Cristina - A garota atípica
Era uma vez uma história de amor entre duas garotas. Que isso? Estou começando minha história de amor, como se fosse um conto de fadas? Não! Aqui não existe fadas. Esse jeito de começar minha história é muito clichê. Pensando bem, essa história não deixa de ter muitos clichês. Que romance não tem, não é? Eu acho que a maioria dos romances tem uma boa dose de clichês. Para falar verdade tem momentos que eu acredito, que eu sou a personificação do clichê.
Vamos começar de novo. Eu me chamo Cristina Ferreira. Tenho neste momento que vos falo, exatamente, 21 anos de idade. Sou lésbica assumida desde meus 16 anos. Não sou um ícone de beleza entre as lésbicas, mas me considero uma mulher bonita. Estou apenas um pouco... largada.
Estou aqui jogada no sofá do meu apartamento. Já são 10 da manhã e eu ainda não fiz nada que preste. Tenho uma tonelada de trabalho para fazer, que mesclam atividades domésticas, pois meu apartamento está mais bagunçado que uma casa que mora vários homens e o meu trabalho como redatora autônoma. É assim que eu ganho a vida, escrevendo para blogs e sites. É o jeito que eu encontrei para não ter que sair de casa. Faço outros trabalhos extras também, que exigem apenas a internet.
A grande verdade é que estou fugindo do mundo faz 2 anos. Por causa de um motivo besta: Meu primeiro amor. Um amor não resolvido, mas até quando eu ficarei nessa inércia? Preciso me recuperar e voltar a viver antes que os anos passem, e eu me encontre com 50 anos de idade cuidado de 20 gatos. Nesse momento já estou cuidando de 2. Preciso conhecer alguém de novo. Amores passados não voltam mais. Já passou da hora de eu superar.
Resolvi levantar e fazer uma faxina naquele espaço que, definitivamente, não pode ser considerado um apartamento decente. Na verdade, ele está mais para “apertamento mausoléu”. Ele estava tão imundo, que eu fiquei até as 5 da tarde nesta tarefa. Depois de deixa-lo brilhando como se fosse um apartamento novo, liguei para um velho amigo: Hugo Dias.
- Alô Hugo?! – Ele tinha atendido, mas não me respondeu.
- Fala viado, eu sei que está aí. – Eu já sabia o motivo pelo qual ele estava em silêncio. – Quero sair!
- CRISTINA SUA FILHA DA MÃE – Ele gritou tão alto, que eu tive que afastar o celular da orelha. – VOCÊ TÁ VIVA?!
- Claro que sou filha da mãe, eu não poderia ser da tia. E estou viva sim, até onde eu sei, os mortos ainda não falam por celular. – Eu tenho um problema, amo ironizar.
- Cris, nem venha brincar comigo. Faz quase 1 ano que você não me liga. Você sabe como eu estava preocupado? Sempre tentei te ligar, mandava mensagens para sairmos, mas você simplesmente me ignorou. Até a Jenny você ignorou. Eu sei muito bem pelo que você passou, mas você não deveria ter feito isso. – Ele estava certo e eu sabia disso.
- Eu sei, me desliguei de tudo por que estava mal. Sinto muito por ter ignorado você e a Jenny. Sinto muito mesmo. Eu sinto falta de vocês – Suspirei depois de falar com sinceridade. Eu sentia falta dos meus amigos.
- Tudo bem meu amor. Eu estou aqui te dando uma bronca, mas sei como foi difícil para você. Vamos sair! – Ele era um ótimo amigo. Não deveria ter me afastado – Vou ligar para a Jenny.
Conversamos mais alguns minutos, mas logo desliguei. Ele iria ligar para a Jenny, pois ele me disse, que Jenny estava magoada comigo. Depois de uns 40 minutos ele me mandou uma mensagem no WhatsApp, confirmando que iriamos sair aquela noite.
Era sábado. Marcamos de nós encontrar às 09 da noite em bar chamando: Vila do Tatu. Podem rir, esse nome é bem estanho. Suspirei pela expectativa de rever meus amigos e sair para me divertir depois de tanto tempo. Fui para meu quarto e constatei: que aparência era aquela? Eu estava com algumas orelhas e magra. Meu cabelo estava em completo desalinho. Eu tinha o cabelo curto e ele havia crescido e perdido o corte. Eu estava um bagaço. Foi inevitável não olhar para o espelho e me lembrar dela, mais uma vez. Meu primeiro amor!
