Capitulo 23

 

 

Gabi

 

 

 

Estava triste, mas tinha que dar um jeito na minha vida. Lembro que fiquei quase um mês decidindo se abriria o e-mail da universidade de Harvard ou não. Acabou que eu estava com a tela do notebook aberta na minha caixa de e-mail quando minha mãe entra no quarto.

 

-Eles mandaram a resposta quando?

 

-Tem uns dias já.

 

-Nossa, Gabi, tem quase um mês e você não abriu ainda!? Minha mãe falou com espanto, pois iria fazer um mês que a resposta chegou e eu não tinha aberto ainda.

 

-Não. Respondi desanimada.

 

-Ah, meu amor! Vai passar, sempre passa! Meus pais, meu irmão e Karla, foram minha base nesses dias. Penso que se não fosse eles, com toda certeza estaria bem pior. Parecia até que meus pais sabiam exatamente o que estava acontecendo, já que eles não me perguntavam o que tinha acontecido. E minha mãe foi incrível! Eu tinha quase certeza que ela sabia. Mas ela não tocava no assunto e eu também não.

 

-Ta bom, vou abrir. Quando abri, vi que fui aprovada. Meu coração acelerou e eu só conseguia pensar na Cris; ela tinha insistido muito pra fazer a prova... se não tivesse aberto o computador dela e praticamente me obrigado a fazer a inscrição, eu não teria feito, não neste momento.

 

-Aeee! Você foi aprovada! Minha mãe estava numa alegria que até me contagiou. Parabéns meu bebe!

 

-Obrigada, mãe! Obrigada por tudo. Falei e abracei ela. Não contive as lágrimas ao me lembrar que a Cris ficaria tão feliz quanto a mamãe.

 

-Ai, Gabi, não fique triste, você passou numa universidade que é extremamente concorrida.

 

- Eu estou feliz mãe. Só estou pensando que vou ter que deixar o Gui, a Karla, você e o papai... Vai ser triste ficar longe de vocês. Falei e fiz carinha de dengo; com ela eu podia.

 

-Olha, seu irmão, você pode ver sempre que quiser. Karla pode te visitar. Seu pai e eu estamos sempre viajando, vamos nos ver mais do que se estivesse morando aqui... e talvez isto ajude a cicatrizar mais rápido este coraçãozinho quebrado.

 

-Que gritaria foi esta aqui? Meu pai entrou perguntando.

 

-Amor, Gabi passou no teste. Ela vai estudar em Harvard.

 

-Parabéns, minha princesa! Meu pai me abraçou e me rodopiou no abraço. Vocês me enchem de orgulho! Ele falou com os olhos marejados.

 

-Temos que comemorar! Disse minha mãe efusiva.

 

-Com certeza! Meu pai concordou.

 

Eles saíram do quarto e eu tirei foto da tela e coloquei pra encaminhar, ia enviar pra CRis. Vi a foto do perfil dela e senti meu peito apertar, não sei o que dizer sobre isto, mas sei que era algo muito, mas muito ruim... desisti. Não queria ter que me despedir dela... acho que aquele dia foi a nossa despedida. Tentei engolir o choro, mas era inútil.

 

Teve uma noite que nós estamos assistindo tv e no intervalo, uma chamada de um programa de fofoca passou:

 

-“Bomba!!! A estilista Alessandra Ferraz está grávida da esposa, Hellen Cristini Schultz uma das melhores neurocirurgiã do mundo. Daqui a pouco, daremos todos os detalhes de como foi todo o processo com uma entrevista exclusiva da estilista. “

 

Eu não estava acreditando naquilo. Até na tv aquela mulher me perseguia? Parecia que ela fazia questão de todos saberem. Senti o olhar da minha mãe sobre mim e de repente ela muda o canal.

 

Agora, estava eu embarcando de São Paulo para o Estados Unidos. Cheguei no aeroporto e estava aguardando meu voo, quando uma garota se aproxima de mim. Devo dizer que ela era muito bonita; loira, cabelos cacheados, olhos azuis, da minha altura e com uns lábios... carnudos. Não era o tipo bocão, era como se ela tivesse feito preenchimento nos lábios e o trabalho foi muito bem feito... a boca dela era linda.

 

-Com licença, posso me sentar aqui? Meu voo vai demorar umas duas horas. Falou a garota.

 

-Claro, senta aí!

 

-Você não é paulista, né? Perguntou fazendo uma cara engraçada.

 

-Não. Sou capixaba. Ela fez uma cara de que nem sabia do que eu estava fazendo. Sou do Espirito Santo. Tive que completar.

 

-Percebi. Você não fala igual paulista. Me desculpe, mas não me lembro de ter ouvido falar deste lugar ai.

 

-Não te julgo, acho até normal. Não temos tanta propaganda falando das nossas belezas naturais, e além do mais, o secretário de turismo parece não ligar para que o Espirito Santo seja conhecido pelo Brasil.

 

-Normal. Qual é seu voo?

