Capítulo 25 – Ponto final

 

Laísa não soube o que dizer quando se deparou com Vitória parada na entrada da cozinha. Não esperava que a morena escutasse aquela conversa.

 

- Eu... eu só vim buscar uma coisa aqui, não quis atrapalhar. – Vitória comentou sem graça e foi até a geladeira pegando rápido o pedaço de seu bolo. – Desculpa a intromissão, podem ficar à vontade.

 

Laísa e Luciano ficaram observando Vitória deixar a cozinha ainda sem reação.

 

- Nossa, amiga, que situação chata! – Luciano comentou, mas percebeu que Laísa sequer o escutou. – Laísa? Laísa!

 

- Oi... oi, Lu. Nossa, eu realmente não queria que Vitória tivesse escutado isso. – Laísa falou chateada.

 

- Você pretende conversar com ela? Ela pareceu ter ficado bem triste.

 

- Sim, eu já queria conversar com ela antes, agora então, é mais do que necessário. – Laísa respirou fundo. – Eu sei que ela esconde as coisas, mas acredito que está chateada pelo fim do nosso namoro, não queria magoá-la desse jeito.

 

- Amiga, você está com a Ana Júlia, não é? – Luciano pegou a mão da amiga e fez um leve carinho. – Não teria como esconder isso da Vitória.

 

- Eu sei. Eu estou feliz com isso que está começando entre mim e Naju, mas a Vitória, eu não sei dizer exatamente, só que ainda tenho sentimentos por ela.

 

- Laísa, isso é normal! Não faz mais do que alguns dias que vocês terminaram e você saiu magoada do relacionamento. – Luciano tentou tranquilizar a amiga. – Vá para sua sala, se acalme e pense um pouco antes de procurar a Vitória para conversar.

 

Laísa acatou o que o amigo disse, naquele momento sabia que não seria bom tentar uma conversa.

 

Em sua sala, a loira perdeu-se em suas divagações, pensava em tudo que havia acontecido desde que chegara naquele escritório e não pode evitar uma certa tristeza pelo rumo que tomou sua história com Vitória.

 

Somente saiu de seu transe quando escutou o vibrar de seu celular, indicando uma nova mensagem.

 

"É nesse número que eu falo com a loira mais lindo do mundo que não sai do meu pensamento?"

 

Laísa sorriu involuntariamente ao ler aquela mensagem. Não tinha como evitar o encantamento e as sensações que Ana Júlia lhe causava mesmo com coisas tão simples como aquela mensagem galante.

 

"Olha, eu espero que seja, porque se você estiver pensando em outra loira o negócio não vai ficar bonito para o seu lado!"

 

Laísa entrou na brincadeira e respondeu a mensagem no mesmo tom. Rapidamente, seu pensamento foi até Ana Júlia e nos momentos que passaram juntas naquela noite. Seu corpo ainda parecia estar extasiado pelo prazer, tanto que só de lembrar sentiu um leve arrepio.

 

O celular vibrou novamente e Laísa já estava sorridente antes mesmo de ler o conteúdo da nova mensagem.

 

"Agora tenho certeza que é a minha loira mesmo! Pensei em preparar um jantar para nós hoje, o que acha?"

 

"Convite super aceito! Sua loira?” – Laísa sorriu ainda mais, primeiro por lembrar que Ana Júlia não era uma exímia cozinheira e depois pela forma como foi chamada.

 

As duas continuaram conversando por mensagens e foi bom para Laísa se distrair um pouco e se acalmar depois daquela tensão com Vitória. Mas a loira sabia que não poderia adiar aquilo por muito tempo, então quando viu que já estava perto de sua hora de deixar o serviço, respirou fundo e seguiu para a sala de sua chefe.

 

Vitória passou uma tarde difícil depois do que escutou Laísa dizer. Se culpava por ter perdido Laísa e sabia que tudo fora consequência de suas atitudes e, por isso, não havia qualquer resquício de raiva de sua prima, mas a tristeza era inevitável para a arquiteta, que não se conformava de ter perdido a única pessoa que lhe despertou tantos sentimentos e que não estava apenas lhe usando.

 

Vitória respirou fundo ao escutar batidas em sua porta, não estava preparada para receber quem quer que fosse naquele momento.

