Capitulo 43
Diálogo com os Espíritos -- Capítulo 43
-- Não! Pelo amor de Deus. Não atire nela.
Em seguida, Alicia estava deitada no chão, olhando para dentes ferozes rosnando para ela.
-- Pitty, fora! -- gritou a moça -- Saia de cima dela, sua bobona.
Alicia se afastou cuidadosamente do Pitbull e se levantou. Guardou a arma de choque enquanto a enorme cachorra se sentava, sacudindo o rabo e ofegando.
A moça apressou-se para se desculpar.
-- Você se machucou?
-- Estou bem. Nada que um banho não resolva, estou toda cagada -- Alicia tremia tanto que mal conseguia se mover -- Ela é feroz?
-- Pitty? Não. Ela é uma covarde -- a moça se abaixou para afagar a cachorra e a abraçou -- Você é uma ladra ou uma policial? -- ela ficou de pé e virou-se para Alicia, esperando a resposta.
-- Nenhum dos dois -- respondeu, um pouco mais calma.
Durante um segundo, a moça a analisou. A intrusa era muito mais que uma ladra, tinha certeza disso.
-- Você agiu rápido com a arma -- incitou ela -- Onde aprendeu a sacar assim?
-- No momento em que pensei que seria estraçalhada por um Pitbull.
A moça a fitou, intrigada.
-- Não acreditou? Achei que não acreditaria -- suspirou Alicia -- Digamos que morar no Rio de Janeiro nos obriga a buscar aprender a se defender da violência.
-- Que talento valioso -- ao dizer isso, sua mente divagou, imaginando quais outros talentos ela possuía -- Hoje é o seu dia de sorte -- acrescentou.
-- Sorte? Estava pensando em consultar o árbitro de vídeo, para assistir minha vida e julgar onde foi que eu errei. Resolvo um problema e me aparecem mais sete.
-- Problema mesmo você teria se o dono da casa não tivesse saído.
-- Eu conheço o Jean, sei do que ele é capaz -- Alicia deu dois passos e se virou para fitá-la -- Quem é você?
-- Me chamo Sandra, venho dois dias na semana para limpar a casa -- a moça jogou os cabelos para trás e olhou para ela com uma expressão engraçada -- E você quem é?
-- Alicia -- disse, torcendo as mãos num gesto nervoso -- Já perdi muito tempo conversando com você. Não estou aqui para uma visita amigável, estou aqui para ver a Milena e verificar se está tudo bem com ela. Aonde ela está? -- retorquiu a médica, num tom nada compassivo.
No momento em que Sandra ouviu o nome da menina, seu rosto mudou de expressão, tornando-se cauteloso, os grandes olhos castanhos estreitaram -se.
-- Algum problema em ver a menina? -- perguntou Alicia, estranhando a mudança nas feições de Sandra.
-- O senhor Jean não deixa ninguém chegar perto da menina. Quando ele sai de casa, deixa ela trancada no quarto.
-- O que? -- Alicia ficou perplexa -- Ouvi direito?
-- Eu quase não a vejo.
-- E você não acha estranho um pai trancar um filho no quarto?
Sandra não respondeu de imediato, parecendo imersa em reflexões.
-- Acho que ele tem medo que a menina se machuque, pelo que sei, Milena é muito rebelde, vive se machucando.
A sobrancelha de Alicia se levantou, pois ela estava preocupada demais com a menina.
-- Eu quero vê-la.
-- Não tem como, ele deve ter guardado a chave em um lugar bem dificil de encontrar.
Alicia pensou durante alguns segundos.
-- Você é cúmplice do Jean -- acusou, a médica -- Está vendo o que ele está fazendo com a menina e não o denunciou.
-- Eu não sou cúmplice de nada -- ela se defendeu, com veemência -- Eu nem gosto do seu Jean, só estou aqui porque preciso do trabalho.
Alicia reconheceu imediatamente a sinceridade daquelas palavras, que a sensibilizaram. Havia hesitação em sua voz e medo em seus olhos
-- Tudo bem, preciso de sua ajuda para tirar a Milena do quarto. Vamos!
