Capítulo 24 - Confia em mim!
Capítulo 24 – Confia em mim!
Pov Liz
Liz acordou de bruços naquela manhã de sábado, se sentindo surpreendentemente bem. Conseguia sentir o cheiro de Lia por todo lado e sorriu de leve, aconchegando-se ainda mais nas cobertas quentinhas e macias. Abriu os olhos lentamente e assustou-se quando seu olhar entrou em foco. Estava no quarto de Lia, deitada na cama dela.
Parou por um tempo sem saber o que fazer ou pensar, mas de imediato um medo misturado a ansiedade começou a tomar conta de si. A última coisa que lembrava era de ter entrado em um táxi e depois... somente o vazio. Caralh*! O que será que havia aprontado? Não precisava que Lia tivesse ainda mais raiva dela, mas era quase certeza de que fizera bobagem.
Virou de frente para o teto e tentou lembrar de algo, qualquer coisa. No entanto, não conseguia mesmo e o engraçado era não estar sentindo nada. Nem enjoo ou dor de cabeça, apenas estava com a boca seca, mas era normal. Já perdera o tanto de vezes que havia acordado assim de um porre. Estava ansiosa, precisava ver e falar com a sua irritadinha o mais rápido possível.
Quando sentou-se na cama, ouviu a porta abrir e Lia aparecer linda como sempre, usando um shortinho rasgado e blusa preta. Os olhares das duas cruzaram instantaneamente. Lia estava séria, mas não parecia irada. Ok! Isso era bom? Ela trazia um copo com água e a encarava com firmeza enquanto se aproximava.
— Oi. — cumprimentou Liz sem jeito. Sua voz estava meio grogue e rouca.
— Oi. — Respondeu com o tom de voz também sério, lhe entregando a água e um comprimido. — Como está se sentindo?
— Bem, na verdade. — Mesmo não sentindo nada ela tomou a água e o remédio. Por algum motivo não queria contrariá-la. — Obrigada.
— Por nada. — Lia sentou-se ao seu lado e a olhou fixamente. As duas passaram alguns segundos em silêncio, até que ela perguntou: — Você não lembra de nada da noite passada, não é?
— Não. — respondeu com sinceridade e receio. — Já peço desculpas caso eu tenha feito algo muito errado.
Lia bufou e sorriu sarcástica. Liz tinha certeza de que ela estaria puta e por algum motivo aquela calmaria toda a estava assustando ainda mais. Sustentando o seu olhar e tentou pegar em sua mão, mas ela não permitiu, afastando-a.
— O que eu fiz ontem à noite? — perguntou um pouco temerosa.
Lia suspirou profundamente e seus olhos deixaram os dela. Ela parecia chateada e incomodada com algo.
— Você chegou aqui tentando me agarrar e depois ficou tocando a nossa música no violão. Até que eu consegui colocar você para dormir e te dei um remédio.
Liz suspirou pesadamente. Não lembrava mesmo de nada do que tinha acontecido e se sentiu mal com o que havia feito com a canção das duas.
— Desculpe mesmo por isso.
Lia apenas balançou a cabeça em discordância.
— A gente precisa ter uma conversa séria.
O peito de Liz bateu apressado, sabia que era agora. Não poderia e nem correria mais do inevitável.
— Eu concordo.
— Por que fez tudo aquilo? — Ela parecia triste ao perguntar e Liz ficou confusa.
— Aquilo o quê, exatamente? — Tentou entender.
— Para começar, me fala sobre aquele escândalo na biblioteca. — Falou sarcástica.
Liz alterou-se ao lembrar daquela ruiva atirada quase a beijando. Suas entranhas se contorceram novamente e a chama da raiva lhe queimou mais uma vez.
— O que você quer que eu fale? — Bufou enraivecida. — Fiquei com ciúmes. A garota estava quase beijando você. Será que não pode ver o meu lado ao menos um pouco?
— Eu já a estava afastando. Não tinha motivos para você ter feito...
— Ah, Lia. Qual é!? — Liz exasperou-se e se pôs de pé, andando de um lado para o outro. — Por acaso eu tenho cara de trouxa?
— O que você está insinuando? — Lia exigiu saber e dessa vez ela fechou a cara.
— Você não estava com cara de quem ia afastá-la. — cuspiu as palavras.
Lia explodiu finalmente, indo até onde ela estava.
— Eu sei muito bem o que você está pensando, Lisandra. — Ficou bem em sua frente, agora sim ela parecia com raiva. — Eu não sou esse tipo de garota, e outra, mesmo que eu tivesse ficando com ela, você e eu terminamos tudo, mas eu não sou igual a você que sai pegando todas por aí.
As palavras foram como um soco em seu estômago mais uma vez. Lia parecia fazer questão de magoá-la e a atacar sem piedade. A raiva e o ciúme estavam consumindo o seu bom senso mais uma vez, lhe desviando do foco do que realmente importava ali.
Quis falar umas poucas e boas, mas pensou bem antes. Sua situação com ela não estava das melhores e não queria piorar as coisas ainda mais. Preferia pensar que Lia apenas falava aquilo tudo da boca para fora. Já sabia como ela era impulsiva na hora da raiva. Estava decidida a contar tudo, nada mais lhe importava. No entanto, aquele não parecia ser o melhor momento para isso. Respirou fundo e contou até três para não falar nenhuma bobagem.
— Eu sei que pisei na bola várias vezes, mas isso não te dá o direito de me ofender. — Liz declarou magoada dessa vez. — É melhor eu ir embora. Nos falamos em um outro momento.
— Porr*, Liz! — Ela exclamou enraivecida e chateada. — É só isso que você sabe fazer?
— Agora não é o momento. — Tentou tocar na face dela, que recuou. — Você está chateada e o assunto é muito delicado para mim.
