Capítulo 18 – Explicações

 

- Eu sabia que você não demoraria a me procurar. – A ruiva falou ao atender a ligação.

 

- Como vai, Rebecca? – Vitória perguntou um pouco desconfortável. – Estou ligando pois precisamos conversar.

 

- Estava esperando por isso. – Rebecca falou sorrindo. – Quer me encontrar aqui no hotel?

 

- Não, te busco e iremos jantar em algum restaurante. EStar

 

Vitória pensou que seria uma boa ideia conversar com Rebecca num restaurante, assim não correria o risco de algo a mais acontecer entre elas.

 

- Como você quiser, te espero às 20h?

 

- Estarei aí.

 

- Venha ainda mais linda. – Rebecca pediu provocante.

 

Vitória sentiu um leve arrepio com o pedido, mas revirou os olhos e findou a ligação, sem querer dar corda ao galanteio de Rebecca.

 

Seu coração parecia acelerar só de pensar nesse jantar, mas não teria outra opção, não conseguiria tirar aquela história da cabeça enquanto não acontecesse aquela conversa com Rebecca.

 

A morena estava perdida em pensamentos, nervosa demais para começar seu trabalho, quando viu a porta de sua sala ser aberta e uma Laísa sorridente aparecer.

 

- Bom dia, Vi! – Laísa carregava consigo um café comprado especialmente para a namorada.

 

- Bom dia, minha loirinha! – Vitória respondeu tentando esquecer Rebecca e o encontro que aconteceria naquela noite.

 

- Fiquei preocupada com você ontem, por isso vim ver como você está. – Falou ao sentar no colo da namorada e fazer um carinho em seu rosto. – Inclusive, trouxe isso aqui para você. –Falou ao entregar o café.

 

- Obrigada! – Vitória deu um beijo em Laísa. – Mas não precisava se preocupar comigo, eu estou bem.

 

- Ontem você estava transtornada, Vitória. Você não quer conversar sobre o assunto?

 

Vitória suspirou. Não queria que Laísa ficasse sabendo de nada daquela história, tinha medo que sua namorada ficasse do lado de Ana Júlia, seu ciúme falava mais alto.

 

- Esse assunto é passado, eu juro que está tudo bem. – Vitória se esquivou do assunto. – Agora eu quero meu beijo de bom dia.

 

…

 

- Amiga, você está fazendo muita falta aqui! – Luciano estava numa chamada de vídeo com Ana Júlia.

 

- Ah, Lu, eu sei que sou uma ótima arquiteta, mas o escritório é capaz de sobreviver sem mim. – Ana Júlia brincou.

 

- Eu não estava falando do escritório, sua lenta. – Luciano revirou os olhos. – Estava falando de mim, mas, aliás, não sou só eu quem está sentindo sua falta.

 

Ana Júlia sabia de quem o amigo falava e não pode evitar um suspiro, ao pensar na saudade que também sentia de Laísa.

 

- A Laísa perguntou por você algumas vezes. – Luciano continuou diante do silêncio da amiga.

 

- Lu, eu tenho uma novidade! – Ana Júlia falou para mudar de assunto.

 

- Conta então, Naju. – Luciano notou que a amiga não queria falar sobre Laísa.

 

- Eu vou voltar pro Brasil mês que vem, me chamaram para participar do congresso anual.

 

- Sério? Que bom, Naju! – Luciano comemorou exagerado, fazendo a amiga sorrir. – Eles ligaram para cá e Vitória teve que indicar outra pessoa.

 

Luciano já estava sabendo que Laísa iria naquele congresso a pedido de Vitória, mas decidiu não comentar nada, pois isso poderia fazer com que Ana Júlia desistisse de sua volta.

 

- Pois é. Eles me ligaram oferecendo um convite a parte. A priori, eu recusei, mas minha mãe está me obrigando a aceitar. – Ana Júlia falou tediosa.

 

- Acho que sua mãe faz muito bem! – Luciano sorriu da expressão emburrada da amiga. – Não adianta nada fugir, Naju, para de tentar enganar a si mesma. Você não quer saber da Laísa? Tudo bem! Não quer que ela saiba de você? Tudo bem! São escolhas suas, mas não vai ser indo para o outro lado do oceano que você vai esquecer tudo que aconteceu aqui.