 

-É o 547. Me desculpe, mas qual é seu nome?

 

-Geovana. A menina abriu um sorriso tão lindo.

 

-Prazer. Meu nome é Gabrielle.

 

-Você vai pegar o mesmo voo que eu, que legal!

A conversa foi bem legal... descobri que ela também estava indo pra Universidade de Harvard e que também fazia medicina, ao contrário de mim, ela estava no quarto período e tinha ido em casa porque sua vó estava doente e infelizmente veio a falecer. O que eu acabei por admirar nela, foi a tranquilidade que ela tinha... poxa! a vó dela havia morrido e ela estava aparentemente bem.

 

-Nossa, sinto muito! Falei

 

-Ah, obrigada. Mas a minha vó viveu da melhor forma possível e ela descansou. Acho que ela está melhor agora do que quando estava aqui.

 

-Admiro. Ela deu uma risada do jeito que eu falei e a conversa só fluiu. Geo era muito segura, firme. Parece que as coisas eram tão praticas com ela que até pensei se realmente eu estava fazendo a coisa certa em fugir dos meus problemas.

 

Eu iria ficar no hotel numa das filiais dos meus pais. minha mãe disse que seria melhor pra mim e que eu só teria de me preocupar com os estudos. Não reclamei, pois o hotel ficava próximo da universidade. Passei o final de semana conhecendo a cidade. Geovana me levou em vários lugares incríveis. Ela foi minha guia, como ela ficava no campus ela me levou pra conhecer o seu dormitório. Eu nem preciso dizer que amei tudo. O lugar era incrível.

 

Estávamos no quarto dela quando percebo um olhar... estranho sobre mim.

 

-Gabi, você é muito gata. Não sei se estou certa, mas você curte garotas, né?

 

-Sim. respondi um pouco triste.

 

-Ixi! Até pensei em investir, mas não estou afim de ser curativo não! Geovana era muito louca e engraçada ao mesmo tempo.

 

-Como assim curativo?

 

-Bem, você foi machucada e está ferida.

 

-Hum...

 

-Então, quando você está com uma ferida, é preciso que você cuide dela. O curativo só protege das coisas externas, mas a interna tem que ser cuidada... o curativo não faz nada além de proteger. Ele não tem o poder de curar. A ferida, tem que ser lavada, desinfectada e o curativo não faz isto. Se insistir em colocar o curativo sobre a ferida suja, sem tratamento adequado, ele só se suja e machuca ainda mais a ferida.

 

-Uau! Você é o que... uma centenária no corpo de uma jovem?... uma feiticeira?...

 

-Não, eu só sei como é ruim ser um curativo. Desabafou.

 

-Bela reflexão!

 

-E aí, quer falar sobre o que aconteceu?

 

-Me apaixonei por uma mulher incrível, justa, sincera, inteligente, linda. bem, eu poderia colocar todos adjetivos aqui que ainda faltariam...

 

-Uau! Uma mulher perfeita?...

 

-Quase perfeita.

 

-Se...

 

-Senão fosse casada.  Contei toda a história pra ela e ela simplesmente disse:

 

-Caramba, que mulherzinha mais escrota, hein! Ela chantageou a esposa com a vida de um bebe? O que que esta mulher incrível faz casada com um lixo desses?

 

-Acho que nem a Cris saberia dizer.

Geovana e eu ficamos muito próximas. Ela me contou que amou uma garota que tinha perdido a namorada num acidente de carro e que aguentou até suas forças irem embora. Pelo que ela conta, era impossível competir com alguém que era perfeito e nunca iria decepcionar, pois já estava morto. Ela disse que até tentaria, se estivesse na mesma situação que a minha. Os dias foram passando e já estava estudando à duas semanas, quando eu e Geo estávamos numa mesinha estudando quando ouço o meu nome:

 

 

 

-Gabi! Uma voz familiar atrás de mim e me viro pra ver quem era...

 

-Eduardo! Não estava acreditando que era ele.

 

-Ei, menina! O que faz aqui? Ele veio em minha direção e me abraçou. Retribuí o abraço.

 

-Então, fiz o teste e passei. estou estudando aqui, agora.

 

-Tá brincando?!

 

-Não! Ah, esta é Geovana.

 

-Ei, Geovana. Ele deu três beijinhos no rosto dela.

 

-Ei, Eduardo.

 

-Adorei saber que você tá aqui. Ele pegou nas minhas mãos e me puxou para um abraço, de novo. Conversamos amenidades e ele saiu.

 

-Bye, curativo.

 

-Que? Eu perguntei pra ter certeza que eu tinha ouvido aquilo mesmo.

 

-Poisé! O cara babou em você. Um curativo...

 

Os dias foram passando e eu ficando mais próxima do Edu. Ele era fofo, educado, gentil e o jeito que ele olhava, me lembrava alguém, mas não conseguia lembrar quem! Teve um dia que nós saímos, pra dar uma curtidinha de leve, já que a vida era só estudar.

