Capítulo 12 - A Centelha e o Incêndio
Capítulo 12 – A Centelha e o Incêndio
Uma atitude equivocada é como uma pequena centelha que se desprende de uma brasa e se alastra através de um condutor em potencial. Pode aniquilar relacionamentos, destruir caminhos, sentimentos, mudar pensamentos e pôr em ruínas tanto o que não a domina e a apaga, quanto o que entra em contato com a chama descontrolada. Era isso, a fagulha da desconfiança foi acesa, e seria bem difícil que Mariana pudesse me convencer do contrário.
— Eu sei que você deve estar me achando uma pessoa ordinária, — ela iniciou — não sei de onde o Thomas tirou aquela ideia de me pedir em namoro na frente de todos, mas eu não pedi nada daquilo, eu jamais te magoaria daquele jeito, não de propósito. Tente me entender, eu estava de mãos atadas, seria uma decepção para os meus pais se eu não aceitasse. Eu tive medo de enfrenta-los, na realidade eu ainda tenho, — ela falava com a voz chorosa e o olhar marejado, passou as mãos pelos cabelos antes de continuar. — Sei que depois de tudo você possa não confiar em mim e não sabes como lamento o que houve. Foi ruim demais ver a decepção e a dor quando te olhei ontem. Me perdoe pelo beijo, eu juro que não ia beijá-lo mas acabei me distraindo ao te olhar e ele me pegou de surpresa. Sei que não tens por que acreditar em mim, mas saiba que o meu desejo era poder voltar e apagar todo esse acontecimento de nossas lembranças. Eu sei que está doendo, porque dói em mim também. Queria que tudo fosse diferente e mais fácil, que a minha vida e relacionamento com os meus pais não fosse tão complicado. Me desculpe, por favor, eu prometo resolver isso, só não me deixa! Eu nunca tive a intenção de magoar você e sei que isso não diminui a minha culpa e covardia. Mas te peço que releve essa minha covardia e vamos salvar o amor que existe entre nós, me perdoa, meu amor!!!
Ela terminou entre soluços, o choro dorido e convulsivo sacudia seu corpo enquanto ela tentava inutilmente enxugar as lágrimas, que desciam incessantes. Fiquei em silêncio esperando que ela se acalmasse, e tentando processar todo aquele pedido de desculpas. Não sei em que momento aquele discurso me comoveu, mas eu sabia que não haviam sido as lágrimas, então pensei ser quase impossível existir outro ser humano tão ridículo como eu, que acaba de ver sua suposta namorada aceitar um pedido de namoro bem na sua cara e ainda estar aqui pretendendo aceita-la de volta. Mas a verdade é que o fato de saber que todo o processo pelo qual estamos passando é bem tenso. Toda essa coisa de auto aceitação, quanto o revelar-se para a família é algo muito espinhoso, sôfrego mesmo e requer enfrentar muitos dilemas. Bom, talvez isso acabou anestesiando todos os meus sentimentos raivosos.
É claro que pensei em enxugar as lágrimas dela, tocar seu rosto, mesmo entendendo e pesando tudo isso, não era assim tão fácil. Então apenas cruzei os braços sobre o peito escondendo as mãos sob os antebraços, desviando o olhar.
— Tudo bem... — disse somente.
— Tudo bem?! — Ela perguntou debilmente. Talvez espantada com minha reação ou falta desta.
— É, tudo bem, o que queres que eu diga? Garanto que quero acreditar, entender e até aceitar tudo isso, mas convenhamos, não estamos tratando de algo tão simplório. Somos adultas sim, mas eu não tenho sangue de barata, e quero acreditar que você tenha escrúpulos. Eu preciso de um tempo, ok! Preciso pensar e absorver tudo isso — suspirei cansada. — Só tem uma coisa que você precisa saber e lembrar, se ainda me quiser ao seu lado, precisas resolver esse “mal entendido” — fiz aspas com as mãos. — O mais rápido possível, mas ainda preciso respirar, está bem? Espero que respeite esse meu pedido, eu ligo pra você e aí nós conversamos novamente.
Ela concordou balançando a cabeça em consentimento. Senti que ela me fitava e lutei contra enorme vontade que me tomara de olhar dentro dos seus olhos em busca de paz ou qualquer coisa que apagasse aquela maldita imagem da minha cabeça.
