Capitulo 42
Diálogo com os Espíritos -- Capítulo 42
Apreensiva, Alicia olhou para trás, enquanto sentia um calafrio percorrer seu corpo. "Estou morta", pensou, sacudindo a cabeça.
-- O que faz aqui? -- Alicia perguntou, olhando assustada para ele.
Jean riu com a pergunta.
-- Estou em minha casa. Você é que não deveria estar aqui -- ele riu mais uma vez -- E então? A que devo o desprazer da visita?
-- Ah, é verdade -- Alicia disfarçou o constrangimento -- Eu vim ver a Milena. É coisa rápida, só para dar um beijinho nela. Pode ser? -- indagou ela, com um olhar estúpido.
Alicia olhou para a casa. Depois, virou-se para ver por que ele não havia respondido, ela ficou chocada com o ódio estampado em seu rosto.
-- Então? Posso vê-la? -- mesmo receosa, insistiu na pergunta.
-- Nunca! -- ele disse, evidentemente se divertindo, enquanto ela ficava ali, fazendo papel de boba.
Alicia teve ímpeto de correr e fugir, porém, se lembrou de Thais. Tinha uma dívida com ela e pagaria a qualquer custo.
-- Você não pode me proibir de ver a Milena, ela é a filha da Thais. Eu a amo como se fosse a minha filha.
Jean riu de forma medonha, Alicia se irritou.
-- Não vou perder meu tempo com você, doutora. Vá embora -- ele estava ficando impaciente -- Vá embora antes que eu perca o resto da minha paciência e a jogue dentro do poço.
A figura de Jean era ameaçadora para Alicia. Nos olhos dele, ela podia ver o perigo. Aquele homem era seu inimigo mortal.
-- Não vou arredar o pé daqui sem ver a menina -- ela cruzou os braços na altura do peito, irredutível.
-- Isso é o que você pensa. Vamos!
Ela tentou fincar os pés no chão, para não ter de acompanhá-lo, mas ele a arrastou.
-- Não tente me fazer de bobo -- ele gritou, levando-a até a frente da casa -- Agora entre em seu carro e desapareça.
Alicia obedeceu, caminhou até o carro e se encostou nele. Só de pensar em enfrentá-lo, suas pernas já tremiam. Se Jean soubesse quanto medo havia oculta sob a fachada fria e indiferente atrás da qual se escondia. Aí sim, não haveria chance nenhuma de ver Milena.
Com as mãos ainda trêmulas, apanhou as chaves no bolso e abriu o carro.
Acostumada a ter tudo sob controle, era difícil para Alicia, nesse momento, precisar se curvar diante daquele imbecil. Desde o início soubera que ia ser quase impossível dialogar com ele, mas tinha que tentar.
-- E nunca mais apareça aqui. Você não é bem-vinda!
Ela levantou bem a cabeça e assumiu a melhor pose de desdém que conseguiu.
-- Você ainda não se livrou de mim, Jean -- ela suspirou, renitente e fechou a porta.
O tom arrogante usado por Alicia pareceu irritá-lo. O rosto dele se contraiu de raiva.
Cléo abriu a porta bem devagar, olhou para dentro da sala e viu um homem muito sexy sentado atrás de uma mesa abarrotada de papeis. Estava vestido com terno e gravata e usava óculos ovalado que combinava perfeitamente com o formato de seu rosto.
-- Oieeee...
O homem quase caiu da cadeira com o susto que levou.
-- Posso entrar?
O delegado revirou os olhos antes de se levantar.
-- Já entrou -- ele apontou para a cadeira a frente da mesa -- Sente-se -- os dois se sentaram -- Sou o delegado Pedrão.
-- Tesão?
O delegado fitou-o com incredulidade por um instante e seus olhos pareceram dizer: Não acredito que ouvi isso.
-- Pedrão -- repetiu - O policial Jonas me falou que o senhor está aqui representando Alicia Becker esposa de Thais Murtha.
