– Ora, ora, então a vadia da família resolveu dar o ar da sua graça. – Melissa falou com desdém, há muito vinha tentando um contato com a irmã sem uma resposta direta da mesma.

– Se tem alguma puta aqui, é você, Melissa. – Mônica rebateu ácida fazendo os pais a olharem boquiabertos.

– Mel, – a médica segurou seu braço – não vale a pena esse confronto – disse baixinho em seu ouvido.

– Se vai baixar o nível da conversa assim, melhor você ir embora.

– Caso tenha esquecido, tenho tanto direito de estar aqui quanto você. Também sou filha deles. – apontou para os pais.

– Já que vamos falar de direitos, vou direto ao ponto. Não ache que você vai ficar envenenando a minha relação a cada vez que me ver com a Tina. Eu confio nela, e embora tenha custado e até brigado com ela para aceitar a sua cafajestagem, hoje eu sei que você está muito longe de ser o exemplo de mulher que um dia eu pensei que fosse. E pode ter certeza, não acredito em mais nada que me disser. Para mim, você não passa de uma mentirosa mal caráter.

– Começou a namorar ontem e já está deixando a família de lado por conta da amada. Estão vendo mamãe e papai, o que a filhinha de vocês está fazendo, do que adiantou tanto sermão sobre família ter que ser sempre unida, se agora ela é a primeira a mostrar a desunião.

Silvana e Sérgio se olharam, por mais que fosse necessário, não queriam se intrometer naquela conversa, na verdade, por eles, aquela conversa continuaria a ser evitada como vinham fazendo. Mas sabiam que uma hora ou outra, as filhas se encontrariam, e devido ao "sangue no olho" de Mel, ela não deixaria a irmã escapar daquilo facilmente.

– Moni, essa é uma conversa que só compete a vocês. Estamos com visita, mostrem os bons modos que lhes ensinamos, e deixem essa conversa para outra hora, por favor.

– Sempre defendendo-a! – gargalhou. – É por isso que ela é assim, vocês vivem em defesa dela. Principalmente você, papai.

– Sua briga é comigo. Pode parar de fingimento, tanto eles quanto eu, já sabemos o que você aprontou com a Tina.

– Eu aprontei com ela? – Se fez de desentendida. – Até onde eu saiba, foi ela quem terminou comigo e teve o mal gosto de ficar com você. Se é que ela já não estava contigo, enquanto ainda fingia estar comigo.

– Ora, sua... – avançou sobre Moni, só não lhe desferiu uma bofetada porque a namorada foi mais rápida e conseguiu segurar-lhe a mão. – Lave a boca para falar de Tina. Ela é muito mais mulher que você.

– Chega, essa conversa já está indo longe demais. – Tina resolveu interferir – Pode parar de fingir, Mônica. Sua família já sabe as circunstâncias em que terminei a nossa relação, se é que aquilo poderia ser considerada relação.

– Você não... – colocou a mão na boca, olhando atentamente para cada um que estava ali, não podia ser, Valentina não tinha feito aquilo, era muito ousadia. – Quem você pensa que é para me expor de tal maneira, sempre soube que você era uma mulherzinha baixa, sem escrúpulos.

A pose de ofendida com certeza não lhe caiu bem, afinal, Silvana que estava mais próxima, deu-lhe uma bofetada tão violenta que a fez girar o rosto, ela não esperava tal atitude da mãe.

– Vamos parar de mentira. Fingimento não cabe mais aqui. Dá sua safadeza eu já sabia, mas que era dada a mentiras, isso é novidade para mim. "Não criei uma cobra para me picar", tenha muito cuidado quando abrir a boca para se referir a sua cunhada de agora em diante. Lembre-se que não foi ela quem você encontrou trans*ndo com outra.

– Mamãe, eu não...

A cortou instantaneamente: – Já sabemos, poupe seu fôlego. E não tente bater de frente com a sua irmã. Da próxima vez, a Tina pode não estar tão perto para evitar, e você vai levar a pior, sabe disso.

– Vocês sempre preferiram ela, mas ocultavam melhor. Agora resolveram escancarar a preferência de uma vez por todas.