 

- Vitória, eu posso entrar?

 

Vitória a encarou um pouco desconcertada, por já imaginar o motivo de Laísa estar em sua sala.

 

- Sim, por favor. Falou tentando manter-se profissional.

 

- Eu acho que nós precisamos conversar, não é?

 

Laísa sentou-se à frente de Vitória. Também estava desconfortável com aquela situação, mas sabia que era uma conversa necessária.

 

- Não adianta adiar, né!? – Vitória passou a mão pelo rosto e suspirou. – Laísa, antes de qualquer coisa, eu quero te pedir desculpas. Desculpas sinceras. Eu não tive a menor intenção de te causar mágoas, por favor, acredite nisso.

 

- Você não precisa ficar me pedindo desculpas, Vitória. Eu realmente não guardo qualquer mágoa de você! – Laísa falou sincera. – É, eu não sei bem como falar isso, mas, na verdade, eu queria saber se a gente pode deixar isso tudo no passado, entende?

 

Vitória sentiu o baque daquelas palavras e engoliu em seco.

 

- Deixar isso no passado quer dizer nos deixar no passado, né!? – Vitória falou triste. – Sinceramente, não é isso que eu quero, mas respeito sua decisão. Além do mais, você já deixou bem claro que está com outra pessoa.

 

Laísa sorriu triste, sabia que Vitória não esqueceria o que escutou na cozinha.

 

- Isso não se trata de Ana Júlia, de Rebeca ou de qualquer outra pessoa. A verdade é que você quebrou toda a confiança que eu depositei em você e, por mais que ainda haja muito sentimento aqui dentro de mim, isso tudo me magoou demais. – Laísa falou olhando nos olhos de Vitória que se surpreendeu ao perceber o quanto a loira foi direta. – Eu não guardo rancor de você, só não conseguiria levar adiante o nosso relacionamento, entende?

 

- Entendo. Eu assumo os meus erros e as consequências deles. – Vitória sentia um nó na garganta. Não estava preparada para aquela conversa tão sincera. – É muito difícil saber que eu te perdi e a culpa disso é totalmente minha.

 

- Não se culpe por nada, Vitória, não é saudável e nem quero isso. As coisas aconteceram porque tinha que ser assim, só nos resta tirar uma boa lição disso tudo.

 

- Você está certa e isso só me faz te amar ainda mais!

 

Laísa ficou corada ao escutar aquilo. Não esperava que Vitória fizesse tal declaração.

 

- Eu acho que a gente precisa conversar sobre o escritório, Vitória. Eu sei que disse que não sairia daqui mas se você quiser, eu saio, não vou ficar chateada.

 

Vitória balançou a cabeça em negação.

 

- De jeito nenhum, Laísa! Você em pouco tempo já se mostrou uma das arquitetas mais competentes daqui e vai ser difícil sim, não posso mentir, mas eu vou aprender a lidar com isso. Só não saia do escritório, por favor, eu vou me sentir muito mal se fizer isso.

 

Laísa suspirou enquanto pensava um pouco naquilo. Realmente, não tinha vontade de sair do escritório, mas tinha algum receio de como seria sua relação com Vitória dali em diante.

 

- Acho que a gente pode fazer essa experiência. – Comentou sorrindo para tentar diminuir o clima tenso daquela conversa. – Bom, já deu minha hora, eu preciso ir. Obrigada, Vitória, por tudo! Tudo com você foi inesquecível!

 

Vitória enxugou uma lágrima que não pode evitar que caísse.

 

- Eu que te agradeço por ter despertado tantos sentimentos bons em mim, eu já não sabia mais o que era isso. – Vitória tentava controlar a emoção daquele que parecia o fim definitivo de seu relacionamento.

 

Laísa sorriu e achou que não tinha mais necessidade de falar qualquer coisa. Quando já estava na porta da sala prestes a sair, escutou Vitória chamar seu nome.

 

- Eu espero, com toda a verdade, que você e Ana Júlia sejam felizes!

 

Vitória falou e abaixou a cabeça, chateada demais para continuar encarando Laísa, que por alguns segundos ficou apenas ali parada na porta da sala, dividida entre ir embora de uma vez ou correr para abraçar Vitória que parecia tão destruída emocionalmente com tudo.