Sandra olhou-a assustada. Estava amedrontada, Jean era um homem violento e seria bem capaz de machucá-la quando soubesse que ela havia ajudado a estranha.
-- Não posso fazer isso, o seu Jean vai me matar quando souber.
-- Você quem sabe, mas saiba que vou denunciá-la por ter contribuído de forma secundária para a realização de um crime -- Alicia se virou e, com passos cuidadosos, foi andando pelo corredor ornado com enormes vasos de flores.
-- Você vai se dar mal... -- vendo que ela não lhe dava atenção, calou-se, e foi andando atrás dela.
-- Aonde fica o quarto da Milena?
-- Por que não me escuta? -- Sandra a puxou pelo braço, fincando as unhas cravadas na pele dela.
Alicia desvencilhou-se da mão em seu braço e recuou.
-- Porque eu não vou deixar uma criança indefesa nas mãos de um maluco. Como posso ter certeza que ela está bem? E se ele a estiver maltratando?
Sandra desistiu de tentar convencê-la. Alicia, no estado emocional em que se encontrava, não abandonaria o seu propósito.
-- Está bem. Vamos -- a moça apontou na direção do corredor -- Tem um lugar aonde o seu Jean guarda um monte de bugigangas. Dias atrás, eu limpei aquela sala e vi uma caixa cheia de chaves. Acredito que seja as chaves reservas dos cômodos do casarão. Vem comigo!
Alicia esboçou um sorriso e a seguiu.
Fernanda voltou para o apartamento sentindo-se leve. Tinha convencido o pai a aceitar a ajuda da Alicia. Ele havia prometido não dar ouvidos a Matilde e, mesmo que ela fosse contra, não desistiria do tratamento.
O apartamento estava em silêncio.
-- Alicia e Cléo ainda não voltaram -- comentou para si mesma, olhando para o relógio -- Mas, já é tão tarde!
Foi direto para o banheiro. Tomou um banho, lavou os cabelos, secou. Colocou uma roupa leve e voltou para a sala.
Naquele instante, ela ouviu o barulho da chave girando na fechadura da porta de entrada.
-- Nanda? -- Cléo chamou, enquanto trancava a porta -- Chegou cedo.
Ela caminhou na direção da porta para se encontrar com ele e, automaticamente, olhou para o relógio em uma das paredes.
-- Tem alguma notícia da Alicia? -- ela perguntou, enquanto o observava colocar as chaves sobre a mesa de centro.
-- Não -- Cléo sentou-se, com o celular na mão -- Pensei que ela já tivesse retornado de Niterói.
Fernanda sentou-se ao lado dele no sofá.
-- Você devia ter ido com ela. Não conheço esse tal de Jean, mas sei que ele é bem grosseiro -- ela tamborilou os dedos no braço do sofá.
Cléo também estava preocupado com ela. Ele precisava saber onde estava e o que estava fazendo. Sentia certo remorso ou culpa por não ter insistido em acompanhá-la.
-- Vou ligar para ela -- Cléo se levantou, discando o número do celular de Alicia.
Fernanda o observava, parado à janela, com o telefone no ouvido.
-- Então? -- ela se levantou, visivelmente angustiada.
-- Está fora de área -- disse, desanimado. Condenando-se por não ter avaliado os riscos e decidido ir junto -- Ela falou que o Jean mora em uma região bem afastada da área urbana.
Fernanda agitou de leve os cabelos úmidos. Em seguida, sentou-se no enorme sofá de couro bege. Ela apoiava-se num dos braços do sofá, como se precisasse de ajuda para não cair. Estava realmente preocupada com Alicia.
Desanimada, Alicia desviou o olhar do molho de chaves para Sandra.
-- Tentamos todas. Não vejo outra saída a não ser arrombarmos a porta -- ficou olhando fixamente para a porta -- Mesmo sabendo que a Milena vai ficar muito assustada.
Prontamente, como se tivesse lembrado de algo, Sandra inclinou-se para frente e, em um tom de voz animado falou:
-- Acho que o quarto do seu Jean está aberto. Troquei a roupa de cama hoje pela manhã e não o vi entrar lá depois.
