Demorou, mas saiu. kkkkkkkkkkkkk
Capítulo 25 - Você não está sozinha
Capítulo 25 – Você não está sozinha
Pov Lia
O coração de Lia falhou uma batida e sentiu um arrepio forte perpassar por todo o seu corpo. Não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Não estava processando direito. Liz queria que ela lesse aquela carta? A carta com as últimas palavras de seu pai para ela?
A emoção lhe tomou profundamente. Sua rockeira estava se mostrando de todas as formas, muito mais do que sempre imaginara, mas naquele momento, não se sentia merecedora de tanto. Talvez fosse o peso na consciência por tê-la feito sofrer nas últimas semanas quando tudo o que ela precisava era de colo e compreensão.
— Você tem certeza disso? — Perguntou aproximando-se e fazendo carinho em sua face.
— Eu não vou conseguir fazer isso sozinha e nem com mais ninguém, só com você.
Lia percebeu que ela falava com muita sinceridade e parecia temerosa ao mesmo tempo.
— Ok. — Lia respondeu e olhou para o envelope em sua mão.
Ele estava lacrado. Abriu-o com cuidado e retirou a carta lá de dentro. Não era um papel muito grande e certamente não parecia haver muitas coisas escritas nele. Ouviu quando Liz prendeu a respiração. Desdobrou o papel com cuidado e analisou a letra bem desenhada. Nervosa e com o coração acelerado, limpou a garganta e começou a ler pausadamente:
— “Flor-de-Lis...”
Ao ler apenas isso percebeu que ela soltou um suspirou, balançou a cabeça em negação e cobriu a boca com a mão, já parecia a ponto de chorar. Lia parou de ler por um minuto.
— Tudo bem? — perguntou carinhosamente e afagou as costas dela.
— Era assim que ele e minha mãe me chamavam. — explicou e balançou a cabeça mais uma vez. — Velho idiota!
Percebeu a raiva, a dor e a revolta em seu tom de voz. Não seria fácil para ela ler seja lá qual fosse o conteúdo deixado.
— Você quer que eu continue?
— Sim, por favor.
Lia voltou para a carta e leu tudo sem mais interrupções:
“Flor-de-Lis
Se você estiver lendo esta carta, quer dizer que eu não fui forte o suficiente para resistir a toda a dor e toda a escuridão que vem me consumindo durante tanto tempo. Estes últimos anos não foram nada fáceis e sei que venho conseguindo me manter são pelo amor que tenho a você. Sei que é apenas a minha criança, o meu bebê inocente e por isso eu não quero que leia isto tão cedo em sua vida.
Estou escrevendo essas coisas com minha última gota restante de sanidade. Essa dor não passa nunca. Tudo o que aconteceu, toda a nossa perda inestimável, enfim, tudo me abalou muito mais do que eu gostaria de admitir. Eu juro que tenho tentado, mas não estou conseguindo. Me sinto fraco, envergonhado por desistir de tudo, principalmente de você, o resto nada mais me importa. Por favor, do fundo do meu coração, me perdoe!
Sei que o que estou prestes a fazer não tem desculpas ou qualquer justificativa explicável. O meu amor por você, minha filha tão adorada, é muito grande, mas a dor que sinto e esses sentimentos obscuros me dominam fortemente. Sempre que acho que estou bem, essas paranoias surgem em minha mente e está ficando cada vez mais difícil de controlar isto.
Eu deveria ter ido para aquela reunião no lugar dela. Eu! Fico pensando nas coisas que eu poderia ter feito para evitar isso e não consegui. Não consegui proteger a vida dos dois. Nada no mundo irá superar a culpa que venho carregando desde então.
Juro que não quero te machucar, mas esta dor precisa ser parada e só consigo ver um jeito, uma saída para isso. Talvez você possa me entender um dia talvez. Você sabe do amor enorme que eu sempre senti pela sua mãe e perde-la junto de nosso garoto me abalou demais.
Sinto muito te deixar dessa forma cruel, mas eu sei que ficará melhor sem mim. Não serei mais um peso na sua vida, quero que se dedique apenas a você, minha garota linda. Sei o quanto é doce e delicada e vem me ajudando de todas as formas, tentando ser alguém tão madura para a sua idade. Eu não quero que sofra pelo meu ato egoísta e inconsequente, mas sei que não tem outro jeito.
Só quero que saiba o quanto eu te amo e que você sempre foi o meu primeiro pensamento ao acordar e ficará comigo até o meu último suspiro.
Tenho certeza que você irá tomar conta da empresa muito bem ao lado da sua tia. Este é o meu maior desejo e sei que irá se sair tão bem e será tão incrível nisso quanto Elena foi um dia. É uma sorte que você tenha puxado a força dela e é isso que me consola a todo momento.
Continue firme e forte. Eu acredito em você e em todo o seu potencial.
Beijos, papai.
P.S: Foi aos 21 que eu conheci a sua mãe e espero que nessa idade já tenha encontrado uma pessoa tão maravilhosa para você, assim como ela foi para mim.”
O coração de Lia ficou apertado, se sentia pesada naquele momento, a carta e as palavras que acabara de ler haviam lhe passado uma energia estranha. Teve vontade de chorar mais uma vez. Como uma pessoa assim tão consciente poderia ter feito algo daquele tipo? Suspirou fundo, olhou para o lado e viu que Liz chorava baixinho. Foi até ela e a abraçou, que se deixou levar pelo carinho.
— É tudo culpa minha... é tudo culpa minha... é tudo culpa minha.
Liz sussurrava aquilo sem parar e Lia ficou sem entender. Como ela poderia estar se culpando por isso? Não fazia o menor sentido. Por que ela estava colocando a culpa de tudo sobre si? O pai dela também havia se culpado daquela forma. Em poucos segundos a percepção de tudo o que estava acontecendo bateu forte. Liz era extremamente marcada pela culpa também e naquele momento, preocupou-se com as consequências que aquilo poderia ter na vida dela.
Lia a apertou contra o seu corpo e quase chorava com tudo o que sentia. No entanto, não era aquilo que ela precisava e sabia muito bem disso. O corpo dela balançava com os soluços de choro e desespero. Precisava fazer alguma coisa, não aguentava mais vê-la sofrendo tanto.
— Liz! — Chamou firmemente enquanto segurava o seu rosto fazendo-a lhe encarar. — Olha para mim, por favor!
Liz a encarou depois de alguns segundos e assim que olhou fundo em seus olhos, voltou a falar:
— Isso não é culpa sua. — Lia tentava passar toda a sinceridade em suas palavras. Precisava fazê-la entender.