— Se você for, Liz. — declarou impaciente. — Não precisa voltar. Eu não quero mais saber de nada. Aliás, quer saber? Acabou de vez! Já estou de saco cheio da sua indecisão...
O coração de Liz deu um sobressalto aflito com o ultimato.
— Você vai me negar a verdade por quantas vezes? Ela não vai se tornar mais fácil a cada dia, Liz. Só vai piorar e nos afastar de vez.
Viu que uma lágrima solitária escapou pelo rosto dela e sentiu-se uma pessoa horrível. Não queria mais fazer sua irritadinha sofrer. No impulso, foi até ela, segurou sua face entre suas mãos com firmeza e a olhou bem nos fundos dos olhos. Não poderia perdê-la e não iria. De repente, como que em um estalo, tudo ficou muito claro e sabia exatamente o que precisava fazer. Porém, como iria convencê-la?
— Você sabe que isso não acabou, Lia. — Encostou a testa na dela e fechou os olhos. Sentia seu coração bater forte. Ela era a sua maior prioridade e precisava fazê-la entender isso de uma vez por todas. — Você é a coisa mais importante do mundo para mim.
Lia pareceu extremamente surpresa e ficou sem saber o que falar por alguns segundos.
— Sou? — Ela perguntou em um sussurro sofrido e profundo. — Então me conta tudo. Sem mais segredos.
A voz dela saiu embargada e o peito de Liz apertou. Não conseguia descrever o quanto precisava dela em sua vida. A dor de perdê-la era mais forte que a dor do seu passado e aquilo ficou ainda mais claro naquelas duas semanas tão sofridas. A queria e lutaria por ela.
— Eu vou contar! — Declarou finalmente.
Viu que Lia ficou surpresa mais uma vez e abalada com sua declaração. Os seus olhos ficaram brilhantes pela emoção e pelas lágrimas. Sentindo-se também emotiva, desceu uma mão até a nuca dela e fez carinho em seus cabelos curtos e ondulados.
— Você confia em mim? — Encarou-a atentamente.
Lia devolveu seu olhar e pareceu vacilar por um momento. Ela fechou os olhos e mais uma lágrima solitária escorreu por seu rosto, ela balançou a cabeça em negativa e disse:
— Eu não deveria confiar. — Ela parecia fazer um esforço enorme para controlar as emoções. — Você não confia em mim.
Liz a fitou por um longo tempo e tentou passar através de seu olhar sincero, todas as coisas que estava sentindo naquele momento.
— Eu confio em você, sim. Eu confio e vou provar isso. — Declarou de maneira firme. Sentiu quando as lágrimas se formaram em seus próprios olhos. A amava demais, muito mais do que poderia imaginar e o que estava prestes a fazer só provaria o quanto. — Por favor, me dá mais uma chance. Confia em mim!
— Confio! — Lia falou baixinho e ainda de olhos fechados.
Sentiu o coração acelerar de emoção. Tudo o que mais queria era ficar bem com ela, nada mais importava. Não estragaria mais essa chance. Pegou uma de suas mãos e a levou até seus lábios, beijando-a.
— Você pode vir a um lugar comigo?
— O quê? — Ela parecia confusa. — Não, Liz. Fala o que você tem a dizer agora. Chega de joguinhos. Não é momento para isso...
— Não é jogo nenhum, Lia. — Liz acariciou sua face. Precisava fazê-la ceder. Queria dizer tudo, mas precisava de uma peça fundamental para isso. — É a minha vida fodida. Tem certeza que você quer mesmo saber?
— Você sabe que eu quero! — falou apressadamente. — Peço por isso a tanto tempo.
— Eu sei. — Liz entrelaçou seus dedos nos dela. — Então vem comigo, por favor!
— Liz...
— Você não vai se arrepender. Me dá só um tempo para organizar tudo.
— Organizar o quê? — perguntou confusa. — Pode ser mais clara dessa vez?
— Você vai ver. Vamos!? Eu preciso de você para conseguir fazer isso.
Lia suspirou balançada, parecia irritada e contrariada, mas acabou assentindo levemente com a cabeça.
— Eu vou. — Ela estava séria mais uma vez e retirou as mãos das suas. — Mas essa é a sua última chance e não estou reatando nada, ok?
— Tudo bem. — Liz suspirou de alívio. — Você decide depois, mas eu preciso tirar isso de mim de uma vez por todas.
— Para onde vamos?
— Você vai ver. Arruma uma mochila, pequena mesmo, com algumas roupas.
— Não é assim não, Liz. Primeiro você me diz...
— Eu preciso disso. — Liz acariciou o seu rosto. — Eu sei que não estou em posição de exigir ou pedir nada, mas por favor, só vem! Você disse que confiava em mim.
Lia ficou calada perante isso e com algum esforço, finalmente aceitou as suas condições, mesmo que parecendo irritada com isso.
— Vou organizar tudo o mais rápido possível para podermos ir. Você espera minha ligação?
— Espero. O que mais eu posso fazer? — Lia pôs a mão sobre a dela que ainda fazia carinho em seu rosto.
— Confiar em mim e ser paciente. — Liz beijou em sua testa delicadamente. — Preciso ir, agora. Tudo bem?
— Ok.
— Eu ligo o mais breve possível para você.
Liz a achou calma demais. Algo parecia errado. Tinha certeza de que precisaria de muito mais para conseguir convencê-la a fazer isso. Saiu do quarto dela e foi-se embora apressadamente. Chamou por um Uber no aplicativo e assim que entrou no carro, sacou o celular do bolso e fez uma ligação importante...
***
Pov Lia
Lia não conseguia entender como ainda podia se deixar levar tanto pelo que sentia por Liz. Era um absurdo o que ela havia lhe pedido. Assim que a mesma saiu do apartamento, imediatamente foi até Cris lhe contar sobre o que haviam conversado. A amiga escutou seu drama com a mesma atenção de sempre.
— E você vai com ela? — perguntou por fim, a analisando.
