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Pancakes, coffee and Bloody
O dia mais esperado do ano havia chegado.
O dia mais sagrado, idolatrado, e enaltecido.
Minha folga.
Certo, "ano" foi um exagero mas após duas semanas inteiras, finalmente um dia de descanso.
Meus planos para hoje incluíam vários programas tais como: dormir, deitar, comer deitada, dormir comendo, e assistir tv com meus filhos.
Piper estava enlouquecendo. Eu mal me fazia presente, e mesmo feliz por tudo o que ela, e a vida estavam me proporcionando, o medo no fundo me atacava.
Estava repetindo os mesmos erros, e dessa vez mais duas vidas estavam envolvidas nisso.
Amo meu trabalho, mas só nessas duas semanas , parando em casa só para dormir (exceto o dia que apaguei em cima do meu notebook na delegacia), havia perdido inúmeras coisas na minha família.
Como na terça retrasada quando Nichole perdeu o dente de leite comendo biscoitos.
Ou há três meses atrás quando Ben, fez o café para "o dia das mães" e encontrou só uma das mães no quarto.
Vê? As vezes é deprimente.
Claro que recebo as últimas notícias da família Smith, pelo celular. Mas não é a mesma coisa. São momentos que não voltam mais. É um pequeno buraco que, gradualmente aumenta.
Parabéns Sophie, você é a pior mãe do mundo.
Piper entendia meu lado. Isso que mais admirava em minha esposa. Ela entendia que eu não tinha culpa.
Eu amo tanto essa mulher.
O relógio na cabeceira da cama apitou repetidamente. O mostrador exibia orgulhosamente 09:00. Era uma dádiva dormir até essa hora. Rolei na cama, até o espaço vazio onde Piper dormia. Na cômoda próximo ao abajur um cartão fora dobrado apressadamente. Peguei-o sorrindo.
"Finalmente sua folga! Pelos deuses não faça nada hoje. Aproveite com nossos bebês, e nada de doces antes do jantar! Amo vocês. Pipes."
Respirei fundo sorrindo. Seu perfume ainda pairava pelo quarto. Agora com a sua própria clínica, ela entrava e saía a hora que quisesse. Meu sonho de princesa.
Criei coragem e levantei. Entrei em nosso banheiro arrancando a roupa e ligando o chuveiro. A água escaldante caiu em meus ombros como mãos ,massageando cada ponto de tensão. Fiquei por alguns minutos parada só apreciando a genialidade de quem havia inventado o chuveiro.
Se existir um céu, seu lugar já está reservado na área vip.
Tomei um bom banho, e vesti roupas que fariam Piper me chamar de mendiga. Escovei os dentes, apreciando como era bom fazer isso na minha casa.
Quando desci para a sala dois pares de cabeça se viraram do sofá, com sorrisos tão grandes que iluminariam o lado escuro da lua.
- Mãe!- O grito veio acompanhado de dois pares de braço que envolveram minha cintura apertado. Minha garganta fechou.
- Ei monstrinhos, que saudade- Beijei a cabeça dos dois.- Já tomaram café?
- Sim, mamãe fez panquecas e suco de laranja- Falou Ben animado. Baguncei seus cabelos castanhos.
- Eu fiz o suco mamãe - Corrigiu Nick com os olhos cinza brilhando.
- Mesmo meu amor ? - perguntei orgulhosa, indo com eles para a cozinha. Meus deuses, minha filha de seis anos sabe fazer suco de laranja. Eu com seis anos comia terra.
Essa geração é evoluída demais.
Sentamos a mesa, enchi primeiro uma xícara de café enquanto Ben me trazia as panquecas, e Nick a calda.
Ela se serviu de um copo de suco para me acompanhar.
- O que me contam de novo? - Eu tinha que me atualizar sobre meus filhos, isso era bem vergonhoso. Comi um pedaço. Como sempre, perfeitas.
Nichole pensou um pouco.
- Eu aprendi a escrever meu nome todinho mamãe - Falou com um sorriso orgulhoso. - E desenhei nossa família- Apontou para a geladeira onde um desenho de giz estava pendurado na porta. Sorri ao me identificar com o uniforme do trabalho.
- Ficou muito bonito, você supera até Da Vinci. - Falei colocando mais calda.
Ela franziu as sobrancelhas.
- Quem da vinte?
Ben riu da irmã.
- Foi um pintor, escultor e um milhão de outras coisas- Seu sorriso enorme apareceu. Como toda vez quando mencionava algo sobre história.- Ele fez a Mona Lisa, e o quadro da Última santa ceia. Mamãe quis dizer que você desenha melhor do que ele.
Olhei-o aparvalhada.
- Todo geniozinho o meu bebê.
Ele sorriu envergonhado.
Quis saber de todos os detalhes que eu havia perdido. Nosso cachorro Bud corria frenético pela cozinha esperando alguém jogar panquecas para que pudesse se acabar.
Minhas panquecas don't.
Nichole contou que bud comeu seu chinelo, e sua varinha de condão da fantasia de fada. Depois pensou um pouco e perguntou porque o Bud se chama Bud.
- Budweiser - Respondi.
Franziu a testa sem entender.
- Bebida de adulto - Confidenciou Ben.
Como ele sabia disso? Não fazia idéia.
Meu celular tocou na bancada da cozinha. Suspirei pesarosa. Não atenderia. O som de spice girls reverberou na cozinha.
- Hã mamãe, não vai atender? - Questionou Ben.
Dei de ombros e neguei com a cabeça.
Nichole pulou e pegou o celular.
- É o tio Dante!- Exclamou feliz e atendeu.
- Não! Droga!- Berrei assustando Nichole.
Tarde demais.
- Oi tio Daaaaan!- Atendeu feliz.
Dei um tapa na testa. Ben repetiu meu gesto, murmurando algo que soou como "idiota". Repreendi-o por falar assim com a irmã, mas meu coração pesou.
Ela ficou com o rosto sério ouvindo o tio falar algo.
Gesticulei freneticamente dizendo que não estava.
Ela franziu o cenho.
- Ah a mamãe? Ela...
-Não to- cochichei- Fala que a mamãe saiu.
- Ela falou que saiu tio.
Merda.
Peguei o celular dela já bufando.
- Fala meu condecorado, que merd* você quer ? - Coloquei o maior sarcasmo que pude na minha voz. - Não repitam isso, é palavra feia - Acrescentei para as crianças
Ele riu.
- Sério que mandou dizer que não estava?
- Bom esse era o plano- Retorqui irritada.
- Olha desculpa Phie sei que era sua folga mas...
Suspirei pesarosa.
- Mas?
- Achamos um corpo. Hoje.
- Onde?
- Na ponte de ferro Delaware. Perto do Hudson.
- Eu preciso mesmo ir?
Ele pigarreou.
- Você vai querer ir.
Arqueei as sobrancelhas.
- Algum motivo especial?
Ele suspirou pesado, como se fosse obrigado à dizer aquilo. E sinceramente preferia mesmo que não o tivesse feito.
- É uma criança Sophie.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 15/12/2019
Tudo bem que o trabalho é importante.
E parece que o caso atual merece atenção dedicação
Maa......ms
Vamos lá Sophia.....vc tem uma familia que também é importante.
E autora......me passou algo agora na cabeça.......o caso é com crianças.......sera que o desfecho desta saga ira culminar com um doa filhos dela???????
Meu Deus nem quero pensar.
Rhina
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