 

Ana Júlia vinha pensando muito em tudo que aconteceu entre ela e Laísa, desde que sua mãe começou a pressionar para que voltasse para o Brasil e retomasse sua vida. A verdade é que ela sabia que Marta e Luciano tinham razão quando diziam que fugir não era a solução de seus problemas.

 

- Eu sei. Ainda não teve um dia aqui que eu não pensasse nela. – Confessou cabisbaixa. Luciano sorriu, sabendo bem de quem sua amiga falava. – Mas não quero falar sobre isso.

 

- Ela iria gostar de falar com você. – Luciano insistiu mesmo sabendo que Naju se irritaria. – O pai dela está passando por uma fase difícil.

 

- Ele está bem? A doença piorou? – Ana Júlia perguntou preocupada, pois já tinha se afeiçoado a família de Laísa.

 

- Parece que a situação dele está cada vez mais delicada. A Laísa não gosta de ficar falando sobre isso, você a conhece. Mas acho que ela ficaria muito feliz em receber o seu apoio nessa situação, Naju.

 

Ana Júlia respirou fundo contrariada. Não tinha clima para Laísa, mesmo que sua vontade fosse fazê-lo imediatamente.

 

- Prometo que vou pensar sobre isso, tá!?

 

…

 

Vitória mal conseguiu se concentrar em seu trabalho durante o dia, seu nervosismo a impedia de ficar no que deveria fazer, por isso resolveu ir para casa um pouco mais cedo.

 

Sua cabeça não se desligava do passado, era como se estivesse revivendo tudo que passara anos atrás. Sentia um arrepio involuntário em sua espinha ao lembrar dos beijos e momentos íntimos vividos com Rebecca.

 

…

 

Vitória chegou da casa de Rebecca e foi até o quarto de Ana Júlia, estava muito contente e queria compartilhar com a prima.

 

Assim que entrou no quarto, deparou-se com Ana Júlia deitada na cama enquanto falava ao telefone.

 

Deitou na cama ao lado da prima e pode ouvir ela se despedindo carinhosamente de alguém.

 

- Olha só quem está toda apaixonada. – Vitória comentou assim que a prima terminou sua ligação.

 

Ana Júlia abraçou a prima. Estava ao telefone com Rebecca, já não conseguia mais esconder o quanto estava encantada com sua nova professora.

 

- E estou mesmo, Vi. Estou completamente apaixonada pela mulher mais linda desse mundo! – Confirmou sorridente.

 

- Aí, mas também não precisa ficar tão melosa, hein. – Vitória zombou, mesmo achando fofa a felicidade da prima.

 

- Eu tô feliz, Vi, me deixa vai.

 

- E quando você vai me apresentar sua namorada? – Vitória perguntou curiosa. – Você ainda não me disse sequer o nome dela.

 

- Ela ainda não é minha namorada. E por enquanto eu não posso te falar nada, mas na hora certa você vai saber. – Ana Júlia respondeu séria, pois já tinha conversado com Rebecca sobre manter em sigilo o romance entre elas.

 

- Nossa, mas quanto mistério! – Vitória revirou os olhos.

 

- Mas, e você, hein? Estava na rua até agora fazendo o que? – Ana Júlia questionou, mas já imaginava. – Estava com alguma mulher, com certeza. Você precisa parar com esse rodízio, Vitória.

 

- Bom, acho que agora você tem razão, prima. – Vitória falou enquanto levantava da cama, queria tomar um banho e dormir pensando em Rebecca. – Eu estava com uma mulher sim, a mais especial de todas! – Vitória jogou um beijo para a prima e saiu de seu quarto, sem dar tempo para novas perguntas.

 

…

 

 

- Eu preciso entender tudo que aconteceu para dar um fim a essa história. – Pensou enquanto se olhava no espelho, tentando decidir qual roupa usaria.

