CapÃtulo 39
Capítulo 39
O mês passou com uma velocidade que nem mesmo Carolina poderia acreditar. Teve muitas pacientes, dela e de Jéssica para atender e quando menos esperava, chegou de manhã para trabalhar e viu Jéssica em seu consultório.
- Ué, já chegou? Como foi de viagem? - disse Carolina tentando demonstrar que estava tudo bem, mesmo estando chateada com Jéssica por ter escondido dela as informações sobre Giovanna.
- Oi amiga! Cheguei sim! Foi maravilhoso, os pequenos amaram a Disney. Trouxe um presente para você! - Entregou um embrulho para Carolina que o recebeu e ficou feliz com a recordação da amiga.
- Me conta Carol, como foram as coisas aqui? - Jéssica perguntava dando outro abraço em Carolina.
- Foi tudo bem! Nossa, muito corrido, mas bem! Trabalhei muito. Logo eu é que vou tirar férias, viu? - Carol retribuiu o abraço da amiga.
- Claro! Você está precisando mesmo! Quanto tempo não tira férias? Uns dois anos ou mais, eu acho! - Jéssica parou pra firmar a memória.
- É mesmo! Acho que por aí! Bom, depois eu vejo! Vou ver uns papéis no meu consultório. Jé, tudo está em ordem aí. Qualquer dúvida me chama.
Carolina saiu do consultório de Jéssica e ao se virar rapidamente para olhar uma paciente que a chamou, sentiu tontura quase caindo, tendo que se apoiar na parede para não vir ao chão. A recepcionista e a enfermeira foram ao seu encontro rapidamente a auxiliando. Levaram-na para um consultório, deitando-a na maca, logo Jéssica entrou com a expressão preocupada e a examinou.
- Carol, o que foi? - Jéssica viu a amiga pálida e fria.
- Acho que minha pressão caiu! - Carolina disse mais feliz do que precisaria estar para transmitir aquela informação.
Jéssica olhou o rosto feliz da amiga e não compreendeu. - Vou aferir! - Jéssica pegou o aparelho e constatou que realmente a pressão de Carolina, havia baixado consideravelmente para o que era considerado "normal". - Nossa Carol, você tomou café da manhã? - Jéssica perguntou estranhando a pressão dela estar tão baixa.
- Putz, não! Acho que é isso! - Carolina deu um pequeno tapinha na testa e se lembrou que realmente não havia se alimentado. - Jé, pede um suco pra mim com um lanche natural!
- Acho melhor uma medicação para a pressão e depois a comida. - Jéssica disse preocupada.
- Não! Não vou tomar medicação. - Carolina respondeu rapidamente, deixando Jéssica intrigada.
- E porque não? - Jéssica fez um olhar estranho.
- Porque prefiro a comida que é menos agressiva e logo fico bem. - Disse disfarçando.
Assim que Jéssica saiu Carolina voltou a sorrir. Poderia ter passado mal por não ter tomado café ainda, mas muitos dias fazia isso e nunca havia sentido tonturas.
Ela se alimentou com suco e um lanche natural e após uma hora deitada na maca se sentiu melhor e voltou para sua sala.
No final da tarde ela terminou de consultar sua última paciente, ligou na recepção e pediu para chamar uma das enfermeiras e perguntou.
- Carmem, os exames de sangue da tarde para testes de gravidez já foram para o laboratório?
- Não doutora! O Felipe vai levar daqui a vinte minutos, por que?
- Pega então um kit e vem aqui! - Carolina pediu. Recebendo um sorriso da senhora, que era uma das melhores enfermeiras e trabalhava com ela há nove anos, desde que as amigas abriram a clínica.
- Não acredito doutora! A senhora acha que pode estar grávida? - Perguntou muito feliz.
- Xiuuu!!!... Carmem quero que fique só entre nós duas por enquanto. Só confio em você! Só vou contar para as pessoas, quando tiver certeza amanhã. - Disse rindo.
- Claro doutora Carolina, pode confiar em mim. Não vou dizer nada. A senhora terá a honra de comunicar a todos. Tenho certeza, que todas as meninas aqui vão ficar muito felizes! Vou pegar o kit e já venho. - Carmem ia sair quando Carolina a chamou novamente.
- Carmem com discrição, por favor. Não saia afobada. - Carolina pediu seriamente.
Carmem atendeu e retornou com a agulha, o garrote e os frascos para coleta. Colocou a agulha na veia do braço de Carolina e acoplou o frasco e este se encheu de sangue. Realizou o mesmo procedimento com o outro. E colocou um algodão higienizado no local. Saiu carregando os frascos, que identificou e colocou junto ao lote, que foi levado ao laboratório de análise.
Naquela noite Carolina iria para a reunião na casa de Jéssica comemorar o retorno das férias e rever os amigos. Ela chegou em casa, tomou banho e se trocou, o sorriso em seus lábios não a abandonava. Só de pensar que poderia ter dado certo a inseminação e ela realmente estar grávida de um filho de Giovanna a deixou nas nuvens.
Quando chegou ao apartamento de Jéssica, todos já estavam no local e estranharam Carolina estar sorridente e radiante, como há meses não viam. Alguns estavam curiosos, mas não quiseram interromper o momento.
Vanessa, filha de Gláucia e Jaqueline e a pequena Luiza eram só mimos dos tios, como todos se denominavam. A família era grande, Bernardo, Jéssica, os quatro filhos, Virginia, Marta, Gláucia, Jaqueline, Bianca, Simone, Leandro, Rômulo e Carolina. Todos eram dindos como eles diziam. A festa foi agradável. Os pequenos de Jéssica entregaram presentes que trouxeram para os tios e brincaram muito.