Alicia olhou o relógio do celular e franziu a testa.
-- Não corremos o risco de sermos pegas por ele? Já é dezoito horas.
Olhando para Alicia, Sandra sorriu confiante.
-- Pode confiar em mim -- assegurou ela -- Sempre que o seu Jean vai a reunião dos ex-soldados, raramente volta antes das dez.
-- Oremos! -- disse Alicia, aliviada.
O quarto era no final do corredor. Elas pararam diante da porta, em seguida, Sandra girou a maçaneta.
Alicia acompanhava atentamente os movimentos dela. Sua expectativa aumentava e ela sentiu-se tentada a passar por cima da moça.
-- Eu não disse! Está aberta -- ela comemorou.
-- Entra logo -- disse Alicia, ansiosa.
Sandra abriu-a e dirigiram-se para dentro.
Era um quarto enorme e bem decorado. Os móveis eram simples, mas de bom gosto.
Havia uma cômoda com vária gavetas, um guarda roupa e um espelho de corpo inteiro. Ao lado, havia uma porta meio aberta para um banheiro.
Como Alicia fez um pequeno círculo, no quarto, a mão de sua guia tocou seu ombro.
-- É bom começarmos logo -- disse ela.
Alicia começou a procurar nas gavetas da cômoda, enquanto Sandra, se encarregava de procurar no guarda roupa.
-- Caramba, quanto bagulho! O que significa isso? -- de um instante para outro, a voz de Alicia ganhou um tom surpreso, que de imediato chamou a atenção de Sandra.
-- O que foi? -- a moça perguntou num fio de voz, curiosa, enquanto fechava a porta do guarda roupa.
Sentindo emoções contraditórias de tristeza e excitação, Alicia mostrou-lhe o Smartphone preto.
-- Esse celular pertence a minha falecida esposa. Por que cargas d'água está em poder do Jean?
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Fim do capítulo
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naah
Em: 01/11/2019
Acompanhando e amando cada capítulo. Quando sai mais??
Parabéns pela otima ideia em explorar um.conteudo inesplorado até os dias de hoje.
#ameeeiii
Resposta do autor:
Olá, minha querida naah!
Obrigada por acompanhar o romance.
Estou postando hoje. Boa leitura.
Tenha uma semana cheia de luz e paz.
Beijos.
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Mille
Em: 31/10/2019
Ola Vandinha
A pequena Mirela deve estar passando por momentos difíceis e espero que a Alicia consiga livrar a enteada das garras deste pai abusivo.
Fico com o coração na mão que de certo ela levar o celular mais acho meio ariscado levar pode sujar para a moça que ajuda lá.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Bom dia, Mille!
De fato a situação é bem complicada. Deixar a Mirela com o Jean ou tira-la imediatamente da casa?
Qual será a atitude da Alicia?
Até daqui a pouco amiguinha! Beijos.
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Brescia
Em: 31/10/2019
Boa tarde mocinha.
A Alícia está mesmo disposta a tirar a Milena dessa prisão, mas está se arriscando muito. Ainda bem que encontrou uma aliada e ainda de quebra encontrou o celular da sua falecida esposa.
Baci piccola.
Resposta do autor:
Bom dia Brescia!
Que a sua semana seja Leve, Abençoada, Produtiva e muito Feliz...
Lembre-se: Perdão e tolerância são alavancas de sustentação da nossa paz íntima. (Emmanuel)
Beijos!
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NovaAqui
Em: 31/10/2019
Agora o bicho vai pegar
Acho que Alicia vai ter que sair dali correndo
Será que Thais fugia de Jean?
Agora é começar o tratamento de papito para tentar a cura
E como fica Cléo e seus "amigos" do lugar que ele mora?
Abraços fraternos procês aí?
Resposta do autor:
Bom dia, novaAqui!
Que a semana seja Leve, Abençoada, Produtiva e muito Feliz...
"O propósito de Deus é incomparavelmente maior que o seu problema! Confia e espera."
Beijos. Até mais.
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