 

Depois de um longo suspiro, Laísa saiu da sala, fechando a porta atrás de si. A loira foi até a sala de Luciano e contou para o amigo sobre aquela difícil conversa, somente depois disso, sentiu-se mais leve para ir para sua casa.

 

Vitória deitou a cabeça sobre a mesa e deixou algumas lágrimas caírem. Por mais que estivesse tentando se manter forte, aquele ponto final em seu relacionamento destruiu toda a força que existia dentro de si. A arquiteta resolveu ir para casa, mas dessa vez não tinha intenção de se afogar na bebida, iria manter a promessa feita a sua tia.

 

…

 

Ana Júlia acordou naquele dia disposta a retomar a vida que deixara no Brasil. Não queria mais perder tempo e estava sentindo falta de seu trabalho que tanto amava.

 

Passou o dia ocupada resolvendo algumas questões necessárias para abrir o seu próprio escritório. Iria começar tudo do zero, com muita garra, tinha certeza que conquistaria seu lugar no mercado de trabalho. Ana Júlia estava sentindo-se plenamente feliz e sabia que grande parte disso tinha a ver com o relacionamento que ela e Laísa estavam começando. Mesmo sabendo que as coisas poderiam não ser tão fáceis e ainda sentir alguma insegurança em relação a Vitória, estava confiante e animada.

 

Quando chegou em casa já era noite, mas apesar de cansaço, estava ainda mais animada, agora já teria o local onde seria seu escritório e já poderia começar a resolver as questões burocráticas e também a reforma para deixar o lugar do jeito que desejava. Ana Júlia estava tão contente e não via a hora de contar todas as novidades para Laísa e também para sua mãe, que não tinha aparecido em sua casa desde o dia anterior, mas Ana ficava feliz por saber que a mãe estava cuidando de Vitória.

 

Ana Júlia tomou um banho rápido e notou que faltava pouco menos de uma hora para o horário combinado para Laísa chegar em sua casa. Então, colocou uma roupa leve e confortável para preparar o jantar que havia prometido a loira. Esperta, Ana Júlia comprara uma massa pronta indicada por sua mãe e apenas pediu ajuda para fazer um acompanhamento. Sabia que não era nada demais aquele jantar, mas queria apenas passar um tempo curtindo a companhia de Laísa.

 

Quando já estava quase tudo pronto, o interfone tocou indicando a chegada da loira e Ana Júlia sorriu instantaneamente.

 

Feliz, Naju foi até a porta esperar pela chegada de Laísa.

 

Laísa saiu do elevador e avistou Ana Júlia lhe esperando na porta de seu apartamento. Olhou a moça de cima abaixo e sorriu ao constatar que ela era linda mesmo estando tão simples e com os cabelos ainda úmidos.

 

Laísa abraçou Ana Júlia e aspirou sentindo seu cheiro de banho recém tomado.

 

- O cheiro está uma delícia! – Falou sorridente ao dar um selinho em Naju. – O do jantar e o seu.

 

- Espero que o gosto seja tão bom quanto o cheiro. Vem!

 

As duas entraram e foram para a cozinha. Laísa não sabia explicar o porquê, mas Ana Júlia lhe parecia ainda mais atraente naquele momento. Aproveitou que ela estava concentrada no preparo do jantar para abraçá-la por trás e distribuir beijos por suas costas e nuca.

 

- Assim eu não vou terminar o jantar. – Ana Júlia reclamou, mas estava gostando daqueles carinhos.

 

- Eu não estou fazendo nada. Pode fingir que eu nem estou aqui.

 

Ana Júlia sorriu, enquanto sentia as mãos de Laísa passeando por seu corpo. Mas estava perdendo a concentração com os beijos de Laísa em seu pescoço, lhe causando arrepios.

 

- A senhorita pode fazer o favor de ir arrumar a mesa e me deixar terminar isso aqui?

 

Laísa resmungou contrariada, mas fez o que foi pedido. Arrumou a mesa para as duas, já que Ana Júlia falara que não sabia que horas sua mãe chegaria em casa.