— Eu prometi que iria. — Lia se sentia idiota, mas não conseguia evitar. Seu coração era um traidor mesmo.
— Liz é mesmo uma garota cheia de mistérios. — declarou pensativa.
— Eu que o diga.
Estava emocionada, pasma, surpresa, irritada... Era isso que Liz causava nela, um turbilhão de emoções e sensações fortes, tudo de uma só vez. Não poderia perder aquela chance logo quando ela finalmente resolvera se abrir, ou assim esperava. Suas mãos suavam como naquele dia que foi ao encontro dela no bar onde se beijaram pela primeira vez. Sentia aquele mesmo frio na barriga também.
Já passava das dez da manhã quando Liz partira. Pelo modo como ela falara, iriam demorar um pouco para sair. Seu coração estava acelerado e seu estômago embrulhado de ansiedade. Tentou se concentrar no almoço rápido e simples que fazia com Cris e não podia evitar de olhar para a tela do celular o tempo todo à espera de uma mensagem ou ligação. Quase não conseguiu almoçar de tão nervosa, curiosa e ansiosa que estava.
Voltou para o quarto e pegou sua mochila preta de viagem. Separou algumas roupas confortáveis e bem vestidas já que não sabia para onde iriam e decidiu tomar um banho. Mas que espécie de feitiço ela havia colocado em si? Estava prestes a ir, mais uma vez, para um lugar desconhecido. Não sabia mais o que esperar de Liz. Era incrível como ela sempre conseguia surpreendê-la com suas atitudes.
Enquanto se secava, olhou para o violão preto dela em cima de sua mesa. Lia o pegou com delicadeza, ainda estava completamente nua, e sentou-se na cama com ele sobre o seu colo. Sem conseguir resistir o abraçou por trás e recostou a cabeça no “braço” do instrumento. Parecia incrível, mas conseguia sentir o cheiro de Liz nele, era como se tivesse com a cabeça encostada em seu ombro e suspirando em sua nuca.
Inconscientemente, fechou os olhos e passou as mãos na “cintura” do violão, era quase como se conseguisse sentir que acariciava o corpo dela. Caramba! Seu corpo sentia saudades do dela, de seus toques quentes e do seu amor. Não podia negar o quanto queria que tudo se resolvesse logo.
Estava louca de saudades dela, aquelas semanas haviam sido uma verdadeira tortura. Nas semanas antes da briga, elas estavam dormindo juntas quase todos os dias e sentia muita falta de tudo isso.
A amava demais e não poderia negar. Seu coração ficou em pedaços ao vê-la tão vulnerável na noite passada e talvez isso a tenha amolecido um pouco. Na conversa pela manhã, tinha certeza de que iriam recomeçar com as brigas mais uma vez, mas ela a surpreendeu totalmente ao finalmente dizer que contaria tudo.
Acariciou o violão por mais um tempo e depois foi vestir-se. Pegou um livro para ler e se concentrou no mesmo. Passou quase uma hora a ler e nada, já passava de uma da tarde e nenhuma notícia de Liz. Depois de mais uma hora de espera, suas esperanças já estavam se perdendo totalmente e teve vontade de chorar.
Tinha certeza de que ela havia sumido mais uma vez. Como pudera ser tão idiota para cair na conversa dela novamente? Era irreal tudo o que estava vivendo. Seu peito apertou de tristeza e estava quase a ponto de chorar de ódio quando ouviu o telefone finalmente tocar. Seu coração acelerou. Era Liz. Uma onda de alívio se espalhou por todo o seu corpo no mesmo instante, já estava com o psicológico mexido com tudo que as envolvia.
— Estou aqui em baixo, linda. — Ouviu a bela voz dela do outro lado da linha. — Você pode se encontrar aqui comigo?
— Estou descendo. — Disse de forma direta, tentando disfarçar a emoção que sentia.
Cris estava na sala, as duas se abraçaram e a amiga lhe desejou boa sorte. Apreensiva com o que Liz possivelmente estava aprontando, desceu ansiosa até o seu encontro. Entrou no táxi, sentou-se ao seu lado e percebeu que Liz também parecia nervosa.
— Obrigada por vir e desculpe a demora. — falou de forma terna.
— Eu só espero não me arrepender disso.
— Eu não quero que se arrependa. — Liz segurou em sua mão e a beijou.
Elas foram o caminho todo em silêncio, mas o percurso não foi demorado. Em vinte minutos mais ou menos, o táxi parou em frente ao aeroporto. Não estava entendendo absolutamente nada. Liz saiu pela porta esquerda e arrodeou rapidamente abrindo a porta para ela e estendendo sua mão.
— Vamos! — A chamou mais uma vez.
Lia saiu do carro contrariada. O que Liz estava pensando ao trazê-la para o aeroporto? Se ela pensava em fazer alguma surpresa idiota iria se dar muito mal.
— O que está acontecendo?
Lia estava sem paciência. Por que ela simplesmente não falava logo tudo?
— Você vai ver logo. — Puxando-a delicadamente, Liz a guiou através da imensidão do prédio.
Subiram dois lances de escada rolante até chegar na parte de embarque e desembarque. Liz foi para um guichê livre e viu que ela apresentou alguns documentos e pagou alguma taxa. Aquela não era uma rotina de embarque comum. Liz veio até ela e a chamou para seguirem. Meio incerta, mas ainda confiando nela, a seguiu e passaram pelos portões sem qualquer entrave.
Finalmente chegaram até a pista de embarque e um daqueles carrinhos vieram lhes buscar e as levou para longe de todos os aviões ali. O que significava aquilo? Liz parou ao seu lado e a olhou atentamente. O carro as deixou de frente a um jatinho até bem grande de cores branco com azul. Viu que haviam as iniciais V & M gravados na ponta do mesmo.
— Que porr* é essa, Liz? — Seu tom saiu sério.