 

Por mais que não quisesse dar asas às sensações que Rebecca lhe causava, queria estar bonita naquele dia, mostrar a ruiva que estava bem e feliz sem sua presença.

 

Depois de algum tempo, Vitória finalmente se deu por satisfeita com o que viu no espelho. Estava toda de preto, com uma calça justa e um salto que valorizavam suas pernas. Tinha certeza que Rebecca sentiria admiração por ela naquela noite.

 

- Eu só preciso ser forte por uma noite. – Falou para si mesma ao olhar no relógio e perceber que já estava na hora de sair de casa.

 

Assim que parou seu carro em frente ao hotel onde Rebecca estava hospedada, Vitória sentiu suas mãos suarem de nervoso, mas estava decidida a não deixar que quaisquer sentimentos do passado falassem mais alto.

 

Ainda assim, não pode evitar um olhar admirado ao ver Rebecca se aproximando. Parecia que os anos só tinham feito bem a ruiva, que mesmo sendo 12 anos mais velha, não aparentava a idade que tinha.

 

- Boa noite! – Uma Rebecca sorridente falou ao entrar no carro.

 

- Boa noite, Rebecca! – Vitória respondeu sem sequer olhar para a ruiva e deu partida no carro.

 

- Seu perfume continua o mesmo. – Rebecca falou atenta a Vitória, mas não obteve resposta. – Eu sempre fui apaixonada pelo seu cheiro. E a propósito, quando pedi para que viesse linda, não imaginei que iria caprichar tanto.

 

- Será que dá para você ficar quieta? – Vitória falou irritada pelas reações que já sentia com a simples presença de Rebecca no carro.

 

Rebecca assentiu e ficou calada durante o resto do trajeto. A ruiva não se abalou com o corte de Vitória, sabia que precisava de paciência para se reaproximar depois de tantos anos e sabendo da mágoa que Vitória sentia pelo fim inexplicado do relacionamento.

 

As duas chegaram ao restaurante e Vitória continuava séria e em silêncio, perdida em seus pensamentos e tentando controlar suas reações diante de Rebecca. Olhar para a ruiva era como voltar para a época em que viveram um romance.

 

- Você me ligou e disse que a gente precisava conversar, mas sequer está olhando para mim. – Rebecca comentou depois de Vitória somente falar para fazer seu pedido.

 

Vitória suspirou pesado e finalmente encarou Rebecca.

 

- Eu fiquei com suas palavras na cabeça. – Comentou com uma careta insatisfeita. – Você não tinha o direito de reaparecer e me falar aquelas coisas.

 

- Eu não tenho motivos para esconder nada de você. – Rebecca fez um leve carinho sobre a mão de Vitória. – Pode me perguntar o que quiser, serei sincera!

 

Vitória sorriu triste e tirou a mão que Rebecca acarinhava.

 

- Acho que tenho tantas coisas para te perguntar, mas não sei se realmente quero saber.

 

Nesse momento, o celular de Vitória tocou indicando uma ligação de Laísa. A loira estava em casa, mais cedo passara na sala da namorada antes de sair do escritório, mas não a encontrou.

 

Vitória não queria falar com Laísa na frente de Rebecca, então recusou a ligação.

 

- Eu esperei muito tempo para estar com você de novo. Quando cheguei no Brasil, não conseguia pensar em outra coisa além de te ver novamente.

 

- O que te fez ir embora, Rebecca?

 

Vitória foi direta, já que estava com essa pergunta entalada em sua garganta.

 

- Dinheiro, conforto, interesse, eu poderia te dar vários motivos e qualquer deles você me achará uma verdadeira babaca. – Rebecca contou encarando Vitória e seu semblante chateado com aquela resposta, mas não poderia mentir agora. – A sua família tem poder, influência. Quando a mãe da Ana me procurou, minhas opções eram continuar em Londres e sofrer as consequências ou aceitar a proposta para lecionar em uma faculdade em Edimburgo, ganhando o dobro do meu salário.

 

- Foi bem fácil tomar uma decisão, não é? – Vitória falou visivelmente chateada.

 

- Sim! – Vitória olhou surpresa para Rebecca, não esperava uma resposta tão direta. – A decisão foi fácil, mas ir embora foi dolorido, muito dolorido.