— É sim. Vivi estava certa, eu não passo de uma egoísta. Sempre fui.
— Todos erram, Liz. É natural. Mas você não tem culpa de nada. Como poderia ter evitado isso? Não viu o que ele disse? Era a dor que ele carregava...
— Se tivesse continuado em casa, tomando conta dele... — Ela não conseguiu prosseguir devido o choro. — Se eu não tivesse brigado com ele, sei que ainda estaria vivo.
Lia a acolheu calorosamente entre seus braços e a consolou por alguns minutos. Estava angustiada, sabia que aquele era um processo doloroso demais e não haviam atalhos. Ainda não entendia como ela havia ficado com aquilo trancado dentro de si por tanto tempo.
Então era isso! Ela realmente se culpava pela morte do pai e na sua cabeça existia uma desculpa plausível para se sentir assim. Por isso ela fugia de tudo, para não sentir, mas isso era impossível. Ficou pensando no que poderia fazer para que ela entendesse que não era culpada por aquilo ter acontecido.
— Eu sou fraca igual a ele. — declarou fragilizada e ainda chorando.
Aquilo assustou Lia. Esse lado vulnerável dela a estava tirando de órbita. Seu peito explodia em emoções, parecia que não conseguiria aguentar sentir tantas coisas em um só momento. Não tinha mais o controle sobre os seus sentidos, apenas queria lhe passar tudo o que estava sentindo. Assim que a sentiu mais controlada, ajoelhou-se na cama e sentou sobre as pernas dela, abraçando-a e fazendo-a lhe encarar com atenção.
— Isso não é culpa sua, Liz. — Falou de modo firme. — Você era uma criança, não se martirize tanto. Ele foi fraco sim, tinha os seus motivos. Não carregue um fardo que não é seu.
Aquilo a fez se calar. Ela tinha os lábios entreabertos. O peito de Lia subia e descia rapidamente com a respiração ofegante, seu coração disparava freneticamente enquanto sentia o abraço firme dela em sua cintura. Com os olhos fechados sentia a respiração da outra tocar sua face. Queria apenas beijá-la, mas quando buscou os lábios dela com os seus, ela se afastou rapidamente.
— Não quero que tenha pena de mim! — Liz falou seriamente, lhe encarando.
Lia ficou estática por alguns poucos segundos. Ela não podia ficar pensando esse disparate, a última coisa que sentia por ela era pena e precisava esclarecer isso. Queria muito falar sobre os seus sentimentos, mas aquele não era o momento. Sustentando o seu olhar triste e aborrecido, tomou mais uma vez o rosto dela em suas mãos.
— Eu não tenho pena de você. — Conseguia sentir as batidas do seu coração. Estava nervosa e ao mesmo tempo mais certa do que nunca. — Você é tão importante para mim. Eu só quero te ajudar. Cuidar de você. Liz, por favor!
— Você tem certeza que ainda quer ficar com uma pessoa feito eu? Louca? — Ela falava descrente.
— Só você aguenta o meu mau humor. — declarou enquanto limpava os resquícios de lágrimas da face dela e ficou feliz quando a viu abrir um sorriso espontâneo e solto. Amava aquele sorriso.
— Você é minha irritadinha. — Liz a abraçou apertado. — Só minha! Não vou deixar você ficar com mais ninguém.
— Eu não sou de mais ninguém, minha rockeira rebelde. Sou louca por você. Não quero outra pessoa.
Mesmo que não tivesse falado tudo o que queria, sabia que se entendiam através dos olhares. Apesar todo o drama e do peso de alguns minutos atrás, estavam envoltas em uma áurea diferente. Ali, nos braços de Liz e sentada sobre o colo dela, sentindo o calor de seu corpo, nada mais importava.
Elas foram aproximando os rostos, fecharam os olhos e delicadamente os lábios se tocaram em um beijo manso e terno. Lia arrepiou-se com o contato morno e macio, o cheiro forte e quente dela a envolveu completamente e naquele momento, soube que enfrentaria qualquer coisa por ela e por tudo o que estava sentindo naquele momento.
Quando cessaram o beijo, Lia acariciou a face dela ternamente e disse:
— Você não está sozinha. Estou aqui com você. Sempre estarei.
Liz a olhou emocionada. Percebeu que ela quis falar algo, mas pareceu desistir e voltou a procurar os seus lábios vorazmente. Lia sentiu seu corpo aquecer enquanto correspondia o beijo com todo o desejo e saudade dentro de si. Ainda haviam tantas coisas que gostaria de saber, mas a carga emocional de Liz já havia sido testada o bastante por aquele dia, apenas queria vê-la bem.
— Obrigada por ter vindo! — Liz agradeceu de forma sincera.
— Eu que agradeço por ter confiado em mim. — Estava fragilizada. Liz sempre tinha a capacidade de tocá-la profundamente com tudo o que fazia. Tudo com ela era sempre intenso.
— Desculpe meter você nessa confusão que é a minha vida...
— Shiiiiu! — Sussurrou sobre os lados dela. — Eu adoro a sua confusão, Lisandra. Você sabe disso. Eu estou aqui porque eu quero estar, ok? Porque eu me importo com você.
— Tudo sempre é diferente com você.
Elas se abraçaram fortemente e ficaram daquela forma por um longo tempo. Nada mais importava quando estava nos braços dela e se tudo dependesse de Lia, nunca mais sairia do abraço quente e protetor dela. Amava o modo como ela a fazia se sentir e não ficaria mais sem isso.
Liz foi a deitando na cama, ficando sobre ela. Apesar de conseguirem sentir toda a saudade e desejo um na outra, estavam fragilizadas emocionalmente para qualquer coisa naquele momento, então acolheu a cabeça dela sobre o seu peito e ficou a lhe fazer cafuné até senti-la ressonar. Tinha sempre uma satisfação em saber que conseguia acalmá-la. Uma paz súbita pareceu lhes envolver.
Já começava a escurecer e o vento que entrava pela janela, arejava o quarto o deixando mais aconchegante. Depois de passar vários minutos a observando dormir, o cansaço bateu e acabou por cochilar também...
***
Lia acordou de súbito. Ajeitou os óculos que estavam tortos em sua face e observou o ambiente ao redor. O quarto estava meio iluminado pela luz do luar que entrava pela janela e pela luz do abajur ao lado da cama. Liz estava deitada ao seu lado ainda adormecida e tinha um braço a enlaçando pela cintura.
