Juliana - A garota Impulsiva
- Oi Cristina! - Ela sorriu de lado, olhou para baixo e colocou o cabelo atrás da orelha. O que ela queria comigo?
- Oi Juliana! – Eu cumprimentei, mas não sabia o que falar. Ficamos alguns segundos nos olhando. Ela estava sem jeito. Depois de quase 1 minuto em silêncio, ela se sentou.
- Na verdade é uma aluna da nossa sala. – Comentou depois de novamente colocar a mecha de cabelo atrás da orelha. – Ela é nossa colega de turma. – Ela bebeu um gole da sua garrafa de água. Ela parecia nervosa. – Eu bati nela por que ela é uma vadia racista. Eu cheguei e a vi humilhando o porteiro na frente de todo mundo. Era cada coisa racista e preconceituosa que saia da boca dela. Eu odeio esse tipo de coisa: Preconceito e racismo. Então, quando vi, já tinha dado um “soquinho” na cara dela. - Ri com a última frase.
- Se com um “soquinho” você foi capaz de quebrar o nariz dela, eu nem quero ver o que o seu soco de verdade é capaz de fazer! – Ela sorriu com meu comentário – Só não entendo por que você está me contando tudo isso.
- Porque agi errado com você – Ela sorriu de lado. Dava para perceber que ela estava sem graça – Eu fui bem grossa e a única maneira que encontrei de te pedir desculpas, foi respondendo à pergunta que você tinha me feito. – Suspirou longamente. Ela estava realmente bem frustrada com atitude que ela tinha tido àquela hora. – Eu sou assim, meio louca sabe? Quando estou nervosa acabo descontando nas pessoas à minha volta. Dessa vez, quem estava perto de mim, foi você! – Riu sem graça.
- Está tudo bem Juliana. Eu te entendo. E na próxima vez que você for bater em alguém, me chama para ver? Quero ver seu “soquinho” em ação. – Eu amo ironizar! Ela sorriu depois do meu comentário. “Que sorriso lindo”. Pensei.
- Eu não bato nas pessoas com frequência. Eu sou da paz! – Ela começou a rir e levantou as mãos em uma tentativa de mostrar que é inofensiva. – Então, você aceita minhas desculpas?
- Sim! Aceito. Na verdade, depois de ouvir que você foi capaz de defender alguém assim, eu acho que nem preciso perdoar nada. – Dito isso ela deu um sorriso tão lindo, que eu quase esqueci como respira. – Gosto de pessoas justas e que estão dispostas a defender os outros. O mundo precisa de pessoas assim!
- Ufa! Tirei um peso da minha consciência. – Soltou o ar dos pulmões em sinal de alívio. – Odeio causar más impressões.
“Na verdade, você me causou uma impressão muito boa”. Pensei e acabei rindo com meu pensamento malicioso. Ela ficou sem entender o motivo do meu riso.
- Por que você está rindo?
- Ah... não é nada. – Dito eu sorri de uma forma um pouco safada. – Só estava pensando que você não me causou nenhuma má impressão. – Tornei a sorrir, mas depois percebi que eu tinha verbalizando meus pensamentos.
Por conta do meu comentário ela ficou muito sem jeito e acabou derramando a garrafa de água no meu livro. Será que ela entendeu o duplo sentido do que eu tinha falado e ficou nervosa? No fim, meu livro e meu uniforme acabaram molhados.
- Meu Deus! Desculpe. – Ela tentou enxugar meu livro, sem sucesso! – É sério não foi minha intenção. – Ela estava vermelha de vergonha.
- Tudo bem! - Se fosse outra pessoa, eu teria ficado puta de raiva. Meus livros são sagrados, mas eu não consegui ficar com raiva daquela ruiva tão fofa e linda.
- Seu uniforme também ficou molhado. – Apontou para minha blusa. Ela pareceu pensar por um segundo – Vem vamos para o banheiro. Você não pode ficar desse jeito toda molhada. Vou resolver esse problema – Cara, esse comentário violou toda minha sanidade. Comecei a rir em pensamento. Tadinha, ela não sabia como aquela frase havia me acendido. “Cara, eu tenho que parar de ser mente fértil”. Pensei.
