Capítulo 37
Diálogo com os Espíritos -- Capítulo 37
Assim que abriu a porta, dona Olivia correu para abraçar a filha.
-- Alicia! Que bom que chegou! Estava começando a me desesperar.
Alicia soltou-se dos braços da mãe e sorriu para tranquiliza-la.
-- Imaginei que ficariam preocupados, mas está tudo bem mamãe.
Com cautela, Olivia olhou na direção da bela jovem parada logo atrás da filha.
-- Então, você que é a Fernanda? -- ela perguntou, sem esconder o sorriso de admiração -- Minha filha tem falado muito de você ultimamente. E ela não exagerou nenhum pouquinho.
-- Mamãe! -- Alicia enrubesceu.
Fernanda ficou impressionada com a beleza daquela senhora de gestos meigos, cabelos longos e prateados. Estendeu-lhe a mão. Era uma mulher de finos traços e sorriso encantador.
-- Muito prazer em conhecê-la, dona Olivia.
-- Pode me chamar apenas de Olivia -- ela beijou-lhe delicadamente a face.
-- Agora percebo de onde vem essa moça tão linda -- comentou Fernanda, olhando de lado para a médica.
Alicia deu uma piscadinha para ela e sorriu.
Cléo aproximou-se.
-- Um ser lindo, simpático e inteligente como eu é raro, mas eu existo sim, sabiam?
-- Ah, mamãe, esse é o Cléo. O cara de quem te falei.
Olivia se aproximou dele e puxou-o pela mão. Olhou profundamente em seus olhos e afirmou com brandura:
-- Você é uma pessoa muito especial, Cléo -- ainda segurando sua mão, a jovem senhora beijou a testa do rapaz -- Obrigada por cuidar da minha filha -- ela cochichou em seu ouvido e se virou para Alicia -- Agora, vamos entrar. Germano está esperando você para escolher o vinho. Você conhece o seu pai, adora uma comemoração.
Só de ouvir Alicia falar da mãe, Cléo tinha certeza que se apaixonaria por ela. Olivia era realmente uma mulher maravilhosa e encantadora.
Cristina hesitou por um momento, antes de perguntar para o pai.
-- O órgão a que o senhor se referiu era o coração da Thais, não é mesmo, pai?
Doutor Paulo coçou o queixo antes de responder:
-- Sim, era o coração da Thais.
Cristina engoliu em seco. A confirmação do pai a fez cair sentada na cadeira.
-- Você conhece essa moça? -- perguntou ele, ao ver o olhar assustado que escureceu os olhos dela.
-- Fernanda Brandão? Não, não -- Cristina achou melhor mentir -- É que, lembra dos meus estudos sobre o contágio de personalidade no transplante de órgãos?
-- Se lembro! -- ele balançou a cabeça -- Foi com muito custo que tirei essa ideia louca da sua cabeça.
-- Pois não tirou -- ela confessou -- O senhor só tirou a verba que financiava os estudos, mas a ideia, não.
Ele riu.
-- Obrigado por me iludir todos esses anos.
-- Desde 2002 a teoria "memória celular", está comprovado cientificamente
-- Você sabe muito bem que apesar das pesquisas, o assunto não encontra opinião unânime dentro da comunidade científica.
-- O senhor como neurocirurgião deveria dar um pouco mais de crédito a essa teoria.
-- Então, me prove -- Paulo disse depois de pigarrear.
-- Sério? -- Cristina apoiou os cotovelos sobre a mesa e olhou fixamente para o pai.
-- Sim, é sério. Quero ver as provas diante de mim e não em uma revista cientifica.
-- O que ganho com isso? -- ela se inclinou para frente.
-- A sua clínica. Não é esse o seu sonho?
Na verdade, era o sonho da Natália e não o seu. Porém, faria qualquer coisa para agradá-la.
-- Eu aceito -- ela se levantou, deu a volta na mesa, com um sorriso largo, segurou a mão do pai com um aperto forte -- Já pode ir se preparando, doutor Paulo.