— Esse jatinho é da empresa da minha família. — Ela tocou de leve em sua face, falando suavemente. — Ele vai nos levar até a minha cidade.
— O quê? — perguntou surpresa. Estava confusa e pasma, nem sabia o que pensar. Com certeza não estava esperando tanto assim.
— Vamos até a minha cidade. Vamos, logo!
Lia estava nervosa e puta de raiva. Já sabia que Liz era rica, mas não tanto ao ponto de suak família ter jatinho particular e tudo mais. Ficou triste e irritada ao constatar que não conhecia mesmo quase nada sobre ela e que, mesmo assim, conseguiu se apaixonar tão facilmente. Pela primeira vez, teve medo de onde estava se metendo. Liz percebeu seu desconforto.
— Eu juro que conversaremos melhor lá dentro e vou te explicar tudo, minha linda.
— Liz...
— Confia em mim!
Lia a olhou demoradamente. Ela estava linda e rebelde como sempre, usando jeans rasgados e um blusão preto, conseguia também sentir o seu perfume inebriante, o que a deixou mais calma. Liz a puxou delicadamente pela mão e a fez lhe acompanhar. O piloto e mais dois homens de terno as aguardava.
— Boa tarde, senhoritas. — O piloto era um moreno alto e as cumprimentou educadamente. — Por sorte o tempo está ótimo hoje e conseguimos chegar logo, a volta será bem rápida também.
— Obrigada, Luciano. — Liz o cumprimentou e ele assentiu. — E mais uma vez, desculpe por ter tirado a sua folga hoje.
— Sem problemas. Quando precisar. — Ele as encaminhou e subiram pela escadinha até entrar no jatinho.
Lia já andara de avião com os pais algumas vezes, quando eles viajavam nas férias e percebeu como um jatinho era um pouco diferente. Haviam apenas seis acentos ali e tudo por dentro parecia ainda mais sofisticado, ela apenas se mantinha calada e de cara fechada. Mais um dos homens entrou e fechou a porta, era o copiloto.
— Senhorita Moraes. — Ele a cumprimentou formalmente. — Como já sabe dos procedimentos, nós já vamos decolar. Com licença e boa viagem as duas.
— Obrigada!
Assim que elas ficaram a sós, Liz chamou para sentarem nas poltronas do lado esquerdo que ficavam uma ao lado da outra. Afivelaram os cintos e desligaram os celulares. Lia olhou pela janela e ficou com o olhar focado lá fora.
— Você já andou de avião antes?
Lia lhe deu um olhar mortal e respondeu secamente:
— Já.
— Ok. Já sabe sobre as turbulências, então.
— Sei sim.
Ouviu quando as turbinas ligaram e o avião começou a zunir levemente. Ficou nervosa e apreensiva de repente. Elas não demoraram a partir. Os primeiros vinte minutos de voo foram um pouco tensos, mas logo sentiram tudo normalizar. Lia passou boa parte da viagem calada. Conseguia sentir o olhar de Liz intensamente sobre si, mas estava com raiva de tantas coisas que não queria mesmo saber de papo. Esperava que dessa vez Liz fosse realmente sincera com ela.
— Hey! — Liz a chamou depois de um longo tempo. Não tinha noção de quanto tempo já se passara. — Vai ficar calada a viagem toda? Achei que queria conversar.
Lia bufou impaciente e finalmente a encarou depois de tanto tempo. Liz viu a mágoa em seus olhos e perguntou confusa:
— Por que está com tanta raiva?
— Não é óbvio, Liz? — respondeu enraivecida.
— Não, não é. — Ela parecia um pouco chateada. — Pode explicar?
— Eu não sei nada sobre você. Nada! Quem é você, seu sobrenome ou nem mesmo quem é a sua família. Como eu pude me apaixonar assim tão facilmente? — Explodiu de uma vez. Estava confusa e assustada.
— Ah, qual é!? — Liz revirou os olhos e suspirou emotiva. — Eu sou essa pessoa que está aqui bem na sua frente. A mesma que você conheceu esse tempo todo. Apenas uma garota perdida sem saber o que fazer da vida e com um passado bagunçado que me persegue. Nem eu mesma sei mais quem sou. Acha que é a única que está assustada? Estou tentando te mostrar algo, não me faz desistir disso.
Lia ficou calada perante isso. Seu temperamento explosivo era um problema, lhe dominava completamente. Estar ali com ela era o mais importante. Só naquele momento ela percebeu que Liz segurava a sua mão.
— Minha família é dona de uma das maiores construtoras e imobiliárias do Brasil, por isso eu curso engenharia. O nome da empresa é Vargas e Moraes. Já ouviu falar?
Puta que pariu! Já ouvira falar sim sobre essa construtora algumas vezes nos jornais e tinha que admitir que era uma das maiores empresas do ramo no Brasil todo.
— Já. — Lia assentiu, não queria parecer impressionada ou mesquinha. — Eu achei que seu nome era apenas Lisandra de Moraes.
— Desculpe nunca ter compartilhado isso. Nunca pareceu ser relevante. Sou Lisandra Vargas de Moraes, muito prazer.
Lia não pode evitar sorrir mesmo que contra a sua vontade.
— E eu sou Liana Rodrigues Alcântara.
— Eu não sabia desse Rodrigues. — Falou sapeca, tentando trazer um pouco mais de leveza para a conversa. — Encantada, senhorita Alcântara.
O clima ficou um pouco mais leve, mas mesmo assim, Lia passou o resto do voo calada. Depois de mais alguns momentos o piloto as informou que estavam chegando e que iriam pousar. Lia tentava não olhar pela janela e apenas ficou com a cabeça recostada no banco e olhando para Liz que a encarava de volta.
Logo elas estavam descendo do jatinho em uma pista mais ou menos grande de pouso. Ao que tudo indicava, pareciam estar em um local fechado, podia ver casarões lindos ao longe. Seria um condomínio de luxo? O local era lindo, rodeado por grama e lindas árvores. Liz segurou em sua mão e a analisou:
— Está tudo bem?
