- Temos uma pista sólida de que Hermes irá receber uma carga, amanhã de madrugada no porto leste. - Começou Luke.- Foram informações dadas por um de seus homens, o qual eu mesmo interroguei.

- E Reed?- Perguntei.

Estávamos na sala de reuniões, Dante apoiado na parede fingindo estar tão sóbrio como qualquer um naquela sala, o que estava piorando as coisas para ele. A cada minuto ele franzia a testa, levantava a mão e gritava "SIM" ou "EU PROTESTO". Como uma boa amiga fingi que não conhecia ele.

Rapha e Piper estavam do lado de fora, comendo donnuts e tomando café enquanto riam de alguma coisa. Eu queria estar comendo donnuts.

- Nosso alvo é Hermes, não Reed.-Respondeu Luke.

Ergui uma sobrancelha.

- Temos a chance de destruir um cartel de drogas internacional, e você quer focar em um espião?

- Pegando um, achamos o outro. Grant Reed está fraco sem dois dos seus melhores.

Sam pigarreou.

-  Tem certeza que a carga chegará amanhã? - Perguntou com a voz grave. Me lançou um olhar de esguelha que dizia:

"Algo está errado nisso tudo."

Acenei de leve.

- Foi o que ele disse.- Luke deu de ombros.

- Pode ser uma pista falsa. Devíamos separar dois grupos,um segue Hermes. Outro Reed. - Falei.

- EU PROTESTO!- Dante gritou levantando a mão. Todos os olhares se voltaram para ele. Tampei sua boca com a mão.

- Mmmmmpf

- Por mim, não estou nem aí. As pessoas morrem de qualquer jeito.- Murmurou o Sr. Carter, sentado enquanto comia Doritos. Deu um gole na Pepsi diet.

Eu queria tanto socar essa cara de tédio dele.

O simples fato de estar no mesmo ambiente que ele, fazia meu sangue ferver.

- Então faremos isso?- Falei ignorando o Sr. Carter.- Dois grupos?

- Eu sigo Hermes sozinho. Não preciso de ajuda.- Falou Luke.

Todos olharam para ele.

- Isso é perigoso.-Advertiu Sam.

Ele deu de ombros. Era impressão ou ele parecia nervoso?

- Já fiz coisas piores.

Ninguém questionou.

- Certo, Sophie e Dante, vocês vigiam Reed.

- Soraya, está afastada do caso até sua total recuperação- Recitou Oliver Carter, com a voz monótona.

Trinquei os dentes.

- Estou ótima- Menti.- Quando começamos?

- Tem certeza?- Sam parecia preocupado. Fiz que sim com a cabeça.

- Vocês começam amanhã. Sejam cautelosos, estudem o território. Não se exponham.- Ele me encarou na última frase.

Assenti em silêncio.

A reunião estava acabada. Todos saíram num silêncio mortal, como um cortejo fúnebre. Dante tropegou e se apoiou nas paredes para andar.

- Que os jogos comecem- Murmurei.

- Eles estão brincando com a gente. Só pode.- Resmungou Dante bebericando seu café. Encostou a cabeça no banco do carro e me passou o binóculo.- Sua vez, estou ficando mais míope do que eu sou.

Peguei de sua mão, e coloquei nos olhos. Nada.

- Cara o que é bom para a ressaca?- Perguntou afastando os cabelos loiros da testa.

- Gordura, muita gordura. Bacon, cheeseburger...

- Calada, eu vou vomitar.

- Se vomitar no meu carro, eu mato você.

Acontece que, o carregamento no porto sobre o qual Luke falou não aconteceu. Rastreamos o sinal do GPS de um dos carros e achamos esse endereço, porém nada sólido até agora.

- Temos que ter paciência Dan, essas coisas demoram- Respondi sua pergunta tardia. Aumentei o zoom.  A mesma cena de sempre: Guardas na porta do prédio abandonado no Bronx , carros estacionados e nada.