-- Vocês estão com fome? Se tivessem avisado antes, eu teria preparado um banquete -- Germano sentou-se na sala, onde uma garrafa de vinho e quatro taças os aguardavam.
-- Teria mandado matar o seu melhor novilho? -- Alicia riu -- Credo pai, não sou a sua filha pródiga.
-- Não, claro que não. Você é a minha filha prodígio -- disse ele, enquanto abria a garrafa com um saca-rolhas -- É que eu sou festeiro.
-- Disso eu sei pai.
-- Eu adoro festa -- disse Cléo -- Certo dia cheguei numa festa e gritei "hoje eu tô pro crime". Uma viatura que ia passando na porta me abordou e levou pra delegacia.
-- Verdade? -- perguntou seu Germano, desconfiado.
-- Verdade verdadíssima -- Cléo pegou o copo que Germano lhe estendia e deu um belo gole.
-- Você vai em muitas festas?
-- Minha classe social só permite frequentar festas que aceitam 1 kg de alimento não perecível, se não for nem adianta me chamarem.
-- Hum -- Seu Germano coçou a cabeça.
-- Nas festas na escola, meu pai mandava eu levar Coca-Cola pra ninguém pensar que nós somos pobres.
-- Aceita uma taça de vinho, Nanda? -- Alicia interrompeu, querendo acabar com a conversa. Se deixasse, Cléo enrolaria o pai a noite inteira.
-- Aceito -- sorriu ela, esticando o braço para pegar a taça. Levou até a boca, engolindo o vinho de uma vez só.
Alicia ergueu as sobrancelhas, admirada.
-- Fernanda! -- dona Olivia chamou da porta da cozinha -- Pode arrumar a mesa para mim?
-- Será um prazer dona... desculpa, Olivia -- ela respondeu, pondo a taça de cristal sobre a mesa.
Desde o momento em que entrou na enorme e confortável cozinha da casa da senhora Becker, ela soube que tinha uma amiga. Fernanda reconhecia uma pessoa do bem de longe. Seus olhos amáveis e pacíficos diziam mais que qualquer palavra. Definitivamente, Fernanda era bem-vinda naquela família.
Depois da janta, Alicia apanhou sua bagagem no carro e entrou em casa. Da porta da sala, ainda viu Fernanda e sua mãe conversando animadamente.
-- Que tanto vocês cochicham?
Olivia engatou o seu braço no braço de Fernanda.
-- Estava dizendo para ela que quando existe amor entre duas pessoas o que importa o sex*, a cor, a idade? O amor é um sentimento puro e sincero, não se apega em detalhes. Ninguém pode dizer quem devemos amar e a quem devemos pertencer. Quando há amor nada mais importa, o importante é amar e ser amado. Família é quem respeita você, sua vida e suas escolhas.
-- Esse negócio de sangue do meu sangue é besteira. Meu sangue até pernilongo tem.
-- Você está certo Cléo -- concordou Germano.
-- A gente deveria se apaixonar por coisas acessíveis, tipo um pedaço de pizza, uma barra de chocolate, uma coxinha e não por pessoas, né pai.
-- Pai? -- Alicia franziu a testa -- Que papo é esse?
-- O que foi? Tá com ciúmes é? -- Cléo declarou e tomou um gole da bebida -- Alicia é tão ciumenta que ao invés dela dizer, ''durma com os anjos'', ela diz "durma sozinho".
-- Eu mereço -- Alicia revirou os olhos -- Depois dessa acho melhor ir dormir.
-- Sabe pai, meu Facebook tem crise de ciúmes. Hoje acordei com a mensagem: "Parece que você esteve nas Lojas Americanas recentemente. Posso fazer algumas perguntas sobre isso?" -- disse Cléo, para Germano.
-- Sério? -- Seu Germano, perguntou admirado.
-- Seríssimo.
Alicia tentou esconder seu sorriso, mas não conseguiu.
-- Tadinho do meu pai, acredita em tudo o que esse nó cego fala.