— Onde estamos, Liz? — A única coisa que queria saber era o que ela pretendia com tudo aquilo.
Liz suspirou, mas respondeu pacientemente.
— Foi aqui que eu passei boa parte da minha adolescência. Estamos indo para a casa da minha tia.
Lia estava surpresa e não podia negar, Liz iria mesmo lhe contar tudo. Seu coração acelerou e ficou ansiosa quando ela entrelaçou seus dedos aos dela e juntas, fizeram um caminho mais ou menos longo e silencioso até uma das casas mais próximas e chique de todas. Não acreditava que ela iria lhe apresentar para alguém da família. A emoção lhe tomou, era sempre assim que se sentia com Liz, uma tola emotiva.
— Minha tia não está aqui agora, mas eu já avisei que estávamos vindo.
Liz apertou a campainha e uma senhora muito bem-educada as recebeu.
— Olá senhorita Lisandra. — Ela sorriu simpática para Liz e depois olhou para Lia.
— Silvia, essa é a Liana. — Liz as apresentou. — Lia, essa é a Silvia.
As duas se cumprimentaram educadamente. Elas foram até a sala enorme. Não poderia mentir que estava impressionada com todo o luxo da casa. Percebeu que Liz parecia ansiosa.
— A sua tia não está, mas pediu que eu preparasse um lanche para vocês. Devem estar com fome.
— Obrigada pela atenção, Silva. Você pode mandar o lanche para o meu quarto?
— Sim, senhorita. Agora mesmo. — Ela respondeu sorrindo e se retirou. — Com licença.
— Obrigada.
Liz agradeceu e depois olhou para Lia, segurando em sua mão de novo.
— Vamos!?
— Vamos.
Subiram a escada e seguiram por um amplo e arejado corredor. Entraram em uma das últimas portas. Lia logo percebeu que aquele era realmente o quarto de Liz, quando viu pôsteres e mais pôsteres de filmes e bandas pregados nas paredes. O quarto era imenso e tinha uma porta de correr de vidro que levava a uma varanda.
— Eu morei aqui nessa casa desde os meus quinze anos. — Começou a falar assim que fechou a porta.
Lia nem mesmo piscava, apenas se concentrou nas palavras dela e em seu coração que batia acelerado e ansioso. Não acreditava que ela estava mesmo contando.
— O que aconteceu para você vir morar com sua tia? — perguntou delicadamente, dando início a conversa tensa.
Liz foi até a cama, retirou o par de tênis que usava e sentou-se, chamando Lia para fazer o mesmo, em seguida. Assim que elas estavam devidamente confortáveis ao lado uma da outra, Liz segurou em sua mão. Ela estava muito séria e contida, podia ver o quanto ela estava se esforçando para isso. No fundo sentiu uma pontinha de arrependimento por todo o gelo que dera nela, o que Liz estava fazendo lhe desarmou completamente.
Ela a fitou desolada, parecia triste, mas Lia segurou em sua mão lhe passando força e disse carinhosamente:
— Pode confiar em mim, Liz.
— Eu acho que não é nenhuma surpresa para você isso, mas eu sou órfã. — Viu que ela engoliu em seco e fechou os olhos por um momento e depois a encarou. — Minha mãe morreu em um acidente de carro quando eu tinha apenas dez anos de idade, me deixando sozinha com o meu pai.
O coração de Lia apertou-se pela dor dela. Já imaginara que algo do tipo havia acontecido, mas ouvi-la finalmente se abrir lhe abalou. No entanto, seria forte por ela nesse momento e apenas segurou em sua mão enquanto retribuía o seu olhar firmemente. Ouviram batidas na porta e logo em seguida Silvia entrou com uma bandeja enorme e cheia de comidas. Liz disfarçou a emoção.
— Com licença. — Ela levou a bandeja até uma mesa que havia ali no quarto. — Se vocês quiserem mais alguma coisa é só pedir. — disse solicita e se retirou.
— Muito obrigada! — As duas responderam juntas e depois sorriram uma para a outra.
— Você está com fome?
— Estou bem por enquanto. — Na verdade o seu estômago estava embrulhado pela ansiedade, não tinha vontade alguma de comer naquele momento. — Pode continuar.
— Ok. — Mais uma vez, Liz desviou os olhos dos seus e suspirou. Sua voz finalmente quebrou a seguir. — A minha mãe estava grávida de seis meses quando sofreu o acidente. Ela e o bebê morreram na hora, o carro capotou várias vezes na pista. Ninguém nunca soube exatamente o que aconteceu. Foi um acidente realmente muito desastroso. Ela estava vindo de uma reunião de trabalho.
Lia ficou ainda mais abalada com aquilo. Caralh*! Que barra deve ter sido. Só conseguia imaginar a dor dela ao perder a mãe e um irmãozinho ainda tão pequena. No entanto, algo lhe dizia que a pior parte ainda estava por vir. Não sabia muito o que falar, nem todas as palavras do mundo poderiam melhorar a situação, mas o seu apoio sim. Começou a fazer carinho em sua mão e continuou a encará-la.
— Eu imagino que não deve ter sido nada fácil. — Tentou permanecer firme por ela.
— Não foi mesmo. — Ela pigarreou e continuou: — Foi uma perda horrível para todos, é claro, para mim então... acho que não preciso dizer, mas o meu pai...
— O que aconteceu? — perguntou prevendo que o pior se aproximava.
— Ele ficou muito mal. Muito mal mesmo. Ele nunca superou a morte dela e ainda mais de um filho junto.
Liz fazia muitas pausas e suspirava. Lia a esperava pacientemente, lhe fazendo carinho.