Sentiu que alguém chacoalhou o seu braço de leve e assustou-se com isso. Quando olhou para o lado viu uma mulher altiva de cabelos castanhos e com uns poucos fios grisalhos as observar ternamente. Ela usava roupas sociais e estava sentada em uma cadeira.
Teve certeza que era a tia dela, Luísa, pois era muito parecida com Liz. Ela lhe sorriu cúmplice e colocou o indicador sobre os lábios pedindo silêncio, depois se pôs de pé e a chamou com um leve aceno de cabeça.
Lia sentiu-se nervosa subitamente. Não era bem daquela maneira que havia se imaginado sendo apresentada a ela. Olhou para o lado e ainda pensou em acordar Liz, mas ela parecia dormir tão pesado e tinha uma expressão tão serena na face que não teve coragem. Suspirou tentando criar coragem, retirou o braço dela sobre si e afastou-se lentamente. Ela ainda se remexeu um pouco, mas não despertou.
A mulher foi até a bandeja que tinha o lanche das duas há muito esquecido e encaminhou-se para a porta. Lia em seguida saiu atrás dela pelo amplo corredor. Assim que chegaram próximas à escada, se ofereceu para carregar as coisas.
— Pode deixar que eu levo para a senhora.
— Ah. — Luísa sorriu simpática e lhe entregou a bandeja que estava pesada. — Muito obrigada, querida.
— Por nada!
Lia se sentia extremamente desconcertada enquanto desciam a escada em silêncio. Silvia as encontrou ao pé da escada e prontamente pegou o lanche de suas mãos.
— Vocês não comeram nada?
— Acho que não surgiu oportunidade, Silvia. — Luísa respondeu paciente e olhou para Lia. — Por aqui, por favor!
Seguiu-a mais uma vez até a ampla sala de estar e se acomodaram no imenso sofá branco uma ao lado da outra. A mais velha cruzou as pernas com elegância e a olhou em seguida, estendendo a mão.
— Eu sou a Luísa, tia da Lisandra. — Nervosa, Lia apertou a mão dela com educação. — Você é a Liana, não é?
Ficou surpresa por um momento. Não imaginava que ela soubesse de sua existência e ficou feliz. Queria dizer que Liz já havia falado dela.
— Sim, senhora. Eu mesma. Muito prazer.
— Pode me chamar apenas de Luísa.
Inexplicavelmente, sentiu-se à vontade com ela já que nunca foi boa em fazer amizade fácil com alguém que acabava de conhecer. Luísa tinha um olhar terno e verdadeiro.
— Ok.
— Liz me falou de você da última vez que esteve aqui. — explicou ao vê-la surpresa. — Ela nunca me falou sobre ninguém antes. Fiquei até emocionada. É uma felicidade conhecer você assim tão cedo.
— É uma felicidade conhecer a senhora, também... quer dizer, você. — Estava muito nervosa e Luísa pareceu perceber isso.
— Está tudo bem, querida. Sei que não fomos devidamente apresentadas, mas eu estava muito curiosa.
— Liz me chamou para vir tão em cima da hora e não me disse nem para onde estávamos indo.
— Não se preocupe. — Tranquilizou-a de forma paciente. — Eu sei como a minha sobrinha é. De fato, eu fiquei preocupada quando ela me ligou mais cedo, dizendo que precisava do jatinho com urgência. O que aconteceu?
Lia ficou meio incerta. Com Liz tudo era tão complicado que não sabia se poderia falar algo sobre a conversa das duas, mas imaginou que, com certeza, não tinha muito o que esconder de sua própria tia, então arriscou.
— Ela queria ler a carta. — disse e passou a analisar a sua reação.
— E ela leu? — Luísa pareceu espantada e preocupada. — Ela conseguiu?
— Na verdade ela pediu que eu a lesse em voz alta. — falou triste ao lembrar do momento. Estava incerta, não queria parecer uma metida.
— Você leu a carta para ela? — A mais velha parecia ainda mais chocada com a informação e levou a mão até a boca. — Meu Deus! Ela deve gostar e confiar muito em você.
Ficou feliz em escutar aquilo. Sua rockeira já havia lhe dito que nunca se apaixonara ou se envolvera com alguém sério antes e constatar isso vindo de alguém tão próxima a ela e que a conhecia bem, lhe deixou com o estômago cheio daqueles clichês sobre borboletas.
— Bem... — Começou timidamente. — Estamos nos estendendo ainda.
— Ah! Ela disse mesmo que teria problemas com você por ter sumido. Foi tudo tão confuso naquele dia. Ela ficou muito mal.
Sentiu um aperto no peito. Elas ainda não haviam acertado tudo, ou assim imaginava. No entanto, podia imaginar como aquele baque havia lhe atingido com tanta força. Mais uma vez se sentiu péssima por ter negado o apoio que ela tanto precisava.
— Ela me contou tudo hoje à tarde.
— Ela conversou com você? – Luísa ainda continuava demonstrando surpresa com o que dizia. — O que ela disse?
— Ela falou sobre o acidente da mãe, que ela estava grávida e a depressão do pai nos anos seguintes, até...
Lia suspirou com pesar. Não tinha coragem de repetir ou ao menos falar o nome daquilo que ele havia feito.
— O suicídio?
— Sim. Ela contou tudo.
Viu quando a mais velha soltou um longo suspiro e fechou os olhos por alguns poucos segundos. Quando os abriu, uma lágrima tocou sua face delicada e levemente enrugada.
— Eu não acredito que ela finalmente se abriu com alguém. — Limpou a lágrima com rapidez e sorriu, disfarçando a emoção. – Fico feliz que Lisandra tenha encontrado alguém para compartilhar isso.
— Eu também fiquei muito feliz por ela ter confiado em mim.
— Então suponho que está tudo bem entre vocês, não é?
— Está sim. — Lia não pode deixar de sorrir. — Não conversamos ainda sobre nós, mas posso dizer que estamos bem. — Logo lembrou de tudo que aconteceu pela tarde e a angústia que sentia. — Só fico muito preocupada com ela. Muito mesmo.
— Entendo. Já passei muito por isso. Pelo menos com você ela se abriu. Foi uma proeza que eu nunca consegui.
— É. Ao menos agora ela conseguiu tirar tudo isso de dentro de si. Estou muito preocupada com essa culpa que ela carrega. — Lia tinha medo de estar falando demais, mas sentia que podia confiar em Luísa. Ela realmente parecia se importar com Liz.
— Culpa? — A mais velha pareceu confusa e franziu o cenho. — Como assim?