– Engraçado, – ouviu-se a voz gélida de Sérgio inundar o ambiente – sua mãe sempre me disse que isso poderia acontecer um dia, mas, eu nunca liguei. E agora estou vendo você totalmente errada, querendo sair como a certa da situação. Não te reconheço mais, filha. É mesmo minha culpa essa sua falta de caráter, ou você acha isso bonito? Não entendo esse seu comportamento. Se conforme, a Tina nunca te amou, era visível quando vocês estavam juntas, e você sabia, sabia tão bem, que inventou aquele papo de casamento do nada, aqui na nossa frente, pois sabia que ela não teria como fugir. – Tina o olhou surpresa, enquanto ele continuava: – Ela não disse nada, mas eu percebi todo o desconforto dela, quando você falou que iam casar. – Olhou para Mônica que estava com os olhos marejados: – Você também não sentia nada mais que atração por ela, e só queria mostrar a Mel, que tinha conseguido o que ela não tinha tido coragem de fazer. Mas acabou, deixe sua irmã ser feliz. Da porta da nossa casa para fora você pode fazer o que quiser da sua vida. Mas, aqui dentro, eu exijo respeito de todos que aqui estiverem. Espero não precisar voltar a esse assunto uma outra vez, disputa de egos não vale a pena, e só irá afastar mais vocês. Lembrem-se, vocês são irmãs, sempre foram unidas e se amam muito. Não deixem que um mal passo de uma, atrapalhe ou até mesmo acabe a relação de vocês.

– Bom, sei que o clima está um tanto quanto tenso, – respirou fundo e deu um sorriso largo – mas, vamos jantar! Moni, você vai se juntar a nós?

– Não, mãe. Um outro dia quem sabe. Preciso ir. Boa noite a todos.
Mônica saiu a passos largos, deixando os presentes pensativos por alguns segundos.

Sérgio tratou de contar algumas piadas para mudar o clima pesado que tinha ficado após a conversa, depois de um tempo nem parecia que aquela conversa tensa tinha acontecido ali, eles riam e brincavam animadamente. As meninas saíram de lá combinando de marcarem uma data para conhecerem os pais de Tina.

– Tá tudo bem? – Melissa perguntou ao estacionar na porta da casa de Tina.

– Tá sim, eu só quero ir pra casa. Estou cansada, além do mais, amanhã acordo cedo.

Beijou a amada e ainda em seus braços perguntou: – Tem certeza que o motivo da sua seriedade é só esse?

– Unhun, não quero te acordar no meio da madrugada.

Apesar de saber que parte daquela seriedade se devia a conversa indigesta de mais cedo, preferiu não insistir na abordagem. Afinal, conhecia a namorada bem demais, para saber que não conseguiria fazê-la falar naquele momento. A deixou em casa e seguiu para a sua.

Depois de um banho demorado se jogou na cama, repassando toda a conversa que teve com a irmã, perguntando em que momento Moni tinha se tornado aquela pessoa tão estranha para si.

Pegou o celular na cabeceira da cama e mandou uma mensagem para ela, marcando um encontro em um local neutro. Sabia que enquanto não resolvesse aquela situação, não ficaria bem. Enviou uma mensagem de boa noite para Tina, sem resposta, e logo adormeceu.

Na manhã seguinte encontrou uma mensagem da namorada no celular:

“Sei que fui uma péssima companhia ontem a noite, é que nunca imaginei estar em uma situação como a que estamos agora. Jamais quis abalar sua relação com a Moni, pelo contrário. Não faço ideia se nossa relação vai dar certo, quero muito que dê, mas, como saber, não é mesmo! Me desculpe pelo transtorno, não tive intenção de dar tanto trabalho assim. Bom, é isso. Nem sei se entendeu o que quis dizer, rsrs, afinal, nem eu mesmo sei o que quis dizer ao certo.

Tenha um ótimo dia, amo você.

Ao terminar a leitura da mensagem, Melissa tinha um sorriso largo no rosto. Tina acabara de dizer que a amava, a alegria não cabia em seu peito, queria ligar para ela, ou melhor, queria encontrá-la pessoalmente e dizer que a amava também. Mas passava das 8h e com certeza ela já estava trabalhando. Não tinha problema, mandou uma mensagem pedindo para Tina avisar quando saísse do hospital. Estava animada, tinha certeza que seu dia seria maravilhoso.

Fim do capítulo