Jaqueline se afastou para trocar Vanessa no quarto. E Carol estava usando o banheiro da suíte. Assim que Carolina saiu do banheiro e sentiu o cheiro da caca da bebê, voltou correndo para o banheiro, passando mal e vomitando.
Jaqueline terminou rapidamente de trocar a criança e chamou Jéssica.
- Jé, a Carol está passando mal, lá no seu banheiro!
Jéssica se preocupou, afinal Carolina já havia passado mal durante o dia. Quando chegou ao quarto, bateu suavemente na porta do banheiro.
- Carol, você está bem?
Carolina abriu a porta vermelha e com o rosto ainda molhado, que havia acabado de lavar.
- Não Jé, acho que algo não me caiu bem!
- Quer deitar um pouco? - Disse pegando a toalha de rosto e enxugando o rosto da amiga.
- Não! Vou para casa. Você se importa se eu sair mais cedo? - Carolina fez uma expressão cansada.
- Eu ficaria mais tranquila se você dormisse aqui! Sua pressão caiu muito hoje e agora esse vômito. Ou então vamos para um hospital e você faz alguns exames. O que acha? - Jéssica falava calmamente.
- Não Jé. Não se preocupe. Só preciso tomar um banho e deitar. Amanhã se não estiver me sentindo bem, aí te chamo para irmos a algum hospital. Se passar mal à noite eu te ligo! - Carolina começou a sentir novos enjôos e correu ao vaso sanitário.
Jéssica ajudou a amiga com os cabelos e ficou perto dela até ela estar se sentindo melhor. Caminharam lentamente entre os presentes e Carolina se despediu de todos com o rosto cansado, mas negou-se a ficar ou receber carona deixando Jéssica com uma dúvida no ar e todos preocupados com a amiga.
Carolina chegou em casa, tomou banho, passou mal mais duas vezes até que os enjôos pararam. Tomou mais um banho, escovou os dentes e deitou. Nesse momento uma lágrima involuntária desceu pela lateral do olho.
- Gio, queria tanto você cuidando de mim, agora! - Ela disse para si mesma e mais lágrimas desceram. Vencida pelo cansaço, adormeceu.
Chegou a clínica no dia seguinte, atendeu algumas pacientes e mesmo sobre insistência de Jéssica, que a classificou como estando péssima, recusou ir ao hospital.
No começo da tarde ouviu um som de batidas na porta e assim que pediu para a pessoa entrar, viu Carmem sorrindo e sacudindo um envelope. Carolina retribuiu o sorriso, levantou e pediu para Carmem se aproximar e fechar a porta. Viu a expressão de angústia da amiga e por ela ter sido tão prestativa, resolveu abrir o envelope e partilhar com ela o resultado. Assim que abriu e viu a palavra: POSITIVO. Carolina deu um grito e abraçou Carmem pulando.
Ao ouvirem os gritinhos, todos da clínica que estavam próximos, inclusive Jéssica foram para o consultório de Carolina e abriram a porta exasperados, por pensarem ser algo grave. Eles entraram e viram as mulheres gritando, rindo, se abraçando e pulando. As duas ficaram com vergonha e pararam sob os olhares curiosos de vários funcionários. Carolina agradeceu Carmem e todos se dissiparam. Apenas Jéssica permaneceu no mesmo local, sem se abalar com a saída dos outros. Assim que se viu a sós com Carolina, fechou a porta.
- Carolina, o que está acontecendo? - Jéssica perguntava em um misto de curiosidade e brava por ter achado que era algo ruim e depois ver a cena de brincadeira da sócia com a funcionária.
- Isso! - Carolina entregou o exame para Jéssica que após ler deu um gritinho e correu para abraçar a amiga e começaram a pular juntas.
Quando pararam, Jéssica olhou novamente o documento e perguntou curiosa.
- Quatro semanas?
- Sim! - Carolina era só sorrisos e lágrimas de alegria que desciam pela face.
- Mas... mas... quero dizer, eu... não sei como perguntar isso à você! - Jéssica tentava achar a palavra certa.
Carolina apenas a observava com as sobrancelhas erguidas, esperando a pergunta que sabia que todos fariam.
- Você... você... voltou à... ãhhh... quero dizer. Aiim... bom Carol, vou dizer na lata! Você voltou a trans*r com homens? - Jéssica perguntou e suspirou pela falta de tato.
- Logo você dona Jéssica Diniz? Toda discreta, que nem conta nada da vida de ninguém. Me perguntando isso? Nossa, deve estar curiosa mesmo! - Carolina brincava com Jéssica e sorria ao ver o rosto da amiga ficando vermelho.
- Ai Carol, eu sou discreta, mas nesse caso não tenho como não perguntar. - Jéssica revirava as próprias mãos, nervosa.
- Tá bom! Eu vou responder. Eu fiz inseminação, consegui um doador. - Disse Carolina calmamente.
- Quem é? É algum amigo nosso? - Perguntou Jéssica sorrindo na esperança que a resposta fosse ou Leandro ou Rômulo.
- Não! Vocês não conhecem! Ele só doou mesmo! - Carolina disse e se sentou.
- Entendi! Mas você vai criar a criança sozinha? - Jéssica mostrava-se abalada.
- Claro! Sempre quis ser mãe, tenho trinta e três anos e resolvi realizar meu sonho! - Carolina começava a ficar sem paciência. Detestava ter que mentir e ainda mais para Jéssica.
- Tá certo! Você sabe que o que precisar estarei aqui para te apoiar. - Jéssica sorriu amavelmente para a amiga. Quebrando as barreiras de Carolina, que se levantou e abraçou a amiga. Começando a chorar. - Eu sei Jé! Obrigada minha amiga! - Carolina queria que aquelas palavras fossem de outra pessoa que não poderia mais dizê-las.
Fim do capítulo
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