— Ela acha que a culpa é dela pelo pai ter se matado e isso me deixa preocupada.
— Eu não estou entendendo. O que havia nessa carta, afinal?
Já não sabia se era certo seguir com aquela conversa e revelar os segredos de sua rockeira. Segredos estes, que ela havia demorado tanto tempo para lhe contar e não queria quebrar sua confiança. O assunto era íntimo demais e somente ela tinha o direito de dizer qualquer coisa.
— Dona Luísa. — disse educadamente. — Desculpe, mas eu acho que o mais correto seria a senhora conversar diretamente com ela.
Percebeu quando a mais velha afundou mais ainda no sofá e deu de ombros. Ela balançou a cabeça de leve e concordou com Lia.
— É, você tem razão. Se bem que eu nem sei se ela falará comigo sobre isso. Já me deixa aliviada que ela finalmente lhe contou tudo. Posso dizer, com certeza, que você é muito especial para ela.
— Ela também é muito especial para mim. — declarou emotiva.
Luísa a encarou emocionada e antes que pudessem falar alguma coisa, ouviram a voz de Liz que descia as escadas.
— Estou vendo que já se conheceram.
Lia não conseguiu desviar o olhar do dela. Observou que seus olhos ainda estavam um pouco avermelhados, mas tinha uma expressão leve e serena no rosto. As duas se olharam e sorriram cúmplices. Luísa levantou do sofá e foi até ela, lhe envolvendo em um caloroso abraço. O coração de Lia aqueceu com a cena. As duas pareciam se gostar muito.
— Que bom ter você aqui de volta tão cedo, querida.
— Não é para tanto. Estou sempre por aqui.
— Sabe que isso não é verdade. — Luísa falou risonha e a analisou bem. — Andou chorando, minha menina rebelde?
— Só um pouco, já passou. — disse tentando disfarçar.
— Você está bem? — Ela parecia verdadeiramente preocupada.
— Na verdade estou melhor do que eu imaginava. — Respondeu e quebrou o contato, parecendo levemente incomodada. — Depois falamos sobre isso, tudo bem?
— Tem razão. Venha se sentar com a gente.
As duas se aproximaram de onde Lia estava e Liz sentou-se ao seu lado, a envolvendo em um abraço e beijando sua face, enquanto Luísa sentava em uma poltrona de frente para as duas.
— Fiquei assustada quando acordei e não te vi. — Liz sussurrou.
— Assustada por quê?
— Sei lá. Talvez tivesse ido embora.
— Eu jamais faria isso. — Acariciou sua face com delicadeza, estava tímida por estarem na frente da tia dela.
As duas sorriram uma para outra, mas quebraram o contato logo. Quando olharam para frente, Luísa as olhava sorridente e a mesma falou:
— Como você estava dormindo eu tomei a liberdade de ir logo me apresentando a sua namorada e quero dizer que já gostei muito dela.
Lia sentiu a face arder de vergonha e alegria também. Liz apenas sorriu exultante ao seu lado.
— Bem, espero que não a tenha assustado.
As três sorriram. Liz e o seu bom humor pareciam estar de volta agora.
— Não se preocupe. Nos entendemos muito bem. — A mais velha disse ainda sorrindo. — Lia parece ser uma garota muito gentil e delicada. Fico feliz que tenha encontrado uma pessoa assim.
As duas sorriram ao lado uma da outra e Liz a olhou ternamente.
— Mesmo sendo uma irritadinha, tenho que admitir que ela é incrível.
Lia a olhou descrente. Não gostou nada daquilo. Luísa apenas sorriu.
— Obrigada pela parte que me toca.
— Estou brincando, minha linda. – Liz deu um beijinho em sua face e se sentiu corar mais uma vez.
— Já que estão aqui agora, venham jantar. Devem estar morrendo de fome. Nem mesmo lancharam pela tarde.
Lia ficou agradecida por isso, só naquele momento notou que sua barriga rondava desesperadamente. Elas foram até a sala de jantar e se sentaram na mesa enorme de vidro. Viu no relógio que já era quase nove da noite. As horas passaram que não sentiu.
Conversar com Luísa foi muito fácil. Ela era o tipo de mulher que mesmo sendo rica e tendo de tudo, era uma pessoa simples e de forte caráter, assim como Liz. Só agora que tinha noção do quanto ela era rica é que percebia sua simplicidade. Aquilo só confirmou mais ainda o quanto sua rockeira era maravilhosa.
Jantaram em um clima ameno de conversa. Luísa estava curiosa em saber como as duas haviam se conhecido e coisas do tipo.
— Então me contem como foi que vocês se conheceram.
As duas se olharam e acharam graça. Relembrar dos primeiros contatos eram lembranças muito boas.
— Nós nos vimos a primeira vez em um barzinho onde eu estava tocando. — Liz começou a contar, risonha. — Como estudamos no mesmo Campus tínhamos amigos em comum e a gente estava sempre se encontrando pelos lugares, mas ela não gostava de mim.
Lia ficou surpresa que ela ter dito isso, não queria causar uma má impressão em Luísa. No entanto, ficou mais tranquila quando viu a gargalhar junto de Liz, era incrível como as duas eram parecidas até no humor, talvez fosse um traço familiar que tinham. De alguma forma se sentia à vontade com ela também.
— Por que não, Lia? — perguntou ela, surpresa.
— Porque eu a achava exibida. Sei lá. — respondeu com sinceridade, como sempre.
— Hum. Ela com esse violão vivia se exibindo mesmo. Você não estava totalmente errada.
— Tia! — Liz exclamou contrariada. — Você deveria estar me defendendo, isso sim.
Agora foi a vez de Lia rir junto da tia dela. O clima estava leve de repente, o que era um pouco curioso devido a toda a emoção da tarde. Luísa declarou que estava cansada e que iria para o quarto. Lhes desejou boa noite e foi-se pelas escadas.
Liz a convidou para ficarem um pouco sentadas lá fora no jardim incrível que havia na frente da casa. A mansão era enorme, com certeza ainda havia muito o que ser explorado, pensou Lia.
A rockeira a fez sentar-se entre suas pernas e a abraçou por trás pela cintura.
— Então foi aqui que você morou?
— Foi aqui! — Liz pareceu pensar por um momento. — O que achou da minha tia?
— Ela parece ser incrível. Gostei dela. Vocês duas se parecem muito.
— Eu puxei mais para a família da minha mãe, ainda bem.
Lia sorriu com a resposta. Já sabia que ela não era muito chegada a família do pai.