Não podia ser, era inacreditável. Natália estava boquiaberta, em choque.
-- É incrível -- afirmou Cristina rapidamente, vendo que Natália estava sem fala -- Coisa de novela.
-- Sim -- ela se forçou a falar -- A Alicia já sabe?
-- Não! -- Cristina se sentou no sofá. Sem apoiar as costas -- Eu acabei de ficar sabendo, ainda estou digerindo a informação.
-- Vai contar para ela? -- Natália passou a mão pelos cabelos dourados. Sentou-se no sofá ao lado da poltrona de Cristina e cruzou as pernas.
-- O que você acha?
-- Acho que se você quiser convencer o seu pai sobre a teoria da "memória celular", deve manter tudo em segredo.
Cristina estava indecisa. Ela não gostava de mentiras, cada vez que se encontrasse com Alicia e Fernanda, se recriminaria por sua atitude.
-- Não sei se vou conseguir guardar uma coisa tão importante para elas.
-- Deixa de ser boba, Cris. Se elas souberem, o seu estudo perde a credibilidade.
Cristina massageou a nuca tentando livrar-se da tensão que enrijecia os músculos. Natália não deixava de ter razão. Ao conhecer a origem do órgão, os novos hábitos ou gostos, semelhantes aos dos doadores poderiam ser inconscientemente adquiridos pelo receptor.
-- Tenho que concordar com você. Se a Fernanda souber que a sua doadora foi a Thais, pode mesmo sem querer, começar a agir de forma diferente.
-- Sem querer? Aquela mulher é uma cobra. Ela saberia usar muito bem essa informação -- acrescentou ela, tensa, olhando para as mãos -- Você acredita realmente nisso? Quero dizer... Receptores de órgãos transplantados terem adquirido, após a operação, novos hábitos ou gostos, semelhantes aos dos doadores?
-- No livro chamado "The Heart's Code". O autor descreve a história de uma menina de dez anos que recebeu o coração de outra de oito, poucas horas depois de esta ter sido assassinada. Tempos depois, ao fim de uma sucessão de pesadelos, ela "reviveu" a cena fatal de sua doadora - o rosto do assassino, uma arma, um lugar. A polícia foi informada e capturou o criminoso, que confessou tudo.
-- Então, existe a possibilidade de a Fernanda reviver a cena do acidente da Thais? Isso é um absurdo, Cris!
Cristina sorriu.
-- Eu vou provar a você que não é um absurdo.
O sangue subiu para a cabeça de Natália e ela perdeu todo o controle.
-- Eu não acredito que mesmo morta, aquela piranha, vai infernizar as nossas vidas! -- ela berrou, irada.
Fernanda se despiu sem pressa e colocou a camisola. Penteou os cabelos e passou gotas de seu perfume favorito nos pulsos.
Alicia ficou olhando para ela por um momento, a emoção declarada em seus olhos misturado com um tipo de admiração que fez com que ela engasgasse.
-- Você é linda -- falou com a voz rouca.
Fernanda sacudiu a cabeça, corando. Sentia-se repentinamente tímida e incrivelmente vulnerável diante da médica. Deitou-se calmamente ao lado dela na cama e sorriu antes de beijá-la.
-- Sonhei tanto com esse momento, sonhei tanto com esse amor.
Alicia cobriu o corpo de Fernanda com o seu e correspondeu ao beijo sem nenhuma hesitação.
-- Sabia que a realidade pode ser ainda melhor que o sonho?
Fernanda sorriu e balançou a cabeça concordando.
Devagar, Alicia começou a acariciá-la. Fernanda sentia-se inebriada pelos beijos ardentes e o toque macio das mãos dela.
-- Fazer sex* é muito bom. Agora fazer amor com quem se Ama... É Divino! -- Alicia dobrou sua cabeça e encostou seus lábios contra os dela, um beijo doce, delicado e quente.
