.
“Espera...é aquela Igreja da zona sul?” Nicole olha rapidamente e questiona.
“Sim, eles tem reuniões de jovens aos sábados.”
“Mas eles são mais tradicionais até do que a Igreja que você, o pai e a mãe vão. Tipo...é outro nível de conservadorismo.” A irmã mais velha se assusta.
“Eu assisto vez ou outra aos sermões do pregador dessa Igreja pela internet e as mensagens me trazem paz.” Thaísa justifica. “Se não puder me levar, só estacionar por aqui e eu pego uber.”
“Primeiro que nem tem como estacionar nesse trânsito.” Nicole suspira, percebendo que a irmã não vai desistir, e resolve então ceder. “Eu posso levar você, só preciso reprogramar a rota e talvez eu atrase um pouco para o show, mas tudo bem, ninguém nunca começa no horário, fazer o quê. Mas por favor, qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, ligue para mim, pelo amor, não deixe de ligar! Se qualquer coisa acontecer com você, é melhor eu nem voltar para casa porque estarei condenada.” Apesar de contrariada, Nicole acaba levando a irmã.
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Pérola e Helena conseguiram uma mesa na famigerada área vip do show pelo fato de a influenciadora digital descobrir que conhecia um dos organizadores do evento. Helena avisou por texto a fim de que Nicole as encontrasse lá. O show já havia começado quando a garota finalmente apareceu.
“Foi algum tipo de piada ou ironia esse lance de levar sua irmã para a Igreja da zona sul?” Helena pergunta, entre o intervalo de uma música e outra.
“Não foi não, ela disse que tinha um sei-lá-o-quê de jovens hoje. Nosso plano foi por água abaixo.”
“Eu achei que Helena e eu poderíamos de alguma forma ajudá-la a se entender... que pena que não deu certo.” Pérola lamenta.
“Sinceramente pensei que o lance da Igreja da zona sul fosse alguma zoeira sua, Nicole. Assim, tudo bem, eu respeito a religião da sua família, mas aquela Igreja? Não tinha alguma um pouco menos... complicada?”
“Era a que ela queria né...” Nicole dá de ombros e aguarda ansiosa pela próxima música.
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Com o recinto mega lotado, Lívia e Dante preferiram ficar bem ao fundo, perto das barraquinhas que vendiam cachaça com mel, onde não dava para ver nada do show mas pelo menos o áudio tinha qualidade.
“Ainda bem que eu vim de bota, essa terra ia acabar com meus outros calçados.” Lívia comenta, enquanto segura seu copinho com a bebida.
“Espera, aquela ali não é a Anna Júlia?” Dante aponta para um casal que se aproximava, meio perdido.
“Vocês aqui?!” Anna Júlia questiona, não acreditando.
“Eu que pergunto como você veio parar aqui!” Dante responde.
“Ah, você sabe que sertanejo é o meu prazer secreto...” Anna ri.
“E eu só vim para acompanhar mesmo.” Bernardo comenta.
“Eu também, mas agora acabei de descobrir que valeu a pena por causa dessa cachacinha!” Lívia já tira mais dinheiro do bolso para comprar a próxima dose.
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Já no final do concerto de rock, Pérola se encontrava triste por ter que se despedir da namorada.
“Pérola, você bem que poderia vir com a gente, não?” Helena pergunta, em um último fio de esperança.
“Ah, amor, eu prefiro não arriscar. Mas o investigador particular que eu contratei já está prestes a descobrir quem estava por trás das ameaças, aí sim me sentirei mais segura de voltar.” Com mais um beijo, Pérola se despede de Helena, para que a segunda pudesse voltar para casa com Nicole.
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A última dupla sertaneja já embalava a última música, com uma participação especial feminina, para fechar o mini festival com chave de ouro. Dante cantava alguns versos da música abraçando Lívia por trás, que de vez em quando inclinava a cabeça para cima a fim de dar aquele selinho demorado e aconchegante.
Enquanto a música prosseguia em seu ritmo nostálgico, com a velha história da flor e o beija-flor, Dante começou a reparar que Anna Júlia vez ou outra observava o casal. No início, o rapaz estranhou. Depois, percebeu que a garota não estava diretamente olhando para o casal, e sim, para ele. O rapaz desviou o olhar nas primeiras vezes, mas quando olhou de volta, a garota sorriu. Dante ficou meio desconcertado, e preferiu não retribuir o sorriso. Anna Júlia, sem graça não retornou mais o olhar, e se virou para puxar assunto com Bernardo.
“Está tudo bem?” Lívia pergunta, com a cabeça inclinada olhando para o queixo do namorado.
“Oi? Está sim, está sim.” Dante, meio distraído, responde.
“Essa música é meio tristinha, gostei dela.” A namorada comenta.
“É uma canção bem bonita mesmo.” Dante sorri e dá outro selinho em Lívia.
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Thaísa aguardava em um posto de conveniência ao lado da Igreja, uma vez que a liturgia já havia acabado há mais de uma hora. Quando Nicole e Helena finalmente chegaram, Thaísa entrou no carro e permaneceu muda durante todo o percurso dentro da cidade em direção à rodovia.
