Capítulo 33
Diálogo com os Espíritos -- Capítulo 33
Uma sombra de tristeza passou pelos luminosos olhos castanhos de Fernanda. Cléo foi capaz de ler a expressão no rosto dela com extrema facilidade; dor.
-- Foi por isso que decidi reatar o noivado e me casar no dia 14. Quero realizar o sonho dele de entrar na igreja comigo.
Cléo ficou em silêncio por alguns momentos, refletindo sobre as palavras de Fernanda. Por que será que não conseguia engolir aquela doença tão providencial?
-- Não fique assim -- disse ele, pegando a mão dela e segurando-a com firmeza -- Eu também, várias vezes senti vontade daquilo que começa com Fu e termina com Der.
-- Fu...der? -- Fernanda levantou as sobrancelhas.
Cléo girou os olhos.
-- Fugir pra bem longe quando der.
-- Ah, tá -- a psicóloga ajeitou-se na cadeira, debruçando-se um pouco sobre a mesa -- Não contei para a Alicia porque não quero atormentá-la com meus problemas. Ela já tem muito com que se preocupar -- disse a moça, pesarosa -- É a única coisa a fazer: sair do caminho da Alicia.
Um sorrisinho sínico brotou nos lábios de Cléo.
-- Que foi? -- perguntou Fernanda, notando que o rapaz tinha algo em mente.
-- Você é uma boba. Não entende que mentir para a Alicia não é a melhor saída? Aposto que ela ficaria menos triste se soubesse a verdade.
-- Não existe saída, Cléo. Nesse momento a única coisa que quero é ver o meu pai feliz.
-- Eu te entendo -- ele disse, triste -- Minha tia morreu na semana passada.
-- Ai, meu Deus. O quê que ela tinha? -- Fernanda perguntou, pesarosa.
-- Pouca coisa, uma casinha velha, um fusca e um terreno na Baixada.
-- Não foi bem isso que eu perguntei, mas tudo bem -- Fernanda pegou a xícara e levou até a pia -- Por favor, Cléo. Não conte para Alicia. Promete?
-- Claro. Deixa comigo -- Cléo se inclinou oferecendo a face para Fernanda depositar um beijo carinhoso -- Minha boca é um túmulo!
Minutos depois...
Irritada, Alicia deu um soco no volante.
-- Quer dizer que aquela...
-- Vaca! -- completou Cléo.
-- Isso -- concordou a médica -- Fez chantagem emocional com a...
-- Tansa!
-- É -- Alicia hesitou, mas balançou a cabeça concordando -- E eu...
-- Burra!
-- CHEGA! -- Alicia berrou, Cléo se encolheu no banco -- Você já está se passando -- ela ligou a ignição, engatou a marcha e saiu cantando pneus.
-- Falei alguma mentira? -- ele retrucou, demonstrando coragem -- Desde o início desconfiei que tinha o dedo daquela embaixadora do capeta.
-- Eu também -- disse Suelen de maneira firme, levantando o queixo -- Isso não se faz, imagina, jogar para cima da filha um sacrifício desses!
Juliana balançou a cabeça contrariada.
-- O fato da mãe da Nanda ter feito chantagem emocional não muda em nada a situação. Ela vai se casar do mesmo jeito.
-- A Ju tem razão -- murmurou, Suelen.
Cléo passou a mão no queixo, pensativo.
-- É coincidência demais o coroa aparecer com essa doença maligna bem na semana que o casamento estava marcado. Vocês não acham?
As moças se entreolharam, confusas.
-- Era bem nisso que eu estava pensando -- comentou Suelen -- Tem cara de armação da ch*pa cabra.
-- O que você acha, docteur?
Alicia virou o rosto para o outro lado e não respondeu. Cléo inclinou o corpo um pouco para frente para encará-la.
-- Desculpe se te chamei de burra, docinho. Jamais imaginei que entenderia.
Alicia virou a cabeça, erguendo uma sobrancelha.
-- Pessoas tem o direito de serem chatas, mas algumas delas abusam desse privilégio.
-- O que pretende fazer Alicia? -- indagou Juliana.