— O que vocês tanto conversaram? — Voltou a perguntar curiosa.
— Eu disse que você me contou tudo e que li a carta para você. Ela está preocupada com você.
— Eu sempre só causo preocupação nela.
— Mas ela ama muito você. Percebi isso. Conversa com ela depois.
Liz suspirou pesadamente e concordou.
— Eu vou sim. Amanhã.
Sussurrou Liz em seu ouvido e depois começou a investigar sua nuca com o nariz e a boca. Imediatamente todo o corpo de Lia arrepiou. Sentia tanta falta das carícias dela. Já estava ficando com a respiração ofegante.
— Você tem um cheiro incrível, sabia?
— Você gosta? — perguntou virando o rosto para encará-la e repousou o rosto em seu ombro.
— Você sabe que sim. — Liz tocou sua face e foi se aproximando lentamente até que se beijassem.
Primeiro sentiu a maciez quente e gostosa dos lábios e se beijaram lenta e calorosamente por alguns segundos. Logo Liz já invadia a sua boca com a língua e sugava a sua com vontade. Sentiu quando as mãos dela entraram por baixo de sua blusa e alisaram a sua barriga e abdômen. Lia colocou um braço para trás e a pousou na nuca dela a puxou para si cada vez mais e intensificou o beijo.
O toque das mãos de Liz embaixo de sua blusa tirou todo o resquício de razão de sua mente e sentiu seu corpo quente com o toque tão familiar e gostoso que só ela tinha. Estava morrendo de saudades dela todinha e só conseguia pensar em se entregar de corpo e alma, mas mesmo com toda a vontade, sentia que ainda não era o momento.
Elas cessaram o beijo aos poucos e Liz repousou a testa na sua.
— Saudades de você, do seu carinho. — Liz sussurrou. Sua voz estava rouca.
— Eu também senti saudades. Muitas.
— Não quero mais ficar longe de você. Desculpe por todos os meus vacilos...
— Liz! Eu também não quero mais ficar longe de você. — falou sobre seus lábios.
— Eu tenho tanto medo. — confessou baixinho, parecendo envergonhada.
— Medo de quê?
— De ser fraca igual a ele. Por isso eu não queria me envolver. Eu nunca quis me apaixonar, Lia.
Já havia entendido que toda aquela resistência em se envolver era um mecanismo de defesa que ela havia criado. Era estranho estar sendo tão compreensiva com a situação. Nunca passara por nada ao menos parecido com isso antes, mas conseguia entendê-la muito bem. Sempre havia achado interessante essas questões sobre a psique humana, mas claro que o envolvimento romântico com ela havia despertado ainda mais a sua sensibilidade e empatia.
— Eu entendo tudo o que você está passando. — A olhou com atenção e fez carinho em sua nuca. — De verdade. Você é muito forte sim, Liz. Eu sei que é. Você não ouviu o que ele falou naquela carta? Ele disse que você tem a força da sua mãe...
— Ele perdeu o amor da vida dele e ficou louco. — Ela parecia um pouco desesperada. — E essas semanas longe de você... nunca nada doeu tanto daquele jeito.
O coração de Lia disparou. Não sabia se havia entendido corretamente o que ela quisera dizer com aquilo. Estava dizendo que ela era o amor da sua vida? Sentiu-se ainda mais emocionada e tocada, além de nervosa.
— Me escuta! — Lia segurou o rosto dela entre suas mãos. Apesar de estar temerosa, queria lhe passar força. — Também não foi fácil para mim. Eu nunca senti algo tão intenso antes. Não é só você que está assim. Estamos juntas nisso e eu posso dizer que você não é igual a ele. Olha só por tudo o que já passou. Não foi fácil para você também e aqui está. Firme e forte.
— Firme e forte? — falou descrente. — Eu sempre fugi disso.
— Liz isso é normal. Você era apenas uma criança. Só precisa aprender a dividir essa carga toda. — A beijou e colou suas testas. — E eu estou aqui por você. Sempre!
— Eu tenho tanta sorte. — Respondeu e beijou Lia no pescoço. — Sorte de ter te encontrado.
— Nós duas temos.
Elas ficaram abraçadas por um bom tempo até que o vento frio da noite as obrigou a voltar para a casa. Liz desligou as luzes da sala imensa e subiram as escadas de mãos dadas. Assim que entraram no quarto elas se olharam incertas sobre o que fazer.
— Eu vou tomar um banho e me trocar. — falou Lia incerta.
Tinha certeza que Liz iria se oferecer para ir junto, mas ela apenas assentiu e lhe entregou uma toalha. Pegou sua mochila que estava em cima da mesa e levou junto consigo. No fundo ficou decepcionada. Queria muito um maior contato com ela, seu corpo precisava disso, ficar duas semanas sem ela havia mexido demais com os seus desejos e libido. A queria novamente e logo.
Tomou o banho demoradamente, ainda na esperança de senti-la lhe enlaçando por trás. Só de cogitar aquela hipótese seu coração bateu acelerado e seu sex* pulsou derretendo-se, mas nada aconteceu. Um pouco frustrada, ela enxugou-se e vestiu uma camisola preta que levara.
Com expectativa, viu que ela estava deitada de bruços, apenas de calcinha e sutiã e já dormia profundamente, devia estar realmente muito cansada, pois era sempre tão disposta e cheia de energia. Suspirou desapontada, mas relevou. Os últimos dias e aquela tarde não haviam sido nada fáceis para ela.
Lia parou próxima a cama e ficou admirando-a. Naquele momento, teve certeza de que nunca vira uma mulher tão linda em sua vida quanto Liz. Ela tinha pernas torneadas bem-feitas e um bumbum de dar inveja. As suas costas lisinhas manchadas apenas pela tatuagem que o sutiã quase cobria e pelo seu cabelo bagunçado. Ela era perfeita demais. Às vezes custava a acreditar que era toda sua.
Tinha certeza que Liz tentaria agarrá-la na primeira oportunidade que tivessem. No entanto, deu um desconto levando em conta toda a situação pela qual haviam passado. Tentando parar de pensar em sacanagens, foi até o guarda roupa e procurou um lençol, deitou-se ao lado dela e cobriu as duas com o tecido branco, longo.
Virou-se para ela, desabotoou o seu sutiã e começou a acariciar as suas costas. Arrepiou-se mais uma vez com aquele contato, sentia necessidade e urgência em senti-la. Admirou a sua tattoo, tocando-a de leve com a ponta dos dedos
“Love is a losing game...”