“Você não está cansada para dirigir, Nicole? Não quer que eu dirija?” Helena sugere. “Você andou a tarde toda e ainda teve o show.”
“Fica tranquila, consigo ainda dirigir por várias horas.” Nicole responde. “E você provavelmente nem descansou também, né danada?” Ela olha pelo espelho retrovisor e Helena esconde o riso.
“Estamos perto do pedágio da saída da cidade, Nicole, presta atenção na fila.” Thaísa chama a atenção da irmã.
“Caramba, Thaísa, como lhe incomoda falar desse assunto, hein!” Nicole se irrita. “Eu que sou ace me sinto muito mais à vontade do que você, credo, se solta garota.”
“Que assunto? Do que você está falando?” Thaísa finge não entender.
“Oras, foi só fazermos uma referência ao namoro da Helena com outra garota e você já quis cortar, qual o problema de falar sobre duas garotas namorando?” Nicole provoca.
“P-problema nenhum, nossa, eu nem tinha reparado que vocês estavam falando disso! Só pedi para prestar atenção na rodovia!” Thaísa fica vermelha.
“Deixa eu pegar o dinheiro na mochila.” Helena rapidamente corta o assunto para não causar mais desconforto e entrega o valor do pedágio para a motorista.
“Somos os próximos da fila.” Thaísa aponta para a parada do pedágio.
“Não precisa ficar narrando tudo, Thá.” Nicole perde a paciência.
“Desculpa.” Thaísa suspira. “Eu estou cansada, vou dormir um pouco.”
“Espera.” Nicole fala para a irmã pouco antes de entregar o dinheiro no posto do pedágio e acelerar novamente.
“Posso dormir agora ou tenho que ficar esperando eternamente sei lá o quê?” Thaísa continua aguardando após ouvir o pedido da irmã.
“Eu só estava aguardando sair dali do posto do pedágio para poder continuar a falar, mas enfim. A Helena sabe sobre você.” A irmã confessa.
“O quê?” Thaísa arregala os olhos. “Sabe o quê? Helena, o que a Nicole inventou dessa vez?”
“Oi? Desculpa eu estava trocando mensagem no celular com a Pérola. O que vocês estavam dizendo?”
“Eu disse para a Thá que você já sabe sobre ela.”
“Ah...” Helena fica estática, sem saber o que dizer.
“Gente, é sério, isso é alguma piada? Do que vocês estão falando?” Thaísa continua fingindo que não entende nada, apesar do rosto avermelhado e a cabeça pegando fogo por dentro.
“Para, né, Thá. Eu contei sobre a Manoela e a outra guria que você namorou.”
“Quê? Oi? Namorei?” Thaísa começa a rir, completamente nervosa.
“Thaísa, fica tranquila, eu não vou falar nada para ninguém.” Helena promete.
“Falar o quê? Não tem o que falar. Eu não sei de onde ela inventa esse tipo de coisa! É uma desregulada sem noção, isso sim!” Thaísa esbraveja.
“Eu invento? Quer que eu ligue agora para a Manoela e coloque no viva voz para ela me confirmar umas histórias aí do passado?”
“O quê?” Thaísa fica paralisada na hora, mais uma vez com os olhos arregalados. “E-eu não sei nem de quem você está falando, garota, você pode muito bem ter combinado tudo isso antes!”
“Nicole, deixa para lá, sua irmã não está bem, não é legal tirar alguém do armário assim.” Helena pondera e lembra do conselho de Pérola e Lívia.
“Exatamente!” Thaísa concorda, cometendo um ato falho. “Digo, não tem que tirar sei lá o que do armário porque eu não estou no armário! Esse tipo de brincadeira é de muito mau gosto!”
“Aé? Se não está no armário, então por que ficou tão irritada e nervosa com esse assunto, hein?” Nicole continua provocando a irmã.
“Ni, eu vou dormir, já estou cansada dessa piada de mau gosto.” Thaísa se vira e fica com o rosto direcionado para a janela.
“Bom, eu não sei você, mas deve ser difícil recobrar a atenção quando sem querer seus olhos desviam para o decote da Lari, não?” Helena muda de tática.
“Oi?” Thaísa olha para trás, desistindo de descansar. “Que falta de respeito, Helena!” A garota se irrita mais uma vez. “Eu mal lhe conheço e você já vem desrespeitando a mim e a minha amiga assim?!”
“Qual é, depois que a Nicole me falou eu reparei na última aula que você olhou pelo menos umas duas vezes, Thaísa.” Helena afirma.
“Espera, há quanto tempo vocês vem falando isso sobre mim?”
“Eu contei para ela na primeira vez que ela foi lá em casa.” Nicole explica.
Thaísa então pondera a respeito. “Espera, então você guardou essa suposta fofoca com você e não contou para ninguém?”
“Só para minha namorada, mas eu conto praticamente tudo que acontece na minha vida para ela, então não vale.”