-- Ainda não sei. Estou mais indecisa que camaleão em frente a arco-íris!
-- Para uma médica deve ser fácil ter acesso a resultados de exames. Porque não tenta descobrir aonde foram feitos e se o resultado é, realmente tão devastador! -- Suelen era pura ansiedade agora, olhava fixamente para Alicia, torcendo para que ela dissesse sim.
-- Vou pensar -- ela respondeu, num fio de voz -- Não sei se devo me envolver em um assunto de família.
Suelen e Juliana, decepcionadas, nada mais disseram. Cléo por sua vez não estava disposto a desistir. "Desistir é para os fracos. Os fortes lutam, quebram a cara, erguem a cabeça e continuam quebrando a cara". Pensou consigo.
O trajeto de volta para casa tinha sido feito em completo silêncio. Alicia imersa em seus pensamentos e Cléo se preparando para dar uma sacudida na doutora.
Quando entraram no apartamento, Alicia foi direto tomar um comprimido para a sua dor de cabeça. Bem, não há de ser nada! Murmurou consigo.
Cléo foi atrás dela, determinado a convencê-la a lutar por Fernanda.
-- Vou preparar um café para nós -- avisou Cléo, contendo a apreensiva curiosidade, pois sabia que não tiraria nada da doutora se ela não quisesse falar.
Na cozinha, enquanto esperava a cafeteira aprontar o café, não percebeu que batia um pé no chão, impaciente. Queria entrar no assunto, mas não sabia como. Era uma situação complicada. Suspirou fundo, enquanto enchia as xícaras e as colocava sobre a mesa.
Alicia continuava imóvel na cadeira, olhando fixamente para os desenhos da toalha de mesa.
Cléo pegou a lata com bolachas, pôs na mesa e sentou-se em frente a Alicia.
-- Docteur!
-- Hum? -- Alicia olhou para o rapaz, tentando disfarçar o desanimo.
-- Eu entendo que o seu relacionamento com a Thais chegou ao fim, de uma forma muito trágica e prematura e que a docteur deve se sentir triste e saudosa. Mas, as coisas passaram e, a docteur deve sim tratar esse tempo com respeito, como uma fase muito linda de sua vida. Porém, passou; sejam as lembranças doces ou amargas, elas agora fazem parte do passado. Deu certo durante o tempo maravilhoso que passaram juntas, só que acabou. Agora o que importa é recomeçar.
-- O que você está querendo dizer? -- interrompeu Alicia, parecendo impaciente e zangada.
-- Que além do coração, a docteur precisa abrir também a mente. Pense que você merece amar e ser amada novamente. Que você pode sim ser feliz novamente.
-- Eu nunca mais vou encontrar uma pessoa tão meiga, tão bondosa, tão segura e forte como a Thais.
-- As pessoas não são iguais, docteur. Cada pessoa é diferente, tem sua particularidade, tem desejos, qualidades e defeitos exclusivos. A Thais era única, como a Fernanda também é única. Mas, elas tem algo em comum: Compartilham das mesmas verdades que você acredita -- Cléo empurrou a cadeira e se levantou -- Preste atenção nos sinais, não deixe que as lembranças do passado a deixem cega para algo muito lindo que possa acontecer entre vocês duas. Pense nisso.
Cléo foi dormir, enquanto Alicia continuou ali, sentada, em silêncio, perdida em pensamentos.
Alicia subiu a escada do hospital com uma estranha sensação, mistura de tristeza e ansiedade, que a deixava com uma dorzinha de cabeça irritante.
Caminhou automaticamente pelos corredores do hospital, parando no balcão de enfermagem para verificar quais dos seus pacientes ainda permaneciam internados.
Cristina já estava esperando por ela, quando entrou na enfermaria, a amiga imediatamente foi ao seu encontro.
-- Loira! Que saudade! -- a cardiologista inclinou-se para beijá-la -- Seus velhinhos ainda estão todos aí. Reclamando, aprontando, não sossegam um minuto. Não é a toa que se quebram -- disse, sorrindo animada.
-- Já estava com saudade desse corre-corre. Como você está? -- perguntou Alicia, encostando-se ao balcão.
