Capítulo 21
– Ah, é você! – Olívia abriu a porta sorridente – Cadê a sua namorada? Achei que ela estava contigo, já que não sabem andar mais sozinhas agora.
– Isso pareceu meio ciumento da sua parte. – Manu disse a Olívia, enquanto abraçava Mel – Liga não, ela tá com medo de perder a amiga, mas ao mesmo tempo está muito feliz por enfim, a Tina ter encontrado alguém que faz muito bem a ela. Como vai Mel?
– Fico feliz em saber que essa recepção, nada agradável, tenha um motivo plausível. – Melissa piscou para Manu, entregando algumas sacolas – Quanto a sua pergunta Liv, sua amiga estava na casa dos pais na última vez que nos falamos algumas horas atrás, não faço ideia de onde ela esteja agora.
– Vocês estão planejando abrir um bar ou beber até cair? – Manu perguntou sorrindo enquanto seguia com as sacolas para a cozinha.
– Que história é essa que a Tina sumiu, esqueceu de avisar que tínhamos um compromisso?
– Menos, bem menos. – se jogou no sofá colocando os pés na mesinha de centro. – Me serve alguma coisa para beber, estou morta de sede.
– Você é muito folgada. Desaprendeu o caminho da cozinha? – bateu nos pés de Mel – Tira os pés daí, vai destruir minha mesinha.
– Agora foi que eu vi. Esse negócio é para fazer o que, se não colocar os pés?
– Enfeitar o centro da sala. Por isso o nome, mesinha de centro.
– Você está insuportável, que horror. – Encarou a amiga tentando não fazer a pergunta que veio a seguir: – Você tem trans*do esses dias? Com esse humor, duvido muito que isso esteja acontecendo com frequência.
Melissa gargalhou diante da sua própria pergunta, batendo palmas. Olivia ficou possessa com aquela reação da amiga, afinal, assim que ela iniciou a pergunta nada discreta, Manu adentrara a sala com 3 long neks nas mãos.
– Acho que não cheguei em um bom momento! – Afirmou colocando as cervejas sobre a mesinha de centro, com um sorriso de canto, bastante envergonhado, nos lábios.
Diante do olhar reprovador de Liv, Melissa levou as mãos aos lábios tentando conter o riso solto. A ginecologista balançou a cabeça em sinal negativo dizendo apenas:
– Não liga para essa maluca. Não deve ter tomado o remedinho tarja preta hoje ainda.
– E quem faz uso desses medicamentos pode ingerir bebida alcóolica? – Manu perguntou inocente.
– Não entra nessa, ela tá falando bobagem. Não faço uso de medicamentos desse tipo, já ela... – olhou para Liv a desafiando com o olhar, enquanto dava o primeiro gole em sua cerveja. – Bom, desculpa pela brincadeira, esqueci que estávamos com visita.
– Vocês me confundem. – balançou a cabeça, aproveitando o momento de troca de olhares indecifráveis para liberar a entrada de quem tocava o interfone. Recebeu Tina com um abraço: – Que bom que chegou, estava vendo a hora delas saírem no tapa aqui.
– O que está acontecendo aqui? – a médica perguntou em tom sério, fazendo as duas mulheres que ainda trocavam “farpas” a olharem assustadas. – Quem vai me explicar o que perdi?
– Quase me matou do coração, nossa. Vem cá, – puxou a namorada pela mão – conta como foram as coisas por lá.
Deu um selinho em Tina, fazendo Olivia fingir um “embrulho” no estomago. Conversou rapidamente com a namorada, sem deixar de dar atenção as duas amigas.
O jantar foi tranquilo, e como Manu havia dito mais cedo, Liv e Mel pareciam que iam abrir um bar, beberam até quase cair, e ainda deixaram bebidas para o domingo, segundo elas, fariam a ressaca da ressaca.
– Sim, eu sei. – colocou a namorada sentada no banco do carona, tentando mantê-la quieta para colocar o cinto – Amanhã vamos almoçar na Liv, se você acordar, né.