Juliana pegou meu pulso e saiu me puxando até chegar ao banheiro feminino, que naquela hora estava vazio.
- Tira o uniforme, vou te emprestar o meu uniforme reserva que está na minha mochila. – Dizia enquanto abria a mochila dela.
- Não precisa. Não molhou tanto assim. Rapidinho seca. – Tentei amenizar a situação, ela estava se sentindo muito culpada por toda aquela situação.
- Precisa sim. Minha madrinha sempre me disse que não devemos ficar com roupas molhadas, que isso acaba desencadeado um resfriado. – Achei bonitinho ela ser tão exagerada.
- Uma blusa um pouco molhada não vai me deixar resfriada. – Falei rindo. – Sou bem forte. Custo adoecer.
- Tira logo ou eu tiro. – Puta que pariu, será que ela tinha noção do que estava dizendo? Ela não tinha a noção das frases tão atentadoras que ela estava disparando uma atrás da outra. Ela não podia ser tão inocente assim.
Eu tirei a blusa sem mais cerimônias. Eu estava com um topper preto. E notei que ela ficou olhando meu abdômen. Na verdade, ela ficou descaradamente olhando para meu abdômen, pois ela ficou de boca aberta.
- Juliana?!
Chamei pelo seu nome, pois ela tinha paralisado. Depois que ela percebeu a gafe, ela ficou vermelha que nem tomate. “Será que ela gosta de mulheres também”. Pensei e sorri, pois, eu adorei aquela possibilidade. Ela me deu o uniforme e em seguida o vesti, enquanto ela virou e entrou em uma das cabines. Depois de vários minutos, ela saiu da cabine e lavou as mãos sem me olhar:
- Depois eu compro um livro novo para você. – Disse olhando para o espelho. – Realmente não foi minha intenção estraga-lo daquele jeito. – O sinal tocou – Até mais. – Ela praticamente saiu correndo do banheiro. Ela realmente estava sem graça depois do jeito que me olhou.
Eu ainda fiquei encostada na pia pensando em tudo que tinha acontecido. Tudo que eu conseguia fazer era rir da cara que ela tinha feito quando percebeu a forma que ela estava olhando para meu abdômen. “Tão linda”. Perdi a conta de quantas vezes eu tinha dito aquela frase em pensamento. Juliana era realmente linda. Isso devia ser um crime.
Eu voltei para sala. A semana passou sem muitas surpresas. Juliana sempre que me olhava, desviava o olhar. Ela fazia o possível para me ignorar. Com os dias eu descobri que Juliana era a garota mais popular do 2º ano. Arriscava-me dizer que ela era, juntamente das suas amigas, a mais popular do colégio.
Era sexta feira. A aula já estava para começar. Aos poucos os alunos adentravam a sala. Eu já estava acomodada, até que surgem duas pessoas na minha frente. Uma menina baixinha, cujos cabelos eram cacheados e cor parecia ser um castanho acobreado. Eles batiam no ombro. Ela tinha covinhas. Era uma garota muito linda. Ela puxou uma cadeira e sentou na minha frente.
- Você é lésbica, não é?
Ela perguntou sem vergonha alguma. Ao seu lado estava um moreno alto de olhos castanhos claros. Ele era magro, porém forte. Ele havia balançado a cabeça negativamente pela pergunta que a amiga me fez.
- Bom, até onde eu sei, as pessoas não chegam dessa maneira fazendo esse tipo de pergunta. – Eu ri de nervoso pela maneira que ela chegou e me perguntou.
- Pessoas normais não fazem isso, mas a Jenny não é normal. – O Moreno disse ao puxar uma cadeira do nosso lado para sentar. Eu olhei para ele e o meu Gaydar apitou.
- E não sou mesmo. Que graça tem ser normal? – Deu de ombros
- Eu percebi – Ri – Respondendo sua pergunta, sou sim! – Eu não saio por aí dizendo que sou lésbica, mas também não tenho por que esconder de ninguém.