- Paciência? Sophie  já fazem quase quatro meses desse caso e nada. A coisa mais emocionante que vimos foi uma queda de braço. Dyllan não conseguiu o sinal das câmeras internas?

Fiz que não com a cabeça.

- Eles estão bloqueando o sinal.

- Como se soubessem que descobrimos o quartel deles.- Falou. A mesma idéia passou pela minha cabeça. Eles estavam sendo cautelosos demais. Sutis demais.

- Já discutimos essa possibilidade. É possível. Mas ainda não podemos dizer nada. Não temos certeza.

Dante abriu a boca para responder mas um barulho o fez calar. A porta havia sido aberta. De lá saíram três caras armados escoltando o maior e mais brutal homem que eu já havia visto.

Ele era grande como um lutador de UFC, os músculos eram visíveis através da camisa camuflada que usava. Seus coturnos esmagariam minha cabeça em questão de segundos, mas o que me surpreendeu foi o rosto. Grande e anguloso, marcado por cicatrizes antigas, os cabelos eram cortados rente à cabeça como o dos militares. Ele abaixou os óculos escuros, mostrando dois globos negros e vazios como um buraco negro. Senti um arrepio na espinha.

- Vocês aí seus vermes inúteis- Rosnou para os dois guardas que estavam na porta. Eles fizeram continência em silêncio. - Vão auxiliar no carregamento junto com Bruce.  E vocês- Virou para um dos guarda costas- Já descobriram quem matou Eric?

O guarda engoliu em seco.

- Estamos trabalhando nisso senhor- Respondeu com a voz trêmula.

Reed gargalhou debochado.

- Trabalhando nisso? EU QUERO RESULTADOS EU NÃO PAGO VOCÊS PARA NÃO RESOLVEREM O QUE EU MANDO.- Urrou

O guarda tropeçou.

- Sim senhor, será resolvido senhor.

- Vou te dar uma lição como o outro verme inútil, ao menos vai servir de exemplo para os ratos.- Grunhiu. O guarda engoliu em seco.

Franzi a testa. O que diabos aconteceu lá dentro?

Ele deu as costas. Um dos homens abriu a porta do carona para que entrasse. Os outros entraram em carros separados. Saíram cantando pneu e levantando poeira.

E então silêncio. Estava vazio.

Olhei para Dante que estava de boca aberta.

- Sabe o que eu estou pensando?- Perguntei sorrindo.

- Vamos invadir.-Sorriu.

- Você olha as gavetas e eu procuro qualquer coisa sobre o próximo carregamento. A narcóticos irá nos agradecer- Falei direcionando a lanterna pela sala onde fora feita a reunião. Um rato solitário correu por entre as cadeiras.

- Certo- Concordou Dan- Olha na próxima sala, pode ter alguma coisa.

Fiz que sim com a cabeça e saí pelo corredor escuro. Joguei o facho da lanterna para a próxima sala. Minhas botas grudaram em algo pegajoso no chão. Direcionei a luz para lá e soltei um grito.

- Sophie!? Tá tudo bem!?- A voz de Dante ecoou no vazio.

Olhei espantada para o chão. Um rio vermelho escorria em direção à próxima porta. O cheiro de ferrugem invadiu minhas narinas. Segui o rastro e adentrei no escuro.

Um corpo estava estendido no chão. O peito estava destruído, o sangue por toda a parte. Faltavam um dos olhos, as bochechas foram cortadas dando à ele um enorme sorriso sinistro. Olhei para a parede à minha frente e meu sangue gelou.

Um globo ocular havia sido pregado no concreto, destruindo quase totalmente a íris azul elétrica. O sangue escorria. Iluminei a parede, e numa letra tosca estavam escritas as seguintes palavras:

Estamos de olho ratos.

-Dante - Minha voz saiu num sussurro. Pigarreei.- Dante!

Passos apressados. Ele entrou na porta arma na mão.

- O quê..?

Apontei para a parede em silêncio. 

Ele arfou.

- Deuses..

- Agora sabemos quem são os ratos. E pelo visto, o gato está faminto.

Fim do capítulo