 

- Você poderia ter me contado isso tudo naquela época.

 

Rebecca pensou no que escutou. Sabia que naquela época, se tivesse contado isso para Vitória estaria criando uma confusão maior ainda, já que a morena jamais aceitaria aquilo numa boa.

 

- Vitória, eu nunca me arrependi de ter me envolvido com você, nem com Ana Júlia, mas eu também não poderia causar um estrago ainda maior na vida de vocês. Talvez a minha partida tenha sido um lapso de consciência.

 

- Lapso de consciência? – Vitória se irritou. – Você me abandonou sem dar a mínima explicação, Rebecca. Você tem noção do quanto eu fiquei destruída? – Vitória sentia um nó em sua garganta.

 

Rebecca não respondeu, sabia que nenhuma resposta satisfaria Vitória. As duas foram servidas e passaram alguns minutos em silêncio, apenas se olhando enquanto jantavam.

 

O silêncio foi quebrado pelo toque do celular de Vitória, que indicava uma nova ligação de Laísa. Novamente, Vitória recusou a chamada.

 

Rebecca já havia percebido as ligações e ficou curiosa.

 

- Você tem alguém?

 

- Isso te deixa com ciúmes?

 

- Sim. – Rebecca revirou os olhos com sua própria sinceridade, mas percebeu o desconforto de Vitória com aquela resposta. – Mesmo sabendo que não tenho direito algum, isso me incomoda.

 

- Respondendo a sua pergunta, sim, eu tenho uma namorada. – Vitória contou, confirmando a suspeita de Rebecca, que não fez questão de esconder seu semblante chateado.

 

- Eu poderia dizer que fico feliz por você, mas estaria mentindo.

 

- Por que você voltou para o Brasil, Rebecca? – Vitória perguntou incomodada com aquele assunto. – E não venha me dizer que foi por mim, não sou tão idiota assim.

 

- E não foi. Eu recebi uma proposta para lecionar aqui no Brasil. Você foi a primeira coisa que veio a minha cabeça. – Contou sendo sincera. – Depois disso, independente de aceitar ou não essa proposta, eu não conseguia pensar em mais nada além de voltar para cá e te procurar.

 

- Então você voltou para ficar?

 

- Ainda não sei. Eu quis te procurar antes de tomar alguma decisão, confesso que tinha alguma esperança de que esse reencontro pudesse influenciar no fim das contas.

 

Vitória estava confusa e não sabia no que deveria acreditar naquela história toda. Ao mesmo tempo que parecia reviver dentro de si a paixão que sentiu por Rebecca, o medo e a dor do abandono também se faziam presentes.

 

- Eu acho que já deu a hora de irmos embora. – Vitória falou querendo dar fim àquela conversa.

 

- Como você quiser.

 

Vitória fez questão de pagar a conta e levar Rebecca de volta ao seu hotel, mas não sabia ao certo se era uma atitude educada por ter sido ela quem convidou ou se era apenas um pretexto para passar mais alguns minutos na companhia da ruiva.

 

O caminho foi silencioso, as duas mulheres perdidas em seus próprios pensamentos depois daquela conversa tão franca entre elas.

 

- Obrigada pelo convite e pelo jantar! – Rebecca se virou para Vitória assim que o carro parou em frente ao hotel. – Espero que tenha ficado tudo claro para você. Principalmente, quanto aos meus sentimentos.

 

- Sim, essa conversa foi realmente esclarecedora! – Vitória respondeu sem olhar para Rebecca. – Bom, acho que já está tarde, né!?

 

Rebecca tocou levemente a perna de Vitória, fazendo um carinho que chamou sua atenção e quando notou que a morena não recusou seu toque, Rebecca aproveitou para se aproximar.

 

- Mesmo imaginando sua recusa, eu não posso deixar de perguntar se você aceita subir e tomar mais uma taça de vinho comigo.

 

Vitória encarou Rebecca pela primeira vez desde que entraram no carro. A pouca luz e a proximidade entre as duas a incomodava um pouco, mas não havia vontade de afastá-la.