- AHHH – Eles gritaram chamando a atenção da turma inteira.
- Meu Deus – Tampei o rosto com a mão e balancei a cabeça negativamente – Os dois são loucos.
- Eba! Podemos ser um trio purpurinado. – Disse o moreno todo feliz pela informação. – Aliás meu nome é Hugo Dias.
- Aí viado, trio purpurinado não! Isso é muito gay! – A garota disse batendo no ombro do amigo – Meu nome é Jenny. Não nos apresentamos antes, porque você tem cara de líder de gangue. – Rimos os três.
- Você quer dizer que eu tenho cara de mau? – Perguntei sem acreditar.
- Sim! – Os dois responderam juntos. – Sua família é mafiosa né? – Hugo perguntou
- Até onde eu sei, não! – Respondi.
- O que seus pais fazem? – Jenny perguntou e na mesma hora, meus olhos encheram de tristeza ao lembrar de meus pais.
- Meu pai já faleceu. Ele era promotor de justiça. Minha mãe é Delegada federal. – Respondi triste ao falar do meu pai.
- Desculpe, não queríamos te trazer lembranças tão tristes. – Hugo disse com pesar.
- Tudo bem! Não me incomoda falar sobre.
- Então você mora só com sua mãe né. – Jenny perguntou.
- Não! Moro sozinha. Depois de minha mãe descobrir que sou lésbica, ela me emancipou. Passou um de seus apartamentos para meu nome e mandou eu me virar sozinha.
Eu nunca tive uma relação afetuosa com minha mãe depois que meu pai faleceu. Não conversávamos. Eu não contei para ela que eu era lésbica. Ela descobriu quando me viu beijando uma garota na frente de casa. A reação dela? Ela não disse nada. Apenas entrou para dentro de casa como se nada tivesse acontecido. No fundo sei, que minha mãe, me odeia. Se eu não existisse, meu pai estaria vivo. 3 dias depois ela me informou que iria me emancipar e que era para eu morar sozinha. Ela pagou o colégio até o final, depositou uma considerável quantia em dinheiro em minha conta e me disse para eu me virar sozinha dali em diante. Ela queria que eu vivesse em outra cidade. Então vim parar em Vinhedo.
- QUE LEGAL, VOCÊ É EMANCIPADA! – Mais uma vez os dois gritaram juntos chamando atenção da sala.
- Cara, vocês não sabem ser discretos. – Ri da cara deles.
Eles são duas pessoas engraçadas. Eu tenho um sexto sentido para saber quando as pessoas são boas pessoas. Acho que desenvolvi isso com todo trauma que passei aos 7 anos de idade. Se eu soubesse que aqueles 2 homens eram maus, meu pai não teria morrido, mas não quero lembrar disso agora. Já havia passado 10 anos.
Jenny é bissexual e bem louquinha, mas gente boa. Hugo também era bem doidinho. Nem preciso dizer que ele é gay, né? Senti que eles se tornariam meus amigos inseparáveis. Eu não estava errada.
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3 semanas já tinham se passado desde que entrei naquele colégio. Hugo, Jenny e eu não nos separávamos mais. Tínhamos mesmo nos tornado um trio purpurinado como descrevia o Hugo. Estávamos na cantina do colégio. Já era hora do intervalo. Conversávamos sobre assuntos triviais quando Juliana e suas duas amigas inseparáveis passaram por nós. E eu acompanhei Juliana com o olhar.
- Vixi Hugo, traz um babador, que tem neguinha babando pela Juliana Alcântra. – Jenny disse quando me viu “secar” a ruiva que por nós tinha acabado de passar.
- Amiga, acho que só um babador para ela não vai ser suficiente – Eles riram
- Quer isso galera, eu não estou babando. Só estou admirando uma beleza rara. – Entrei na brincadeira deles.
- Só não vai se apaixonar em. – Brincou Hugo – Ela é 100% hétero
- Querido, não existe ninguém 100% hétero. – Disse Jenny – Toda mulher no fundo tem curiosidade de saber como é ficar com outra mulher.