“Olha, Helena, por mais que vocês acreditem em uma coisa, eu acredito que eu não sou assim, okay? Posso ter errado no passado e me arrependo, mas é um erro que não quero mais repetir. Todos têm o direito de errar e se arrepender. Hoje eu sigo firme no que eu acredito e essa é a vida que eu quero levar, entende? Eu sei que minha irmã adora botar fogo no circo quando envolve a minha vida, mas eu só quero que entenda que não sou assim que nem vocês e nunca vou ser.”
“Como assim que nem vocês? Nós não somos nem do mesmo espectro!” Nicole reclama.
“Eu entendo, Thaísa. Só não diga que se relacionar com alguém do mesmo sex* é um erro, porque não é.” Helena rebate.
“Para vocês pode não ser, mas para mim é.” Thaísa continua firme.
“Cara, não é porque você considera um erro que isso se torna automaticamente condenável. Vejo algumas das suas postagens na rede social e sinceramente às vezes sinto asco.” Helena desabafa.
“Agora sim as coisas estão começando a esquentar!” Nicole sorri com aquela ponta de sarcasmo.
“Asco por quê? Eu só digo verdades.” Thaísa não se rebaixa.
“Não. Você exala preconceitos, Thaísa. Diga-me qual a necessidade de caçoar de queers que foram espancados pela polícia?” Helena pergunta já perdendo a paciência.
“Eu não caçoei, se você está falando da minha postagem, só disse que foi merecido porque eles estavam desrespeitando famílias que vão naquela praça aos domingos para ter algum momento de lazer.”
“Eles não estavam desrespeitando ninguém, aquilo era uma parada e eles estavam no direito deles de protestar.”
“Fazer bagunça em praça pública agora virou direito de protestar?”
“Exigir igualdade e respeito é um direito de protestar sim.”
“Bom, eu sou daquelas que exige direitos humanos para humanos direitos então não sei se vale a pena discutirmos.” Thaísa responde, séria.
“Maninha do céu, como você defeca pela boca, hein!” Nicole reclama mais uma vez.
“Caramba, Thaísa, como você é uma pessoa reprimida. Sinto pena, só isso.” Helena nem sabe porque insiste em ficar respondendo, mas mesmo assim o faz.
“Reprimida? Eu? Só porque não concordo com seu estilo de vida?”
“Que estilo de vida?! Sentir algo por alguém do mesmo sex* é um estilo de vida agora? Thaísa, pelo amor, você já sentiu tesão por garotas também, aliás, ainda deve sentir, você sabe muito bem que não se resume a um estilo de vida.” Helena se irrita em um nível fora do normal e faz um esforço colossal para não ser grossa.
“Certo, tudo bem, isso é a sua opinião. Desculpe se falei demais, de verdade. Eu respeito você. A única coisa que lhe peço é para não contar sobre meu passado errôneo para minhas amigas da faculdade, só isso. Tudo bem que ninguém tem provas mas não quero esse tipo de suposta fofoca.”
“Eu não vou falar nada para ninguém até porque não é problema meu. E não é passado errôneo, caramba! Que saco, não foi um erro, para de se martirizar, garota!” Helena aumenta o tom de voz e Thaísa fica em silêncio.
“Pois é, acho melhor encerrarmos o assunto, vou ligar o rádio porque nesse pedaço da estrada costuma pegar uma estação com músicas legais.” Nicole percebe que a situação estava beirando a perda de controle e prefere cortar com alguma boa música, até os ânimos se acalmarem, afinal, quanto mais insistia na desconstrução da irmã, mais distante e utópica a ideia parecia.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 05/09/2020
O plot do desenvolvimento pessoal da Thaísa como já disse foi de alto nivel. Helena esteve lá sempre que ela precisou. Nos momentos de confrontos tensos mas respeitosos quanto nos momentos de apoio quando ela, Thaisa sofria ou passava por uma situação de desconforto. E no fundo tudo levava a Helena e esta acabou sendo o espelho perfeito e lindo para Thaisa enfim admitir que precusava de ajuda ainda .
Rhina
Resposta do autor:
Fico tão feliz quando alguém acerta em cheio o que tentei passar! Exatamente isso, faço de suas palavras as minhas!
Beijão!
rhina
Em: 04/09/2020
Oie
Boa tarde.
Thaísa se mantém em uma linha de pensamento e atitudes intransponíveis.
Imagina dentro dela. Todos os dias. Perante as outras pessoas
Rhina
Resposta do autor:
Acho que vc já avançou nos capítulos e chegou na parte que Thaísa já se mostra bem diferente, por isso lhe pergunto: o que achou do plot de desenvolvimento pessoal dela e como a personagem helena contribuiu com isso?
Beijão e ansiosa pela resposta!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 09/11/2019
Eita vai rolar sentimentos e muitas confusões.
Resposta do autor:
Quando Helena está no meio, sentimentos e confusões estão sempre inclusas! hahhahahaaha
Obg pelo comentário meu anjo, bjoca!
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