-- Estou bem -- Cristina olhou ao redor para conferir se ela e Alicia estavam sós. Com muito cuidado começou a falar: -- A Natália me contou do barraco.
Alicia ergueu as sobrancelhas.
-- Contou?
-- Sim -- Cristina enganchou seu braço no braço de Alicia e seguiram em direção ao setor de ortopedia -- Ela está muito preocupada com você.
-- Está?
-- Sim -- Cristina parou e ficou de frente para Alicia -- Natália gosta muito de você. Não leve a mal esses rompantes de ciúmes infundados. Sei que causaram problemas difíceis de serem contornados posteriormente, mas é só para te proteger.
-- Tudo bem, já tinha até esquecido da confusão -- Alicia desconversou. Não valia a pena estender o assunto, era pura perda de energia. Fazer o que se a amiga preferia ignorar os comentários e até as evidências mais claras. Ela sempre fechava os olhos para fatos óbvios na tentativa de minimizar o problema. Ela provavelmente fingia não ver por medo de ser deixada pela Natália -- Preciso da sua ajuda, Cris -- ela disse tocando de leve no ombro da cardiologista. O semblante sereno de Alicia pareceu dar lugar à ansiedade.
Cristina ergueu as sobrancelhas, esperando que a amiga revelasse o que a preocupava.
-- Claro, amiga. Você sabe que pode contar comigo sempre. Do que se trata?
Alicia hesitou.
-- Bem, preciso ter acesso a exames de um paciente.
-- Isso é fácil! -- Cristina sorriu.
-- Acredito que não seja tão fácil assim -- o sorriso meio embaraçado transmitia preocupação -- Não sei qual o laboratório que fez a análise do material.
Cristina espantou-se.
-- De quem é o exame?
-- Osvaldo Brandão. O pai da Fernanda.
Cristina olhou-a intrigada.
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Fim do capítulo
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HelOliveira
Em: 08/09/2019
Embaixadora do capeta muito boa essa.
Cléo dando uma dura na Alícia, e parece que funcionou, e Cris sempre fugindo que não vê o que a Natália faz, mas creio que pode se surpreender ajudando Alicia a descobrir sobre os exames.
Até o próximo bjos
Resposta do autor:
Olá HelOliveira.
Amigo não é aquele que enxuga as lágrimas e sim aquele que fala: se você ficar de mimimi e não resolver o problema, vou dar na sua cara!
Beijos.
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Mille
Em: 08/09/2019
Ola Vandinha
Será que acontece o que pensei????
Cléo seu uma chamada na Alicia, espero que ela siga o coração e mente. Assim poder ajudar a Nanda a ficar livre para fazer o que seu coração manda e não a vontade da mãe.
E sera que tem dedo da Natalia nesse exame???
Bjus e até o próximo capítulo, um ótimo domingo
Resposta do autor:
Olá Mille.
Olha, você sempre acerta, né. Vamos ver dessa vez.
Beijos. Até.
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Brescia
Em: 07/09/2019
Boa noite mocinha.
A guru Cléo sabe onde mexer para acordar Alicia, deixou a pulguinha atrás da orelha , assim ela teve tempo para pensar e agir.
Baci piccola.
Resposta do autor:
Boa noite, Brescia.
Tá na hora da docteur acordar e correr atrás da felicidade.
Beijos.
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NovaAqui
Em: 07/09/2019
Obrigada, Cléo por você fazer parte da vida da docteur! Obrigada por abrir os olhos de Alicia
Agora vamos ver o que a chupa cabra vai falar quando Alicia esfregar os exames na cara dessa senhora. O pai de Nanda pode até estar doente, mas não é possível que não se possa fazer alguma coisa. Sabemos que tem doença que pode fazer a pessoa desencarnar rápido, mas no caso de pai de Nanda não
Ansiosa pelas notícias que Cris trará
Amei o capítulo hoje
Bom domingo
Seu time ganhou! :-)
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Bom domingo pra você também.
Depois de um longo e tenebroso inverno, o Flu finalmente ganhou. Eu, a Alicia, a Alexandra, a Bruninha, estamos comemorando. Rumo à Libertadores, hu, hu...
Beijos.
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