Alguns anos atrás
Eu corria com minha bicicleta entre as ruas da cidade de Vinhedo. Eu estava atrasada para meu primeiro dia de aula. Já não bastasse entrar no meio do ano letivo, eu ainda tinha que chegar atrasada. No entanto a culpa era minha, na noite anterior eu havia extrapolado no treino de Muay Thai. Meu corpo estava extenuado e acordar às 6 da manhã foi uma tarefa bem difícil.
De longe escutei o sinal do renomado Colégio D’Vinci. Era um colégio particular para filhinhos de papai ricos. Minha família tinha dinheiro, mas eu não me considerava mimada. Até porque, eu já tinha passado por muita coisa. Isso me fez amadurecer um pouco mais cedo do que o normal.
Logo cheguei à escola. Alguns alunos olhavam para mim com uma certa curiosidade. Outros olhavam com certo, nojo. Isso era devido ao meu estilo. Eu vestia roupas mais masculinas. Meu corte de cabelo curto e loiro deixava aparente a minha sexualidade. Acontece que eu não me importava com aquilo. As amigas da minha mãe diziam que eu era: Uma menina atípica. Eu tinha ficado maluca devido a tudo que passei no passado.
Me encaminhei para a coordenação para descobrir em que sala eu estaria. E antes de bater na porta para anunciar minha presença, ouvi alguns gritos:
- EU NÃO ACEITO NENHUMA PUNIÇÃO! – Era a voz de uma garota.
- Não grite senhorita Juliana, aqui é uma escola. Você receberá uma punição por ter quebrado o nariz da sua colega. Você deveria ser expulsa, mas você tem sorte de seu avô ser dono majoritário do colégio – Retrucava uma voz feminina, porém mais grave.
Depois de bater, a voz grave pediu para eu entrar. E assim que eu entrei, vi uma garota de costas para mim, cujos cabelos eram ruivos. Estes chegavam até a cintura. Era ruivo natural?! Perguntei em pensamento, pois jamais havia visto alguém com cabelos ruivos naturais.
- Licença, eu sou a aluna nova. – Tentei ser a mais educada possível. E a garota ainda estava de costas. Dava para perceber que ela estava puro ódio.
- Bem-vinda! Você deve ser a Cristina Ferreira. Não é normal aceitarmos novos alunos no meio do ano letivo, mas como foi um pedido da sua mãe, o diretor a aceitou. Meu nome é Marta. Sou a coordenadora do segundo ano. – Marta aparentava ser uma mulher de uns 40 anos. Gordinha e baixa. Em seu rosto havia sinais de estresse. A garota ruiva ainda não havia olhado para mim. Ela estava com a cabeça baixa. Seus cabelos estavam atrapalhando eu ver seu rosto.
- Senhorita Juliana, na próxima vez que você quiser defender alguém, não use a violência. Você não vai resolver nada assim. Sua punição não será revogada. Você terá que trabalhar na organização da biblioteca por um mês. – Marta tinha voltado sua atenção a garota ruiva. – Agora vá para sua sala, as aulas já começaram. Aproveite e me faz um favor. Leve a Cristina consigo. Ela é da sua turma. Aqui Cristina, mostre isso para seu professor. – Dito isto ela me entregou um papel.
Somente naquele momento a garota ruiva, na qual descobri se chamar Juliana, levantou o rosto para me olhar. Ela é tão linda, que parecia ser uma Deusa. Seu olhar, uma mistura de castanho e verde escuro, fazia meu coração acelerar. Se eu fosse branquinha como ela, tenho certeza, que eu ficaria vermelha. Já que a forma que ela me olhava, estava me deixando completamente com vergonha. Desviei o olhar e simulei uma tosse para desfaçar o embaraço.
Ela saiu primeiro sem discutir mais com a Sra. Marta. Eu fui atrás. Eu não era uma pessoa tímida. Longe disso, mas ela me deixava tímida. Eu tinha esquecido o alfabeto. O problema é que eu queria escutar a voz dela de novo. E sem nem mesmo pensar, puxei todo o ar que estava em meu peito e acabei perguntando:
- Por que quebrou o nariz da sua colega? – A mirei curiosa pela resposta. Ela parou e me olhou. Senti um choque na minha espinha pela forma que ela me olhou. Ela estava com raiva.