-- Pode me chamar de Cléo -- ele, então, cruzou as pernas e tudo o que conseguiu pensar foi nos lábios carnudos do delegado -- A docteur me incumbiu dessa missão porque confia cegamente em mim.
-- Ela quer saber se encontramos o celular, não é mesmo?
-- A docteur acredita que as últimas ligações podem esclarecer muitas coisas.
-- Esclarecer o que? Ela sabe de algo que nós não sabemos? Porque estou tratando do caso como um acidente de trânsito com duas vítimas fatais -- o delegado Pedrão observava Cléo, à espera de uma resposta.
Cléo respirou profundamente. E agora? Esclarecer o que mesmo?
-- Então, seu delegado... Numa cidadezinha do interior. Duas bichas estão brigando na rua, fazendo o maior escândalo. A polícia leva as duas pra delegacia. E o delegado interroga:
-- Então vocês dois são veados?
-- Nóis semo, seu delegado!
E o delegado falando grosso:
-- Nós somos!
E a bichinha:
-- Desculpa, seu delegado... É que nóis não sabia que o senhor era também.
O delegado permaneceu sério.
--Tá tirando uma com a minha cara? -- ele perguntou ainda sério -- Não é o momento para piadinhas sem graça.
Cléo descruzou as pernas e se inclinou um pouco para frente.
-- Você é sempre assim, com essa cara de cú sem pestanas? Quem inventou a seriedade, só podia estar de brincadeira -- ele se ajeitou na cadeira -- Viva, sorria e ame. Se isso não funcionar... Levante, mire e atire.
-- Estou pensando seriamente nisso -- resmungou o delegado, olhando mais atentamente para ele -- Bem, voltando ao assunto, foi um acidente horrível. Porém, não me parece ter havido outro motivo que não fosse a irresponsabilidade do Vinicius. Ele estava na contramão no momento do choque.
Ao ver que o delegado estava olhando para ele, Cléo disfarçou e sorriu.
-- A docteur não sabe de nada, não desconfia de nada. Ela apenas, quer o celular de volta.
Pedrão não se convenceu. Porém, não insistiu.
-- Passamos dias procurando pelo aparelho. Fizemos uma varredura por uma grande área ao redor do acidente e não encontramos. Acredito que o celular foi levado por um dos curiosos que estavam por ali.
-- Eu acho que... -- seu olhar cruzou com o do delegado. Estremeceu levemente, interrompendo o que ia dizer. Algo no olhar do delegado mexeu fortemente com ele.
Pedrão também sentiu uma sensação estranha, indefinível, mas cortou, dizendo:
-- Diga para a doutora Alicia que não desisti do celular. Continuaremos procurando.
-- Direi -- Cléo apressou-se em dizer -- Eu tenho que ir -- disse, se levantando, dando uma olhada para o delegado pelo canto dos olhos.
O delegado Pedrão se levantou, pegou um cartão e o entregou a Cléo.
-- Caso a doutora consiga se lembrar de alguma coisa importante, eu ficarei grato se ela me procurar.
-- Direi a ela. Pode deixar.
Cléo se despediu com um breve aceno e seguiu rapidamente em direção a saída. Ao chegar na porta voltou-se e ao ver que Pedrão estava olhando para ele, disfarçou e seguiu adiante.
Pedrão estava fortemente impressionado, mas não queria demonstrar o que sentia.
-- Cléo! -- chamou, mas ele não ouviu -- Droga! -- Pedrão saiu correndo atrás do rapaz, mas era tarde, o carro já partira.
Osvaldo balançou a cabeça desolado, como se fosse o máximo que ele se permitia aceitar. Fernanda fechou os olhos. A reação do pai momentos antes era a prova de que ele não sabia de nada.
-- Alicia é médica, papai -- continuou num tom suave -- Ela olhou o resultado da biopsia e disse que o câncer de intestino tem cura quando é diagnosticado no início da doença e o tratamento iniciado prontamente.