Agora conseguia entender o significado daquela frase. Lembrou-se de quando ela lhe falara que as pessoas ficavam inconstantes quando amavam. O tempo todo ela tinha medo de se entregar àquele sentimento por causa dos atos do próprio pai e pelo medo de se render à dor assim como ele fez. Quanto a culpa que ela insistia em carregar pela morte dele... bem, aquilo era o que mais a preocupava no momento.
Incrivelmente o sono lhe tomou também algum tempo depois e abraçou Liz pela cintura, deitando a cabeça em suas costas. Dormiu tranquilamente como não havia conseguido fazer bem nas últimas duas semanas. Agora tinha finalmente o que estava faltando, o calor do corpo dela...
***
Pov Liz
Liz acordou sentindo o braço de sua irritadinha a lhe enlaçar pela cintura. Seu braço estava dormente, havia dormido em cima dele a noite toda. Virou-se lentamente e ficou de costas para o colchão. Quando olhou para o lado viu que Lia dormia também de bruços e estava muito perto de si. Usava uma linda camisola preta de alcinhas tão delicada quanto ela. Adorava o jeito feminino dela, ficava louca.
Ficou de frente para ela e observou-a atentamente. Ela tinha um rostinho tão angelical, alvinho e delicado, a aparência de uma criancinha, nem parecia ser tão safada na cama. Liz sorriu com os pensamentos e suspirou. Como não queria forçar a barra, na noite anterior, esperou que ela saísse do banheiro para tentar uma aproximação mais íntima, mas andava se sentindo tão cansada que acabou apagando rapidamente.
Pegou o celular na mesa de cabeceira e viu que era sete em ponto da manhã. O quarto estava claro e bem arejado, mas se mantinha aquecida embaixo dos lençóis. Percebeu que seu sutiã estava desabotoado e sorriu, Lia devia tê-lo soltado antes de dormir.
Liz afagou sua face e seus cabelos castanhos ondulados curtinhos. Adorava o estilo dela, cabelinho curto, óculos redondos parecendo uma nerd certinha, mas no fundo era uma irritadinha de personalidade forte. E que personalidade! Aquilo só a deixava ainda mais sexy. Queria tanto fazer amor com ela, estava morrendo de saudades e vontade. Já estava quase subindo pelas paredes, precisava senti-la o quanto antes.
Ainda quis levantar o lençol e descobrir se ela estava usando uma daquelas calcinhas de renda, mas se conteve. Não sabia se estava tudo bem para valer entre as duas e antes que pudesse ataca-la, controlou-se e pulou da cama. Se sentia leve como se mil quilos tivessem saído de suas costas. Estava arrependida por ter demorado a ter essa conversa. Não fazia mais sentido aquele medo de antes. É claro que até mesmo isso seria diferente com ela, como sempre era.
Tomou um banho, fez sua higiene matinal e vestiu-se. Sentou-se em uma confortável espreguiçadeira que havia na pequena varanda. O condomínio ficava em uma colina, bem afastado da cidade e de lá conseguia ver a imensidão mais abaixo, cheia de plantas e árvores. Todo o espaço era revestido de grama e flores, ali era de fato um lindo lugar, mas um lugar do qual queria distância. As mansões mais ao longe eram perfeitas e milimetricamente enfileiradas, todas com um lindo jardim na frente e esbanjando sofisticação.
Automaticamente, seus olhos correram para a próxima casa mais ao longe à esquerda. A casa de Cíntia. Perguntou-se se por acaso ela ainda vivia ali. Não queria nem imaginar Lia se encontrando com ela. De repente lembrou-se de toda a estupidez que fez naquele período doloroso por volta dos seus dezesseis/dezessete anos. Balançou a cabeça para afastar as memórias loucas de sua juventude. Era nova, mas já havia errado tanto e Lia era o seu recomeço.
Voltou ao quarto e sentou-se ao lado dela, que ainda dormia de forma angelical. Seu coração estava tomado de sentimentos intensos por ela. Não conseguia acreditar que depois de seis longos e torturantes anos, finalmente havia conseguido desabafar com alguém.
Era da reação dela que tinha mais medo quando contasse tudo, mas Lia a surpreendeu positivamente. Em momento algum viu a penúria em seu olhar, ela apenas se mostrou forte e compreensiva com a sua dor. Pasmou-se ao sentir que seu peito estava muito mais leve com o desabafo. Por algum motivo ela achava que tudo só poderia piorar, contudo foi exatamente o oposto.
Queria mesmo contar-lhe tudo, confiava demais nela. Ela havia se tornado uma pessoa muito especial em pouco tempo, não conseguia explicar o quanto e mesmo já tendo admitido o que sentia de verdade a si mesma, ainda estava assustada. Acariciou seus lindos cabelos castanhos e sorriu. Era tão linda e especial, não conseguia mais imaginar a sua vida sem aquela mulher incrível.
Admirou-a por um longo tempo até que ela despertou lentamente. Seu coração aqueceu quando os seus olhos castanhos lindos a fitaram ainda um pouco pesados pelo sono.
— Bom dia! — saudou-a com a voz rouca. Os pelos de Liz se arrepiaram. Que saudades de ouvir aquela vozinha de sono pela manhã. Tudo em sua irritadinha era perfeito.
— Bom dia, linda! — falou carinhosamente, afagando sua face delicada de menininha.
— Já está de pé. Que horas são?
— Ainda é cedo, não se preocupe. — Deitou-se e abraçou-a apertado, sentindo aquele cheiro maravilhoso que ela tinha. — Nunca mais tinha dormido tão bem.
— Na verdade eu também não. — Lia confessou timidamente.
— Desculpe ter apagado na noite passada.
— Tudo bem. Estava mesmo preocupada com você. Parecia tão cansada.
— Estou me sentindo muito bem
Até o tom suave da voz dela a acalmava. Por várias vezes havia ficado horas e horas apenas apreciando aquele som suave enquanto conversavam, sempre lhe causava uma paz incomum. Lhe acalmava. Com Lia não sentia que precisava fugir, pois ela havia virado o seu refúgio. No entanto, como a idiota lerda que era só conseguiu se dar conta disso quando tudo acabou e a dor do desespero lhe tomou. Não queria sentir aquilo nunca mais. Já tivera tantas perdas, não iria conseguir superar mais essa.
— Ficar longe de você não foi fácil.
Lia sorriu com sua declaração e afagou sua face com carinho. Era aquilo que Liz mais gostava, ela era irritada e naturalmente estressada, mas quando estavam juntas de chamego, se derretia toda.