— Era um menino. Meu irmão. Os primeiros meses foram os piores. Ele caiu em uma depressão muito forte. Não ia trabalhar, passava o dia trancado no quarto sem se alimentar direito. Às vezes eu ia e voltava da escola e ele trancado lá, sem fazer nada. — Sua voz estava ficando chorosa. — Eu ainda conseguia tirar ele de lá, eu tentava de tudo para o alegrar, mas não conseguia. Eu tentava cuidar dele da melhor forma que eu podia, mas nunca consegui...
— Você era apenas uma criança, Liz. — Lia virou seu rosto delicadamente e viu que uma lágrima solitária correu por seu rosto. Tratou de enxuga-la. — Você não poderia fazer nada.
— Eu poderia ter feito mais sim. Sabe que eu sempre fui uma egoísta? — Falou parecendo enojada de si mesma. — Eu que deveria ter morrido no lugar da minha mãe...
— Não diga isso, Liz! — Lia colou a testa na dela, seu peito estava apertado com aquela declaração absurda. Não conseguia mais imaginar a sua vida sem ela. — Você é incrível. Por favor, não fique pensando nessas coisas.
— Mas eu sou, Lia. Você ainda não ouviu tudo. — Ela sussurrou baixinho e entre lágrimas. Lia suspirou e apenas a deixou desabafar. — A família percebeu como ele estava e o internaram em uma clínica ou sei lá o quê... Foi nesse período que eu comecei a tocar violão e me envolver com música. Foi um jeito que encontrei de me afastar de tudo isso e conseguir seguir. Minha mãe sempre quis que eu aprendesse a tocar, mas eu nunca dei muita bola.
Lia se lembrava de que ela havia mencionado isso e que a música a havia ajudado a superar uma fase chata. Na ocasião quis saber mais sobre isso, mas como sempre, ela se fechou. Lia começava a se sentir mal por tê-la pressionado a falar tudo a esse ponto.
— Ele sempre melhorava um pouco, voltava, passava mais um tempo e piorava novamente. Foi assim por três anos. Sempre que ele entrava em crise eu vinha para cá.
Ela disse e ficou olhando para os cantos do quarto. Talvez lembrando do desespero e da dor de passar por tudo isso sendo tão nova. Caralh*! Perdera a mãe e ainda tentava se fazer de forte para ajudar o pai depressivo. Nem em um milhão de anos Lia um dia poderia imaginar o tamanho da carga emocional que ela tinha, já que Liz sempre teve um jeito tão alegre e despachado. Jamais imaginaria que ela havia passado por tudo aquilo.
Sentia vontade de chorar, mas conseguiu manter-se forte.
— Você deve ser muito ligada à sua tia. — Ponderou.
— Ela sempre foi a única a se importar de verdade comigo. Eu sou bem afastada da família do meu pai. Eles não passam de uns idiotas. — Ela revirou os olhos ao falar isso.
— Por que diz isso?
— Porque é a verdade. Eles são um bando de gananciosos. Foi minha tia Luísa que sempre cuidou de mim quando ele estava mal. De mim e da empresa. Ela é uma mulher incrível.
— Ela parece ser incrível mesmo. — Lia ainda nem a conhecia, mas se sentia super grata por tudo que ela fizera por sua roqueira rebelde.
— Daquela vez ele parecia mesmo diferente, mais disposto. Eu comecei a andar na empresa com ele. Primeiro eu ia para incentivá-lo. Lembro que eu realmente gostava de ir e ficar na sala com ele, nem que fosse arquivando papéis ou coisas do tipo... — Ela sorriu em meio as lágrimas ao lembrar-se de tudo isso. — E aí eu decidi que iria me formar para tocar a empresa com ele igual a mamãe.
Lia achou incrível conhecer os seus sonhos de menininha e se emocionou com aquilo. Pelo que ela lhe contava, parecia ser o tipo de menina responsável e madura, bem diferente da rebelde inconsequente que havia conhecido. No fundo, sempre conseguiu vê-la por trás da máscara que sempre insistiu em usar. Só não fazia ideia do que possivelmente teria lhe acontecido para que mudasse tanto, mas sentia que estava bem perto de descobrir.
— Mas aí eu me tornei adolescente e as coisas começaram a sair um pouco de controle. Eu estava com catorze anos e era o ano que eu completaria quinze. Meu pai colocou na cabeça que tinha que fazer um baile de debutante para mim. — Liz bufou. — Totalmente sem noção.
Realmente Lia não conseguia ver Liz em um tipo de situação como aquela. De vestido, toda feminina e dançando valsa com algum cara. Teve até vontade de rir da cena de tão absurda que parecia, mas se conteve, aquele não era mesmo o momento.
— Eu sempre fui assim, sabe? Desse jeito. Eu sempre soube o que eu era e do que eu gostava. Sempre me senti diferente. Eu não queria essa festa porque não seria eu mesma ali. Eu não queria estar rodeada por aquelas pessoas caretas e hipócritas. Como dizer a ele que ao invés de dançar com um príncipe. — Ela fez uma careta ao falar esse nome. — Eu queria, na verdade, uma princesa?
Lia parou um pouco para refletir. Nunca pensara realmente em como havia sido para Liz se assumir assim. Ela sempre foi tão livre e autêntica que nunca havia imaginado como poderia ter sido essa fase para ela.
— E ele fez a festa?
Liz a encarou por um longo tempo e engoliu em seco. Viu quando mais lágrimas rolaram por seu rosto. Ela parecia desolada e aflita. Sem conseguir mais resistir, a abraçou. Ela agarrou-se de volta a Lia com um desespero de partir e coração e como sempre, escondeu o rosto em seu pescoço e por lá se abandonou por um longo tempo. Lia a acalentou por vários minutos, apenas lhe fazendo carinho e sussurrando que tudo ficaria bem.