- Falou a pegadora de hétero – Comentou Hugo – esqueci que você é fodona. Hugo pareceu se lembrar de algo e os dois riram.
- A Jenny é fodona? – Perguntei curiosa
- Jura que não conta para ninguém? – Ela perguntou e eu assenti. – Você está vendo as amigas da Juliana?
Eu olhei para a direção das garotas. Juliana tinha duas amigas inseparáveis. Uma era Flávia uma morena de cabelos ondulados na altura da cintura. Ela tinha olhos verdes. Ela parecia muito uma cigana.
A outra era Renata, uma loira de olhos azuis, cujo sorriso fazia qualquer marmanjo bater o carro. As três eram as figuras mais populares do colégio, sempre rodeadas de meninos querendo ficar com elas e garotas loucas para participar do grupinho delas.
- Sim estou vendo!
- Eu já fiquei com a loira no primeiro ano. – Abri a boca de surpresa.
- Como? Você ficou com a Renata? – Ela assentiu – ela é lésbica?
- Não! Ela diz que é 100 % hétero. – Jenny estava triste.
- A Jenny era apaixonada pela Renata. – Hugo acabou contando – Bom, eu ainda acho que ainda é.
- Claro que não sou mais apaixonada. Ela é uma vadia, disse que não gosta de mulher, mas adorou as vezes que nos beijamos. – Jenny negou com raiva.
- As amigas delas não sabem disso, eu acho. – Hugo lembrou do fato – Hoje essas duas não podem ficar no mesmo ambiente, que elas começam a trocar ofensas.
- Hum, parece aquelas cenas de série em que a menina descobre que gosta de mulher e passa pela fase da negação. – Comentei – Talvez ela goste de você Jenny, por isso te ofende. Ódio e amor são lados de uma mesma moeda
- Bom, se gosta, ela vai ser ferrar. Eu não gosto mais dela – Jenny comentou depois de tomar um gole de suco.
Olhei para Hugo. Olhamos com aquele olhar de quem diz: “Será? ”.
Fiquei mais alguns minutos olhando para Juliana. Algumas vezes ela parecia notar meus olhares. Ela olhava para mim, mas logo desviava. Conversei mais algumas banalidades com meus amigos. O sinal tocou, mas não iriamos para sala. Iriamos para a quadra, pois era educação física. Entretanto, tivemos que passar na sala, pois Hugo havia esquecido algo. Ao chegar, escutamos uma conversa:
- Amiga, a aluna nova não para de te olhar. – Comentou Flávia – Desde que ela chegou, ela parece te comer com os olhos. – Riu
- Que isso Flávia, não viaja! – Juliana pareceu incomodada com o comentário de Flávia.
- Essas Maria sapatão comem qualquer mulher com os olhos. – Foi a vez de Renata comentar. Jenny se revoltou ao ouvir o comentário preconceituoso. Ela ia entrar mais eu a segurei. – O que você sente Juliana, recebendo esses olhares?
- Nada! Não gosto de mulher. – Respondeu prontamente.
- Cuidado amiga, no jeito que ela te olha, uma hora ela vai acabar te agarrando – Renata comentou novamente.
- Se isso acontecer você nos conta em. – Flavia pediu rindo. – Quero só ver sua reação. O problema vai ser, se você gostar. – As amigas de Juliana riram alto da cara da amiga.
- Que nojo – Soltou Flávia.
- Isso não vai acontecer, eu nunca ficaria com uma mulher – Por fim, Juliana finalizou quase gritando.
Sem aguentar mais as besteiras que elas estavam dizendo, meus amigos e eu entramos na sala. Elas tomaram um baita susto ao nos ver entrar, principalmente Juliana e Renata. Eu não iria me afetar pelos comentários das amigas delas. Eu iria colocá-las em seu lugar.
Fim do capítulo
Será que essa história será marcada de dois casais?
Renata e Jenny
Juliana e Cristina
Terça eu volto com mais um capítulo.
E vocês estão gostando? Deem seus feedbacks. É um incentivo para mim
para continuar subindo os capítulos.
Uma ótima noite para vocês
By: Cristt Lima
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