— Também não foi fácil para mim. Eu pensei que meu peito ia rasgar de tanta dor.
Seu coração falhou só em lembrar daquelas semanas, pois se sentiu da mesma forma. Olhou-a e falou manhosa.
— É um erro a gente se separar.
— Eu acho a mesma coisa. — A irritadinha falou emocionada. — Mas estamos bem agora, não é?
— Estamos? — perguntou ansiosamente e com o coração acelerado.
— Eu não quero mais ficar longe de você.
— Também não quero ficar longe de você, Liana.
Elas colaram as testas emocionadas e Liz beijou-a delicadamente.
— Está com fome? — Perguntou atenciosa.
— Muito, não sabe o quanto. — Lia respondeu sapeca, aquele olhar dela a incendiava.
O seu sex* pulsou imediatamente, molhando-se. Então ela também a queria. Conseguia sentir o desejo nela pela forma safada que mordia os lábios. A queria naquele momento, precisava saciar seus desejos intensos e começou a procurar pelo seu corpo quente e receptivo por debaixo das cobertas. Estava quase para descobrir a calcinha dela quando batidas na porta as interrompeu e logo em seguida, Luísa entrou. As duas se separaram rapidamente e Liz rolou para o lado.
“Que hora mais imprópria para aparecer.” ´Pensou Liz, frustrada.
— Nossa! — A mais velha exclamou envergonhada. — Desculpe, meninas. A porta estava destrancada...
— Tudo bem, tia. — disse querendo pular o momento embaraçoso e fazendo cara de paisagem. — Sem problemas.
— Bom dia, primeiramente. — As cumprimentou sorridente e simpática.
— Bom dia, dona Luísa. — Lia respondeu simpática e envergonhada, enquanto Liz revirava os olhos.
— Olá, querida. Queria apenas avisar que o café da manhã está servido e que adoraria a companhia de vocês. Estou esperando.
Ela saiu do quarto deixando-as à sós e assim que a porta fechou, Lia disparou a rir. Liz conhecia aquela reação, ela sempre ria descontrolada quando ficava nervosa com algo.
— Sua tia quase nos pega. — declarou nervosa depois do ataque de risos. — Porr*! Eu espero que ela não fique pensando mal de mim.
Liz sorriu. Adorava quando ela falava palavrão, era uma coisa que não tinha nada a ver com a sua aparência. Lia era um livro que enganava muito pela capa. Por fora parecia ser um conteúdo exclusivamente inteligente e nerd, mas, na verdade, era um romance quente e cheio de surpresas, foi por isso que se apaixonou.
— Não se preocupe com isso. Ela te adorou.
— Como sabe? — Ela perguntou curiosa.
— Eu vi o jeito dela, a conheço muito bem. Vamos antes que ela mande nos chamar.
Lia foi até o banheiro tomar um banho e já voltou vestida. Desceram as escadas de mãos dadas e se juntaram a Luísa na imensa mesa posta. Viu que a face de sua irritadinha se iluminou ao ver a variedade de comidas ali dispostas e sorriu disfarçadamente, ela era uma comilona. Até mesmo isso era fofo nela.
Luísa estava sentada à mesa e falava ao telefone sobre trabalho em pleno domingo, assim que as viu, logo tratou de encerrar o assunto e lhes dar atenção.
— Quando que eu poderia imaginar que hoje estaria tomando café da manhã com Liz e sua namorada? Nunca.
A rockeira olhou para a tia descrente e suspirou enquanto Lia apenas ria exultante ao seu lado.
— Querida, fique à vontade para se servir do que quiser. — A mais velha disse atenciosa para Lia, que sorriu e agradeceu.
Liz ficou feliz internamente ao ver o entrosamento das duas uma com a outra. Sabia o quanto a sua irritadinha não era extremamente simpática e aberta com pessoas que acabava de conhecer. Já sua tia, imaginava que ela seria simpática e educada como sempre era, porém conseguia ver que não era apenas educação a forma que ela tratava Lia, mas sim porque realmente gostara dela.
— Pretendem ficar até quando aqui?
— Na verdade, temos que ir ainda hoje. As provas começam amanhã, eu acho, então...
Luísa pareceu surpresa positivamente com a resposta de Liz e sorriu.
— Estou impressionada. Você preocupada com os estudos.
— Ah, qual é!? — Sua tia sempre falava demais, chegava a ser irritante. Lia riu ao seu lado.
— Ah! Pensei que iam aproveitar o dia todo aqui. Posso até providenciar o jatinho para vocês na segunda, mas hoje terão que ir em um voo comum.
— Mas precisamos ir...
— Na verdade. — Lia se pronunciou e a olhou. — Minhas provas começam na quarta. Tudo bem se você quiser ficar aqui hoje, não tem problema eu perder aula só amanhã.
— As minhas também, mas imaginei que não iria querer faltar aula. Você nunca falta.
— Posso fazer essa exceção.
— Que ótimo! — Luísa falou empolgada. — Pedirei para capricharem no almoço.
Elas sorriram e ficaram conversando durante um bom tempo. Após a refeição sua tia foi para o escritório e Liz finalmente chamou Lia para um tour pela casa enorme. Percebeu que ela parecia surpresa com o tamanho dos cômodos e o requinte, mas nada além disso.
Lia era íntegra e simples. Já havia percebido que sua “riqueza” não a intimidava, nem a enchia os olhos, muito pelo contrário, tanto que elas nunca falaram sobre nada daquilo. Sempre tivera receio de falar daquilo com outras meninas, não queria que ninguém se aproximasse por interesse.
— Sua tia mora sozinha nessa casa imensa? — perguntou curiosa.
— Sim, infelizmente. Ela se separou há uns dois anos atrás. Foi bastante difícil.
Liz sempre se sentia culpada quando lembrava dessa fase ruim que ela havia passado. Por várias vezes Luísa havia lhe pedido que voltasse a morar com ela, mas a sua dor e egoísmo não lhe permitiu. Aquela casa lhe trazia muitas lembranças loucas que queria deixar para trás.
— Que barra!
— Foi uma barra mesmo. — concordou com pesar. Sua tia era mesmo uma mulher muito forte.
— E ela não tem filhos? — Lia continuou nas perguntas curiosas.
— Tem dois. Um rapaz e uma moça. Só que eles moram e estudam nos Estados Unidos com o pai.
— Entendo.
Por último chegaram ao quintal enorme e teve uma ideia maravilhosa. De lá era possível ver a cidade lá em baixo. Era uma linda vista. Na parte mais coberta ficava uma grande banheira de hidromassagem. Liz havia esquecido completamente dela. Abraçou Lia por trás e perguntou em seu ouvido.