— Acho que você precisa ir.
Disse simplesmente.
— Ok! Eu estava pensando nisso. Vou pegar minhas coisas.
Balancei a cabeça afirmativamente ainda sem olha-la, percebi sua hesitação e logo um suspiro frustrado, provavelmente ela esperasse que eu finalmente a olhasse, coisa que não fiz e nem poderia, não ainda. Ouvi sua movimentação pelo apartamento até que, ela se reaproximou de mim.
— Já estou indo, me perdoa mais uma vez. Fica bem.
Eu não a olhei.
— Até outro dia. Se cuida.
Respondi e senti que ela se aproximou ainda mais, nem pude me afastar, ela simplesmente se inclinou e beijou-me a bochecha.
— Até logo!
Ela disse e partiu. Fiquei a deriva, pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo. Levantei e comecei a andar de um lado para o outro, eram por essas e outras coisas que me mantive longe desse sentimento por muitos anos. Os dias passaram-se e tanto Mariana quanto Luna andavam afastadas de mim, se por um lado era um alívio, por outro era um saco. Sentia uma falta angustiante e não saberia dizer qual das duas me fazia mais falta e isso era inaceitável, queria me estapear para deixar de ser tão indecisa e insegura, simplesmente não conseguia me reconhecer. Depois de quase três semanas sem ver nenhuma das duas, somente uns rápidos contatos por mensagens com Luna, que apesar de tudo se preocupava tanto comigo, ao ponto de não deixar jamais de saber como eu estava. Ela era simplesmente incrível e eu tinha total consciência disso.
Era começo de março e cheguei em casa no inicio da noite de uma sexta-feira, havia saído na esperança de distrair a mente e nada melhor que sair com minha câmera a tira colo. No entanto aquela noite havia começado estranhamente silenciosa, ou era apenas o som de minhas frustrações sendo mais alto que qualquer outro. Mesmo e apesar disso, incrivelmente meus pensamentos eram um grande e imenso vazio, já não havia mais o que analisar, eu só precisava aceitar que talvez eu tivesse acordado tarde demais para o amor. Enfim, foi exausta deles, que abri a porta de meu apartamento com a única intensão de descansar de mim mesma.
Mas antes que eu alcançasse o interruptor ouvi o som de uma música se propagar pela escuridão, logo depois as luminárias laterais que se estendiam pela parede da grande sala de estar se acenderam deixando o ambiente a meia luz. Caminhei em direção ao centro e estaquei aparvalhada. Surpresa ao perceber os movimentos coreografados que Mariana fazia ao som de Do it for me (Rosenfeld), e usando uma cadeira como parte do espetáculo. Percebi sob a luz baixa o formato sensual de seu corpo, não que eu não o tenha visto outras vezes, mas não é todo dia que uma mulher como ela aparece quase nua dançando pra você, não daquele jeito. Lingerie, impecavelmente negra contrastando com a pele alva. Os ombros despidos, a cintura fina, abdome de dar inveja a qualquer sedentária como eu. Só que a última coisa que senti naquele momento foi inveja. A voz se propagou invadindo meus sentidos.
Show me how (Mostre-me como)
Show me how you like it done (Mostre-me como você gosta)
A música rimbombava criando um clima sexy demais. Minha boca salivou quando ela caminhou lentamente até mim e me puxou pelo queixo.
You're all mine (Você é toda minha)
I'll make you feel like you're the one (Eu vou fazer você se sentir como se fosse única)
Deixei minha mochila cair ao chão e segui sem pestanejar. Ela virou-me e me fez sentar, em seguida ela sentou sobre meu colo e esticou os braços por sobre meus ombros, aproximou a boca de meu ouvido e meu corpo se arrepiou com o calor e o som de sua respiração.
— Eu. Quero. Você. — ela sussurrou pausadamente e eu poderia concordar com qualquer coisa que saísse daquela boca naquele momento. Levei minhas mãos até sua cintura, querendo loucamente aumentar o contato entre nossos corpos. Quis beijá-la, mas antes que eu pudesse alcançar aqueles lábios, ela levantou outra vez.
— Ainda não... — ela sussurrou movendo-se em minha frente. Arfei com o desejo que aumentava.