 

- Não acho que seja uma boa ideia. – Vitória respondeu um pouco desconcertada.

 

- Tudo bem! – Rebecca respondeu e agora sua mão já percorria os braços da morena, indo em direção ao seu pescoço. – Todos esses anos eu sempre quis esse reencontro e soube que ele despertaria sentimentos em mim, mas o que eu não imaginava é que você continuaria sendo tão irresistível para mim. – Rebecca falava com os lábios tão próximos aos de Vitória que a morena conseguia sentir seu hálito tocando a pele.

 

- Rebecca... Por favor...

 

- Eu senti falta do seu cheiro todos os dias. – Rebeca continuou tentando derrubar as defesas de Vitória. – Senti falta da sua pele, dos seus lábios, do seu gosto...

 

Vitória sentiu o leve roçar dos lábios e num lapso de consciência se afastou, impedindo que o beijo começasse.

 

- Você não quer? – Rebecca perguntou sem se afastar.

 

- Eu não posso! – Vitória sentia um arrepio em sua espinha e, nervosa, tirou a mão de Rebeca que fazia um carinho em sua perna. – É melhor eu não fazer nada que me arrependa depois.

 

- Isso quer dizer que você ainda me deseja. – Rebecca sorriu satisfeita, mas desfez o sorriso ao notar a expressão brava de Vitória. – Você quer que me afaste?

 

- Não! – Vitória respondeu rápido sem pensar. – Não sei, Rebecca. – Corrigiu. – Eu tô muito confusa com tudo que tá acontecendo, com tudo que você contou. Eu preciso de um tempo para assimilar isso tudo.

 

- Eu entendo. – Rebecca puxou uma mão de Vitória e deu um leve beijo. – Obrigada pela noite maravilhosa!

 

Vitória observou Rebecca descer do carro e entrar no hotel, enquanto tentava assimilar tudo que aconteceu. Ainda parecia surreal demais para ela o retorno da ruiva e tudo que havia sido revelado somente agora. Vitória ainda tinha algumas dúvidas quanto a acreditar em tudo que fora dito por Rebecca, sabia que precisava ter uma conversa com sua tia Marta para esclarecer de vez toda a história.

 

…

 

Ana Júlia estava sentada na cama mexendo em seu computador quando percebeu sua mãe entrando em seu quarto.

 

- Oi, mãe. Achei que já estivesse dormindo.

 

- Pretendo fazer isso agora, só vim aqui te entregar isso aqui.

 

Só então Ana Júlia notou que sua mãe tinha algo em mãos.

 

- E o que é isso? – Perguntou curiosa, mas assim que sua mãe lhe entregou, notou que se tratava de uma passagem aérea em seu nome. – Mãe, você não precisa me tratar como criança. Eu mesma compraria minha passagem.

 

Marta sorriu percebendo que irritou a filha, seu semblante expressivo deixava isso claro.

 

- Não estou te tratando como criança, Aninha, eu só comprei sua passagem porque também comprei a minha.

 

- Como assim? – Ana Júlia fez cara de desentendida. – Comprou passagens para você?

 

- Você já foi mais esperta, filha. – Marta brincou, provocando um pouco mais. – Nós partimos dois dias antes do seu congresso.

 

- Mãe! – Ana Júlia estava incomodada por imaginar que sua mãe não havia confiado nela. – Eu não iria fugir no meio do caminho.

 

- Eu sei disso, não estou indo para te vigiar, Aninha. – Marta explicou sorridente, já na porta do quarto da filha. – Estou indo pois algo me diz que eu preciso fazer uma visita ao Brasil.

 

Ana Júlia não entendeu muita coisa do que sua mãe estava tramando, mas sabia que ela tinha algo em mente. Evitou pensar naquilo, assim como vinha evitando pensar em tudo que envolvesse seu retorno, tentando não se sentir tão ansiosa e criar qualquer expectativa.

 

…

 

- Eu amei o nosso final de semana, Vi! – Laísa falou quando sua namorada estacionou o carro em frente ao seu prédio. – Era tudo que eu estava precisando depois de tanta correria.