Osvaldo deu um risinho irônico.
-- Câncer é câncer, Fernanda. Não tem cura -- ele afirmou, desanimado e triste.
-- A cura do câncer já existe, já está ao alcance da população e não é nenhum milagre. Se você analisar 30 anos atrás, a quantidade de pessoas que morriam por conta do câncer era muito maior. Na verdade, quase ninguém ficava vivo. Hoje isso mudou muito, os tratamentos estão super avançados. Você vai se tratar e vai vencer a doença.
-- E se não for essa a vontade de Deus?
-- A doença não é de Deus, pai. Deus não quis o câncer, mas o permitiu com o propósito de curar o seu coração. Porque não convida o Senhor para lutar contigo?
Com o carro escondido entre as árvores, Alicia esperou por horas até que viu Jean entrar em sua Picape e sair em alta velocidade. Cuidadosamente, ela desceu do carro. O pôr-do-sol lançava sombras sobre a casa. Nervosa e perguntando-se porque era tão teimosa, trancou o carro.
-- Esse cara de bolacha traquinas nunca mais vai se meter comigo -- ela arrumou o blazer e escondeu a arma de choque que carregava na cintura -- Agora, vou terminar o que comecei.
Ela deu a volta na casa e parou diante da janela que havia quebrado o vidro logo cedo. Abriu a janela e se jogou para o lado de dentro.
-- Mole, mole -- sorriu satisfeita enquanto tirava o pó da roupa.
Saiu da sala em que estava e entrou em um corredor que parecia interminável. Paredes brancas, carpete bege e uma porta atrás da outra, todas idênticas.
-- E agora? -- parou pensativa -- Vou passar a noite inteira abrindo e fechando portas.
Alicia escutou um barulho atrás de si. Antes que pudesse se virar para ver o que acontecia, alguém gritou:
-- Cuidado!
Alicia girou, puxou a arma de choque e empunhou-a com firmeza.
https://www.facebook.com/vandinhacontos
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Brescia
Em: 24/10/2019
Boa tarde mocinha.
Vou parar de ler, vc só me dá susutos,rs. Cada um tentando resolver as suas missões, mas parece que a Cléo se deu melhor, o Pedrão ficou interessado e quem sabe não nasça uma amizade pra lá de colorida. Espero que o pai da Fernanda aceite a ajuda da Alícia e deixe de lado o preconceito.
Baci piccola.
Resposta do autor:
Bom dia, Brescia.
Missão dada, missão cumprida.
Só resta Alicia retornar de Niteroi com as respostas para as suas indagações.
Quem sabe o delegado não seja o gostosão tão sonhado pelo Cléo.
Beijos. Até mais.
[Faça o login para poder comentar]
Mille
Em: 24/10/2019
Ola Vandinha
Alicia não desistiu e entrou na casa, e parece que tem alguém mais acho que não seja o Jean.
Pedrão e Cléo olha que rolou um clima.
Sr Oswaldo tem que decidir se luta contra a doença ou fics esperando a morte.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Bom dia, Mille.
Alicia não voltará de Niteroi enquanto não tiver certeza de que Milena está bem. Mesmo correndo o risco de ser pega dentro da casa, ela não desistirá.
Beijos. Até mais.
[Faça o login para poder comentar]
NovaAqui
Em: 24/10/2019
Jean deve estar metido em problemas e acho que se Alicia fuçar vai descobrir coisas sobre o pai de Milena
Agora é aguardar ansiosamente para descobrir que falou cuidado e o motivo de ter falado
Cléo e Pedrão rolou uma atração
Vamos ver o que papito vai decidir
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Bom dia!
Alicia está começando a acreditar que Thais tinha razão em temer tanto pela segurança da filha. Jean esconde segredos e a médica não medirá esforços em descobrir.
Beijos. Até mais.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]