Aproveitou que ela não estava vendo e derrubou algumas lágrimas também. Não estava mais suportando vê-la sofrer daquela forma e a abraçou de uma forma tão terna e carinhosa, como se pudesse tomar toda a dor para si. Naquele momento, se pegou pensando no quanto a vida era injusta e muitas vezes cruel. Nunca havia passado nem um por cento do que Liz já havia vivido e mesmo assim ela parecia quase sempre tão feliz.
— Tudo bem se não quiser falar mais. — Sussurrou no ouvido dela, tratando de limpar o vestígio das lágrimas em seus olhos.
Liz se desencostou dela vagarosamente e a encarou. Levou a mão até seu rosto e o acariciou com a ponta dos dedos.
— Eu preciso contar tudo. Preciso! Eu quero isso, Lia.
Mais uma vez se surpreendeu. Tudo o que mais queria era entende-la e por sorte ela estava mesmo mais do que disposta a revelar tudo.
— Eu disse que confiava em você. Eu confio!
— Obrigada por isso. — Lia pegou a sua mão e depositou um beijo casto em sua palma.
— Obrigada por ter vindo. Eu não iria conseguir fazer isso sem você. Eu nunca falei sobre nada disso com mais ninguém depois de tudo que aconteceu.
— O que aconteceu com a festa? — perguntou ansiosa. Estava mesmo curiosa.
— Bem. Eu disse inúmeras vezes que eu não queria aquela festa até que eu discuti com ele. Ele parecia tão bem, já faziam quase dois anos que ele não tinha uma recaída. Quer dizer, ele nunca mais foi o mesmo, eu sempre conseguia perceber a tristeza dele, mas aparentemente tudo estava normal. Nós brigamos feio e eu saí de casa e vim para cá. Eu cheguei a passar quase um mês aqui. Já estava perto do meu aniversário e nada dele cancelar a festa, eu já estava ficando desesperada e então...
Ela prendeu a respiração e depois suspirou profundamente mais uma vez. Lia entrelaçou os dedos nos dela e se aproximou.
— Então, em uma noite, eu estava com a minha tia na sala, assistindo TV e ela recebeu a notícia de que ele havia se enforcado no próprio quarto. — Ela quebrou-se novamente e mais uma vez, as lágrimas molharam sua linda face.
Lia ficou estática. Estava tão envolvida no que Liz contava que sentiu um aperto doloroso no peito e as lágrimas chegaram sem convite, não pode evitar. Estava mesmo chocada e não conseguia acreditar que todas aquelas atrocidades já haviam acontecido na vida dela. Abraçou-a mais uma vez. Liz chorava em seus braços acolhedores.
Ali, naquele momento, finalmente entendeu tudo que ela havia sofrido e ainda sofria. Porque ela tinha tanto medo de se envolver e porque havia tanto peso sobre si quando mencionava algo sobre a própria família. Então por isso que o “amor” era um jogo perdido para ela? Caralh*! Ela deveria estar sentindo tantas coisas agora. Como superar algo assim?
Por isso sempre foi tão difícil falar. Lia se sentia mesmo muito mal e uma completa egoísta desalmada por não ter tido um pouco mais de compreensão com ela e a forma como a julgou sem saber de toda a sua dor... se sentia o pior dos seres humanos. Como queria a chance de poder fazer tudo diferente.
— Shhh... — Sussurrou. — Estou aqui com você, Liz. Eu estou aqui com você. Sempre!
Liz chorou por vários minutos e Lia estava se sentindo péssima ao vê-la daquela forma.
— Calma! — Ela beijou sua testa e a fez encará-la. — Você não está sozinha. Eu estou com você.
— Você é a única certeza que eu tenho na vida, Lia. — declarou-se emocionada.
— Você também é a coisa mais importante do mundo para mim.
Liz a olhou e deu um leve sorriso.
— Você merece alguém melhor do que eu.
— Não diga essas besteiras. — Lia tomou a sua face delicadamente e tratou de enxugar as suas lágrimas mais uma vez e depois distribuiu beijinhos por seu rosto.
— Tem mais uma coisa.
Liz falou se afastando mais pouco e abrindo a gaveta do criado mudo ao lado. “Ah, meu Deus! Mais?” Lia pensou em desespero. Viu que Liz retirou de lá um envelope e com uma certa relutância a entregou.
— Foi por essa carta que eu sumi no dia do meu aniversário. Esse foi o motivo.
Lia olhou para o envelope amarelado e completamente amassado. Viu que havia algo escrito nele: "Para Lisandra, quando ela completar 21 anos."
— Meu pai deixou essa carta para mim antes de se matar. A minha tia encontrou nas coisas dele e guardou todo esse tempo. Por isso eu sumi. — Ela parecia afobada e muito ansiosa enquanto falava. — Ela me ligou no dia do meu aniversário e me disse sobre a carta. Eu não consegui pensar em mais nada. Eu sei que não justifica, mas foi isso que aconteceu...
— Não precisa dizer nada, eu sei. Já entendi tudo. — Falou tentando acalmá-la.
— Me perdoa, linda! Por favor, me perdoa...
O coração de Lia acelerou e todo o seu ser se encheu de culpa.
— Eu que peço desculpas por ter julgado tanto você.
— Mas eu agi errado também. Eu sei. Eu vejo isso agora. Me perdoa.
Elas se abraçaram com vontade e Liz recostou o rosto sobre o peito de Lia, que estava sentada e escorada na cabeceira da cama.
— Não se preocupe com isso agora, depois conversamos sobre nós, ok? — Lia passou os dedos por seus cabelos e retomou o assunto, perguntando cautelosamente. — O que tem na carta afinal?
Liz se afastou mais uma vez e sentou-se de frente para ela, que ainda segurava o envelope firmemente.
— É por isso que eu pedi para vir comigo hoje. — Ela balançou a cabeça desolada e olhou bem para Lia. — Eu não consegui ler essa carta, eu tenho medo do que tem aí. Quero que você a leia para mim...