– Não marca nada, já sabe que temos compromisso – falou de forma embolada.
– Pode deixar, já anotei aqui. – Sorriu, correndo para guiar o veículo.
Como a médica havia imaginado, sua namorada acordou com a cabeça “explodindo”, foi o mais carinhosa que pode com ela durante toda a manhã, saindo de seu lado apenas quando o celular tocou.
– Nem vem, não vamos para sua casa beber mais.
– Que forma mais tosca de atender uma amiga, credo. Quero saber se aceita tomar um suco comigo? É a única coisa que estou conseguindo beber hoje. Preciso conversar, ninguém melhor que você para isso.
Percebeu uma seriedade envolvida naquela frase, pensou por alguns segundos e disse por fim:
– Mel não tá muito bem, vou ver com ela se precisa de alguma coisa, e te encontro naquela lanchonete no centro. Pode ser?
– Não vá me deixar lá de cara para cima te esperando aparecer. Se não puder ir, avisa pelo menos.
– Calma, estou dizendo que vou. Falando nisso, cadê sua visita?
– Dormindo, estava com dor de cabeça, colocando tudo para fora, estava quase levando-a para o hospital, mas ela dormiu antes.
– Você e a Mel são péssimas influencias. Por isso estão “morrendo” também, você não consegue comer nada sólido e ela não está suportando nem ouvir a própria voz.
– Mulher má. Vai resolver sua vida por aí, e me avisa se posso ou não ir ao teu encontro.
Se despediram e Tina voltou para o quarto, onde encontrou Mel dormindo. Admirou por alguns minutos, a mulher deitada em sua cama, lhe deu um beijo suave na testa, deixando um bilhete no travesseiro ao lado.
Não demorou muito para se juntar a Olivia, que rapidamente narrou para a amiga todo o dilema pelo o qual estava passando. Valentina escutou tudo atentamente sem dizer nada. Em anos de amizade, nunca tinha visto a amiga daquela forma.
– Pelo o que entendi, você está apaixonada, com medo desse sentimento e de revelar ele. Em que posso te ajudar?
– É exatamente isso, não sei o que fazer. Isso está me sufocando. Nunca fui mulher de ter medo quando se trata de paqueras e tal, mas agora, não faço ideia de como agir.
– Calma, é normal que você fique assim. Afinal, é algo novo. Você nunca teve uma paquera desse tipo, – Olhou para Olivia que balançou a cabeça negativa – ou teve?
– Não, Tina. Acha que não teria te contado. Me ajuda, você é mulher, é mais sensível a esse assunto.
– Falou o homem da mesa. – Gargalhou com a careta feita por Liv.
– Para de deboche, você me entendeu.
– Você pingou a bola na minha mão, não ia deixar passar de forma alguma. Bom, – olhou para o celular sorrindo, acabara de receber uma mensagem de Mel, avisando que tinham sido convidadas para jantar com os pais dela logo mais – o primeiro passo a dar é conversar, conta o que está sentindo, seja sincera, o tempo se encarregará do resto. – Levantou, beijou o rosto da amiga: – Preciso ir, vou jantar com meus sogros.
– Tudo bem, já te aluguei demais mesmo. Além do mais, estou com visita em casa e já a deixei sozinha por bastante tempo. Muito obrigada por me ouvir, seguirei a sua sugestão.
A professora parecia bem melhor quando sua namorada chegou. Não demoraram muito para sair, era domingo e Valentina precisava voltar cedo para casa, pois teria uma cirurgia cedo na segunda.
Foram recebidas com a alegria de sempre por Sergio e Silvana. Conversavam animadamente na sala, com Mel envolta nos braços de Tina, quando ouviram alguém dizer:
– Então era por isso que queriam que eu fosse logo embora. A filhinha predileta veio visitar vocês com a namorada, – olhou para Melissa a desafiando com o olhar – ou será cunhada ainda, e ela não sabe.
Fim do capítulo
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