 

Três semanas haviam passado desde a chegada de Rebecca. Desde a noite do jantar a ruiva não procurava por Vitória.

 

Vitória tentara não se abalar, mas era nítido o quanto aquele jantar havia lhe afetado, ao ponto de Laísa notar sua distância. Então para se redimir com a namorada, Vitória levou a loira para passar um final de semana em uma pousada na serra.

 

- Que bom que você gostou! – Vitória deu um selinho na namorada. – Jura que não está chateada comigo?

 

- Amor, esquece isso. – Laísa fez um carinho na mão de Vitória, a tranquilizando. – Eu queria muito que você estivesse ao meu lado no hospital, mas isso já passou.

 

Alguns dias antes, Marcelo foi para o hospital às pressas e devido ao seu coração estar frágil sofreu uma parada cardíaca e ainda estava internado se recuperando.

 

- Eu prometo que serei mais presente. – Disse fazendo carinho na namorada. – E eu também amei passar esses dias com você.

 

- Bom, agora acho que irei subir, afinal amanhã já começa tudo de novo. – Falou se referindo a segunda-feira e início de mais uma semana de trabalho.

 

- Verdade. Lembre-se de pedir a Carla que confirme sua passagem e hotel amanhã, você viaja na quinta-feira a noite. – A semana do congresso já estava batendo a porta. – Aliás, você tem certeza que está bem para ir ao congresso?

 

- Tenho, vai ser bom para mim, eu quero ir sim!

 

As duas se despediram com beijos e Laísa foi para casa descansar. Precisava dormir para ir até o hospital na manhã seguinte antes do trabalho.

 

Na manhã seguinte, depois de visitar seu pai, que estava na UTI esperando por um coração compatível, Laísa chegou ao escritório e se concentrou em seu trabalho.

 

Quando já estava no fim da tarde, foi até a cozinha tomar um café e somente nesse momento lembrou-se do pedido de Vitória para que confirmasse as informações sobre sua viagem.

 

- Oi, Carla! Tudo bom? – Laísa perguntou simpática, mas no fundo não fazia mais tanta questão de ser legal com a secretária depois do episódio que presenciou na sala de Vitória.

 

- Tudo ótimo, Laísa, e você, como está?

 

- Estou bem. Vitória pediu que eu confirmasse com você sobre meu voo e o hotel que ficarei hospedada durante o congresso.

 

Carla passou todas as informações que Laísa precisava, a loira ficaria no hotel onde o evento aconteceria e um carro seria alugado para ela também.

 

Maliciosa, Carla quis alfinetar o relacionamento de Laísa com sua chefe.

 

- Laísa, mudando de assunto, chegou arquiteta nova? Porque a Vitória não me falou nada sobre isso.

 

Laísa não entendeu do que a mulher falava, afinal, também não estava sabendo de nada sobre uma nova arquiteta. Na hora, Laísa pensou em Ana Júlia e imaginou que pudesse ser alguém para substituí-la.

 

- Arquiteta nova? Também não estou sabendo de nada, Carla. Mas quem te falou isso?

 

Carla sorriu maliciosa.

- Ninguém, só estou perguntando porque Vitória recebeu uma mulher, uma ruiva muito

bonita, as duas estão lá na sala da Vitória já tem algum tempo. Pensei que pudesse ser alguma amiga que Vitória chamou para trabalhar aqui, já que ela não quis nem esperar ser anunciada, disse que Vitória ficaria feliz com sua visita.

 

Laísa deixou claro pelo seu semblante a desconfiança que aquela história lhe causou, o que deixou Carla internamente satisfeita, sabia que tinha alcançado seu objetivo.

 

- Bom, não estou sabendo de nada, Carla. Se eu souber de algo, te conto depois.

 

Laísa voltou para sua sala, mas ainda estava insatisfeita com o que escutou de Carla e depois de tentar voltar ao trabalho e não obter sucesso, já que não havia concentração para isso, a loira foi até a sala de sua namorada.

 

Mas quando Laísa entrou na sala de Vitória, viu algo que não a agradou nem um pouco.

 

Fim do capítulo