***
Fim do capítulo
N/A: Espero que gostem e não se desesperem que logo logo terá mais.
Bjs!
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patty-321
Em: 17/09/2020
Pesado demais. Não sei como ela não sucumbiu sem ter um troço e nunca procurou ajuda psicológica.
Resposta do autor:
Olha, é uma boa pergunta, viu?!
Também não sei como ela conseguiu aguentar tudo isso sozinha. E ela guardou por muito tempo tudo isso. Por isso foi difícil essa situação com a Lia, mas ela aprendeu muito a partir daí. É lindo ver a evolução dela.
Bjs
Val Maria
Em: 08/09/2019
Oi autora!
Até que enfim a Liz teve coragem de levar a Lia para o seu mundo.
Só espero que ela abra essa carta e que sua menina segure essa barra juntas.
Autora,que trama maravilhosa,amo muito.
Beijos e até o próximo.
Resposta do autor:
Olá Val
Sim, até que enfim Liz desabafou. Guardar tudo isso só para si era uma coisa que a fazia muito mal. Lia está muito preocupada com ela. São muitos sentimentos intensos e ruins.
Aque foi o ponto de partida para que as coisas comecem mesmo a mudar. Lia será muito importante nessa fase de "reconstrução"/ amadurecimento da Liz e vice-versa. As duas são perfeitinhas juntas. Amo demais.
Eu fico contente demais que esteja gostando da trama, me sinto de missão cumprida.
Desculpe a demora em responder e postar o 25. Espero que tenha gostado mesmo.
Beijinhos!
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luaone
Em: 03/09/2019
Nossa! Quantas coisas...
Caramba Kiss, Tô sem palavras... Que trama bem feita. Parabéns!
Mas já estou com o coração apertado aqui...
Resposta do autor:
Ai que eu fiquei muito emocionada quando li esse comentário aqui.
Vindo de você que é tão exigente então... eita! Rsrsrs
Desculpe mesmo pela demora em responder os comentários e em postar o 25. Rsrsrs
Bjs!
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Elna Vale
Em: 02/09/2019
Oi menina...
Sério que vc termina este capítulo desta forma?
Ah não?!não tô acreditando que vc fez isso!
Que Capitulo heim? nossa,fiquei até emocionada!
Vc esta de parabéns... Não demore!
Bjs
Resposta do autor:
Olá querida Elna
Own... terminei sim. kkkkkk Tenho que deixar vocês na expectativa. Não me odeia, por favor!
Não acredito que se emocionou. Own S2 S2 S2... sério mesmo? Esse tipo de situação também sempre mexe comigo e é um assunto tão sério! Enfim... fico feliz que Liz finalmente tenha decidido se abrir com Lia sobre isso. Ela foi perfeita.
Obrigada mesmo pelo elogio e pelas palavras gentis. Amo os seus comentários e desculpe pela demora em te responder e postar o 25, mas a inspiração sumiu semana passada com o cansaço. Enfim... estou para entrar de férias do trabalho e iriei escrever o máximo possível.
Beijinhos!
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alany
Em: 01/09/2019
Minha nossa, comecei a ler e me encantei com a história. Já estou ansiosa pelos próximos capítulos.
Resposta do autor:
Olá Alany
Olha... primeiramente fico muito feliz mesmo que a estória tenha chamado sua atenção e que deu uma chance para ela... muito obrigada mesmo.
Que maravilha que se encantou pelas minhas meninas, estou tão apegada a elas. Rsrsrs
Bem, peço desculpas pela demora em postar o 25 pela demora em responder o seu lindo comentário.
Espero por você no próximo e espero que goste.
Beijinhos!
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Rosangela451
Em: 01/09/2019
Kiss que tenso
Liz conseguiu liberar toda a verdade...
O que será que tem na carta ?
Capítulo lindo ... me emocionei com elas
Não demore
Beijos
Resposta do autor:
Olá RoRo
Então né... super hiper tenso! Eu fiquei aliviada por finalmente fazê-la contar tudo. Há anos ela guardava isso para si mesma. Horrível!
A carta ficou bem emocionante... não sei se já leu, mas foi algo que planejei desde o começo e ela ficou da forma que eu queria que ficasse.
Fico feliz demais de tê-la como minha leitora e que goste dos capítulos. Saiba que foi uma das que mais me incentivou a continuar. Sou muito grata. S2 S2
Desculpe a demora tanto em postar quanto em responder. Rsrsrs
Beijinhos!
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Brescia
Em: 01/09/2019
Bom dia mocinha.
Foi um espetáculo esse capitulo, tudo se encaixou nos seus devidos lugares, nada sem pontas perdidas, a descoberta de Liz que o amor pode ser maior do que a dor e pode fazê-la enxergar a verdade de que ela não precisa e nem deve carregar um fardo que não é seu. Ainda bem que a Lia provou que a ama de verdade e confiou nela. Lindo!!!
Bravíssima piccola escrittrice.
Resposta do autor:
Olá mocinha
Olha, fico muito feliz que esteja gostando do desenrolar das coisas. O meu intuito com essa estória desde o começo é que ela tivesse um clima leve e despretensioso. Drama faz parte e não dá pra fugir, mas o foco de tudo é esse romance lindo entre as duas, enfim.
Sim, esse momento será importante na vida da Liz, a partir daqui tudo irá começar a mudar. Está sendo lindo vê-las amadurecendo juntas. Ainda bem que Liz desabafou, isso a consome sempre, eu no ligar dela já teria explodido. No entanto, isso é algo bem real. O jovem gosta de esconder e guardar tudo dentro de si, aí que mora o perigo.
O que falar da Lia??? Ela é a minha preferida. Meu anjinho irritado. Eu a amo, ela é foda demais. Rsrsrsrs
Obrigada mais uma vez pelo seu lindo e sensível comentário e desculpe pela demora em lhe responder.
Beijinhos!
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