Ao ritmo da música seu corpo agitava-se por todos os lados, movimentos sensuais que me hipnotizavam. Não pude evitar a conexão de nossos olhares todas as vezes que eles se encontravam. Além de toda cadência e de toda aquela aura de luxúria, ela tocava-me em todas as direções. Meu corpo esquentava e meu sex* já se contraía de excitação. Quando a música já ia a meio, em um movimento languido, ela sentou-se de costas sobre meu colo e passou a remexer-se, esfregando-se sobre mim lentamente, e nesse instante fui a loucura de tanto tesão.
Segurei firme em sua cintura e passei a acompanhar o movimento de seus quadris. Usava uma calça de algodão, cinza chumbo, o que facilitou o contato. Porém esse contato ainda era muito pouco para mim e desejei estar despida também, a regata branca que eu usava já começava a colar-se em minha pele, por conta do suor. Mordisquei suas costas e praticamente já estava fora de controle. Ela rebol*va sobre mim enquanto eu já não conseguia mais controlar meus gemidos. O som agudo da guitarra anunciando que o ponto final da música se aproximava, embalava meus sentidos e só pude ouvir a última frase entoada antes de me perder no corpo dela.
So do it for me (Então faça isso por mim)
Obedeci ao apelo implícito e aproveitando os toques finais da música projetei nossos corpos para frente e ficamos em pé. Sem parar as carícias a conduzi até o sofá, com a mão esquerda cerquei sua cintura e puxei-a ainda mais para mim, atritando nossos corpos tão gostosamente. A música havia mudado, mas eu não fazia a menor ideia do que tocava, pois todos os meus pensamentos e sentidos estavam preenchidos por aquela mulher sexy que me tirava o fôlego.
Afastei-me alguns poucos milímetros apenas para percorrer aquelas costas tentadoras com minha mão direita, no caminho que fiz desde a cintura, aproveitei para soltar o fecho do sutiã que ela usava. Lentamente deslizei minha mão por aquela pele úmida de suor e subi até alcançar sua nuca. Ergui seus cabelos entrelaçando meus dedos entre os fios loiros. Senti-a ofegar e em seguida soltar um gemido manhoso com a carícia. Deixou o a peça intima escorregar pelos braços e inclinou a cabeça para frente, empinando o bumbum em direção ao meu sex*. Gemi.
Virei-a ficando de frente, nossas respirações se misturaram e imediatamente seus lábios procuraram os meus, a língua atrevida invadiu-me a boca e o beijo tornou-se quente, urgente. O tesão vibrava por nossos corpos como correntes eletromagnéticas. Com um puxão suave ela fez menção para que eu retirasse a camiseta e foi o que fiz, não somente com ela, mas com todas as peças que cobriam meu corpo. Inteiramente nua e entre beijos, deitei com ela lentamente sobre o sofá, lentamente deslizei sua calcinha e mordi o lábio inferior com tamanha contemplação. Roçando nossos corpos, pressionei minha coxa em seu sex* e me deliciei com seu gemido até que o mundo ao redor desaparecesse.
Inspirei profundamente ao acordar e mesmo antes de abrir os olhos, senti que não reconhecia o lugar onde estava a dormir. Minhas costas reclamavam desconfortáveis e o peso sobre meu corpo acentuava a dor latejante na coluna. Forcei-me a abrir os olhos e...
— “Puta que pariu!” — Gritei em meus pensamentos — “quem abriu as janelas, que luz do cacete!”
Finalmente com uma das mãos esfreguei os olhos e só então me situei. Totalmente adormecida, enxerguei o motivo de todo aquele peso sobre meu corpo. Mariana dormia serena e sim, estávamos nuas. Ela é linda, mas deus como pude ser tão fraca? Bom, depois de toda aquela performance, a pergunta certa seria, como poderia eu ter forças? Um sorriso involuntário tomou meu rosto boboca. E não pude evitar me sentir feliz em estar ali.
Fim do capítulo
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EriOli Em: 16/09/2025 Autora da história
Viver... tem peso e tantos significados, seja o de respirar, existir, passar a vida ou simplesmente desfrutá-la. É interessante que tudo implique estarmos vivos, mesmo quando a vontade nos falta.