 

Ana Júlia terminou seu jantar e serviu para as duas, arrancando risadas de Laísa.

 

- Macarrão? Sério? – Perguntou rindo. – Eu estava esperando algo mais elaborado, Naju.

 

- Macarrão à carbonara! – Ana Júlia consertou. – E eu fiz o que pude, não sabia que estava tão exigente assim.

 

- Não estou. – Laísa confessou e deu um leve beijo em Naju. – Ficaria feliz de jantar com você mesmo se fosse macarrão instantâneo.

 

As duas jantaram entre brincadeiras e carinhos e depois Laísa ajudou Naju com a louça do jantar.

 

- Obrigada, Naju! – Laísa abraçou Ana Júlia e fez um carinho em seu rosto. – Estava maravilhoso!

 

Ana Júlia deu um beijo rápido nos lábios da loira.

 

- Vamos terminar aquela garrafa de vinho? É contra a lei deixar uma garrafa de vinho pela metade. – Ana Júlia brincou.

 

- Você sabe que eu ainda preciso ir para casa dormir, não é!? Amanhã trabalho bem cedo.

 

- Ah, não seja chata, tenho tantas novidades para te contar.

 

Laísa revirou os olhos, mas acabou cedendo.

 

Como a noite estava um pouco mais fria que o normal, as duas sentaram juntas no tapete da sala de Naju. Laísa se acomodou no peito da mais velha e a escutou contar sobre tudo que havia feito naquele dia e como estava feliz de estar abrindo seu próprio escritório.

 

Laísa se afastou apenas para olhar nos olhos de Ana Júlia, enquanto fazia um carinho leve em sua nuca.

 

- Eu amei saber disso tudo! Estou tão orgulhosa de você, meu amor!

 

Laísa falou sem pensar, mas percebeu a feição surpresa de Ana Júlia.

 

- O que você disse? Fala aí de novo. – Naju perguntou fazendo charme.

 

- Falei que eu estou muito, muito, muito orgulhosa de você… meu amor!

 

Ana Júlia beijou Laísa, mostrando toda a felicidade que estava sentindo naquele momento.

 

- Você me faz tão feliz, Laísa!

 

Laísa sorriu, encantada com cada gesto de Ana Júlia.

 

- Então estamos quites! Cada dia, cada beijo, cada gesto seu só me faz ter mais certeza que estou apaixonada por você!

 

Laísa voltou a beijar Ana Júlia com todo desejo que sentia. As duas deitaram ali mesmo no tapete da sala e se entregaram às carícias. Ana Júlia tirou a própria blusa e a blusa de Laísa, admirando o colo nu da loira, que não usava sutiã naquele dia. Voltou a beijá-la enquanto suas mãos alcançaram os seios de Laísa, que suspirava com as carícias que recebia.

 

Estavam tão envolvidas naquela bolha de tesão que sequer escutaram a porta do apartamento ser aberta.

 

Marta entrou no apartamento da filha e se deparou com a cena das duas. Não ficou realmente incomodada, apesar de ser uma situação inusitada, mas precisava interromper antes que as coisas ficassem mais ousadas entre elas.

 

- Olá, meninas! Atrapalho alguma coisa? – Marta perguntou sorrindo, sabendo que deixaria as duas constrangidas.

 

Ana Júlia teve um sobressalto ao ouvir a voz da mãe. Rapidamente, sentou sem saber o que dizer. Laísa também se assustou e constrangida por estar com os seios de fora, abraçou as costas de Ana Júlia, tentando esconder sua nudez, enquanto Marta as observava segurando sua vontade de rir daquilo tudo.

 

- Oi… oi, mãe. Não sabia que iria chegar agora. É… desculpa. – Falou sem jeito.

 

- Imagina, filha. Foi até bom encontrar as duas aqui, preciso ter uma conversa com vocês.

 

Ana Júlia alcançou a blusa de Laísa e a entregou para que a loira pudesse se vestir, somente depois se afastou dela.

 

- Conversar? Com nós duas?

 

Laísa se recompôs e levantou, ainda sem jeito.

 

- Exatamente! Já tive uma conversa séria com Vitória, mas agora preciso ter uma conversa ainda mais necessária com vocês duas.

 

Fim do capítulo