— Que tal um banho relaxante aqui? — sorriu quando a sentiu se arrepiar. Adorava ver as reações que causava ao seu corpo.
— Eu não trouxe biquíni. — Lia virou-se para e revirou os olhos como se atestasse o óbvio.
— Não precisamos disso.
Ousada e sapeca como sempre, começou a se despir ali mesmo e viu que Lia olhou para os lados assustada, verificando se alguém vinha.
— Você não vai ficar nua aqui, não é?
Liz riu muito de sua cara assustada. Sempre conseguia rir às custas dela de uma forma ou de outra.
— A gente fica de calcinha e sutiã, Lia. Qual a diferença?
— A diferença é que eu não quero que a sua tia pense mal de mim.
Aproximou-se dela com o tronco já nu, usando apenas um top preto, viu que ela ficou nervosa com a aproximação.
— Não se preocupe com isso. Ninguém vai vir aqui nos atrapalhar. Vamos.
Lia pareceu incerta por um tempo, mas acabou concordando. Liz ligou a hidromassagem devidamente e esperaram que a água esquentasse na temperatura adequada. Juntas elas afundaram na banheira e ficaram apreciando a água morna relaxar a tensão dos músculos.
— Nossa! — Lia exclamou de olhos fechados e sorria. — Isso é bom demais.
— É bom mesmo. Tinha até esquecido da sensação.
Liz a olhou por um longo tempo, apenas admirando-a. Parecia encantada. Já sabia do tamanho de seus sentimentos por Lia, mas com o “término” tudo só havia ficado ainda mais claro em sua mente e na noite anterior, depois daquela conversa em que tudo ficara esclarecido, conseguia sentir que estavam ainda mais conectadas do que antes. O medo, a dor, o desespero, todas aquelas coisas poderiam ficar para trás, ela era a única coisa que importava e por ela qualquer luta valeria a pena.
Aproximou-se completamente tomada de paixão e enlaçou-a possessivamente entre seus braços, fazendo-a passar as pernas por sua cintura e ficaram de frente uma para a outra. Lia abraçou seu pescoço e olhou-a intensamente. As respirações das duas estavam ofegantes, se conheciam bem e sabiam que palavras não eram necessárias naquele momento.
Colaram os lábios em um beijo ardente e apaixonado. Buscava a língua dela com urgência e a ch*pou com uma lentidão torturante e faminta. Que saudades daqueles lábios tão macios e carnudos. Arrepiou-se quando ela apertou os cabelos de sua nuca com força e pressionou o seu sex* ainda mais contra si. Conhecia os sinais do seu corpo, sabia que queria aquilo tanto quanto ela.
Liz acariciou suas coxas grossas e macias e mordeu seu lábio levemente e o gemido que ela soltou atingiu o seu sex* com rapidez. Estava louca de tesão. Precisava tê-la, exatamente como naquele dia da praia em que tiveram a sua primeira vez. Seu coração estava tão acelerado quanto, nunca antes havia desejado tanto alguém como desejava Lia. Ela era perfeita demais. Suas mãos seguiram perigosamente para o bumbum dela e o apertou com vontade. Sentiu saudades daquele contato também, era tão gostoso tocá-la ali, sabia o quanto ela gostava disso.
— Sabe do que lembrei agora? — sussurrou de forma sensual. — Da nossa primeira vez na casa de praia.
Liz sorriu. Era incrível como tinham tanta sintonia uma com a outra.
— Você é tão gostosa, Liana. — Sua voz estava rouca pelo desejo e no peito arfante, seu coração explodia apaixonado. Sentiu quando uma lágrima escorreu por seu rosto. Com Lia tudo era mais intenso e a saudade aumentava isso muito mais. — Eu preciso de você. Faz amor comigo!
Lia a olhou emocionada e tomou seus lábios com vontade, praticamente os devorando e lhe deixando sem ar.
— Me faz sua, por favor! — Lia falou contra sua boca
Elas juntas era a única coisa que realmente importava em sua vida. É claro que a faria sua, agora, o dia inteiro e para sempre se possível.
***
Fim do capítulo
Meninas... demorou, mas saiu. Rsrsrs
Peço desculpas pelo atraso, mas aqui está e espero que gostem de verdade.
Bjs!
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Elna Vale
Em: 23/09/2019
Caramba...
No início do capítulo fiquei bem emocionada,mas ao decorrer vc conseguiu mudar as mhs emoções...
Acho simplesmente incrível,qdo a autora consegue marcar com sua escrita a leitora,consegue passar tanta verdade e veracidade em suas palavras e vc esta conseguindo este feito c grande e impressionante maestria!
Estas de parabéns...
Bjs
moniquearosa
Em: 19/09/2019
aaaa perfeitas!
não demora pra voltar q a gente fica carente dessa estória tão bem contada!
Resposta do autor:
Olá Monique
Rsrsrs... Elas são perfeitas juntas mesmo, não dá pra negar. Morro de amores.
Bem, não demorei muito dessa vez, não é?!
Te entendo, quando nos envolvemos com uma estória todo capítulo ainda não é o suficiente. Feliz que está gostando. Muito obrigada pelo elogio, me sinto muito feliz. E olha que tenho muito a melhorar na minha escrita.
Espero vê-la no próximo.
Bjs!
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luaone
Em: 13/09/2019
Fofinho
Resposta do autor:
Own Deus...
Sinto muito ter feito você se frustrar... queria colocar aqui aquela carinha de choro, mas não dá. Rsrsrs
Infelizmente a gente nem sempre acerta 100%. Enfim, espero que isso não te faça desistir de acompanhar a estória, espero meso de coração te ver por aqui nos próximos!
Beijinhos!
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Brescia
Em: 13/09/2019
Boa noite mocinha.
Foi emocionante, dolorido, mas ao mesmo tempo esclarecedor e necessário para que a Lia enxergasse através do coração do seu amor, a dor que a dilacerava. Foi uma ventada de ar puro, leve como uma brisa todas essa emoções que elas precisavam externar. Lindo!!
Baci piccola.
Resposta do autor:
Olá Brescia
Falou e disse perfeitamente a situação. Lia precisava enxergá-la dessa forma para poder entender toda a dor dela e finalmente sentí-la entregue. Belas palavras para este momento, amei!
Elas tinham mesmo muito sentimento "engasgado" e externar isso foi muito mais do que preciso.
Beijinhos e até o próximo! S2 S2
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