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Fim do capítulo
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HelOliveira
Em: 23/09/2019
Bom se a Natália foi responsável pelo acidente e morta da Thaís, a Fernanda agora está em perigo...
Cris pelo amor...tá.cega e burra hennn, rapaz passou da hora e encarar a realidade.hennn.
Cléo seu lindo, verdade até pernilongo tem nosso sangue...rs
Mãe da Alicia é encantadora, alguém muito especial, amei como a Nanda foi acolhida e já enserida na família.
Aqui pensando onde anda o espírito da Thaís e o pedido de ajuda para a filha, a pessoa aqui está muito curiosa.
Ótimo capítulo
Beijos
Resposta do autor:
Olá!
Nos próximos capítulos voltaremos a Thais e a sua filha. Vamos até Niteroi visitar o ex marido da Thais e descobrir o que tanto perturba o Espírito dela.
Até mais. Beijos.
perolams
Em: 23/09/2019
Pensei aqui na possibilidade de Fernanda lembrar do acidente depois da noite de amor, cada dia fico mais convencida de que Natalia provocou a morte de Thais. A cegueira de Cristina extrapola os limites, misericórdia, não consegue ou quer enxergar o óbvio. Acho que agora a vida de Fernanda fica em risco, dona cobra tá com sangue nos olhos, quando descobrir que Alícia se apaixonou pela psicóloga então, vai com tudo pra cima.
Uma curiosidade: você se não inspira em alguém para dar vida a Cléo. Me pergunto se existe um ser humano assim.
Resposta do autor:
Olá perolams.
Em todas as minhas história costumo incluir um personagem que dê um toque de humor a trama. Não me inspiro em ninguém, é algo que trago comigo mesma. Adoro uma comédia.
Beijão. Até mais.
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Mille
Em: 23/09/2019
Oi Vandinha
Sera mesmo que a Natália tem algo com o acidente da Thais???
Essa ruiva é uma cobra só espero que ela não tente nada com a Nanda e Alicia.
Criatina é uma boba apaixonada não enxerga que é usada pela namorada.
A família da Alicia é ótima recebeu as visitas com muito amor e carinho.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá!
Uma rápida passada para agradecer e dizer que seu comentário é muito importante para mim. É através dele que mantenho ou mudo o rumo da história. Portanto, fique a vontade para criticar, elogiar e dar ideias. Beijão meu anjo. Até mais.
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Brescia
Em: 23/09/2019
Boa tarde mocinha.
Essa cascavel, vulgo Natália , não para de surpreender com a sua maldade e a Cris é bem cega ou realmente não quer enxergar que ela só quer a Alícia e pelo jeito fará de tudo para conseguir. Adorei a mãe da Alícia e como ela recebeu a Fernanda e a minha Cléo, que por falar nela, sempre me faz rir.
Baci piccola.
Resposta do autor:
Olá!
Uma rápida passada para agradecer e dizer que seu comentário é muito importante para mim. É através dele que mantenho ou mudo o rumo da história. Portanto, fique a vontade para criticar, elogiar e dar ideias. Beijão meu anjo. Até mais.
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rhina
Em: 23/09/2019
Oi
Boa tarde
Autora quais são as chances da Natalia er responsável pelo acindente da Thaís?
Cristina merece alguém bacana.....capricha ai Autora
Rhina
Resposta do autor:
Olá!
Uma rápida passada para agradecer e dizer que seu comentário é muito importante para mim. É através dele que mantenho ou mudo o rumo da história. Portanto, fique a vontade para criticar, elogiar e dar ideias. Beijão meu anjo. Até mais.
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NovaAqui
Em: 23/09/2019
Acho que Fernanda vai descobrir alguma coisa sobre a morte de Thaís e acho que Natália não vai gostar
Cristina tem que perceber que está sendo manipulada por esse que diz ser sua namorada
Então elas terão sua noite de amor? Vai ser com muito amor
Olha! Triste pelo seu tricolor, mas feliz pelo meu Vascão!
Boa semana para você!
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Olá!
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Beijão meu anjo. Até mais.
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