- Você já chegou e quer dar uma de intrometida? Vá cuidar da sua vida – Ela falou com o tom de quem estava irritada.
- Espera, não precisa ser grossa! – Falei sem acreditar. Ela era linda e grosseira.
- Odeio gente intrometida quem nem você. – Antes de eu pensar em qualquer resposta, ela seguiu na frente. Dei um sorrisinho de lado. Achei graça do seu jeito irritadinha. Então ela era uma fera?
A segui antes que eu a perdesse de vista. Logo chegamos onde seria a minha sala. Adentrei e cumprimentei o professor. Um homem alto e careca, que aparentava ter uns 30 anos somente:
- Bom dia Cristina, seja bem-vinda. Sou o Flávio Augusto. Sou o professor de química. – Que lindo, a pior matéria do mundo seria a primeira matéria que eu teria que aguentar hoje. – Pode escolher qualquer lugar vazio para se sentar.
Escolhi uma mesa mais ao fundo. Perto da janela. Era no lado direito da sala. Olhei a minha volta e alguns alunos me olhavam com curiosidade e cochichavam entre si. Algo bom não era, certamente! Meu olhar acabou encontrando os de Juliana. Não consegui decifrá-los, mas evidentemente, ela não tinha gostado de mim. Talvez ela era mais uma dessas garotas mimadas e homofobicas. Que pena! Adoraria tê-la em meus braços.
Tentei afastar esses pensamentos maliciosos. Eu não era tão safada assim. Bom, talvez, só um pouco. Melhor era prestar atenção nas aulas. Assim fiz!
As horas passaram devagar. Química e em seguida de física. Que martírio! Não sou uma aluna ruim, mas não gosto dessas matérias. O sinal do intervalo tocou. Eu ainda não havia conversando com ninguém e todos me olhavam estranho.
Fui direto para a biblioteca. Gosto de ler. Meu falecido pai me ensinou a ter paixão pelos livros. “A melhor maneira de aprender e viajar sem sair do lugar é lendo bons livros”. Era o que ele sempre dizia quando lia para mim para me fazer dormir. Como eu sentia falta dele.
A biblioteca era bem espaçosa. Gostei do espaço. Escolhi uma mesa mais afastada. Sentei e retirei um livro que estava em minha mochila. Retirei meus Headphone também. Minha mãe me crítica por tal hábito. “Ler e ouvir música ao mesmo tempo é coisa de maluco”. Bom, tudo que minha mãe sabe fazer é me criticar. Desde que meu pai faleceu, por minha culpa, ela vive para me criticar.
Eu já estava viajando no livro Os Homens Que Não Amavam As Mulheres quando senti uma presença. Olhei para o lado e a vi, era Juliana. Ela estava parada do meu lado, me olhando de uma forma bem engraçada. Nem preciso dizer que todo meu corpo tremeu. O que ela estava fazendo ali?
- Oi Cristina! - Ela sorriu de lado, olhou para baixo e colocou o cabelo atrás da orelha! O que ela queria comigo?
Fim do capítulo
Olá moças! Sou uma leitora assídua desse portal maravilhoso. Escrever é um hobbie que tenho desde os meus 15 anos. Entretanto, faz algum tempo que não escrevo e nos últimos dias, uma história começou a "rodar" na minha mente. Resolvi escrever. Essa não é meu primeiro romance. Já escrevi outros, mas nunca compartilhei com ninguém o que escrevo. Enfim, espero de verdade que vocês gostem e quem sabe, possam dar seus feedbacks. Postarei um novo capítulo toda quinta, domingo e terça feira.
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Nathy_milk
Em: 03/11/2019
Boa noite.
Parabens por estar escrevendo!!
Começei hj a ler a historia, ja adianto que gostei bem desse primeiro capitulo! Ansiosa para o decorrer do romance!!
Abraços
Nathy_milk
Em: 03/11/2019
Boa noite.
Parabens por estar escrevendo!!
Começei hj a ler a historia, ja adianto que gostei bem desse primeiro capitulo! Ansiosa para o decorrer do romance!!
Abraços
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