 

-Nossa... que lindo! Falei assim que entramos na boate. O Edu convidou um amigo pra Geo não ficar de vela. O carinha era chato pra caramba e ficava falando um monte de besteiras.

 

-Cara, você abre a boca e a besteira sai ou você pensa pra falar? Geo falou na lata do menino; eu fiquei até com dó, mas o carinha mereceu.

 

-Calma, Geovana. Ele está nervoso, isto é normal.

 

-Ok. Vou mandar a real: eu não curto homens, da próxima vez que você quiser flertar com a Gabi, traz uma amiga.

 

-Opa! O que deu em você?

 

-Cara, aquele menino é um idióta! Ela bufou.

 

-Vamos beber alguma coisa. traz dois martini. Eu falei com o barman.

 

-Não! Quero vodca!  

 

-Tem certeza?

 

-Sim! ela correu os olhos na pista de dança como se ele estivesse procurando alguém.

 

-Tá tudo bem mesmo? Perguntei entrando na frente dela.

 

-Sarah está aqui. Ela disse e apontou com a cabeça em direção a mulher.

 

Sarah era extremamente vulgar; ela beijou umas quatro bocas, só nessa olhada que eu dei em direção a ela. -Quer sair daqui?

 

-Não. Não vou fugir!

 

-Se quiser ir embora, nós vamos!

 

-Tá tudo bem. Me dá outra dose. Ela pediu e virou de vez.

 

-Não está exagerando não? Falei quando vi ela virar o quinto copo.

 

-Me desculpe. mas quer saber como vou acabar minha noite? fiz cara de que não sabia e ela continuou. – Vou acabar na cama dela, provavelmente com aquela ruiva junto. Falou triste.

 

Que poder era aquele? Me assustou saber que as pessoas eram tão manipuláveis. Era evidente que aquela mulher não fazia bem pra Geovana, mas percebi que minha amiga tinha um ponto fraco e este ficava extremamente vulnerável na presença daquela mulher.

 

-Posso te levar embora, é uma solução. Sugeri

 

-Sabe aquela dor que você sente quando fura o pé com espinho? Depois que você tira o espinho, fica o lugar machucado, aí você aperta o lugar... dói, mas a dor é prazerosa.

 

-Você e suas filosofias!

 

Ficamos no bar e como a Geo falou, aconteceu. Ela foi embora com a Sarah e a ruiva. Naquela noite o Edu e eu ficamos. Foi meio estranho, parecia que era minha primeira vez. Estava bem insegura, mas depois resolvi relaxar. Depois desse dia começamos a namorar. Edu era maravilhoso! Carinhoso, prestativo, sensível e isto era o que mais me encantava nele. Ele percebia quando eu não estava bem.

 

-Quer falar sobre o cara com quem você ficava e que te deixou ferida? Ele perguntou, certo dia.

 

-Não deu certo. A esposa dela está grávida.

 

-Dela? Me perguntou, talvez pra ter certeza que tinha ouvido direito.

 

-Sim, era uma mulher.

 

-Uau! Você me surpreendeu! Ele falou sincero.

 

-Isso te incomoda?

 

-Claro que não! Nós tínhamos acabado de trans*r e eu tinha pensado nela e estava me sentindo horrível por ser escrota com ele. Poxa! Eu estava na cama com ele e só consegui goz*r, porque pensei nela.

 

E assim os dias foram passando. Um dia fui dormir no apartamento dele e como eu tinha a chave, entrei. Ele estava falando no celular e não pude deixar de ouvir.

 

-Você precisa me falar a verdade! Ele estava meio alterado.

 

-...

 

-Como não me interessa?

 

-...

 

-Você apareceu grávida logo depois que trans*mos. Opa! Perai... eu estava odiando ficar escutando, mas ele era meu namorado.

 

-...

 

-Eu quero o DNA!

 

-...

 

-Eu vou contar pra ela, odeio mentir! Não consigo nem olh... ele não terminou de falar porque a pessoa o interrompeu.

 

-...

 

-Você Tá me ameaçando?

 

-...

 

-Oi, Edu! Mostrei que estava ali, pois até então ele não tinha me visto. Ele desligou o telefone na cara da pessoa.

 

-Tudo bem? perguntei e olhei pro celular.

 

-Ah... é... sim, tudo bem.

 

-Quer me falar com quem você estava falando?

 

-Nada demais. Ele tentou desconversar.

 

-Edu, eu ouvi você. Sabe que eu odeio mentiras.

 

-Então, a um tempo atrás eu fiquei com uma mulher. Logo depois eu soube que ela estava grávida; ela não falou comigo, mas eu soube e desde então eu estou desconfiado que a menina que ela está esperando é minha.

 

-Por que você não faz exame de DNA? Assim você tira a dúvida.

 

-É, você tem razão! Ele mudou de assunto e eu não entendi nada. Fui para a cozinha fazer o jantar, eu iria dormir na casa dele e queria cozinhar.

 

Fim do capítulo